terça-feira, julho 12, 2005

Post parênteses: A Odisséia

Macabíadas 17

"Querido 'Blog do Bean'..."

Aceitei desde o primeiro convite, há duas semanas. Nunca vira de perto nenhuma edição das Macabíadas, a grande competição olímpica realizada em Israel a cada 4 anos.
Praticamente todos os dias, a Leah (a "madrichá", nossa "guia") me ligava para alterar programações e horários de saída. Já podia imaginar o tamanho da merda que ia dar.
Leah é um doce de pessoa. Nascida nos EUA, chegou em Israel com a família aos 7 anos de idade (hoje ela tem 23). Casada há um ano, vive em Jerusalém e trabalha no famoso "Minhal HaStudentim" (o órgão da Agência Judaica destinado aos estudantes).

Mas vamos à epopéia.
Um dia antes da festa de abertura das Macabíadas, recebo um telefone da Leah. Estava cancelado o nosso transporte fretado. Iriam somente 6 pessoas daqui.
Tudo bem. Pegaríamos um ônibus comum até algum "tzomet" ("trevo", "entroncamento") próximo de Tel-Aviv e aguardaríamos o ônibus fretado que viria de Ashkelon.
E foi o que fizemos.
Antes disso, pela primeira vez vim um motorista proibir os passageiros de viajar de pé. Já que o ônibus estava lotado (de passageiros sentados), esperamos o próximo.
Tudo isso já era uma premonição, mas a viagem ainda corria bem.

Conheci uma brasileirada no ônibus, o papo estava bom. Até que chegamos ao Estádio de Ramat Gan, onde seria a abertura.
Porém, com um engano. A abertura seria no dia seguinte. A festa que estávamos indo era na Kfar Macabbiah ("A Vila das Macabíadas"), a pelo menos uns 40 minutos dali.Ninguém sabia.
O motorista pediu para que todos descessem. Descemos. Depois de uma volta pelo estádio, alguém teve a idéia de pegar um ônibus intramunicipal, ali mesmo.
O calor era insuportável. Difícil de respirar. Mais um bom tempo dentro do ônibus, chegamos.

Boa festa, comida, shows, foguetório, gente conhecida.
O Xande, da foto abaixo, é um moleque craque de bola. Veio especialmente pra meter gol nos argentinos...



O Amir, mais conhecido (por mim) como Almir (alguém conhece algum jogador de futebol chamado Amir? Pois é, pra mim é Almir...) está voltando de contusão, mas joga muita bola também.



Quando a brincadeira acabou, começaram os problemas.
A Leah tentou arrumar transporte direto para Jerusalém. Sem sucesso. Voltamos, então, com o ônibus de Ashkelon até um entroncamento escuro no meio da estrada.
Antes disso, o imbecil do motorista não queria parar para as pessoas fazerem suas necessidades.

_ É proibido, vocês não podem "fazer" no meio da estrada. Se insistirem, ligo pra polícia.

E não é que ligou mesmo?
Dois loucos brasileiros não tiveram dúvidas. "Fizeram" ali, na cestinha de lixo.

Finalmente descemos. No "meio do nada". Eram mais de meia-noite. Os ônibus da empresa Egged que viajavam até Jerusalém passavam por ali. Sem dúvidas.
Depois de um tempo de espera, eis que surge o ônibus. Linha 451. O motorista não pára.
Uns 300 metros à frente, a polícia fechara a estrada para que uma carreta gigante passasse com uma peça de concreto imensa. Exatamente no meio da madrugada, quando o tráfego é menor.
Estávamos longe, e não tivemos dúvida. Corri imbecilmente até o ônibus e pedi que o motorista abrisse a porta.

Com uma cara de israelense safado, não quis abrir. Nem a janela o desgraçado se deu o trabalho.
O ônibus estava vazio, e éramos 4 mulheres e 2 homens.
Fomos até os policias para pedir que convencesse o motorista a abrir. E veio o argumento do chofer:

_ Esse é um ônibus de ortodoxos. Vocês mulheres não podem entrar. Não são religiosas.

Puta que pariu, o que é isso agora? Estou no Irã e não sabia? Que história é esse de "ônibus de religiosos"?
Não tive dúvidas. Saquei minha máquina e fotografei o safado.

_ Amanhã você será despedido, está ouvindo?
Vai morrer de fome, no meio da rua, israelense mal-educado!

Ele não só ouviu como deu uma risada. Ah, se eu tivesse uma arma...



Nada de caronas, nada de ônibus. A pista voltou ao normal.
Uma da manhã, tudo vazio, sentamos na estrada. Leah conversava pelo celular com o marido e negociava dois táxis. Dinheiro não era problema. A Agência Judaica pagaria a conta.
Veio um táxi. Duas mulheres e o Gastón subiram. Fiquei lá com a Leah e uma amiga dela, esperando o outro táxi até as duas da manhã.
Neblina, sono, cansaço e uma vontade filhadamãe de começar a xingar todos os religiosos e motoristas de ônibus de Israel.
O motorista, Moti, era um senhor simpático. Antigo morador de um "moshav" no norte, resolveu ser motorista de táxi há mais de 10 anos e diz cuidar dos seus passageiros "como irmãos, como filhos".
Cheguei em casa às duas e meia. E fim da odisséia.



ps1: Esses são trechinhos que "roubei" de alguns sites. Explica um pouquinho das Macabíadas.
O movimento macabeu, em memória de Judah, o Macabeu, teve início em 1895-96 quando o primeiro clube de ginástica inteiramente judeu foi formado em Constantinopla, hoje Istambul.
Ao final da Primeira Guerra, mais de 100 clubes Macabi existiam na Europa.
A primeira Macabíada Mundial contou com 14 países e 390 atletas e aconteceu em 1932, passando a realizar-se de quatro em quatro anos a partir de 1957.
A edição deste ano conta com 6 mil competidores, 14 mil treinadores e acompanhantes de 55 países.
A delegação brasileira está composta de 400 pessoas, dentre as quais 280 atletas, que competirão em 23 modalidades.
Vale a pena assistir a propaganda dos jogos que foi veiculada nos principais canais de televisão por aqui. Curta e bacana!

Para ver o comercial, clique aqui!
Para a página oficial das Macabíadas (e resultados), clique aqui!

ps2: Já tem uma nova enquete ali no canto direito! Votem!

3 Comments:

At 4:04 PM, Anonymous Anônimo said...

Por favor, peça pra algum deses seus amigos que foram jogar futebol nas macabíadas e que são bons de bola para irem jogar no Galo!

André

 
At 11:28 PM, Anonymous Anônimo said...

Tá certo que a odisséia foi foda, mas o melhor do post foi o nome artístico do "Almir"...
Abração,
Michel.

 
At 2:01 AM, Anonymous Anônimo said...

Putz, mano, mas essa sua noite de farra foi foda hein? Mas eu nao entendi essa do onibus de religiosos.. vc nao disse que e o 405? a linha normal para Jerusalem? como pode ser de datiim? estranho.. mas ate que eu conheco esse motorista, ja viajei com ele tambem.. que safado.
e a historia que vc contou dos caram que fizeram na cestinha do onibua.. serio mesmo que eles mijaram no meio do onibus? putz...

 

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