Irresponsável, anti-ética e preconceituosa
"Galo cantou as quatro da manhã.
Céu azulou na linha do mar.
Vou me embora desse mundo de ilusão
Quem me vê sorrir,
Não há de me ver chorar."
Essa bateu todos os recordes.
Costumo escrever mais sobre críticas e problemas do que elogios ao Estado de Israel. Quem acompanha o Blog sabe.
Mas como disse, essa bateu todos os recordes...
Abaixo, publico a cópia scaneada de uma matéria publicada pelo jornal mineiro Diário da Tarde intitulada "Quem é terrorista? Judeus já falam muito fácil em matar", publicada no dia 8 de Março de 2006.
Eu, como judeu e israelense (e jornalista), já manifestei meu repúdio ao jornal, assim como fizeram outras pessoas.
Além do mais, espero que sejam tomadas as medidas cabíveis contra o jornal por incitação ao ódio por parte dos órgãos oficias e líderes da comunidade judaica no Brasil.
Para os leitores, é possível escrever para o endereço opiniao.dt@uai.com.br ou pelo telefone (31) 3263-5250
Mais abaixo, a carta que mandei para o jornal.
Quem tiver paciência, leia. E fiquem a vontade para comentar.
É com grande tristeza e ao mesmo tempo revolta que escrevo para manifestar meu repúdio à manchete de uma das notas publicadas na sessão Mundo de Quarta-Feira, 8 de Março de 2006.
A matéria está intitulada "Quem é terrorista? Judeus já falam muito fácil em matar".
Sou judeu, nascido em Belo Horizonte e moro atualmente em Jerusalém, Israel. Passando férias na capital mineira, deparei-me com essa grostesca manchete que reflete o total despreparo ético, moral, político e jornalístico do responsável pelo título.
Em primeiro lugar, deixo claro que é inaceitável qualquer incitação ao ódio religioso e étnico.
É impossível não remeter as duas frases a uma demonstração fervorosa de antissemitismo ou uma brincadeira de extremo mal gosto.
O uso da nomenclatura "judeus" na manchete significa não só generalizar, mas acusar. Remete a desinformação e a deturpação, ultrapassando a barreira do preconceito e da discriminação ignorante. Sinto-me envergonhado e ao mesmo tempo atingido por tais acusações hostis.
Como judeu, cidadão brasileiro e portador também de cidadania israelense.
Em segundo lugar, é inacreditável como um profissional de imprensa possa substituir o termo israelense por judeu. Trata-se de uma idéia equivocada e preconceituosa.
Porém, mesmo se não houvesse equívoco no uso da nomenclatura, teria me sentido atingido da mesma forma. Pela absurda generalização.
Judeus em geral nunca falaram "muito fácil" em matar. Nem israelenses.
Aliás, trata-se também de um erro grosseiro no uso formal da língua portuguesa por parte de Diário da Tarde.
E fica a pergunta: quem é terrorista?
Difícil responder. Fácil acusar povos em geral.
Nem judeus nem árabes podem ser colocados contra a parede de forma generalizada.
Infelizmente, o jornal Diário da Tarde já tem sua resposta - e a distribui e publica de forma irresponsável, despreparada, anti-ética e preconceituosa.
Atenciosamente,
Carlos Reiss, jornalista
ps1: Enquanto isso, a polícia palestina continua com seus "treinamentos".
Dessa vez, o grande medo é a gripe do frango...
É só ver a foto abaixo e, se quiser, clicar na trilha sonora (clique aqui!)
2 Comments:
muito bem escrito Bean
Ok, Bean, voce cumpriu seu papel de jornalista judeu, brasileiro e israelense.
Se bem que as vezes, eu mesma me pergunto, lah dentro e morrendo de vergonha e desgosto: "meen erhabe?"
Quanto aa nomeclatura, a gente sabe que esse jornal nao eh o unico a confundir/induzir religiao com cidadania; basta dar uma olhada em algumas identidades azuis, por exemplo.
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