segunda-feira, maio 30, 2005

O acarajé de Israel

Uma das melhores aventuras culinárias de qualquer país é comer na rua.
De preferência, no centro da cidade.
No Brasil, o cardápio varia de pastéis fritos na hora (hum, que saudade) até cachorros-quentes de linguiça.

Em Israel, o prato nacional de toda hora é o falafel.
A receita desses bolinhos mistura grão-de-bico e fava moídos, ambos temperados com ervas. Acompanham todo e qualquer tipo de salada, picles de pepino e berinjela, tehine (pasta de gergelim) e pão sírio. Fritos na hora em óleo (de soja), são servidos na forma tradicional de sanduíche.
Mas, como muitos podem pensar, o falafel não é uma comida exclusiva de Israel. Pelo contrário.
Como diria o Jack Estripador, vamos por partes.

As origens do falafel são obscuras, até controversas.
Num jornal norte-americano, por exemplo, um artigo polêmico desencadeou uma guerra no fórum de discussões do seu site. Um leitor irritado escreveu:

"O Falafel tem somente uma terra-natal: o Líbano."

Muitos palestinios acreditam que os israelenses tenham roubado o falafel, que é um alimento árabe tradicional, e passaram a vendê-lo em quiosques e o transformaram no "snack" nacional do país. Acredita-se, porém, que o falafel tenha sido mesmo inventado no Egito, sendo encontrado hoje do Marrocos à Arábia Saudita.

"Nós sempre nos entreolhamos quando passamos por um restaurante que diga o 'falafel israeli'", disse uma vez Rashid Khalidi, um palestino com cidadania americana e professor de História do Oriente Médio na Universidade de Chicago.


Falafel em Israel

Ih, pronto. Esses dois povinhos arrumaram mais uma imbecilidade para discutirem.
Geoffrey Weill, um ex-funcionário americano do Ministério do Turismo israelense, usava também seus argumentos.
"E por um acaso nós também roubamos o macarrão dos italianos? Que tipo de absurdo é esse"?
Não importa o que aconteceu. Não há como negar que o sanduíche é agora "um alimento internacional, como um hamburger."
Alguns ainda alegam que há algum precedente histórico nisso. Pode até ter.

Joan Nathan, autor do livro "Os alimentos de Israel hoje," disse: "Falafel é um alimento praticamente bíblico. Os ingredientes são tão velhos quanto podem imaginar. Estes são os alimentos da terra. Sempre houve judeus e árabes no Oriente Médio."
Claudia Roden, especialista em Egipto e autora do livro "Alimentos judaicos" confirma que o falafel nunca foi um prato judaico, mas sempre encheu a barriga de judeus tanto no Egito quanto na Síria e Líbano.


O Falafel


Porém, deixemos de polêmica (o assunto é tão imbecil e os argumentos são tão estúpidos que não posso entrar também na discussão). Sem querer remexer a história, o importante é saber que o falafel é encontrado em todo o Oriente Médio.
É um prato tanto libanês quanto egípcio, tanto sírio quanto palestino. Os israelenses, que querendo ou não vivem na mesma região, o adotaram como seu prato nacional. E fim de papo.

O falafel não deixa de ser, apesar de tudo, um fast-food. Oferece todos os ingredientes importantes de um rápido lanche - é quente, consistente e sempre disponível. Como um acarajé do Oriente Médio.
Apesar das tossafot (acompanhamentos) sempre variarem, você encontrará sempre uma pita quentinha, bolinhos fritos na hora, batatas-fritas cheias de gordura e algum molho picante.
Todo israelense conhece seu "melhor falafel de Israel". E nem adianta discutir ou argumentar que "você conhece um falafel melhor e mais barato". Israelense, você sabe como é...

Para um texto sobre o falafel (em inglês), clique aqui!
Para a polêmica da origem do falafel (em inglês), clique aqui!

ps1: Já que o assunto é falafel, não posso deixar de colocar aqui um link para um jogo muito engraçado.
Você é um vendedor de falafel numa dessas barraquinhas e tem que servir os clientes. Colocar na pita um pouco de hummus, salada, bolinhos, batata e servir ao freguês. Quando os ingredientes acabam, é preciso repor. Se você demorar demais, as pessoas começam a ficar irritadas. Reclamam da demora. Típico de israelense.
O jogo, uma contribuição do Gabriel, pode ser encontrado aqui no Blog do Bean.
Quem será "O Rei do Falafel"? Para jogar, é só clicar aqui!

ps2: Um assassinato horroroso vem sendo o principal assunto de todos os meios de comunicação israelenses nos últimos dias. Coisa que só costumava ver no Brasil.
Mayan Sapir, uma garota de 15 anos, foi brutalmente assassinada na última sexta-feira. O corpo foi encontrado sem roupas e bastante violado. O principal suspeito é um menino de 16 anos. Isso mesmo.

O relógio marcava 8 da noite. Mayan saía de casa (em Rehovot, próximo à Tel-Aviv) e caminhava em direção ao shopping center, localizado há menos de um quilômetro de sua casa. Acredita-se que Mayan tenha encontrado esse garoto, que à princípio não a conhecia, no meio do caminho.
Ainda não se sabe em que circunstâncias, mas Mayan foi levada para o terreno de uma escola abandonada e, num canto escuro, estrangulada até a morte. A polícia investiga também se a garota foi estuprada antes de morrer. Ainda não se sabe o motivo que levou o maníaco a cometer o homicídio.

Segundo a família, Mayan sempre quis ser modelo (era uma garota bonita). A mãe não aceitava, não queria a filha famosa. O jornal Yediot Acharonot publicou como título da reportagem a única declaração dada pela mãe, ainda totalmente abalada.

"Agora todos sabem que é Mayan Sapir"

O assunto rendeu bons minutos no telejornal de ontem. Várias matérias, entrevistas com especialistas, amigos, parentes. Um festival melancólico e bizarro interminável. Até aqui a imprensa não respeita a dor das famílias vítimas dessas barbaridades.
Não conheço bem as leis criminais de Israel, mas acredito que não sejam muito diferentes do Brasil no que diz respeito a inimputabilidade criminal. Peço aos dois especialistas no assunto, doutor Michel Reiss e doutor André Myssior, que escrevam resumidamente nos "comentários" o que acontece realmente no Brasil em termos práticos e jurídicos quando um rapaz de 16 anos estupra e mata uma de 15.


Mayan Sapir


Para ler matéria do Haaretz sobre o assassinato (em inglês), clique aqui!
Para o Yediot Acharonot e a manchete (em hebraico), clique aqui!
Para outra matéria em hebraico, clique aqui!

ps3: Atenção usuários do Orkut. Até a última semana estava lá, para quem quisesse ver.
"Como matar 150 judeus".
A campanha para desmascarar e prender esses babacas já começou. Eu, daqui de longe, não posso fazer muita coisa. Acredito que as Federações Israelitas e outros órgãos responsáveis já entraram em contato com a Polícia Federal e denunciaram.
Explico.
Existia uma comunidade no Orkut chamada "Judeu - Prefiro o meu ao ponto". O símbolo da comunidade era um forno aberto e contava, até o início do mês passado, com 20 integrantes. A comunidade foi criada em 11 de janeiro de 2005. Eis a descrição.

"Quando criança, papai tinha um forninho a lenha e os judeuszinhos ficavam sempre mal passado. Me traumatizei e hoje os prefiro ao ponto. Hoje tenho um forno de ultima geração (Eu recomendo) Brastemp!!"

Um dos textos publicados na comunidade, denunciado pelo jornalista José Roitberg, é um plano completo de ataque por envenenamento numa sinagoga e, se bem sucedido, pode dar certo. É muito perigoso.
Pela lei brasileira, este texto é considerado como "apologia ao crime". Não vou colocar aqui o texto inteiro.
Para quem quiser ler, coloco o link para a notícia no site Pletz.
Essa comunidade já foi deletada do Orkut. Mas é nosso dever, usuários do site, manter o alerta constante. E denunciar.

8 Comments:

At 7:16 PM, Anonymous Anônimo said...

Atendendo a pedidos:

Um menor de 18 anos não pratica crime. A inimputabilidade exclui a culpabilidade (o indivíduo, por ser menor de idade não tem condições de entender o caráter ilícito de seu ato e de se determinar de acordo com esse entendimento). Daí porque não se poder falar em crime praticado por menor.

Quando um menor pratica uma conduta que coincide com a previsão legal abstrata de um crime (fato típico), tem-se um ato infracional.

O ato infracional, diferentemente do crime, não é passível de pena. O autor do ato é passível do que o estatuto da criança e do adolescente chama de medida sócio-educativa, que varia desde advertência verbal (menino mau, não faz mais isso) até internação (a famosa febem).

A internação somente pode ser aplicada quando o menor é reincidente ou quando a conduta é praticada mediante violência ou grave ameaça (como é o caso do estupro e do homicídio, obviamente).

O tempo máximo de internação é de três anos.

Resultado prático: em vez do sujeito rodar a saia numa prisão e depois ser devidamente assassinado pelos seus colegas de cela, ele roda a saia na febem e é devidamente assassinado pelos seus colegas de cela.

Espero ter esclarecido suficientemente as dúvidas. Depois mando a conta dos honorários.

André

PS. Será que se Israel reconhecer que o falafel é de origem palestina eles abrem mão de Jerusalém e do direito de retorno?

 
At 8:34 PM, Anonymous Anônimo said...

Depois desse "juridiquês" todo, será que eu preciso falar alguma coisa???
Michel.

 
At 6:19 AM, Blogger A digestora metanóica said...

Carlinhos, que vontade de te matar agora! Li seu post anterior, com todo o carinho, mas este do falafel ficou pela metade, de tanta vontade que me deu de comer um falafel. Já tentei comer aqui no Brasil, mas definitivamente não é a mesma coisa.
Ai, se pudesse, pedia pra você mandar pelo correio. Sério, muita água na boca!
Bom deixa eu ir lá terminar de ler o post...

 
At 6:35 AM, Blogger A digestora metanóica said...

Bem, terminei de ler o post e vi que "matar" foi uma expressão duplamente infeliz...
Em todo caso, vamos aos comentários:
É mesmo execrável essa espetacularização e desrespeito às famílias.
Curioso você falar que nunca tinha visto isso aí em Israel, dá pra fazer mil divagações em torno disso. Em um país que convive com a atmosfera do terrorismo bilateral, ainda existem os assassinatos do tipo injustificável...
Sobre a comunidade no orkut, vamos denunciar essas e outras atitudes desrespeitosas.

 
At 7:46 PM, Anonymous Anônimo said...

nossa...
quantos comentarios eu tenho que fazer...
primeiro... o zozo e o xeu nao sao proibidos de dar opinioes juridicas nao!?!?!?
segunda... nao sei quem eh pior.. os que discutem sobre a origem do falafel... os que escrevem no blog a discussao... ou os que leem tudo!!!
terceiro... carlinhos... ta economizando post?!???? tenta dar uma diminuidazinha neles... se nao vc fica 1 semana sem ler e tem que ficar 40 min lendo pra se atualizar!!!
quarto... e ultimo.... voltei das haboniadas soh com uns roxos e uns ralados!!! acredita!??! nem um osso quebrado!!!
bjaooo

 
At 10:05 AM, Blogger Carlos Reiss said...

Oi De! O problema nao eh economizar posts. Eh ter tempo pra fazer posts pequenos.
Mas no fundo assim que eh bom.
Quanto aos comentarios juridicos dos dois, eles so sao autorizados quando eu pedir. A gente tem que tentar barrar ao maximo o "juridiques" no Blog do Bean, ne?
Beijao, te cuida ai!

 
At 10:40 PM, Anonymous Anônimo said...

Já que a gente só é autorizado a usar o juridiques quando voce pede, voce está me devendo honorários, seu tratante.

Ze mamash criminali.

André

 
At 8:01 PM, Anonymous Anônimo said...

Puxa, nunca fiz, eu acho, um comentário no blog, apesar de ter lido muitos dos textos. Só que dessa vez achei que seria legal trazer uma idéia diferente sobre as medidas sócio educativas, sem querer discutir o conhecimento do ilustríssimo André. Só acho que os centros de internação não são como a febém, não todos. Muitos fazem um trabalho interessante e tentam aproveitar dos recursos de que dispõe, e de um tempo maior com os infratores (dentro dos três anos que o André falou)para capacitá-los em oficinas profissionalizantes, trabalhar a relação deles com a família e tratá-los psiquicamente.E fazem isso através de parcerias com instituições não governamentais, como as pastorais e organizações religiosas, que cuidam da administração de alguns desses centros. Bom, só uma pequena contribuição.
Aproveito a oportunidade para elogiar o blog. Muita coisa inédita, que nunca escutei na vida, aprendo por aqui.
Bjo,
Clarissa

 

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