sexta-feira, maio 27, 2005

De tudo um pouco

Parte do post foi escrito num flyer de boate, no 6º andar da maior rodoviária do mundo.

São andares e mais andares. Um sobe e desce de gente de todo tipo.
Uma face de Israel que praticamente não vejo em Jerusalém.

Aqui, na tachaná merkazit ("tarraná merkazít", a estação rodoviária central) de Tel-Aviv vê-se, como disse, de tudo. Uma porção de soldados, indo e vindo de suas bases. Um punhado de russos, árabes, tailandeses e religiosos. Algumas gostosas (o que não é comum de onde venho, Jerusalém) e etíopes: uma infinidade deles.
Esses etíopes são engraçados. Alguns chegaram aqui ainda crianças, ou seja, a língua-mãe é o hebraico. Mas isso não importa. A começar pelo vestuária, que quase não varia.
Para os homens, que andam em bandos, calças jeans bem surradas e justas, camisetas coloridas coladas no corpo, algum penteado muito louco e um celular (poucas vezes no bolso, muitas vezes na mão).
Quanto às mulheres, não difere muito. Tamancos gigantes, tranças coloridas, algum piercing e as calcinhas totalmente de fora.

O que se vê no submundo da tachaná merkazit chega a assustar.
Por exemplo.Um senhor religioso (pelo menos uma kipá na cabeça ele tem) vende DVDs pornôs numa lojinha do terceiro andar. Ao lado, um cara bem estranho (tenho a impressão de que ele não toma banho já há alguns dias) vende aquelas bugiganguinhas de praia, incenso, talvez até mais do que isso!!! Na lojinha do lado, uma loirinha princesinha vende anéis, colares, correntes, brincos e o escambau.

Todo esse cenário, como sabem, faz parte da chamada "calcalá shchorá" ("calcalá shrrorá", o mercado negro) de Israel.
Pessoas não páram de passar.
O lugar, que é gigante, tem a fama de ser a maior rodoviária do mundo. Pelo menos na época em que foi inaugurada, há pouco mais de 10 anos. No total, são 230.000 m² de uma construção que começou em 1967 e terminou 21 anos depois. São sete andares, 29 escaleiras, 13 elevadores e mais de mil lojas!


Tachanah Merkazit de Tel-Aviv


Sim, meus amigos. Quem está acostumado a enxergar Israel como terra santa; usando dos estereótipos de judeus, árabes, conflito e guerra, pode se surpreender.
Acreditem (e aceitem) se quiserem. Israel é um país como outro qualquer: tem corrupção, altos impostos e, como não podia deixar de ser, seu fascinante e movimentado mercado negro.
Agora, com licença. Vou dar uma chegada ali numa promoção de cds piratas...

ps1: Diz a lenda que, alguns dias antes da inauguração da nova tachaná merkazit de Tel-Aviv, alguns mineiros passeavam pela cidade. O ano era o de 1993. Mais precisamente, Agosto de 1993.
Conheceram os arredores do prédio, rodearam o lugar e admiraram a construção gigante.
No dia da cerimônia, quando o prefeito Ronnie Milo cortou a fita, surgiu para os presentes a bonita placa de inauguração. Mas ninguém contava com um pequeno detalhe: ao lado da placa, uma pichação. Pequena, mas destacada. Duas palavras: MÁFIA AZUL.
Ninguém entendeu nada...

ps2: Durante a noite de ontem, fogueiras arderam por toda Israel. Algumas gigantes, outras pequenas. Algumas na estrada, outras no meio das cidades. Explico essa viagem.
Começou Lag-Baomer. Não ajudou, né? Vou tentar explicar o que é isso (eu, a negação da religião hahaha. O que a gente não faz por um pouco de informação no blog, né!?).

Lag-Baomer é uma festa divertida, na qual é costume fazer piqueniques e encontros em torno de fogueiras. Crianças também brincam com arcos e flechas.
Começando.
O período de 7 semanas que se conta entre o segundo Seder de Pessach e a festa de Shavout é conhecido como Sfirat Haomer (contagem do Omer). Omer é uma medida bíblica que determinava a quantidade de cevada colhida oferecida no antigo Templo de Jerusalém.

Um pouquinho de história.
No ano 130 da era comum, o imperador Adriano ordenou que seu exército atacasse os judeus e os proibissem de praticar a religião judaica. Todos que fossem pegos estudando a Torá eram mortos.
A explicação mais frequente para a festividade de Lag Baomer é de que uma peste que vitimou os alunos do Rabi Akiva terminou ou foi suspensa nesta data. Segundo os religiosos, a peste os castigou por não terem sido respeitosos entre si. A praga, que estava matando tantos discípulos do Rabi Akiva, parou exatamente neste dia.
O número trinta e três em hebraico é representado por L’G (não tem nada a ver com a marca de televisores), que é pronunciado Lag, sendo o dia chamado de Lag BaOmer.
Pela razão da peste, os dias do Omer são considerados como "de semi-luto" para os ortodoxos. Por exemplo, não se celebram casamentos (por isso tive várias folgas no trabalho).

Um dos discípulos de Rabi Akiva, Bar Kochba, se tornou um líder guerreiro do povo judeu, organizando um exército de resistência para se libertarem do domínio romano. Mesmo com poucos guerreiros e armados de arco e flecha (daí vem o costume das crianças), conseguiram algumas vitórias sobre as forças romanas, que obrigou o imperador a enviar uma legião de Roma para esmagar com a resistência dos judeus.
O Rabi Shimon Bar Yochai (autor do Zohar, o primeiro livro da Cabala) também morreu em Lag Ba'Omer. Cabalistas e ortodoxos se reúnem em seu túmulo, na Galiléia, acendendo fogueiras, realizando o primeiro corte de cabelo de seus filhos, cantando e dançando a noite inteira.


Religioso em LagBaOmer


Consegui explicar?
De qualquer forma, ontem foi o dia das fogueiras. E isso pode dar problemas.
Às nove da noite, sentado num ônibus, escutei o barulho de ambulâncias. Muitas.
"Aconteceu alguma coisa séria", pensei.
Porém, de repente, passaram por mim não ambulâncias, mas vários caminhões do corpo de bombeiros. Era a primeira vez que tinha visto isso aqui. Algum ignorante deve ter feito uma fogueira e queimado mais coisa que devia...

Para uma explicação do Lag-Baomer (em português), clique aqui!
Para matéria do jornal Haaretz sobre a festa (em inglês), clique aqui!
Para um texto religioso sobre a festa (em espanhol), clique aqui!

ps3: Na última semana, quem "deu o ar da graça" em Jerusalém foi a esposa do presidente George W. Bush. Laura Bush visitou o Kotel (o Muro das Lamentações). Foi alvo de protestos.
Depois, não sei o que deu na cabeça da mulher que ela resolveu subir na parte árabe, no Domo da Rocha. Pra quê?
Segundo um jornalista presente, uma multidão empurrava a mulher do presidente Bush quando ela tentava entrar na mesquita. Um palestino gritou:

"Você não é bem-vinda aqui! Por que vocês estão importunando nossos muçulmanos? Como você ousa vir aqui?"

Acho que essa mulher precisa tomar juízo. Será que ainda não aprenderam a lição?
Contextualizando: ela veio ao Oriente Médio na última sexta-feira, sabendo que a imagem dos EUA no mundo muçulmano ficou mais ainda abalada pelo escândalo de abuso de prisioneiros e por uma reportagem de uma revista, depois negada (como sempre), de que interrogadores norte-americanas profanaram o Alcorão.
Só um detalhe na foto. Essa cidadã de branco (que parece a Luiza Erundina) se chama Gila Katsav, a esposa do presidente israelense Moshe Katsav. Outro detalhe, mas que nessa foto não é possível enxergar: a quantidade de urubus e suas máquinas fotográficas.


Laura Bush no muro

4 Comments:

At 2:32 AM, Anonymous Anônimo said...

Tava faltando a Tachaná de Tel Aviv nesse blog...
Agora sim!
Abração,
Michel.

 
At 2:34 AM, Anonymous Anônimo said...

A propósito, já pensou no post especial pelos 4 mil acessos??? Vai pensando aí.
Michel.

 
At 11:04 AM, Anonymous Anônimo said...

Bicho, teu blog é demais. Por motvos de preguiça, esse é meu primeiro comentário ... Mesmo pra mim, que já visitei a terrinha, tem mta coisa interessante!
Continue assim bean!!

agora, particular: como q. vc tá doidão?!

 
At 3:21 PM, Blogger Nikolas Spagnol said...

[modo chauvinista ligado]

Pô, vou dormir pensando nas etíopes negras e esguias, porém gostosas, com suas calcinhas de fora.

Nham, nham...

Tomara que elas não tenham sido "circuncisadas" na infância.

[/modo chauvinista desligado]

 

Postar um comentário

<< Home