terça-feira, abril 12, 2005

O Bean responde

Hoje vou dedicar o post (que será um pouco comprido) para responder a uma pergunta que me fizeram aqui no blog.
Tentarei ser curto. Isso quer dizer que se alguém quiser perguntar algo, farei o possível para responder. Não sou enciclopédia, mas posso tentar ajudar.
Taí a pergunta. E a minha resposta.

Ô Reiss,
Li numa entrevista na "Caros Amigos" de um judeu brasileiro - Georges Burdukan, troço assim - já há alguns anos atrás, em que ele diz que a grande quantidade de imigrantes vindo do Leste Europeu e URSS após o fim do comunismo é responsável pela guinada à direita da política de Israel.
Os caras vindo da Rússia e outros países sem tradição democrática acabam engolindo mais facilmente o discurso chauvinista do Likud, essa é a teoria do cara.

Bom, Nikolas, a minha resposta é "em termos".
O primeiro de tudo é que os conceitos de "esquerda" e "direita" não se aplicam muito aqui em Israel. O sistema de partidos políticos possui variáveis inexistentes em outros países. Aqui não existe uma linha clara, com as tradicionais extremidades "esquerda" e "direita", na qual se encaixam os partidos.
Na verdade, são várias as linhas, já que são também muitas as variáveis. Os partidos se distinguem pelas vertentes "laico-religioso", "à favor da devolução de territórios-contra a devolução de territórios", "ashkenazim-sefaradim" e também "judeu-árabe", dentre outras.
Chamar o partido Likud de "direita" e o partido Avodá de "esquerda" não significa utilizar-se dos conceitos pré-estabelecidos e utilizados em outros lugares, como no Brasil.
Vou dar um exemplo.
Nas últimas campanhas eleitorais em Israel, muito se criticou sobre as propostas econômicas e sociais de ambos os partidos (os dois maiores). Isso porque eram propostas praticamente idênticas. É preciso ter muito cuidado para utilizar esses dois termos quando se referir aos partidos políticos em Israel. Não é simples.

Quanto aos russos.
Mais de 1 milhão de russos chegaram a Israel desde o início dos anos 90, e hoje são quase 20% da população total.
Segundo pesquisa realiada há poucos meses aqui no país, 60% dos russos eram à favor da retirada de Gaza. O dr. Eliezer Feldman, especialista na imigração russa, disse no relatório que a razão mais surpreendente que ouviu para apoiar a iniciativa é que após o desligamento “não haverá tantos árabes em Israel”.
É verdade, portanto, que boa parte dos russos se encontra no que muitos convencionaram chamar de "direita" em Israel, apesar de que muitas vezes eles funcionam, junto com os religiosos, como fiel da balança. Dependendo do que receberem de recursos, podem apoiar tanto um governo do Likud quanto um do Avodá.
O que eu posso dizer é que algumas vezes os imigrantes russos tem os mesmos anseios que a população em geral, e em outras vezes, suas preocupações são especificamente russas.

Acredito que o "trauma socialista" possa ajudar a moldar o comportamento dos russos, mas não creio que seja 100% decisivo quando o assunto é o conflito com os palestinos: seus problemas, seu dia-a-dia, sua solução.
Quero dizer que não foram os russos os responsáveis pela guinada à "direita" que tomou o Estado de Israel na última década. O assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin (em 1995) e alguns dos seus desdobramentos (como o fracasso do ex-primeiro ministro Ehud Barak), creio eu, contribuíram muito mais para essa guinada do que a imigração russa.

Terminando: apesar de me considerar "de esquerda", não acredito que o discurso do Likud seja chauvinista. Mas isso já é uma outra discussão...

ps1: Já aviso, de princípio, que o filme que recomendarei aqui não é para todos. Não é um filme de apelo comercial.
Assisti esses dias à adaptação para o cinema de "O Mercador de Veneza", de William Shakspeare. Desde os meus primeiros estudos sobre a história do Antissemitismo, apaixonei-me por essa peça e não entendia como nunca havia sido feito uma produção hollywoodiana sobre ela.
No filme, é possível assistir à mais um show de atuação de Al Pacino, que vive o papel do judeu Shylock. Sensacional.
Trata-se de uma produção conjunta entre quatro países (EUA/ Itália/ Luxemburgo/ Reino Unido).
A sinopse abaixo é do site "Adoro Cinema".

Na cidade de Veneza, no século XVI, Bassanio (Joseph Fiennes) pede a Antonio (Jeremy Irons) o empréstimo de três mil ducados para que possa cortejar Portia (Lynn Collins), herdeira do rico Belmont. Antonio é rico, mas todo seu dinheiro está comprometido em empreendimentos no exterior.
Assim, ele recorre ao judeu Shylock (Al Pacino), que vinha esperando uma oportunidade para se vingar de Antonio. O agiota impõe uma condição absurda: se o empréstimo não for pago em três meses, Antonio dará um pedaço de sua própria carne a Shylock. A notícia de que seus navios naufragaram deixa Antonio em uma situação complicada, com o caso sendo levado à corte para que se defina se a condição será mesmo executada.

Sugiro assitirem ao filme e depois podemos conversar, comentar, o que quiserem. É difícil falar de "O Mercador de Veneza" para quem nunca assistiu à produção ou tampouco leu a obra.


Para assistir ao trailer, clique aqui!

ps3: No último domingo, mais uma manifestação contra a retirada de Gaza foi realizada aqui no país, desta vez em Tel-Aviv. Na capa do site do jornal Haaretz destacou-se um rapaz, no meio da multidão, segurando uma bandeira e uma vela.
Era o Naresi, o campineiro-israelense que até já foi citado nesse blog. Ele me ligou, no meio da manifestação, todo empolgado, me mandando entrar no site imediatamente...
-Calma aí, Naresi, onde é que ocê tá agora? Cê tá ainda aí na manifestação?
Ele respondeu.
-Não. Tô num bar aqui perto, assistindo o "Real Madrid e Barcelona".
Coisa de brasileiro mesmo...

ps4: Tem enquete nova na parada. Aqui, do lado direito da página!!!