segunda-feira, julho 18, 2005

Devagar e sempre

"Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo inpeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando,
vivendo que esperando porque embora quem quase já morreu esteja vivo,
quem quase vive já morreu."
Luiz Fernando Veríssimo

Foi mais que acúmulo de experiências o resultado de 1 ano longe de casa.
Qualquer palavra cunhada para esse pobre blog que tente expressar a bagagem adquirida em 365 dias de Eretz Israel significa resumir o irresumível, expressar o inexpressável, declarar o indeclarável.
Ganhei muito, não tenho dúvidas. Mas sei que cada dia é uma batalha. Cada semana, uma conquista. Vencidas aos poucos, quero dizer. Devagar e sempre.

Um ano em Israel. Ainda não sei o que isso vai significar para o meu futuro. Até porque ainda faltam uns 4.
Não sei o que dizer. Se agradeço, se choro, se rio, se simplesmente sorrio.
O Blog do Bean está chegando a 5000 visitas. Isso já diz tudo. Muito obrigado.



ps1: A nota abaixo é de autoria do jornalista João Batista Natali.
Não consegui pensar em nada melhor para escrever...

Dana Galkovitch e seu namorado estacionaram o automóvel diante da casa em que moravam havia um ano, em Netiv Haasara, comunidade israelense encostada na fronteira com a faixa de Gaza. Eram 18h de Quinta-Feira.
Três foguetes lançados por terroristas palestinos caíram quase simultaneamente a poucos metros de onde eles estavam. Amir Rugolsky, o namorado, berrou para que se refugiassem bem rápido dentro de casa.
Ele saiu na frente, para abrir a porta. Dana corria alguns passos atrás quando um quarto foguete caiu sobre ela e a matou de imediato.


Dana...


Nascida em Israel, Dana estava com 22 anos e sentia-se também brasileira. Falava português em casa. Esteve em São Paulo aos cinco anos e pretendia voltar no ano que vem para passar três ou quatro meses.
Seu pai, Natan Galkovitch, é de São Paulo. Formou-se em estatística pela Unicamp e emigrou em 1979 com sua mulher. É técnico em computação.
A Embaixada de Israel em Brasília publicou comunicado em que lamenta a morte de Dana e diz que o Exército defenderá os cidadãos contra os terroristas.
O Itamaraty também divulgou nota. Refere-se a Dana como cidadã brasileira-israelense e exorta as partes envolvidas a não acelerar a escalada da violência.
Para o pai dela, aquela noite não foi o momento mais propício para uma avaliação sobre a mudança de país ocorrida há 26 anos.

"Mas hoje eu não sei mais dizer se viria para cá.
Acho que é importante vivermos no lugar em que nascemos."

Não emigrou para ficar rico. Ele faz parte da minoria israelenses instalada num kibutz e que abdica do patrimônio individual.Seu kibutz é o Bror Chail, criado por judeus brasileiros.
Foi lá que ele se instalou e teve três filhos (Dana era a do meio). Sua mulher, Perla, é argentina e especialista em artes gráficas.
A filha saiu do kibutz para fazer o serviço militar. Foi destacada justamente para a faixa de Gaza, de onde foi lançado o foguete que a matou. Trabalhava no policiamento da fronteira.
Dana tinha uma idéia de Israel bem parecida com a de sua família. Defendia a criação de um Estado palestino. Também era favorável ao desmantelamento dos assentamentos judaicos em Gaza.
Ao dar baixa no Exército, Dana passou a trabalhar para a Agência Judaica. Viajou aos EUA. Gostava de viajar. Em duas semanas embarcaria com Amir para a Índia.
Entrou para uma faculdade de comunicações. Havia terminado o primeiro ano do ciclo básico. Não sabia ainda ao certo que carreira iria seguir.
Que descanse em paz.

ps2: Pra não deixar os "safados agentes do marketing laranja" de fora desse post, vejam o que encontrei.
Um site para "doações". Isso mesmo.
Não basta a fortuna que cada família vai ganhar com a evacuação.
Precisam de dinheiro. Para bancar o "marketing laranja". Para continuar espalhando cartazes e influenciando a mídia. Espalhando ódio. Espalhando cegueira e intolerância.

O Hofnik fez uma piada boa outro dia. Em forma de desenho. Disponibilizo para vocês.
Ao invés de "Gush Katif", apresento o "Gush Kessef" ("Kessef" significa "dinheiro").


Gush Kessef


ps2: Uma pausa para o conflito. Pelo menos aqui no Blog do Bean.
Disponibilizo alguns vídeos do Infected Mushroom para download.


Infected Mushroom


Para quem não vive nesse planeta, o Infected Mushroom é uma banda "trance psicodélica" israelense formada pelos djs Erez Aizen e Amit Duvdevani (conhecido como Duvdev).
A dupla israelense faz parte da elite mundial da trance music. Seus álbuns são aclamados por público e crítica, conquistando verdadeiras multidões em todas as performances ao vivo.
Pronto, já falei demais.
Para downloads de perfomances (em vídeo) da dupla, clique aqui!

ps3: Assisti ontem ao badalado "The Edukators".
O filme alemão conta a história de dois jovens idealistas que realizam protestos pacíficos, invadindo a casa de pessoas ricas para trocar os móveis de lugar e deixar mensagens de protestos.

The Edukators (o nome original é "Die fetten jahre sind vorbei" - algo como "Os anos gordos acabaram") não é um filme sobre pessoas ruins ou boas, leais e traidoras, com ou sem princípios.
É sobre um conflito ainda não resolvido, sobre contas que todavia não foram acertadas, sobre um jogo em que a violência não é um componente estranho, sobre uma geração que viu falharem mil saídas, mas quer encontrá-las.
É sobre a força das circunstâncias que engolem uns e sobre a força das escolhas dos que não querem ser engolidos.

Com diálogos profundos e um final inimpagável, "The Edukators" acaba de entrar no meu bloquinho de filmes preferidos.
O longa, que recebeu uma indicação ao European Film Awards na categoria "Melhor ator", tem no elenco Daniel Brühl, que atuou em "Adeus, Lênin!".


The Edukators


“Todo coração é uma célula revolucionária”
Para uma resenha (em português), clique aqui!
Para outra (em português), clique aqui!

3 Comments:

At 6:05 PM, Anonymous Anônimo said...

Bean!!!
Nao precisa agradecer aos seus leitores... Sabe q as visitas q recebe td dia virtualmente indicam o qto vc eh querido e qto escreve textos agradaveis e sempre interessantes! Parabens por ter vencido esse ano, de verdade... Talvez ja tenha alguma nocao do que eh essa batalha.
Beijos, e apareca por aqui tbm, viu?

 
At 7:52 PM, Anonymous Anônimo said...

Parabéns pelo aniversario de um ano. Parabéns pelas 5.000 visitas. Vida longa ao Blog do Bean! E já que você fala de mudanças, não se esqueça de que a velha égua cinza não é mais como era.

André

 
At 5:30 AM, Blogger Nikolas Spagnol said...

Finalmente o "Edukators" chegou nessas paragens desérticas suas.

Filmaço.

Parabéns pelas 5.000 visitas. Às vezes invejo-te por estar a 20 mil kilômetros de BH nestes momentos penosos para o nosso alvi-negro.

 

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