Com background fica mais fácil
“É preciso descer muito fundo para encontrar forças e subir novamente”
cântico chassídico
Pediram-me, já há algum tempo, para escrever alguma coisa para a revista dos 60 anos do movimento juvenil Habonim Dror no Brasil.
Escrevi. E publicaram, no Rio.
Ficou bem bacana o layout da revista.
Fiquei sabendo também que fizeram uma grande festa.
Sessenta anos é bastante tempo. Digno de comemorações. E outras reflexões também...Por mais que seja judaico, sionista, socialista, kibutziano e todas aquelas outras coisas, o Dror é movimento. Muda (é essa a essência).
Basta ter coragem.
Abaixo, o pequeno texto que rabisquei para o pessoal do Rio. O homenageado era Yitzhak Rabin. Misturei tudo, fiz uma salada.
Deu isso aí...
Caminhando por vielas escuras, recordo-me de um tempo regado por sonhos e ideologias. Tempos de dedicação, tempos de ação. Atinjo a rua. Lentamente, páro e observo, por um mirante improvisado do lado esquerdo da pista, vários morros e casebres de lajes nuas. Lá está ela, Jerusalém, em seu total esplendor e beleza reluzente.
Não são todos os dias que me surpreendo admirando a paisagem, acompanhando moradores indo e vindo apressadamente; alguns com kipot, outros com kffyas. Às vezes, a própria cidade me agarra de surpresa. Continuo atingido por um tsunami de lembranças. Anos que, em pequenas cerimônias respeitosas, acendíamos uma vela e nos deliciávamos com histórias de coragem e bravura de um homem. Casos, datas, homenagens.
Ele nunca foi esquecido.
Porém, ficávamos submersos nos mesmos sonhos e ideologias que resolveram retornar à minha cabeça, anos depois, nesse passeio pela Cidade Velha de Jerusalém. Sonhos e ideologias que nos faziam, ingênua mas deliciosamente, acreditar no que fazíamos.
Deparar-me atualmente com a bagagem cultural que recebi e transmiti nesse movimento, ainda mais quando colocamos como figura central este homem, significa ao mesmo tempo fortalecer minhas convicções e afastar-me de outras paixões demodês.
Ter Yitzhak Rabin como um símbolo do "politicamente possível" possibilitou-me viver numa Jerusalém perturbada, porém de coração esperançoso.
A partir dessa figura, também pensar que a resolução de um conflito secular e que envolve elementos das mais variadas vertentes dependia de um pontapé, uma faísca.
Hoje, caminhando pelas vielas de Jerusalém, percebo que o tal pontapé, a tal faísca, já foram dados.
Sinto-me um privilegiado em perceber que meu status de "novo imigrante" é precedido de anos de atividades, de jogos, de discussões... enfim, da construção da minha identidade judaica e sionista.
Tenho a convicção de estar preparado para lidar com Jerusalém, para entender que o início do que o mundo passou a chamar de paz já foi dado e faz parte de um processo longo e penoso. Processo que durará algumas gerações, mas que dependia (e continua dependendo) de ações políticas.
Teriam meus sonhos sido transformados em opiniões meramente pragmáticas?
Como disse Amos Óz em uma de suas quase infinitas palestras, a paz verdadeira não se dá entre governos. Dá-se através dos governos. Até o dia em que ela, totalmente verdadeira, dará-se entre os povos. E tanto Yitzhak Rabin quanto o Habonim Dror fizeram-me perceber. A tempo.
Enquanto sou ainda jovem e procuro enxergar Jerusalém como minha casa.
ps1: Pela primeira vez em quatro décadas, palestinos estão cruzandando a fronteira (legalmente) sem o controle israelense.
Exatamente.
O terminal de Rafah, na faixa de Gaza, tranformou-se no último final de semana num "balaio de gato". A "casa da mãe joana". "A casa da luz vermelha". "Um coração de mãe".
Logo na primeira hora, 250 palestinos cruzaram a fronteira e foram ao Egito.
O primeiro a passar, o funcionário público palestino Yihad Zanun, foi visitar parentes no Cairo. Precisou de apenas 3 minutos diante do posto de controle para ter seus documentos checados.
Está sendo informado (assisti ontem a uma longa matéria na BBC de Londres) que "observadores europeus" têm supervisionado a fronteira. Ou só "observado" (são 20, chegarão mais 50...).
Nem no Brasil um sujeito espera apenas 3 minutos para sair do país.
Isso não me cheira bem...
A princípio, a fronteira estará aberta apenas 4 horas por dia. Daqui algumas semanas, passará a operar durante todo o dia, 7 vezes por semana.
Sabe-se lá o que vai passar por ali às 3 da madrugada. Ou ao meio-dia.
O exército israelense já está preocupado. Também pudera...
No fim das contas, não há muito o que se fazer. Democraticamente falando. Que os "observadores" possam "observar" muito bem.
É o que os israelenses esperam...
ps2: Meu Galo está rebaixado. Não tenho comentários. O único é a pequena frase no início do post.
Fui cobrado por não escrever nada do América aqui no blog.
Glorioso coelhão.
Por enquanto, disponibilizo o melhor texto que li sobre "o que é ser americano". Os verdadeiros americanos se identificarão. Eu, que me simpatizo bastante com o verde-preto, já consegui entender um bocado o que é torcer para o América.
Leiam.
Para ler a crônica "Up my ass", clique aqui!
Post dedicado a LT Connections.
8 Comments:
dava pra sentir a presença de cada alma alvi-negra espalhada por todo o mundo. Você era uma delas. Abraçados, alguns chorando, outros sorrindo. As lágrimas de um homem velho, que mal se aguentava em pé, representa uma bonita história manchada por uma cambada de vagabundos incompetentes. O sorriso de seu neto, que ainda é novo pra entender essa confusão de sentimentos, é a prova de que a vida continua. E que é preciso levantar a cabeça. Quem cantou o hino após o jogo sabe que não há motivos pra se envergonhar. E sabe tbm que momentos melhores virão.
Bean, ser rebaixado para a segundona é muito ruim e muito triste, mas jogar a série B é a chance de o clube se reorganizar, dar a volta por cima e voltar revigorado para ser o sempre campeão. Esse ano passei isso com o Grêmio e comemoramos muito o título de campeão da série B e com certeza iremos voltar a ser o campeão de sempre. O mesmo eu digo para o galo e sei que vocês vão dar a volta por cima.
abraços
Lepra
obrigado pela dedicação. o bean, só não vou te zuar pq vc é americano tambem. ai se eu ficar te enchendo o saco vc vai acabar ficando puto com o américa, e como o américa precisa de vc eu não vou falar nada......hihihi.
Achei ducaralho aquele cantor do post passado. quero um cd dele. valeu bean e abração. nao fica triste falo? hihihihi.
COELHO!
Quem foi que deixou esse primeiro comentário anônimo??? Ficou muito bacana.
O texto do Rabin também ficou muito bom, quero ver essa revista!
Michel.
Ah, muleque...
Se vc acha que é ruim estar na série B, pensa nisso: antes estar lutando na série B, do que ficar doente.
Quer um exemplo? No início de novembro, o nosso futebol sofreu alguns ataques: gripe aviária,(na qual o corinthians só se salvou por causa da "injeção argentina"), o saci machucou a perna,a febre amarela no peixe, febre aftosa no porco...
Teve outros mais no qual me recuso a citar para não acabar com a moral do meu time.
Bean, acho que foi um tanto 'tendencioso' esse 'casa da mae joana + casa da luz vermelha'... soh porque o nosso braco forte nao estava mais lah?
Eu queria ver quem eh que depois de 38 anos debaixo de ocupacao, nao era capaz de 'descer do salto 7cm, calcar uns tamaNCO e chutar a barraca'? Ateh nas melhores familias de Londres, eu acho...
O que serah que os egipcios disseram da gente, ao ver aquela massa correndo pra dentro do Mar Vermelho, aflita pela liberdade depois de aaaaanos de escravidao e mais 40 de deserto? No minimo um "Oo mundica desesperada!"
Eu, tendencioso?
Bom, é essa a idéia.
Sou sempre tendencioso. Tendo 100% das vezes para as minhas idéias ou minhas bobagens. Pode não ser muito saudável, mas é assim que funciona.
E como o futebol é fascinante! A coisa mais importante dentre as coisas menos importantes.
Voltaremos. Mais fortes e mais vingadores. Aguardem.
Postar um comentário
<< Home