sexta-feira, maio 20, 2005

Fronteiras políticas e psicológicas

As fronteiras nem sempre são físicas. Muitas vezes, são também bloqueios psicológicos.
Sabemos que todo o Oriente Médio é repleto de feridas e cicatrizes. Uma delas é a fronteira que divide Israel da Síria, nas Colinas do Golan.

"A Noiva Síria" ("Hakalah hasurit") já é um dos melhores filmes do ano. Um romance trágico, mistura de bloqueios emocionais e também políticos. Mas, para que entendam a história, é preciso explicar algumas coisas.

Os drusus são um povo árabe não-muçulmano (sim, meus amigos, nem todo árabe é muçulmano. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Existem árabes-cristãos, árabes-drusos, árabes-muçulmanos - a maioria, árabe-budistas, árabes-sei lá o quê). Habitam, principalmente, o norte de Israel, Síria e Líbano.
Em Israel, vivem em sua maioria nas Colinas do Golan.
Quando Israel as conquistou, em 1967, muitas famílias drusas ficaram divididas entre Israel e Síria. Já que não existe nenhuma relação diplomática entre os dois países, muitas vezes membros da mesma família têm que se comunicar através de megafones, um de cada lado da fronteira, separados por uns 200 metros de "terra de ninguém".
Mas, ao contrário do que se pode pensar, os drusos são obrigados por sua religião a serem leais ao país onde nasceram. Servem o Exército de Israel com uma lealdade muitas vezes superior à dos judeus. Vários drusos ocupam altas patentes no Exército, além de existirem ministros e embaixadores.

Mas vamos ao filme.
Ele conta a história de Mona, uma drusa moradora do vilarejo de Majdal Shams, prestes a se casar com um famoso ator sírio. Porém, o dia do casamento de Mona é, sem dúvida, o mais triste de sua vida. Se atravessar a fronteira, sabe que provavelmente nunca mais verá sua família.
Durante a celebração, a família enfrenta muitos problemas. O pai de Mona é um ativista político, e sua entrada na zona da fronteira para despedir-se da filha é negada pelas autoridades israelenses (por motivos de segurança). Um dos irmãos aparece depois de oito aos, tendo "cometido o crime" de ter-se casado com uma russa.
Mas esse é apenas o começo da história.
Uma vez na fronteira e depois de alguns meses de negociação burocrática com o governo de Israel, Mona recebe o carimbo (feito especialmente para ela, já que não é possível ir de Israel para Síria e vice-versa) no passaporte. O noivo já a espera do outro lado. Apesar de tudo, o oficial de fronteira do lado sírio recusa a entrada de Mona no país. Justamente por causa do carimbo no passaporte.
Uma enfermeira francesa das Nações Unidas tenta negociar com ambos os lados. Passa e repassa a fronteira, em busca de uma solução.
O empasse dura horas. Ninguém consegue se mexer na poltrona do cinema. Será que Mona conseguirá se casar?

O filme, dirigido pelo israelense Eran Riklis, é uma produção conjunta entre Israel, França e Alemanha. Falado 70% em árabe e 30% em hebraico (fora algumas pitadas de inglês e de russo), "Hakalah hasurit" tem roteiro assinado por Suha Arraf. Segundo o próprio diretor, foi a participação do co-roteirista o motivo pelo qual o filme passou longe da armadilha do propaganda e pôde dar um olhar mais próximo nas estruturas da sociedade árabe patriarcal.

Se existe alguma esperança para curar essas feridas, "A Noiva síria" poderia ajudar a alcançar este objetivo.


Hakalah hasurit, A Noiva Síria


Para assistir ao traileir, clique aqui!
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Para entrevista com o diretor Eran Riklis (em inglês), clique aqui!
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ps1: E começou a versão 2005 do Eurovision.
Pra quem não sabe, o Eurovision é um festival europeu de música que acontece todos os anos. Participam do festival sempre um representante de cada um dos países membros da União Européia de Radiodifusão. Dentre eles, está Israel.
Todos os anos, o país que sedia é exatamente o vencedor do ano anterior. Israel já sediou o evento por duas vezes. Em 1979 (por ter vencido em 78) e em 1999 (por ter vencido em 1998), todas elas em Jerusalém. Israel conquistou o primeiro lugar também em 1979, mas não sediou o evento no ano seguinte. O motivo: em 1980, a data do Eurovision coincidia com o Dia do Holocausto. Israel abriu mão e o Festival foi para a Holanda.
Esse ano, está sendo realizado na Ucrânia (a vencedora do ano passado).

O Eurovision sempre foi um sucesso por aqui. Quando ele se aproxima, já começam a perguntar:

"_ Quem representará Israel? Poderia ser fulano! Poderia ser ciclano!"

Na verdade, a escolha é feita por jurados da "Israel's broadcasting Authorithy". Nesse ano, a disputa contou também com votos pela internet.
A vencedora, que representa o país esse ano, é uma loirinha maravilhosa (ou, para os mais vulgares, uma gostosa) de 23 anos chamada Shiri Maimon.
Nascida em Haifa e criada em Kyriat Haim, Shiri ficou famosa após conquistar o segundo lugar no programa "Korrav Nolad" ("A Estrela Nasce", a versão israelense do "Fama"). Depois disso, sua carreira decolou.
Passou a apresentar um programa de televisão para jovens, no meio da tarde, chamado Exit. Gostava de assistí-lo. Primeiro, por causa do hebraico (Shiri é uma das artistas israelenses que fala mais rápido. E, quanto mais rápido alguém fala, mais difícil fica para entender. E é um desafio). Segundo, porque convenhamos: não dava pra não assistir.
Na votação para o Eurovision, Shiri Maimon conseguiu 114 pontos (de 120 possíveis).


Shiri Maimon


A música também é bonita. "Haskeket shenishar" ("O Silêncio que permanece") é cantada parte em hebraico e parte em inglês.
Com um jeito de princesa, uma voz maravilhosa e uma boa música, Shiri é apontada como uma das favoritas e tem tudo para trazer o quarto troféu israelense pra casa. Estarei torcendo. Sábado, 10 da noite.



Para fazer o download do clip "Hasheket shenishar", clique aqui!
Para ver a apresentação de Shiri ontem à noite, clique aqui!
Para o site oficial da cantora, clique aqui!
Par algumas fotos, biografia e letra da música, clique aqui!
Para o site israelense do Eurovision, clique aqui!
Para ver entrevista de Shiri na tv israelense (em hebraico), clique aqui!
Para notícia do JP sobre a cantora, clique aqui!
Para fotos de Shiri no Eurovision, clique aqui!

ps3: Tinha outros assuntos para hoje, mas o post ficou grande demais. Volto amanhã!

3 Comments:

At 11:10 PM, Blogger Ana said...

oi
que delicia ler seu blog. Estudei hebraico por um ano e já esqueci tudo. uma pena!
Nao deixe de escrever posts como este ultimo. Adoro saber tudo que acontece em Israel. :-)
Abraço

 
At 11:55 PM, Anonymous Anônimo said...

Bean, vim aqui confessar um 'roubo' que acabei de cometer: aquela foto da capa do 'Protocols', lembra? Mas se voce quiser, eu devolvo!

 
At 8:51 AM, Blogger Carlos Reiss said...

Sem problema, Sandra. Não é roubo não...!!!
E Ana, obrigado! Legal saber que o "Blog do Bean" é acessado até da Alemanha!

 

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