domingo, outubro 17, 2004

Demonização do Islã... ao vivo!!!

Muita gente fala sobre fanatismo, ultra-direitismo e essas coisas mas só dá pra entender o que é isso realmente quando se está frente a frente com uma pessoa assim. Aconteceu hoje comigo no almoço... o pau quase quebrou, ia ser muito engraçado.
Estava almoçando no refeitório com um espanhol, um americano e um finlandês, quando reparei na mesa que estavam sentados os brasileiros. Nela, o Juliano tinha uma kfyah na cabeça. Tava cômico, todo mundo passava e dava uma risada... a kfyah era do Gabriel, que tinha comprado ontem.
De repente, levantou-se de uma outra mesa um sujeito bem nervoso, bufando, chegou perto e mandou o Juliano tirá-la da cabeça. Seu nome é Tzvi, um francesinho metido a besta que trabalha na Maguen David Adom, a correspondente israelense da Cruz Vermelha.
O Juliano tirou pra não ter confusão, ficar na paz. O cara foi embora. Eu cheguei perto e disse pra galera que se fosse eu não tirava. Ah, pra quê...
Coloquei a kfyah e desfilei pelo refeitório. Eis que surge o cara, mais furioso ainda. Arancou a kfyah da minha cabeça, coloquei o dedo no peito dele e falei "tira a mão, isso não é seu". Ele, puto da cara, começou a falar num inglês horroroso que isso era o que os terroristas islâmicos usavam em atentados suicidas. Falei que aquilo que estava usando fazia parte dos costumes de uma religião, que não é a minha, mas que tem que respeitar, por isso estou brincando.
Quando percebi em volta de nós (estávamos em pé no meio do salão), todos que almoçavam pararam de comer e ficaram olhando pra gente, inclusive o cozinheiro. O cara repetiu: "sabia que é isso que os terroristas usam quando explodem ônibus aqui?" Aí eu não me aguentei. "Você sabia que existem israelenses que quando explodem hospitais usam exatamente isso que você tem na cabeça, uma kipá?" Putz, o cara ficou louco, achei que ele ia ter um troço.
Ele começou a gritar: "Você não sabe o que é um atentado terrorista, eu já estive em dois!!!". Dava pra ver o ódio nos olhos daquele francês. "Isso é uma religião, então a respeite!", falei. Ele disse de novo que já tinha estado em dois atentados, que eu não sei o que é, e saiu andando. Parecia que ele queria me matar. Só deu pra começar a rir...
O ódio, o fanatismo e a intolerância no Oriente Médio atingem a todos os lados. Não estou falando de terrorismo ou de acordos políticos. Falo de sentimento, aquele que emerge do fundo do coração. O Antissemitismo cruel que cresce no mundo e a Demonização do Islã são fenômenos profundos, que ultrapassam acontecimentos e convenções. Eles não passam de geração à geração, passam de coração à coração.
Acho que aqueles que vêm de outros países para morar em Israel, inclusive da América Latina, têm muito a ajudar. Digo não só para construir o país física e economicamente, mas intelectualmente também. Tenho orgulho de falar e me sentir israelense. Mas às vezes é saudável também pensar que sou brasileiro, faço parte de um povo tolerante (não no sentido pejorativo) e que apesar de tudo tem muito o que mostrar aos outros.
Não tenho raiva alguma desse tal Tzvi, pelo contrário. Entendo a posição dele. Ele é um enfermeiro, vê pedaços de corpos e ainda mais veio da França, um poço de Antissemitismo. Quanto à ele, não posso dizer o mesmo. O ódio hipnotiza as pessoas, as tornam incompreendidas e incompreensíveis. Ces´t la vie!


6 Comments:

At 4:35 PM, Blogger Gabriel Toueg said...

Eh o que eu te disse, Carlinhos! Tolerancia nao acho que seja o melhor termo. Ninguem tem que "tolerar" ou "ser tolerado". Mas, fora isso, sua provocacao serviu para nos mostrar uma coisa importante: o perigo que existe mesmo entre nos, judeus. Fundamentalismo ameaca, vestido de kipa ou de kfia.

 
At 5:16 PM, Anonymous Anônimo said...

Vim (de lah do Gabo); vi ; li. Gostei e vou voltar! Continue bloggando, jovem. sandraf

 
At 5:33 PM, Anonymous Anônimo said...

Bean, muito bom o teu blogger e os textos também estão legais...
parabéns...

beijos
lepra

ps.: vai te fuder e cade a porra da minha narguila...
ps2.: um dedo no olho

 
At 1:13 AM, Anonymous Anônimo said...

(Juliano)Como,alem de testemunha ocular e peculiar, como tambem sujeito transitivo direto (nem sei se essa porra existe)tenho a obrigacao de postar algo.
Estava eu, sentando na mesa do refeitorio, ao lado de Gabriel Toueg, jornalista-escritor-blogueiro de carreira ascendente meteorica, quando vi essa tal de kfia (isso tudo valeu pra aprender esse nome em arabe, no final das contas,hehehe), colocada na minha futura cadeira,sentei, peguei aquele troco(ops) kfia, agora sei o nome, e na mesma hora, Gabriel me diz: te dou 10 shekalim se tu colocar agora.(pois , logo a frente nossa, sentava-se um ingles , famoso por discussoes politicas e suas vias de fato contra "qualquer sinal" de inclinacao esquerdista).Eu aceitei na hora, mal sabia Gabriel, que aquele ingles era parceria de trago, heheheh.
Bom, o refeitorio ia enchendo, todos me viam e riam, inclusive o ingles, diversao na hora do almoco.
Quando , de repente, surge, nada mais nada menos, o Salvador da Patria!!!Um frances metido, que desde do inicio, fez questao , de se mostrar com as camisas da Maagem David, TODO SANTO DIA!!!Alem de kipa, bordada com seu nome (aqui vou preserva-lo), que tambem eh da Maagem David, alem de um tenis que combina com tudo isso.Ele me olha, e como se visse o capeta, vem ao meu encontro, e com maos tremulas, e uma cara de cagalhao de merda, naum me pede e sim manda eu tirar a kfia.
Ai, entra a sabedoria dos 28 anos de idade, heehehheheheh, naum quis criar tumulto,ou dar o que ele merecia,pois naquele momento, naum percebia a gravidade de sua atitude, pensava mais em continuar a comer, sinceramente.
Quando entra Carlos Reiss na historia, escritor-jornalista-blogueiro iniciando carreira internacional espetacular, rapidamente eh informado sobre o fato e comenta:-ah se fosse comigo!!
Foi a deixa pra mim:-Entaum poe.
O resto???Acompanhem pelo blog desses jornalisltas citados.(e tirem suas conclusoes).
Conclusao (pra mim): o perigo pode vir daonde menos se espera (entenderam????).

 
At 7:10 PM, Anonymous Anônimo said...

Caralho!!!

Com toda essa história milenar, hehhehe...

Eu daqui de Porto Alegre - Brasil , confesso que me tomei de raiva, quase dei um soco denovo em lugar indevido, putz....

Não sei se foi porque se passou com meu irmão Juliano ou por simples indignação, pelo fato te um pessoal estar num mesmo espaço físico com praticamente a mesma missão e ao mesmo tempo se biquiando, q issu!!!

ou pelo os dois motivos, mas provável...

Aí fico receio , tenho uma vontade inesplicável de ir...pra i....algo espiritual sei lá, tipo algo me chama, sinto que tenho algo a contribuir para com esse meu povo....

mas voltando...

Olha Bean se eu estivesse na mesa, pergunta pro Juliano o que ia acontecer.....nossa!nossa!

Ai me pergunto, se eu fosse não ia tumultuar mais o ambiente????? heheheheheheheh

Abração,
To aprendendo a gostar de ler com esse teu blog, hehehe

 
At 10:36 PM, Blogger Breno said...

Esse fato me fez lembrar aquele bispo da Igreja Universal que chutou a imagem de Nossa Senhora em seu programa de televisão na Record. Basicamente, é a mesma coisa: intolerância.
Concordo com você quando diz que latino-americanos e outros povos podem contribuir intelectualmente para o desenvolvimento não apenas de Israel, mas de todo o Oriente Médio. A intolerância encontra abrigo no reino da ignorância. Só mesmo mentes abertas para tentar mostrar, weberianamente falando, que religião é uma esfera importante de nossas vidas, mas que não pode se sobrepor às demais e nem ser tida como fonte de justiça e justificativa para qualquer estupidez como a do francês brigão aí.

 

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