Rabiscos de um caleidoscópio
Enquanto isso, em mais um viagem de ônibus por Jerusalém...
O ônibus é o microcosmo da sociedade israelense. É possível ver de tudo.
Em Jerusalém então, nem se fala.
Digo que uma curta viagem de ônibus por aqui equivale à classes de História, Sociologia, Política e Religião. Tudo ao mesmo tempo. E, para complicar, sempre se alterando. Como um caleidoscópio. E fascinante como ele.
Minha professora de hebraico costuma dizer que cada ser-humano em Israel é uma história. Um livro, um filme de hollywood. E nada melhor que o ônibus para perceber isso.
Entro no ônibus e sento no fundo.
Atravesso um bairro de judeus ortodoxos. A impressão que se tem é que passo numa mistura de século XVIII com XXI. Observo pela janela.
Uma mulher religiosa com cara de menina passeia na rua com seu bebê. Elas se casam cedo por aqui. Três barbudos discutem descontroladamente alguma coisa que aposto não ser tão importante. Duas amigas adolescentes conversam sobre amenidades sentadas num banco. O comércio ferve. Não há televisão.
O ônibus arranca, e tudo fica para trás. Até as meninas (duas princesas, por sinal. Aliás, até casaria com uma delas se não fossem religiosas. Ou as duas).
Já estou em outro bairro, próximo à Universidade Hebraica (o destino da minha viagem).
É impressionante como, num piscar de olhos, a paisagem muda completamente. Pode-se observar de tudo num passeio de ônibus em Jerusalém. De judeus ortodoxos à turistas americanos. De árabes à etíopes. De tailandeses à russos.
Acaba de sentar um senhor religioso ao meu lado. Seu terno negro tem um cheiro forte. Não deve ser lavado há pelo menos dois meses.
Tirou um livro do bolso e começou a rezar. Acho que tentou ler o que estou rabiscando aqui. Espero que não entenda essa pergunta.
"Que raios esse homem está rezando às 11h30 da manhã de uma terça-feira dentro de um ônibus lotado?"
Bom, se ele não me bateu até agora, acho que não entende mesmo português.
Já estou chegando na Universidade. É o próximo ponto.O botão para indicar que quero descer está quebrado. Acho que terei que gritar imbecilmente para o motorista daqui de trás. Como todo israelense.
ps1: Para mim não tem a menor importância, mas para os israelenses têm. Então vamos lá.
O time de basquete do Macabi Tel-Aviv ganhou mais uma vez a tal Euroleague. No fim de semana, quase todo o país parou para assistir a um bando de norte-americanos jogando com a camisa do time israelense e massacrando um adversário atrás do outro.
Capa dos jornais, minutos e minutos dedicados nos telejornais. Fui literalmente massacrado.
A parte mais engraçada foi, sem dúvida, a cobertura do canal 5, de esportes.
Logo após a conquista, a tv mostrou o primeiro-ministro Ariel Sharon, de seu gabinete, telefonando para o técnico Pini Gershon.
"Você é fenomenal. Nos trouxe alegria para o Dia da Independência" (que é depois de amanhã).
Putz, Sharon, era só o que me faltava...
Abaixo, a comemoração da torcida no famoso parque Yarcon, em Tel-Aviv. Quem não sabe jogar futebol tem mesmo é que se contentar com basquete...
Para ler mais sobre o título do Macabi Tel-Aviv (em hebraico), clique aqui!
ps2: Hoje à noite começa o dia mais triste do ano para os israelense. O "Yom Hazicaron leChaialei Tzahal" ("Dia da Lembrança dos Soldados do Exército de Defesa de Israel").
É só pra deixar o registro.
Hoje, no Kotel (Muro das Lamentações), farão um grande tekes (cerimônia) em memória dos soldados mortos em todas as guerras, operações e atentados. Estarei presente, e farei o registro.
No dia seguinte, depois de amanhã, é Yom Haatzmaut (o Dia da Independência). Do dia mais triste, passam diretamente para o mais alegre. É boa a idéia.
A cidade já está cheia de bandeiras. Mas, como disse, tudo isso é assunto(e links) para os próximos posts...
ps3: Já está no ar a nova enquete do "Blog do Bean". Dessa vez vou seguir o resultado. Prometo (hahahahahaha!!!!)
1 Comments:
Oi. Carlinhos,
Posso imaginar o quanto deve ser surpreendente vivenciar esses acontecimentos. Iria dar muitas risadas de tudo.
Beijinhos,
Maíra
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