quinta-feira, abril 07, 2005

Crises são como ônibus. Passam.

Debatamos hoje sobre "crise".
Muitos já se debruçaram por horas em cadeiras pouco confortáveis e quebraram a cabeça discutindo sobre o conceito de crise. Dentre vários, posso citar Freud, Gramsci, Habermas...
Eu, nos últimos dias, pude definir beatzmi (por mim mesmo) o que viria a ser crise. Sem essas frescuras filosóficas. Tudo vindo inteiramente de experiências próprias.

"Crise" significa um período (curto ou longo) em que, direta ou indiretamente, vários aspectos importantes da vida começam a dar errado em sequência.

Existem vários tipos de crise. "Crise de comportamento", "crise nos estudos", "crise na relação" ou simplesmente "crise". Os motivos, como disse, podem ser tanto diretos quanto indiretos.
Mas o mais importante de toda crise é nunca se render. É, depois das pancadas, sempre se levantar. O mais rápido possível. Sabe-se lá o que o futuro nos espera, não é?

Não vejo a hora de chegar a quinta-feira da semana que vem. Saio de férias. Deixo um pouco essa cidade (e as festas de casamento) e vou respirar outros ares por alguns dias. Sai Jerusalém, entra Amã. Dou notícias.

ps1: E preparam-se. Segundo uma estimativa do jornal Jerusalem Post (tudo bem que não é muito recomendável acreditar em estimativas de jornalistas), o numero de "imigrantes potencias" da Etiópia para Israel chega perto da casa de 50 mil pessoas.
A história real sobre os "judeus etíopes" não é das mais simples. Pelo contrário. Os "judeus negros da Etiópia", integrantes de várias ramificações da tribo "Beta-Israel", são conhecidos aqui no país como "Falashas". Vou tentar explicar um pouquinho. Se não tiverem paciência, podem pular de ps.

Durante os últimos 30 anos, grandes grupos de "falashas" migraram de suas pequenas vilas para a capital da Etiópia, Addis-Abbeba. Depois das duas grandes operações realizadas por Israel para trazer esses judeus (Operação Moishe - 1984 e Operação Shlomo - 1991), o Ministério de Absorção permitiu que fossem realizadas as aliot (imigrações para Israel) seguindo não a "Lei do Retorno", mas uma nova lei: a "Lei da Reunificação Familiar.
"A "Lei do Retorno", criada poucos anos após a Independência de Israel, permite a qualquer judeu (ou filho de judeu até a terceira geração) tornar-se cidadão israelense. Sem querer entrar na discussão, alguns ignorantes acusam a lei de segregacionista. Mas falo sobre isso em outra ocasião.

Voltando aos etíopes. Hoje, segundo dados (muitas vezes contraditórios) do governo , vivem cerca de 80 mil falashas em Israel. Desses, metade vieram nas duas grandes operações.
Conheci vários etíopes durante esses meses. Têm uma mentalidade muito mais "latina" do que "israelense". Afinal, são africanos. Falam bastante, são alegres, comunicativos, não passam despercebidos. Falam um idioma totalmente ininteligível e, como os russos, já possuem lojas voltadas especialmente para suas "necessidades". No shuk (mercado) Mahane Yehuda, por exemplo.

Acredito que um dos grandes problemas da história do "recém-criado" Estado de Israel é a maneira como os governos trataram da absorção dos novos imigrantes ("olim chadashim"). Desde 1948, grandes massas de olim costumam ser mandados para o que aqui chamam de "cidades em desenvolvimento". Essas "cidades em desenvolvimento" (como Ashkelon, Sderot, Kfar Saba, Kyriat Gat) acabam transformando-se em grandes bolsões de pobreza e criminalidade.
Cito um filme que fez sucesso no ano passado: "Sof haolam smola" ("Fim do mundo à esquerda"), que mostra exatamente a história de algumas famílias indianas que chegam à Israel na década de 60 e são "alojadas" numa "cidade em desenvolvimento" no meio do deserto.
Afinal, que governante em plena sã consciência colocaria, por exemplo, 50 mil iemenitas morando em Tel-Aviv em plena década de 50????


Judeus etíopes

Para ler sobre os primórdios dos falashas (em português), clique aqui!
Para ler a matéria do Jerusalem Post (em inglês), clique aqui!
Para ler a história dos judeus da Etiópia (em inglês), clique aqui!

ps2: Para quem gosta das discussões sobre Racismo e Futebol, coloco aqui no blog um link para o Editorial do jornal Haaretz de hoje.
Clamando pela erradicação do racismo nos estádios, o artigo coloca em discussão a "fanática" torcida do Beitar Yerushalaim.
O Beitar, para quem não sabe, é tão odiado pelas torcidas adversárias em Israel quanto o Corinthians é no Brasil. Além do mais, é uma equipe tradicionalmente composta por torcedores que, digamos, não gostam muito de árabes. Disso para manifestações racistas é um pulo. Pulo, aliás, que já foi dado.
Para ler o editorial (em inglês), clique aqui!

ps3: No próximo post, entra no ar a nova "Enquete do Bean". "Onde o Bean deve passar o seder de Pessach"? (o jantar da Páscoa judaica).
Aguardem as opções de resposta...

3 Comments:

At 2:24 AM, Anonymous Anônimo said...

Poxa, Bean, vim aqui correndo 'pedir socorro' depois da forte reportagem de hoje no haaretz: "Racism by any other name"
http://www.haaretz.com/hasen/pages/ShArt.jhtml?itemNo=562013&contrassID=1&subContrassID=4&sbSubContrassID=0&listSrc=Y

Que nojo, que revolta!
O racismo no futebol parece ateh 'leve', quando se compara com o real problema de 'family unification'. Tem muita GENTE, comum & anonima, sofrendo sem poder ter uma vida normal!

E nos, um dia, fizemos aliah... por ideologia, amor...
Anos depois, RELEITURA... e mal-estar, vontade de vomitar! Help, Bean!

Ah, estou esperando um post detalhado, tipo 'caminho das pedras', da sua ida pra Jordania. Eu tambem quero ir ver o 'outro lado'.
C U

 
At 7:31 PM, Anonymous Anônimo said...

A propósito de falashas e racismo, uma história interessante, não sei se já te contei.
Quando eu tava no shnat, teve uma vez que eu estava em uma loja tipo lojas americanas na Tachaná de Tel Aviv. Eu tava na fila do caixa pra pagar e, logo na minha frente tinha um falasha, que ia pagar suas despesas com cartão de crédito.

A moça do caixa, com aquela educação peculiar de israelense, pediu identidade, conferiu mil vezes, só faltou mandar o cara tirar as calças.

Depois de alguns minutos, a compra do cara foi feita, tudo certo, chegou a minha vez no caixa.

Eu pensei "porra, o cara é cidadão israelense e teve essa burocracia toda pra aceitar o cartão de crédito, eu que sou estrangeiro to ferrado! Ainda mais com essa cara de shnat que eu tou"

Já ia pegando o passaporte e ensaiando o que ia dizer no meu hebraico incipiente, quando eu entreguei os produtos que eu tava comprando (nem lembro o que era) e o cartão de crédito.

A moça do caixa mal olhou pra mim, passou o cartão, eu assinei e fim de papo.

Conclusão: no meu raciocínio, faltou apenas um fator: eu sou branco. Então eu não tenho que provar que não sou bandido. Já o falasha...

No Brasil eu estaria preparado para esse tipo de situação patética (que já ocorrer um milhão de vezes).

Mas em Israel, me deixou meio embasbacado.

Vai ver que Israel tá, realmente, se tornando um país como qualquer outro... Mas podia passar sem essa...

Abraços

 
At 5:42 AM, Blogger Nikolas Spagnol said...

Ô Reiss,

Li numa entrevista na "Caros Amigos" de um judeu brasileiro - Georges Burdukan, troço assim - já há alguns anos atrás, em que ele diz que a grande quantidade de imigrantes vindo do Leste Europeu e URSS após o fim do comunismo é responsável pela guinada à direita da política de Israel.

Os caras vindo da Rússia e outros países sem tradição democrática acabam engolindo mais facilmente o discurso chauvinista do Likud, essa é a teoria do cara.

Tá certo ou tá errado?

 

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