Com ou sem puritanismo?
"Por que é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim.
Eu te quero a todo instante, nem mil auto-falantes.
Vão poder falar por mim."
Em minha última noite em Belo Horizonte, deixei o samba de lado e fui ao Palácio das Artes.
Em cartaz, o monólogo "A Casa dos Budas Ditosos", com Fernanda Torres - uma adaptação do livro de João Ubaldo Ribeiro.
A peça (sucesso de bilheteria em 2005) conta, num relato na primeira pessoa, a vida de uma baiana de 68 anos, residente no Rio e que jamais se furtou a viver as infinitas possibilidades do sexo. Isso mesmo, SEXO.
“A Casa dos Budas Ditosos” é um desabafo irônico contra as amarras da sexualidade.
Aborda o sexo sem puritanismo e, segundo o diretor Domingos de Oliveira, é uma ode à pornografia como forma literária - sem recursos apelativos.
Um espetáculo em homenagem à luxúria.
Fui alertado que poderia me constranger pelo texto. Por várias pessoas. Que era tudo apelativo e de mau gosto.
Tive que rir.
O brasileiro, apesar de toda a imagem que construiu para o exterior e principalmente para ele mesmo, é ainda cheio de dogmas e repressões. Apesar das "boquinhas da garrafa" e das "atoladinhas" da vida. E sempre será.
Fiquei imaginando como seria uma versão israelense de "A Casa dos Budas Ditosos".
Em primeiro lugar, não creio que chocaria tanto o espectador. Talvez, sim, os mais velhos.
Apesar da religião e de alguns traumas, Israel é um país bem mais moderno que o Brasil. No sentido da sexualidade, digo. Ou na discussão sobre ela.
E não é somente uma questão estética ou de primeira vista (como, por exemplo, chegar à Tel-Aviv e ver, em 5 minutos, uma dezena de casais homossexuais caminhando na praia ou abraçados nas sacadas dos apartamentos).
A discussão é mais profunda.
Está relacionada à história, à sociedade, às influências estrangeiras.
Enfim... alguém se prontifica em adaptar?
Taí uma boa idéia.
Quem sabe o relato de um libertina ucraniana de 68 anos que chegou em Israel há 50 anos e que narra suas aventuras sexuais sem culpas e ressentimentos!?
Daria uma boa história...
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