sábado, outubro 08, 2005

Legislação, consciência e educação

O tema da moda no Brasil, pelo que tenho acompanhado, é o tal referendo.
Reconheço que estou um pouco por fora dessa discussão toda (até por um problema geográfico), não sei muito bem o que está sendo dito por aí nesse debate todo.
Tenho curiosidade de saber como estão sendo feitas as propagandas obrigatórias...

De qualquer forma, queria traçar um paralelo dessa história toda com o que acontece por aqui, em Israel.
Vocês entenderão por que.


Aqui, legislação, consciência e educação caminham lado a lado na questão das armas de fogo pessoais.
Em primeiro lugar, é bem fácil comprar uma arma legal em Israel (uma pistola, por exemplo). Isso poderia resultar numa ampla tragédia social, porque um país que vive um conflito complicado e que tem uma sociedade armada, imaginemos o resultado.
Mas não é. Explico (ou tento explicar) os porquês.

É comum ver pessoas por aqui andando com armas pessoais na cintura (seja na fila do banco, passeando com o carrinho de bebê, no supermercado, no trânsito... homens e mulheres). Quando falo "armas pessoais", excluo os soldados, que são obrigados a andarem com suas armas (na maioria das vezes, fuzis M-16).
E também não foram duas nem três vezes que presenciei discussões ferventes entre dois israelenses (que são totalmente estourados, mal-educados). Em algumas, dois brutos discutem na rua sobre assuntos tolos (muitas vezes por causa do trânsito). Muitas vezes, gritam e xingam até não-sei-qual-geração do outro. Muitas vezes os dois estão armados.

Para alguém como eu, brasileiro, acostumado a esse quiprocó todo, é batata.

"Putz, um deles vai sacar a arma!"

Mas digo a vocês que isso nunca acontece. Nunca soube de nenhum caso desse. Nada que tenha me chamado a atenção.
Eu, por ser imigrante, não poderia comprar uma arma hoje. Só depois de três anos no país e, de preferência, ter concluído o serviço militar.
Aqui, porte de arma é a própria carteira de identidade (e o registro da arma).



Resumindo tudo o que eu quero dizer, o fato de todo mundo ter feito exército ajuda nessa conscientização do uso da arma de fogo.
É preciso um país preparado (cada um com suas peculiaridades, com suas características sociais próprias e adequadas) para que armas de fogo sejam vendidas (com ou sem burocracia, com ou sem órgãos próprios).
Eu não acho que o Brasil seja um deles.
Por tudo isso que que nos acostumamos a ver. Por tudo isso que acompanhamos todos os dias na nossa vida, na televisão, na rua, de tiros no vizinho até colegas de faculdade assassinados com armas registradas.

O Brasil, com tudo o que representa internamente, não tem estrutura política nem social para manter um comércio legal de armas (já sabemos o porquê) e, quanto a população, pelamordedeus....
Em cinco anos, o conflito em Israel e terrirórios teve menos de 500 menores de 18 anos mortos por armas de fogo, enquanto nos morros do Rio de Janeiro, no mesmo período, cerca de 4 mil crianças e adolescentes foram mortos a tiros!

Que vai acabar com o crime? Não. De forma alguma. Até porque assaltante não registra arma. Mas é um passo para diminuir essas pequenas tragédias sociais que vemos todos os dias e quase sempre ignoramos. Ou sempre.



ps1: Aparentemente inútil, mas ao mesmo tempo interessante.
Uma enquete do Jerusalem Post perguntou, na semana passada, como os internautas mandam suas saudações de Rosh Hashaná.
1241 pessoas participaram da pesquisa.

31% respondeu que manda por e-mail, 22% mandam um cartão eletrônico, 12% preferem a carta tradicional e 4% usam um simples SMS.
Os outros 31% simplesmente não enviam nada.
Os tempos realmente mudaram....

ps2: Hoje, a seleção de futebol israelense enfrenta as Ilhas Faroe, precisando golear e de olho nos outros resultados da rodada.
Os comentários da pelada poderão ser lidos, conferidos, concordados ou discordados no Portal Kadureguel.
Porém, não posso deixar de postar uma frase que ouvi ontem no jornal da noite. Ela veio de Yosi Benayoun, o "craque" do selecionado israelense.

"Não somos a seleção brasileira, não somos a seleção francesa. Não podemos pensar em 7 a 0" - Yossi Benayon, respondendo pergunta sobre a possibilidade de Israel ter que vencer a "poderosa" seleção das Ilhas Faroe por 7 a 0 para continuar sonhando com a Copa do Mundo.

Já vi que esse time "vai longe"...
Aliás, o jogo hoje é as 21h10, horário de Israel. (15h10 no Brasil).
Torcemos, fazer o que?

4 Comments:

At 8:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Sabe quantos processos por homicídio eu já vi na minha vida em que o crime foi praticado com uma arma legal? 1. Com arma ilegal? Centenas e centenas. Pra que gastar uma montanha de dinheiro público num plebiscito? A venda das armas utlizadas na maioria esmagadora das vezes já é ilegal! E se é ilegal, é porque já tem uma lei proibindo. O que é melhor, cumprir a lei, ou fazer outra que vai ser descumprida também?
Esse tal desse plebiscito é um embuste do governo (bem, o próprio governo é um embuste) que não vai resolver absolutamente nada. Votar "sim" não significa votar "pelo desarmamento" já que as armas que na maioria esmagadora das vezes são usadas para a prática de crimes violentos foram adquiridas ou, no mínimo, são portadas de forma ilegal.
O comércio de armas que deve ser proibido no Brasil já está proibido!

E você pergunta como está sendo a propaganda? Basicamente assim: o lado do "desarmamento" narra casos de "pobres pessoas que morreram por causa de uma arma". O lado "contra" tem buscado demonstrar que a proibição da venda de armas não só não vai diminuir a criminalidade violenta, como pode vir a aumentá-la.

Só pra encerrar, outro dia saiu no Estado de Minas uma matéria sobre um menor de 16 anos que foi preso portanto uma arma, a qual pertencia à PM! Plebiscito pra que?

Abraço

André

 
At 4:30 AM, Anonymous Anônimo said...

bean, concordo com o zozo...porém proibir o comercio de arma vai agravar a nossa situação, tenho certeza. O bandido faz a conta, se a probabilidade de encontrar alguem armado é menor ele vai assaltar mais. Não sei até que ponto isso vai tornar o nosso pais mais ou menos fudido mas essa lei, como todas as outras, só vão favorecer quem tem esquema, o preço da arma no mercado ilegal vai subir o bandido vai ganhar mais dinheiro e etc...em fim, brasil é desse jeito.

Armado ou desarmado verão ta chegando e igual o brasil não existe, né não? né não?
conected

 
At 7:01 AM, Anonymous Anônimo said...

Carlinhos, esse é o cara, faz tempo que não via um argumento tão contundente pro SIM :) vc deveria ajudar no marketing deles aqui... eu ia votar "Não" mas vc me colocou a pulga atras da orelha :)
[]'s meu brother :)

 
At 1:09 AM, Blogger Nikolas Spagnol said...

Carlinhos, excelente post. Como você disse, o brasileiro não está preparado para ter armas de fogo.

Israel, claro, é bem diferente. Trata-se de um país com forte cultura de segurança e auto-preservação, já que desde sua criação tem sua existência ameaçada.

Os eleitores do Não, aqui no Brasil, se contradizem. Dizem que, com o desarmamento, só os ricaços com segurança particular poderão se defender, mas reconhecem que o custo de uma arma legalizada, hoje, não está ao alcance da pobraiada. Dizem que "os bandidos" vão continuar armados, mas esquecem que as armas que eles usam, quase sempre, foram um dia roubadas de um "cidadão".

Acho que o comércio de armas poderia até ser liberado, mas com uma condição: o registro daquela arma é vitalício e, se algum dia ela vier a matar alguém, o comprador original deverá responder por homicídio. Aí eu quero ver quem é macho!

Abraços cá da fronteira da Zona de Rebaixamento.

 

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