sexta-feira, maio 06, 2005

Quando a sirene toca

A primeira parte deste post foi escrita numa pequena folha de rascunho, na manhã de quinta-feira, 5 de Maio.

São 10:15 da manhã. Há quinze minutos, uma sirene pôde ser ouvida de norte à sul do país. Durante um minuto, um longo minuto, seu som ecoou por toda Israel. Sabia que a sirene estava programada para as 10 da manhã.
Caminhava pelo centro de Jerusalém quando a ouvi. Não tive outra reação a não ser parar.
Aliás, todo mundo parou. Motoristas colocaram-se de pé ao lado dos carros. Comerciantes postaram-se em frente às suas lojas. Passageiros desceram dos ônibus. Por um minuto, ficaram em silêncio.

Hoje é "Yom Hashoá veGvurá": o Dia do Holocausto e do Heroísmo.
Nele, são recordados os milhões de judeus mortos na Segunda Guerra: nos guetos, nos campos de concentração, nos campos da morte. Celebra-se também o aniversário do Levante do Gueto de Varsóvia, de 1943.
Desde ontem à noite (quarta-feira), quase todos os canais de televisão israelenses saíram do ar: música, esporte e entretenimento não existiu na tv por um dia. As emissoras que mantiveram a programação, reprisavam filmes, documentários e entrevitas com sobreviventes (aliás, tive que assistir ao jogo do Milan por um canal francês).
Do Museu do Holocausto em Jerusalém (Yad Vashem), foi transmitido ao vivo um bonito e (como sempre longo) ato de Yom Hashoá; com presença do presidente israelense, primeiro-ministro e centenas de sobreviventes. O "Nunca mais" era sempre repetido, em todos os discursos.
Hoje, em Israel, vivem cerca de 250 mil "nitzolei haShoá" ("sobreviventes do Holocausto").

Não posso deixar de dizer aqui que me sinto também um sobrevivente.
Primeiro, pelo fato de meus quatro avós (que Deus os tenha) terem sobrevivido à barbárie nos campos de concentração antes de emigrarem ao Brasil (Auschwitz, Dachau, Bergen-Belsen, Mauthausen, todas essas coisas). Não tenho dúvida de que todas as gerações posteriores são também sobreviventes.
Segundo, por existir um país como Israel.

Sou um dos maiores críticos de todos os problemas daqui; os podres, as sacanagens e as contradições que existem em Israel. Acho que já deu pra perceber isso pelos meus post antigos. Mas, em algumas poucas vezes, dá pra sentir como é especial esse lugar. São poucas, mas é possível.
Ontem, enquanto soava a sirene, arrepiei-me. Pensei não somente nos meus avós. Não somente nos outros seis milhões de judeus assassinados na Europa. Pensei também nesse milagre chamado Israel.


A Sirene toca

Para matéria do JP sobre o ato no Yad Vashem (em inglês), clique aqui!
Para um slide de fotos do novo Yad Vashem, clique aqui!
Para matéria em hebraico sobre a solenidade, clique aqui!

ps1: Na aula, assistimos a um documentário sobre a integração e a absorção dos sobreviventes na sociedade israelense dos anos 40 e 50: os traumas, os problemas práticos e psicológicos. Muito bom.
Apesar de não ter sido esse (e com uma abordagem um poquinho diferente), recomendo aqui um filme (poderia falar de vários).
"O Longo Caminho para Casa", vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 1998.
Narrado por Morgan Freeman, o filme conta a jornada dos milhares de sobreviventes, entre 1945 e 1948, até chegarem à Israel. A produção é do Centro Simon Wiesenthal, instituição especializada no estudo do Holocausto.

ps2: Uma notícia interessante. E estranha.
A polícia israelense prendeu um soldado do país acusado de pertencer a um grupo neonazista. O soldado, morador do assentamento judaico de Ariel, na Cisjordânia, confessou à polícia que era neonazista e disse que odiava o Estado de Israel (vai entender!).
A polícia inspecionou a casa do detido, em cujo carro havia heroína, e apreendeu diversos objetos que o relacionavam com organizações neonazistas no exterior. O soldado, que serve em uma unidade logística do exército israelense, vive com a mãe.
Segundo informações deu uma rádio, quando os agentes chegaram à casa do suspeito, a mãe do soldado também se declarou neonazista e disse que odiava Israel.
Mais ao sul, um adolescente de 15 anos foi detido pela polícia na cidade de Beer-Sheva após confessar que havia pintado suásticas por toda a cidade e de se ter declarado fã de Hitler. E, além disso, a divulgação dessas prisões coincidiu com o Yom Hashoá.

Não tenho comentários sobre isso.
Mas que é um prato cheio para um psiquiatra, psicólogo ou psi-alguma coisa, não tenho dúvidas.
Tudo isso me lembro de um filme, muitos já devem ter visto (e relacionado imediatamente com essa notícia). "Tolerância Zero" mostra a história de um judeu que abraça as idéias neonazistas. O filme é um pouco (um pouco?) pesado, o final é confuso, mas a idéia é muito boa (é uma história real).
Não é o melhor filme do mundo (está longe), mas como curiosidade vale à pena. Abaixo, um frame.


Tolerância Zero


ps3: FINALMENTE!!!!!!! Estou com as fotos da Jordânia e, como não podia deixar, coloco à disposição de vocês (com legenda e tudo). Divirtam-se!

Para ver as fotos de Áqaba, clique aqui!
Para ver as fotos de Petra, clique aqui!
Para ver as fotos de Amã, clique aqui!
Para ver as fotos de Jerash, clique aqui!

5 Comments:

At 9:03 PM, Anonymous Anônimo said...

Sensacionais as fotos, mas eu quero vê-las no papel. Uma perguntinha: se é proibido burro em Petra, por que tem aquela quantidade de árabes passeando em cima de burros???
Michel.

 
At 1:31 PM, Anonymous Anônimo said...

adorei as fotos!!!mto boas... e a musica do broza com o carinha la tb eh boazinha... ah.. foi bom tb o post do Iom Hashoá.... vai a ajudar na peula de hj....
hehehe
bjo

 
At 5:07 PM, Anonymous Anônimo said...

Tem tambem aqueles que nao estao nem aih pra sirene.... justamente os que seguram com 'unhas-e-dentes' o monopolio religioso!

 
At 6:12 PM, Anonymous Anônimo said...

Aficcionado por fotos, vi e revi as fotos de sua viagem a Jordania.
"Du caral...caramba!". Nao menos Nao menos importante o conteudo do blog que continua bem interessante a cada post.
Abracos,
Daniel

 
At 6:21 PM, Anonymous Anônimo said...

Ops, esqueci de comentar. Tambem fiquei arrepiado por 1 minuto durante a sirene. Naquele dia dormi pouco, propositalmente para estar na rua as 10:00. Quando tocou, eu estava saindo do banco. Todos ficaram estaticos. Incrivel. Mais do que pensar nos 6 milhoes de pessoas mortas, meu pensamento enfatizou a parcela de criancas mortas.Triste.
Abracos,
Daniel

 

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