domingo, agosto 20, 2006

A prostituta e o cafetão

Estou de volta.
Depois de um tempinho, é verdade.
Probleminhas de sono, falta de tempo e muitas... muitas shmirot (guardas) na base, no sul de Israel.
Nada demais...

Mas se é o que vocês querem, falemos então sobre "a guerra"..



A maior discussão na imprensa (e a mais estúpida por sinal) é quem a venceu: Israel ou o Hizballah.
Estúpida porque não é esse o ponto. O buraco é mais embaixo.
Podemos, no máximo, falar sobre algumas conclusões pertinentes que esse embate nos fez tirar.
Analisem comigo:

1)
Numa guerra de um Estado contra um grupo terrorista, é muito difícil apontar vencedores. Justamente por tratar-se do TERROR.
Apesar dos mísseis e dos fogueres, o terror não luta com as mesmas armas de um Estado soberano.

Em primeiro lugar, o efeito psicológico é infinitamente maior nesse tipo de combate. Aliás, a tensão e o medo afetam muito mais a população do que em qualquer guerra que conhecíamos até ontem.



Em segundo lugar, e nesse ponto estão certos alguns analistas israelenses, a tática de guerra do Hizballah se parece muito com as de guerrilha; mas com uma diferença: no caso dos terroristas, civis libaneses são usados sem dó nem piedade.

Depósito de armas e lança-mísseis são instalados sem pudor na casa dos civis (com seus conscentimenos. O Hizballah tem também sua faceta "social", de ajuda aos necessitados com uma rede de saúde e educação.
E do favor em troca).

O sujeito põe a cabeça pra fora do bunker, atira mísseis para cima (sem qualquer noção se o alvo será uma base do exército israelense, um hospital, uma escola ou um asilo), entra novamente, fecha o abrigo e espera.
Repete a mesma operação umas dez, quinze vezes.
Até que vem um avião israelense e destrói a casa.
Três, quatro, cinco crianças morrem porque não estavam no bunker.
Está aí o prato cheio para os pseudo-comunistas-fascistas de plantão e os urubus da imprensa.

Quando mata civis no Líbano, Israel falha e assume o erro e a culpa.

Quando mata civis em Israel, o Hizballah distribui doces nas ruas e faz buzinaço.



Já não é de hoje que qualquer inimigo sabe que Israel não será vencido no campo militar.
A superioridade bélica é bastante significativa.
Chega, então, o elemento TERROR.
O psicológico.
Esse sim pode destruir Israel.

2) Israel sabia desde o início que essa guerra não seria vencida em hipótese alguma no campo de batalha.
Por mais que destruíssem milhares de mísseis nas tocaias dos terroristas, eles nunca acabariam.
A fonte não seca.
Fontes, para os menos informados, são a Síria e o Irã.

Vejamos as perdas e ganhos de Israel na guerra...

PERDAS:

* o alto número de soldados mortos e feridos.
A vida de um soldado aqui, como de para perceber, vale muito.

* Os dois soldados sequestrados continuam no poder do Hizballah.
Se não estiverem mortos.

* A popularidade e o índice de aprovação do governo do primeiro-ministro Ehud Olmert caiu drasticamente.
Os motivos: a "longa" duração da guerra, o alto número de soldados caídos e as denúncias que o chefe do Estado-Maior, Dan Halutz, teria se beneficiado do cargo para benefício próprio em transações bancárias.

* Muitos miluimnikim (reservistas) andam reclamando sem medo da "confusão de ordens".
Foram pkudot (ordens) contraditórias, indecisão, tropas israelenses atirando em tropas israelenses... até soldado atropelado por tanque houve.
Dá até medo.



* o medo do frágil cessar-fogo e que o inferno no norte possa retornar.
Ainda pior.

GANHOS:

* O exército do Líbano e tropas da ONU já estão ocupando o sul do país árabe.
Era esse o objetivo.
Ou o primeiro passo dele.

* Aos poucos, o cerco vai se fechando contra o Irã.
A prostituta é Nasrallah, mas o cafetão é o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Isso o mundo já entendeu.

* Alguns erros cometidos na famosa operação "Paz para a Galiléia", de 1982, não voltaram a ocorrer.
Israel entrou E saiu do Líbano.
Cumpriu o prometido e não ficou por duas décadas.

Bom, vou ficando por aqui.
Volto no próximo com um assunto mais light (e, como pediram, com vídeo).
O mundo não se faz só de guerras, apesar de que é isso que vende jornal.
O Blog do Bean não está à venda....

5 Comments:

At 3:47 AM, Anonymous Anônimo said...

Belo Post, Bean!
Tamos aí, lendo sempre...
Abração e te cuida no exército.

 
At 3:54 PM, Anonymous Anônimo said...

grande bean...
tu é o cara :)

muito bom o post, como é costume do teu ótimo blog...

ah, o que acha de vender o blog por uns 23 milhões de euros?? venderia?? hehehe

abraços
lepra

 
At 4:20 AM, Anonymous Anônimo said...

excelente post bean. sou seu fã.
se vc vender seu blog agora é igual a venda do fred pro cruzeiro.

aliás, ultimo jogo: América 9 x 0 Jataiense

 
At 5:25 AM, Blogger Nikolas Spagnol said...

Ô Bean,

Sobre essa história de guerra, devo dizer que não sou muito qualificado para emitir qualquer opinião, pois ela se baseia apenas em leituras - nunca estive por estas bandas, aliás, nunca saí do Brasil - e ainda assim leituras limitadas.

Mas insistirei: acho que a superioridade militar de Israel é tanta que os líderes do lugar acabam "errando a mão" e apoiando-se demais na força bruta, e menos na inteligência.

Não me parece a forma mais efetiva de combater o terrorismo bombardear quarteirões civis inteiros da população alheia. A cada dia, mais sírios, palestinos e agora libaneses vão querer se alistar no grupelho anti-Israel mais próximo. E o Nasrallah tá solto por aí.

Por onde anda o Mossad, a premiada agência de inteligência israelense? Não ficava mais barato e menos sangrento assassinar os cabeças do Hizbollá numa missão secreta?

Começo a achar que parte do problema é a efetiva influência dos militares na política de Israel...

 
At 6:01 PM, Anonymous Anônimo said...

Nu, muito bom.
Pedindo permissao pra imprimir e andar com o post pendurado no pescoço. Não precisarei de mais nada pra responder aquelas perguntinhas de sempre.
Outra coisa, uma sugestão apenas, de verdade e no maior espirito, digamos, do dialogo construtivo, para quem escreveu o post ai de cima. Eu me fazia a mesma pergunta, ate que assisti Munique, o filme de Steven Spilberg. Não que eu tenha encontrado a solução pro problema, mas troquei essa pergunta por outras

Abraço pra voce Carlinhos, e parabens pela referencia no Globo

Clarissa

 

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