O estereótipo perfeito
Mais uma história verídica.
Costumam dizer por aqui (com razão) que o "motorista de ônibus" em Israel é o estereótipo perfeito do "israelense comum": puto, mal educado, grosso, puto com a vida, puto com a religião, puto com o governo.
Ontem tive a minha experiência.
Quando cheguei para trabalhar no estacionamento do hotel, vi que todas as vagas destinadas a ônibus (umas 5 ou 6) estavam ocupadas por carros. Logo comentei com o El-hanan, um carioca gente fina que trabalha comigo: "Ih, se chegar algum ônibus nós tamo fudido..."
Eis que aparece um ônibus de convidados para a festa, que estaciona justamente no local destinado aos ônibus da Egged, a empresa pública (o que é proibido). E lá vai o Bean correndo pra falar com o motorista.
Putz, e que mal educado. Acho que sua mulher deve dormir de calça jeans, não é possível. Xingou porque as vagas estavam ocupadas e não quis sair dali. Tentei ser educado. Depois de um tempo, não deu. Comecei a discutir, do melhor estilo "israelense ignorante".
Segundo o louco, quatro ônibus ainda estavam por vir. Disse a ele que resolveria o problema, mas o motorista não quis sair. Conseguimos, a princípio, três vagas para ônibus. Mas ele não queria ir até lá. Dizia que não cabia.
"Meu senhor, eu trabalho aqui nesse estacionamento todos os dias; e é o primeiro motorista de ônibus que vejo que não sabe dirigir".
O cara ficou mais louco ainda. A veia do pescoço quase saltava.
Resolveu sair, até que começou a discutir ferozmente com um pobre coitado de um senhor religioso que não queria dar uma ré para o ônibus passar (na verdade, era o ônibus quem tinha que dar a ré). E, pra variar, o motorista começou a gritar, dessa vez com o senhor religioso. Os dois de pé, no meio do estacionamento:
"Você sabe rezar, mas não sabe dirigir. Você é pequeno, folgado e não sabe dirigir. Avisa o seu D´us que você não pode dirigir".
Pensei que ele ia bater no velho religioso, que também esbravejava (a esposa esperava no carro). Já estava me preparando para pular no pescoço do motorista e enchê-lo de porrada no primeiro fio de cabelo que ele encostasse do senhor religioso.
Mas, como toda discussão entre israelenses mal-educados, tudo ficou só em palavras. Feias, mas palavras. Fui até o velho e disse que também tentara convencer o ignorante do motorista. O senhor foi até bem simpático comigo.
O motorista ficou lá no meio, reclamando. Resmungando. Resolveu ligar pra polícia para avisar que carros particulares estavam estacionados nas vagas de ônibus.
Eu morri de rir.
De repente, chegou a polícia. A confusão já tinha se formado. O discurso era o mesmo que o meu. O policial disse para o revoltado motorista:
"Senhor, isso é um estacionamento privado. Não existe lei para isso. Não posso fazer nada. Eles escreveram ali que é para ônibus, e se carros estacionaram, o problema é do hotel".
Nossa, o cara ficou louco. Eu ajudei:
"Senhor, isso é particular. Se eu escrever numa placa que nessa vaga só estacionam mulheres gostosas e você estacionar, não posso fazer nada, muito menos chamar a polícia" . Um dos outros motoristas chamou o colega louco:
"O que você está fazendo? Você bebeu?"
No fim, deu tudo certo. Os ônibus chegaram e conseguimos encaixá-los. Mas o motorista, coitado, deixou o lugar com cara de poucos amigos (o que é longe de ser problema meu). Entrou no salão, com a esperança de encontrar algum outro motivo e outra pessoa para começar a gritar. Típico de israelenses...
ps1: Um árabe salvou o Purim de Israel. Aos 45 minutos do segundo tempo, marcou o gol de empate da seleção (horrorosa por sinal) contra a Irlanda, no último sábado. Na quarta-feira, Israel enfrenta a França, aqui em Ramat Gan.
Uma vitória deixa os israelenses bem próximos da Copa. Para a tristeza dos amantes do bom futebol.
ps2: E consegui pendurar minha bandeira gigante no quarto. Descomunal. Vejam!
3 Comments:
É esterEótipo...
E obrigado por recomendar meu blog. Bom saber que a palavra Submundana atravessa o Oceano e chega à essas paragens distantes.
Boa sorte e cuidado com o homem-bomba.
Pois é, sempre tive problemas com esterEótipos...
Valeu pela força, e continua escrevendo lá. Sempre passo pra dar uma olhada...
Velho, eu pagava uma grana pra ver você brigando com o motorista!
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