terça-feira, junho 07, 2005

A Guerra dos "38 anos"

“E folgarei em Jerusalém, e exultarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro, nem voz de clamor. E edificarão casas e as habitarão; e plantarão vinhas e comerão o seu fruto”.(Isaías 65:19.21)

Ja sao 38 anos de uma guerra que costumam declarar que durou seis dias.
Uma guerra que o mundo acostumou-se a dizer que foi vencida por Israel, que na epoca aumentou seu territorio estratosfericamente.
Uma guerra que pagamos seu preco ate hoje.

Essa semana comemorou-se aqui o "Yom Yerushalaim".
Na verdade, os 38 anos da anexacao (existe essa palavra?) da Cidade Velha e setor oriental de Jerusalem por parte do Estado de Israel.
Minha teoria é simples. A guerra ainda nao acabou. "Guerra dos Seis Dias" significa na verdade "Guerra dos 38 anos". E que pode chegar a 39, 40, 41...

Explico com uma pitadinha rapida de historia.
Depois da Guerra dos 6 Dias, cerca de 300 mil palestinos refugiaram-se na Jordania. Os outros 600 mil permaneceram no que ficaram conhecidos como "territorios ocupados" ou simplesmente por "margem ocidental do rio Jordao".
A cidadania israelense foi dada totalmente aos moradores das colinas do Golan e parcialmente aos moradores de Jerusalem Oriental (ambos os territorios anexados). Os palestinos que ficaram na Margem Ocidental passaram a ser tratados como refugiados.
Jordania e Egito retiraram suas reivindicacoes por Gaza e a Margem Ocidental, respectivamente. Em outras palavras, disseram:
"Israel, agora o problema eh de voces. Se virem!"
Esses 600 mil que ficaram hoje transformaram-se em 3 milhoes. Entenderam o comeco do problema?

Anteontem, cerca de 10 mil pessoas lotaram as ruas principais de Jerusalem para celebrar. A maioria, nao tenho duvidas, de direitistas.
Tudo bem que participaram artistas, dancarinos, medicos, politicos e ate agricultores de "moshavim" vizinhos. Mas a ideia era quase a mesma: vestir suas camisetas alaranjadas e protestar contra a "evacuacao" de Gaza.
Isso quer dizer que esses mesmos que protestam contra a retirada de Gaza, obviamente sao contra a devolucao de Jerusalem Oriental para os palestinos.
A maioria dos israelenses considera a cidade como sua capital "indivisivel e eterna".
Abaixo, foto das comemoracoes de Segunda-Feira na cidade.


Dia de Jerusalem


Capital, sim. Eterna, tambem. Mas indivisivel, nao creio.
Para os que pensam de uma forma um pouco mais sensata (ou simplesmente para aqueles que pensam, e nao seguem apenas "escritos"), ter anexado Jerusalem oriental em 1967 foi um grande erro politico. E numa daquelas famosas cerimonias israelenses, essa frase, dentre outras, foi dita com todas as palavras pelo lider trabalhista Shimon Peres.

"Quem pensa que 240 mil arabes de Jerusalem oriental poderiam ser anexados e ao mesmo tempo a cidade permanecer como uma capital judaica, é tao equivocado quanto aqueles que dizem que é possivel dividir a cidade atraves de cercas e paredes".

E, para tentar resolver grande parte do conflito criado em apenas seis dias de uma superioridade belica gigantesca, passaram-se 38 anos.
Do ponto de vista jurídico, Israel reunificou Jerusalém em 1981 mediante uma lei aprovada pela Knesset (Parlamento), que não foi reconhecida pela "comunidade internacional". (essa expressao "comunidade internacional" eh patetica).
Os governos estrangeiros, com exceção da Costa Rica e de El Salvador, inclusive não reconhecem Jerusalém como capital do Estado de Israel, mantendo suas embaixadas em Tel Aviv.

Ficou famosa a frase do general Moshe Dayan (na foto abaixo), logo apos o fim do embate de seis dias, em junho de 1967.
"A Guerra acabou. Agoram comecam os problemas".
Acho que ele ja previa muita coisa.
Armas ganham guerras. Mas e as consequencias da guerra?
Nao, meus caros amigos. Elas nao resolvem os problemas...


Moshe Dayan


ps1: Ja que esse é o "Blog do Bean", algumas curiosidades nao poderiam deixar de aparecer. Sobre Yom Yerushalaim, coisa rapida...
Para quem nao sabe (eu tambem nao sabia), de 19 em 19 anos as datas dos calendarios tradicional e judaico coincidem-se.
Isso quer dizer, em outras palavras, que a cada 19 anos, a data judaica e a tradicional voltam a se encontrar.
A parte oriental de Jerusalem foi anexada exatamente em 6 de junho de 1967. Portanto, nesse ano comemorou-se o Yom Yerushalaim exatamente na mesma data da reconquista de 38 anos atras!!! (19+19=38)

Outra curiosidade.
Li esses dias um texto bem interessante chamado "O dia em que as barreiras caíram".
Nele, um antigo funcionario da prefeitura de Jerusalem conta como foi a reunificacao da cidade. Apesar dela ter sido reconquistada em 6 de junho, passaram-se mais de tres semanas ate que o Ministro da Defesa Moshe Dayan (o mesmo da foto la de cima) autorizasse a demolicao do muro que dividia a cidade em duas!
O motivo era simples. Ninguem sabia qual seria a reacao das duas populacoes quando Jerusalem fosse reunificada na pratica.

Foi marcada para o meio-dia de 29 de junho a destruicao da cerca que, para quem conhece a cidade, localizava-se a poucos metros da Praca Safra (kikar Safra).
Porem, o entao funcionario da Prefeitura Yaacov Marash ja avistava da janela de sua sala uma grande movimentacao de pessoas nos arredores do muro por volta das 10 da manha. Carregavam pas, martelos e pedacos de pau.
Queriam destruir o muro com suas proprias maos. Queriam fazer historias com as proprias maos. E fizeram.
Da euforia dos judeus para andar pela Cidade Velha e dos arabes por visitar seus antigos bairros tomados por Israel em 1948 (Rehavia, Baaka, Talbie), tudo voltou ao "normal" rapidamente.
O conflito ganhava um novo e importante capitulo...
Abaixo, uma foto do Muro das Lamentacoes (Kotel) em 1967, poucos dias apos ser reconquistado. Nota-se que existia apenas um corredor estreito na frente do Kotel. Logo atras, havia dezenas de casas arabes...


Muro em 1967


ps2: ps1: Voces sabiam que existe mais judeus nos Estados Unidos do que em Israel?
Segundo informacao publicada na edicao de 11 de Maio do jornal Yedihot Aharonot, sao 5 milhoes e 700 mil judeus no Estados Unidos contra 5 milhoes e 260 mil em Medinat Israel.
Isso quer dizer que de cada 480 pessoas no mundo, uma é judia (e da-lhe aula de Estatistica...)
Mais alguns dados. Desses 5.260.000, 3 milhoes e 600 mil sao sabras (ou seja, nasceram aqui) e 950 mil nasceram na ex-Uniao Sovietica.
No Brasil, sao 110 mil judeus (distribuidos em sua maioria entre Rio e Sao Paulo).

ps3: Cento e vinte israelenses foram retirados da Bolivia na tarde de ontem. Parece que o bicho ta pegando por aquelas bandas.
Foi mais uma daquelas operacoes de Hollywood que os governos israelenses tanto gostam. Carros, onibus, taxis (sim, taxis) e um aviao participaram da operacao.
Para ler a materia (em ingles), clique aqui!

7 Comments:

At 4:44 PM, Anonymous Anônimo said...

Algumas considerações: em primeiro lugar, entendo que o termo "devolução" - seja em relação a Jerusalém, Cisjordânia ou Gaza - é, na minha opinião, totalmente equivocado.

Por que? Porque você devolve uma coisa pra quem já a possuiu. E os palestinos jamais possuíram nada, nenhum território.

Voltando apenas alguns séculos no tempo, o território que os palestinos reclamam como seu, cuja "devolução" é reivindicada, pertenceu, desde mais ou menos o século XV, aos turcos otomanos (muçulmanos, porém não são árabes). Após a 1ª guerra mundial, passou a pertencer à Inglaterra.

Após a guerra de independência, passou a pertencer à Jordânia (Jerusalém, Cisjordânia) e ao Egito (Gaza).

Apesar de isso poder parecer apenas uma questão terminológica, vai muito além disso.

A primeira pergunta que surge, naturalmente, é "se por quase 20 anos esses territórios pertenceram a árabes, porque não se criou nessa época um Estado Palestino?"

Não que eu não seja a favor da criação do estado palestino e, mesmo, a favor de alguma espécie de compartilhamento de Jerusalém. Mas é necessário colocar alguns pingos em alguns i´s.

Com relação à ocupação desses territórios em 1967, a história mostra que o governo trabalhista de então (notamente Mosshe Dayan e Golda Meir) sabiam que ia dar problema a ocupação de Gaza e Cisjordânia.

Logo após a guerra (ou, como você bem colocou, logo após o fim do conflito armado, já que a guerra continua), a intenção era chamar os países árabes e os palestinos para negociar a retirada dos territórios. Obviamente, eles não concordaram, pois ainda acreditavam na possibilidade de, em outra oportunidade, ganhar a guerra de destruir Israel (o que quase ocorreu em 1973). Sem contar que aos países árabes sempre interessou ter os palestinos como massa de manobra e Israel como inimigo externo perene, para desviar a atenção do povo dos problemas internos (pobreza, desemprego, falta de liberdade, ditadura, etc.)

O problema principal é que a análise histórica do conflito é pontuado por três fatores que deturpam a percepção da realidade: o primeiro é o antisemitismo. Como bem disse Natan Sharansky certa vez, Israel é o judeu do mundo. O segundo, o anti-americanismo, pelo qual Israel paga o pato (com alguma razão, é verdade). O terceiro é o maniqueísmo burro com o qual as mais diversas questões costumam ser examinadas. Um é mau, o outro é bom; um tá certo, o outro errado; um é vítima, o outro algoz. E esse maniqueísmo se torna mais perigoso quando é expresso em termos de david e golias. Antes de 1967 o david era Israel, hoje em dia são os palestinos. Não que você seja partidário desse maniqueísmo. Mas nós sabemos que isso existe em quantidade.

Assim, não sei se concordo com você, sobre ter sido um erro a anexação de Jerusalém oriental em 1967. Curioso que, antes de 67 os judeus não tinham acesso ao muro das lamentações e, após, os árabes têm amplo acesso à esplanada das mesquitas, à cupula da rocha e à mesquita de Al Aqsa.

O direito dos palestinos sobre Jerusalém oriental é exatamente o mesmo que o dos israelenses.

Então eu pergunto: se fosse o contrário, ou seja, Jerusalém estivesse unificada sob o domínio árabe, haveria alguma chance, ainda que remota, de compartilhamento, ou mesmo livre acesso a ambas religiões a seus respectivos lugares sagrados?

Juntando tudo isso, continuo cada vez mais convicto de que o maior empecilho ao estado palestino é o erro na identificação de quem é o verdadeiro adversário de cada parte. Os adversários dos palestinos são os outros países árabes e muçulmanos, que financiam e armam seus terroristas e os próprios terroristas. Os adversários de Israel são os religiosos e seus amigos de camisa alaranjada.

Enquando cada parte não olhar para dentro, em vez de ficar olhando pra fora, a guerra fará bodas de ouro.

André

PS. Foi mal, eu sei que o comentário ficou grande.

 
At 9:46 AM, Blogger Carlos Reiss said...

Acho que vou ter que comentar tambem, ne.
Concordo em parte com voce, apesar de alguns porens (nao gosto nem um pouco desse Nathan Sharansky, que eh um daqueles politicos bem oportunistas que a gente conhece bem no Brasil).
Quando falo sobre o setor oriental de Jerusalem, nao incluo a Cidade Velha.
Ao contrario do que se possa pensar, Gaza nunca foi ANEXADA pelo Egito. O status de Gaza entre 1948 e 1967 era aexatamente o mesmo do que eh hoje em dia (apenas trocou de mao). O que voce fala sobre os paises arabes tem fundamento, eh verdade.
O Estado Palestino nao foi criado antes de 1967 exatamente pelas razoes que voce citou.

Acredito sim em devolucao. Devolucao no sentido de entregar Jerusalem Oriental a quem realmente deveria ser o dono (de acordo com a UNSCOP e a solucao quase septuagenaria de que o territorio seria dividido de acordo com o indice populacional de cada regiao).
Devolver nao significa que o outro fora um dia o dono. Devolver significa entregar a quem lhe pertence.
Acho que no fundo a gente ta falando mais ou menos a mesma coisa...

 
At 9:51 AM, Blogger Carlos Reiss said...

E mais. O erro de ter anexado Jerusalem Oriental (nao digo a Cidade Velha) tem a ver justamente com o indice populacional.
99% dos moradores sao palestinos.
Desculpe, mas esse nao era um problema de Israel.
Que os jordanianos lidassem com ele (ou ingnorassem, ou exterminassem - como o Rei Hussein costumava fazer - que tomasse a solucao que quisessem ou que ignorassem ate tomarem um puxao de orelha da "comunidade internacional"
A partir do momento que essa parte foi anexada, passou a ser um problema de Israel. E eh ate hoje...

 
At 7:54 PM, Anonymous Anônimo said...

Bacana. Mas será que os palestinos vão ficar satisfeitos só com Jerusalém Oriental sem contar com a cidade velha?

Com relação ao tio Sharanski, também não vou muito com a cara dele, mas essa declaração dele é, pra mim, perfeita.

E continuo discordando de você com relação à devolução. É entrga, porque somente se devolve o que já foi da pessoa. E o fato de a maioria da população ser palestina (e nesse caso, sou obrigado a concordar com você quanto a Jerusalém Ocidental tirando a cidade velha) não influi nisso. Você entrega (ou devolve) um terriório à soberania de alguém. Assim, se os palestinos (apesar de maioria) não eram soberanos, não há que se devolver nada a eles. E insisto que essa questão sobre devolução ou entrega vai muito além da mera terminologia.

De resto, continua tudo na mesma há 38 anos, exceto a velha égua cinza, que não é mais como era.

André

 
At 5:11 PM, Anonymous Anônimo said...

Oi!
Passei soh pra desejar uma otima viagem!!! Um pouca atrasada pelo jeito... hehe
Que vcs aproveitem muito!!!
Bjs

 
At 8:59 AM, Anonymous Anônimo said...

Olá Carlinhos! Td bem?
Gostaria de fazer uma pergunta: Existe alguma garantia de que depois que eles (os palestinos)ganharem o espaço, depois de um tempo, não se achem no direito de exigir mais? Por enquanto é só. Beijos.

 
At 3:03 AM, Blogger antonio xavier said...

Concordo em devolver parte de Jerusalém se os palestinos aceitarem desistir dela, caso permitam a passagem de outros árabes ou de suas milícias buscando atacar Israel. Se isso for aceito pela comunidade árabe e redigido pela ONU, creio que se poderia tentar.

 

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