sábado, maio 14, 2005

No turismo vale tudo

Muito bonita essa coisa de ideologia, de lutar pelo que se acredita.
Muito "bonito" também é se utilizar de uma situação que não é a ideal (de acordo com sua tal ideologia) para ganhar dinheiro.
É isso o que acontece, muitas vezes, no mercado árabe de Jerusalém.

A foto abaixo foi tirada numa das incontáveis lojas de souvenirs no "shuk" da cidade velha. Muitos já se acostumaram com as estampas (inclusive eu), mas achei interessante passar alguma coisa para os senhores (e senhoritas) leitores.

O "Free Palestine" e a foto do Arafat são clássicas. Aliás, todas são.
A amarela, no alto da foto, mostra algumas letras estilizadas dando uma impressão de estar escrito em hebraico. Mas, ao contrário, é possível ler em claro inglês "go fuck yourserlf".
Logo abaixo, outra ótima. "America don´t worry. Israel is behind you". Muito interessante quando lembramos que são os árabes que as vendem. Não vejo outra razão, a não ser pelos dólares (e agora euros) dos turistas (não seria essa a idéia do turimo?).
As duas estampas que mais gosto tambem estão na foto. No centro, de rosa, alguns bonequinhos rachando de rir. "Peace in the Middle East? Hahahahahaha". Meio macabro, mas vende como água.
E, por último, o famoso "I got stoned". De todas, acho a mais inteligente. O sentido é duplo.
"I got stoned", que a princípio teria ligação com a palavra "stone" (pedra), também é uma gíria para "chapado" (ou fumado, ou como queiram). As opções para ser apedrejado (ou ficar chapado) são Gaza, Hebron, Jerusalém, Ramallah, Belém e Mea Shearim, o famoso bairro dos judeus ultra-ortodoxos aqui na cidade.

Existem várias outras estampas. E bugigangas também: pratos, narguilas, kfias, almofadas, roupas, o que quiserem. E não importa onde estamos. Turismo é turismo: e vale tudo (é só clicar e notar, no cantinho direito: "Minha avó foi à Jerusalém e tudo que ganhei foi essa camiseta").

ps1: Dois skarim (pesquisas de opinião pública) me chamaram a atenção nos últimos dias. As duas publicadas na Internet. Com resultados curiosos.
O Jerusalem Post, em sua página principal, perguntou: "O Dia da Independência é um evento judaico ou um evento israelense?". Até às 13h de sábado, foram 1623 votos. Deles, 59% votaram num "evento israelense" e os outros 49% no "evento judaico". (resultado atualizado)
O Yom Haatzmaut é, na teoria, um evento judaico. Na teoria. Apesar das tentativas de várias comunidades judaicas da Diáspora de manter o Yom Haatzmaut no calendário festivo (e as iniciativas são muitas vezes brilhantes), o problema é puramente de identidade.

Organizações oficiais promovem esses eventos. Sim, ótimo. É obrigação delas. Mas será que o sentimento de um judeu que mora fora de Israel para o Dia da Independência é maior, por exemplo, do que o Dia do Holocausto?
Todas essas indagações giram em torno da complicada relação afetiva das comunidades da Diáspora e o Estado de Israel. E, quando falo das comunidades, não falo dos líderes. Falo das pessoas. Afinal, apesar do sentimento de "povo", elas não moram em Israel.
Acho que o assunto daria pesquisas e mais pesquisas, estudos e mais estudos. Por isso esgoto aqui, com mais perguntas do que respostas.
Antes que eu me esqueça: meu voto foi para "um evento israelense".


Yom Haatzmaut

Na outra pesquisa, 1200 palestinos foram entrevistados na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Deles, 52,8% acreditam que a retirada israelense de Gaza contribuirá como um passo rumo à paz, contra 33,4%.
Não deixa de ser interessante, por vários motivos. E também não deixa de surpreender, inclusive os que acham que os territórios ocupados são "100% poço de ódio". Ninguém é burro.
Para ler os resultados da pesquisa (em inglês), clique aqui!

ps2: A notícia é boa, mas com ressalvas.
O jornal New York Sun informou que três sites norte-americanos – ArmedLiberal, RogerLSimon e LittleGreenFootballs – juntaram-se numa grande companhia chamada Pajamas Media (Mídia de Pijama).
O objetivo é (tentar) montar uma rede mundial de blogs que consiga trazer notícias com mais agilidade que os veículos de comunicação tradicionais e com o ponto de vista pessoal que só o blog pode oferecer. A idéia é que, na medida em que o projeto se torne economicamente viável, cada afiliado tenha uma câmera e um laptop para poder enviar conteúdo multimídia em primeira-mão.
O nome Pajamas Media é referência a um comentário do executivo da CNN Jonathan Klein que, ao desdenhar do potencial jornalístico dos blogs, disse que um blogueiro é apenas "um cara de pijama sentado na sala de sua casa".

Pergunto-me: será mesmo verdade? Pergunto outra vez: o que seria, cientificamente falando, um blog jornalístico?
Parte da resposta é dada num simples artigo do jornalista Pedro Doria, do site NoMinimo.
Segundo Pedro, a maioria dos blog brasileiros não passam de uma conversa de bar. Poucos são os blogs literários e aqueles que denominou "informativos". Porém, a discussão é bem maior do que isso. Inclui teorias jornalísticas, de mídia e de cyberespaço.
Acredito, porém, que o ponto de partida já está dado.

Não me considero "um cara de pijama sentado na sala de casa". Também acho difícil dividir os blogs segundo critérios tão rígidos. O que tento (e nem sempre consigo, porque é difícil) é dar um pouco de informação, de comentários, de links e também de conversas de bar. Tudo na sua medida, tudo no seu tom.
Mas voltando ao assunto: foram poucas as vezes que consegui ver uma boa idéia sair de um péssimo conceito. Na maioria das vezes, acontece o contrário. O Pajamas Media poderá ser uma excessão.

ps3: O site do grupo terrorista Hammas possui, na íntegra, o famoso texto antissemita "Os Protocolos dos Sábios do Sião". O livro completo, em inglês.
Aliás, quem viu minhas fotos da Jordânia deve ter prestado atenção no livro sendo vendido abertamente nas livrarias de Amã. Lembro-me que há uns 3 ou 4 anos, o livro foi o mais vendido na cidade palestina de Ramallah.
Para os "Protocolos" no site do Hammas, clique aqui! (muitas vezes a página fica fora do ar...)

2 Comments:

At 5:45 PM, Blogger Nikolas Spagnol said...

Pô, "jornalista de pijama", é isso que eu sou! É exatamente isso!

Claro que, nem sempre, digito de pijama. Mas com aquelas camisas fudidas rasgadas, ou de campanhas eleitorais, ou de times de futebol decadentes, que a gente só tem coragem de exibir dentro do lar (para desgosto da mulher).

A internet é um mundo maravilhoso. Há tanta informação que o sujeito pode fazer um blog (como o meu) a partir de uma seleção do infinito material disponível. Aliás, a maioria dos jornais faz exatamente isso, comprando artigos de agências de notícias nacionais ou estrangeiras. A diferença é que os blogs são de graça.

Maravilhoso mundo novo!

 
At 9:13 AM, Blogger A digestora metanóica said...

Sobre as estampas, estou impressionada com a "adaptação do humor". As como a da avó já são clássicas, desde quando estive aí na Terra Santa. Quanto às outras, acho preocupante.
No entanto, dos souveniers que mais me incomodaram, ganham em disparado os bichinhos de pelúcia fardados, normalmente as ovelhinhas e camelinhos com a clássica camisa e boné "Israeli Army".
De qualquer forma, a idéia é bem sacada e a secretaria de Turismo do Rio de Janeiro deveria adotá-la. Assim, tentando remediar a evasão de turistas da cidade maravilhosa, a gente faz umas camisetas do tipo "Estou com Fernandinho à Beira-Mar", "Paz entre morro e asfalto: hahahahaha", "O Rio de Janeiro está bombando...".

ps - também acho que o evento é israelense.

ps2 - já havia lido o artigo de Pedro Doria e acho que as catalogações dele são um pouco conversa de bar. Se pensarmos, por exemplo, na crônica, um gênero tão fértil no Brasil, existe precisamente um "entroncamento" das idéias que ele faz questão de fragmentar, ou seja, de informação (enquanto registro histórico), literatura e, por que não dizer, uma boa dose de conversa de bar.

Adorei o post. Informativo e filosófico como toda boa conversa de boteco! rsrsrs

 

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