O preço da Independência
Não existe sentimento mais israeli do que o demonstrado nos últimos 2 dias.
Da tristeza profunda e da saudade para o orgulho e a alegria incontida.
Ontem, o país lembrou todos os soldados mortos nas batalhas de Israel. O dia tem um clima pesado, fúnebre, quase macabro. Às 11 da manhã, uma sirene parou o país. Estava aqui em casa, deitado na rede da varanda. Levantei-me e olhei para a rua. Carros pararam e pessoas, em sinal de respeito, saíam e se postavam do lado de fora.
O baque é forte.
Em Israel, não existe uma só família que não tenha perdido algum parente, algum amigo ou algum vizinho nas guerras do país. Durante todo o dia, vários canais de televisão saem do ar. Em outros, o nome e data de falecimento dos mais de vinte mil soldados mortos são reprisados. Todos os anos.
Esses dois dias, de Lembrança e de Independência, servem para unir os israelenses. Não importa a direção política, não importa nada.
"Yom Hazicaron" é dia de lembrar. "Yom Haatzmaut", de festejar.
Mas existe uma excessão. Aqueles religiosos ultra-urtodoxos que não reconhecem o Estado de Israel (dizem que só poderá existir um Estado judeu quando chegar o Messias. Mas, ao contrário, é uma "mitzvá" viver na terra de Israel, uma boa ação. Por isso estão aqui, chupando dinheiro do governo, não fazendo exército e negando o Estado). Então, tudo isso é sem contar com eles.
Abaixo, o momento da sirene e, em primeiro plano, as bandeiras: uma preparação já para o dia seguinte.
"O povo de Israel sabe o preço da Independência", disse um político numa das cerimônias.
E é exatamente o que comemoramos hoje. Festas, foguetórios, êxtase total.
57 anos de um país que é quase um milagre. De um país que critico. Mas não serão exatamente as coisas que amamos que são passíveis de críticas? Por que criticar algo que não faz a menor importância?
São em momentos como esses que sinto feliz em ter escolhido Jerusalém como minha casa. Pelo menos pelos próximos anos.
Abaixo, uma charge do Yom Haatzmaut (para os árabes, o Dia da Catástrofe) que, ao contrário do Brasil, é dia de festa. Aqui, a Independência não foi somente um papel assinado pelos poderosos. Foi suado, sangrento e conquistado. Hoje, o churrasco já virou tradição nas comemorações...
Para matéria sobre Yom Hazicaron (em hebraico), clique aqui!
Para outra matéria em inglês, clique aqui!
Para suplemento sobre o Dia da Independência (em inglês), clique aqui!
ps1: Vejam que boa notícia. Meios de comunicação argentinos anunciaram que a primeira-dama do país, Cristina Fernandez, pensa em pressionar o governo para que a Argentina abra uma embaixada em Ramallah, na Cisjordânia.
Mas Bean, por que é uma boa notícia?
Eu sempre disse que o Estado Palestino deve ser criado o mais rápido possível, fruto de uma solução primeiramente política. Com as fronteiras fechadas e definidas (é esse o problema), tudo fica mais fácil de ser tratado, até em nível internacional.
Embaixadas são geralmente abertas nas capitais dos países. Portanto, tirem suas conclusões.
Para a matéria (em espanhol), clique aqui!
ps2: A notícia já é oficial. O gordo Ronaldo visitará Israel e os territórios ocupados no próximo dia 16.
A convite da ONU, o recém-separado atacante participará da inauguração de um centro para jovens na cidade de Ramallah e, à tarde, visitará um projeto de escolinhas de futebol em Herzlya, próximo de Tel -Aviv. Nada que um bom marketing não ajude o "já-não-tão-milionário" jogador.
Aliás, pediram que eu comentasse aqui sobre a separação do casal 20 (20 segundos). O que posso dizer é que trata-se de uma mineirinha bem esperta. Esperta, e agora rica.
Para ler notícia sobre a visita (em português), clique aqui!
Para uma brincadeira do site Kibeloco, clique aqui!
ps3: Coloco aqui no blog o link para um pequeno slide feito por uma organização chamada Teach Kids Peace. Vale a pena assistir e também, se for o caso, dar uma sapeada pela página.
Eles fazem um trabalho bonito.
Para assistir (tenha um pouco de paciência até que abra a página), clique aqui!
ps4: Outra coisa digna de comentário é a tal cúpula entre os países da América do Sul e os árabes.
Apenas ontem, encontrei as primeiras notícias do fórum nos jornais israelenses.
Apenas ontem, encontrei as primeiras notícias do fórum nos jornais israelenses.
Antes de meter o pau no Lula sobre o "caso Palestina", é preciso que os ativistas judeus entendam que tudo gira em torno de um mal chamado dinheiro. E, mesmo assim, nunca houve nenhum apoio claro e direto que desrespeitasse o Estado de Israel. Pergunto: que país do mundo é contra um Estado Palestino?
Segundo o diretor do Instituto do Oriente Médio em Washington, David Mack, "não é claro (para ele) que os países sul-americanos tenham influência tão grande no conflito, por isso não vejo muito sentido em falarem sobre isso na cúpula". Isso quer dizer que o que o Brasil (e os outros paisecos da América do Sul) acha ou deixa de achar, pensa ou deixa de pensar sobre o conflito, não faz a mínima diferença para o que acontece por aqui.
Não quero comentar sobre algo que não vi direito. Apenas li em alguns sites. Não acompanhei essa cúpula.
Mas, no papel do Lula, o que vocês fariam? Com a possibilidade de godzilhões de acordos comerciais com os árabes e injetar milhões de petrodólares, eu apoiaria até a causa do capeta.
Para ler sobre a cúpula no jornal Haaretz (em inglês), clique aqui!
Para matéria do portal Terra, clique aqui!
Para matéria da BBC Brasil, clique aqui!
5 Comments:
Levando em conta o talento ímpar do Lula e do PT em todos os sentidos, duvido muito que essa cúpula com os países árabes dê algum resultado comercial realmente importante para o Brasil.
E, de fato, acho extremamente preocupante que o governo brasileiro receba e apóie líderes de países cujos governos são todos ditatoriais.
Se bem que não é de se espantar, já que os melhores amigos do Lula são Fidel Castro e Hugo Chaves, que um monte de gente acha bacana só porque fala mal do Estados Unidos.
De resto, também sintomático que o documento final da cúpula fale em paz, mas nem uma linha sobre democracia.
A simpatia do governo brasileiro por outros governos autocráticos e autoritários merce muita atenção.
Sei que vários de nós, talvez por termos sido do Dror e pela nossa preocupação com a política de Israel, temos uma certa simpatia pelo que seja de esquerda (ou assim se apresente).
Caso o Michel leia esse post, permito-me lembrar a S. Exa. daquela foto que vimos de uma comemoração de 1 de maio no Brasil, em que esse povinho do PT e adjacências queimava uma bandeira de Israel.
A esquerda brasileira (ou, ao menos os seus dirigentes ou comissários) é autoritária e ainda sonha inaugurar um soviete supremo no Palácio do Planalto.
Essa cúpula, no fundo, é apenas mais um sintoma disso.
André
Olá, Carlinhos!
Vi o seu comentário no blog da Dri (que não conheço pessoalmente, mas é amiga de uma grande amiga) e fiquei curiosa.
Fui voluntária em um Kibbutz em 2000, de março a setembro (voltei ao Brasil 20 dias antes de começar a nova Intifada de 28 de setembro). Estava aí durante as comemorações de independência, conheço grande parte dos lugares que mencionou e tenho um carinho enorme por essa terra que eu também critico muitíssimo. Identificação última: também sou jornalista (na verdade, entregando a monografia neste semestre, mas já atuando há um tempinho).
Beijos muito grandes,
Gisele
PS - Você está precisando engordar??? Então vá se entupir de burekas, pelo amor de Deus! Faça isso por mim!!!!
Ao Dr. André,
Gostaria de lembrá-lo que, na última eleição, votei no Sr. José Serra (se é que isso mudaria alguma coisa).
Michel.
Ps: o Ronaldinho vai levar a nova namorada espanhola para Ramalah?
Fiquei curiosa pelo fato de você morar em Jerusalém. Como eu disse, já vivi um tempo em Israel.
Agora, repito o pedido: se está mesmo precisando engordar, se entupa de burekas e pense em mim!!! Adoraria poder fazer o mesmo!
BETEAVON!!! (como se escreve essa bagaça? Infelizmente não fiz o Ulpan...)
Exmo. Sr. Dr. Michel,
Jamais foi minha intenção chamá-lo de petista ou sugerir que V. Exa. tenha votado no Lula das eleições presidenciais.
Apenas a cúpula das mil e uma noites me lembrou daquele episódio a que me referi.
Minhas siceras apologias se me fiz interpretar mal.
André
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