terça-feira, janeiro 30, 2007

Uma carona inofensiva


Eilat.

Mais um dia de trabalho para o tenente-coronel de reserva Yossi Waltinsky. A rotina de sempre.
Logo cedo, Yossi já estava de pé.
Tomou café, ligou o carro e partiu em direção ao hotel que trabalha no balneário turístico israelense às marges do Mar Vermelho.

Perto de casa, Yossi avistou um homem caminhando
e, pensando que também era empregado de algum estabelecimento hoteleiro, ofereceu para levá-lo de carro até o centro de Eilat.
No caminho, o militar reformado tentou iniciar uma conversa mas notou que o home
m não falava uma palavra de hebraico.
Além disso, percebeu o notável incômodo do passageiro, que nem quis colocar o cinto de segurança.
Suspeito.

Yossi resolveu levar o homem não para o centro, mas para um bairro afastado - longe da área dos hotéis e da praia.
Lá, fez o homem descer e indicou o caminho contrário ao centro da cidade.
Assim que o sujeito desceu, Yossi avisou imediatamente a polícia.

O suspeito caminhou até a frente dessa pequena padaria.
Benny Mazgini, de 45 anos, mora num prédio em frente à padoca.
Ele afirma ter visto um um homem com um casaco e um saco preto. Como em Eilat faz muito calor (apesar do inverno), pareceu-lhe estranho.

O homem: o palestino Mohammed Fayzal al-Siksek, 21 anos e morador da faixa de Gaza.

Passava das 9 e meia da manhã.
A câmera de segurança de um bar ao lado da padaria flagrou o momento em que Mohammed, de camisa vermelha, passou na frente da vitrine.

Momentos depois tudo se esclareceu.



Quando Benny Mazgini correu para ajudar os feridos, deparou-se com fumaça, pedaços de carne por todo o lado e tabuleiros de pão inundados de sangue.
Três israelenses morreram: o dono do estabelecimento e dois empregados.
E já vieram as retaliações...

Para quem quiser ver mais sobre o atentado, assista à uma matéria de um noticiário português.
É só clicar aqui!
Ou leia pelo Terra mesmo...

ps1: Na comunidade "Eu Leio o Blog do Bean" no Orkut está uma pergunta que não sai da minha cabeça.
Qual poderia ser a nova enquete do Blog do Bean?
Dêem sugestões...

Ah, e não se esqueçam de fazer o Quiz do Bean.
Vale prêmios...

ps2: Essa notícia dará "pano pra manga".
Israel nomeou seu primeiro ministro muçulmano neste domingo.
A medida foi tomada a fim de ajudar os cidadãos árabes-israelenses a se identificarem mais com o Estado judeu.

Sua nomeação, alvo de um intenso debate durante várias semanas, atraiu críticas de partidos de ultra-direita.
A discussão é polêmica.
Muito polêmica.

Abaixo, o novo ministro Galeb Magadla aceita um baklawa.
Vocês sabem o que é um famoso baklawa?


sexta-feira, janeiro 26, 2007

Um Dia de Fúria


"Todo mundo é culpado. Menos ele".

Essa foi a manchete do jornal Ma´ariv no dia seguinte após o festival de acusações que o presidente Moshe Katzav promoveu numa coletiva de imprensa para defender-se das acusações de estupro e abuso sexual.

Visivelmente alterado, o presidente dirigiu-se aos cidadãos israelenses durante quase uma hora e por diversas vezas ergueu o punho e o tom de voz.
Estava possuído...

Não é preciso dizer que logo após ter soltado os cachorros, todo mundo voltou-se contra ele.
As declarações de Katzav geraram uma forte onda de críticas aqui em Israel.
Políticos e jornalistas o acusam por ter perdido a calma e atacado de forma indiscriminada a imprensa, a Polícia e a Promotoria de Israel.

Ainda no início do discurso, o presidente protagonizou uma forte discussão com um jornalista de um canal de televisão.
Eu estava acompanhando pela televisão e vi que a coisa foi feia.
O Gabriel, que estava lá, confirmou que a coisa foi mesmo feia.
Tanto é que o comentarista do Canal 2, que transmitia o discurso ao vivo a partir de uma espécie de estúdio montado no local, reagiu com gritos - provocando a ira do presidente (que mandou o jornalista sumir dali e ainda disse que não gostava nem um pouco dele).



Resumindo tudo: foi um show de horrores e um festival de ataques estapafúrdios e falta de educação (aqui chamada de hutzpá) do "presidente sem calças".

Na quarta-feira, falei duas vezes para a rádio RFI.
Vale a pena escutar, principalmente a segunda, logo após o calor do discurso do presidente (que desonrou seu cargo de uma forma que nunca antes vi em lugar algum do mundo).


Para ouvir a primeira matéria, clique aqui! (a partir do minuto 1´40)
Para ouvir a segunda, clique aqui! (a partir do minuto 2´36)

Nas imagens abaixo (de uma tv espanhola), é possível ver Katzav brigando com o jornalista Gadi Sukenik e, ao final, deixando o local e esquecendo sua esposa.
Percebendo a besteira, voltou para buscá-la...



O Gabriel, que como disse estava lá, também fez um videozinho do bate-boca.
É só clicar aqui!

ps1: Para não fugir do tema, mais um pouco de um dos maiores escândalos político-sexuais da história de Israel.
Uma charge do "presidente sem calças"...

ps2: Para acabar bem o post, mostro pra vocês a foto de um grupo de japoneses que encontrei na Cidade Velha de Jerusalém.
Está na cara que são japoneses...

Tão preocupados em tirar fotos de coisas inúteis, nem perceberam que eu estava tirando uma deles.
Talvez já estejam acostumados...



E o QUIZ DO BEAN continua a todo vapor.
Não deixem de testar seus conhecimentos...

domingo, janeiro 21, 2007

Horizonte


O ano está voando.
E nada melhor do que começar o post com uma pequena vista lá de Har Hatzofim, onde fica um dos campus da Universidade Hebraica de Jerusalém.
A foto foi tirada por mim do alto do teatro (chamado Anfiteatro).

Essa pequena estrada (relativamente nova) na foto desemboca no Mar Morto em menos de 40 minutos.
O pequeno grupo de casas, logo atrás da estrada, já é o que consideramos "Cisjordânia", "território ocupado", "deserto da Judéia" ou como mais quiserem denominar (dependendo da posição política).
Trata-se de uma vila árabe chamada Issawiya.

Mais atrás, outro grupo de casas.
Um assentamento judaico chamado Maale Adumim (o famoso, fundado em 1976 e um dos maiores da Cisjordânia - com mais de 35 mil habitantes).
Maale Adumim, morada de gente com muita grana, é um dos grandes entraves políticos do processo de paz com os palestinos.
Aliás, é mais que um entrave. É um imbróglio.

Mais atrás ainda, é possível ver (num dia claro como o da foto) o próprio deserto da Judéia, mais atrás o Mar Morto e logo depois as montanhas da Jordânia.
Tudo isso de dentro da Universidade.

Tá bom ou querem mais?

ps1: Está lançado o Quiz do Bean 2007.
Mais uma porcaria promovida pelo Blog do Bean.

Quem quiser pode entrar no Quiz e responder 9 perguntas sobre o Blog do Bean referentes ao ano que passou.
O vencedor será premiado com uma bela surpresa.
Espero que gostem...
É só clicar abaixo em "Quiz your Friends" e depois em "Take this Quiz!".
Boa sorte!!!


ps2: Para não deixar os leitores do blog de mão abanando, publico um dos clips israelenses mais bonitos que vi por aqui.
E olha que isso é uma raridade!

Gilad Vitel, um dos cantores do grupo Shotei Hanevuah (que já falei por aqui) lançou uma carreira solo parelala (incluindo um álbum).
A música se chama Tikvá (Esperança) e bom parte do clip é filmado em Jerusalém.


segunda-feira, janeiro 15, 2007

Chá com bolinhos...


O de sempre.
A chefe da chancelaria norte-americana Condoleezza Rice veio, fofocou por 3 horas com o premiê israelense Ehud Olmert e "ficou por isso mesmo".
Um digno chá com bolinhos...

Fontes do governo afirmaram que ambos
concordaram em realizar uma conferência com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, a fim de retomar as negociações de paz.
Mas os esforços, como sempre, devem ir por água abaixo.

Enquanto Rice estava reunida com Olmert, o Ministério da Habitação israelense informou que pretende construir mais 44 unidades residenciais em Maaleh Adumim, perto de Jerusalém, expandindo o maior assentamento de Israel na Cisjordânia.

Rice já foi embora.
Para o Egito.
Talvez para tomar um chá e fumar uma narguila...

Falei hoje na Rádio França Internacional.
Para escutar a matéria, clique aqui! (a partir do minuto 2'46)

ps1: Para quem não sabe, os árabes comemoram o Natal.
Os cristãos, é claro.
Muita gente tem na cabeça que "árabe = muçulmano", o que é errado.

Existem árabes muçulmanos (a maioria), árabes cristãos, árabes drusos, árabes budistas e por aí vai.
Portanto, pelo menos eu não me surpreendi quando caminhava na Cidade Velha de Jerusalém no fim do ano e deparei-me com vários cartazes árabes celebrando o Natal.

Querem ver?



ps2: Todo o Rio de Janeiro conhece
Wagner Domingues Costa.
Com sua voz rouca e reconhecida à distância, ele apereceu nos bailes funk há pelo menos 10 anos e faz um sucesso quase sem precedentes (lá no Rio) .
Estamos falando de Mr. Catra - ou Catra, o fiel.

Confesso que não gosto de funk. Prefiro um samba de raiz.
De funk, só aquelas das antigas: Rap do Silva, Estrada da Posse e Rap do Salgueiro.

Mas Mr Catra, um garoto do morro adotado por uma família de classe média-alta, é autor do primeiro "funk em hebraico" de que tenho notícia.
A música "Jerusalém" (ou "Daber she ze anachnu") me fez rolar pra trás de rir. Até o bonde "Jerusa-Nazaré" entrou na história.

Vale a pena ver um trechinho de Mr. Catra no Caldeirão do Huck.
A cara do judeu Luciano Huck é impagável.
Para fazer o download da música completa, clique aqui!


domingo, janeiro 07, 2007

Reflexos de uma causa social


Não.
Não é uma manifestação palestina na Faixa de Gaza.
Não são os religiosos protestando contra alguma coisa em que só eles acreditam.
Também não são moradores de uma favela no Brasil reivindicando seus direitos.

A cena acima pôde ser vista (inclusive por mim, que fotografei) na última semana, numa das entradas do campus da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Har Hatzofim.
E se enganam aqueles que pensam que trata-se de alguma baderna de qualquer grupo "versão PSTU israelense" ou de funcionários exigindo melhores salários.

Estudantes comuns decretaram greve como resultado dos esforços da ministra de Educação Yuli Tamir para aumentar a anuidade (ou, em outras palavras, o preço anual dos estudos acadêmicos) de cerca de 12 mil shkalim (algo como 3 mil dólares) para quase 30 mil (7 mil dólares).

Os estudantes ficaram malucos.
Não deixaram ninguém entrar no campus e passaram o dia gritando palavras de ordem contra o governo (com o slogan "Sem Educação, Sem País"), queimando pneus e distribuindo abaixo-assinados.



Surpreendeu-me um dos manifestantes, que pegou o megafone e gritou:

"Dei três anos da minha vida para esse país, e o que ele me dá em retribuição???
Não vale a pena estudar aqui!"

A frase foi forte.
O jovem, que serviu três anos no exército de Israel, tem razão.
Ele é mais um candidato à Yeridá (o contrário da Aliá, ou seja, abandonar Israel e construir sua vida em outro país).

Esse governo, que se diz voltado para as causas sociais (como nunca), não cansa de pisar na bola.
Exatamente como aquele grandão lá na América do Sul que acaba de reeleger seu presidente...

ps1: E o Blog do Bean traz hoje algumas curiosidades...
Vejam o que encontrei numa pequena feira de livros dentro do campus de Har Hatzofim, da Universidade Hebraica de Jerusalém...

Até pensei em comprar, mas depois desisti.
Tentarei arrumar uma cópia em português...

Abaixo, a capa do livro Budapeste, de Chicho Buarque (que, como procurei saber, ficou em terceiro lugar na categoria Romance do Prêmio Jabuti 2004).
Em hebraico!!!



ps2: Os programas de culinária em Israel são deploráveis.
Os ingredientes até que são bacanas, mas no meio do preparo sempre surge algo que estraga o prato.
Chega a ser bizarro...

Um deles é protagonizado por um ser estranho chamado Gil Chovav ("Guil Rovav"), que não se cança de cantar (um desastre!) e que se acha "o chef".
Gil, de 44 anos, está todos os dias no canal Hot 3 com seu "Gil Hovav e Tossafot" ("Gil Hovav e Acompanhametos").



Se a culinária não é das melhores, pelo menos dá pra se divertir com o programa (apresentado numa bancada de supermercado e com várias matérias externas).

Num dos quadros, Gil recebe um convidado no seu "Canto do Trauma" e o obriga (sempre com uma taça de vinho) a comer alguma coisa que eles não suportam desde criança.
Cômico...

Abaixo, é possível ver (apesar da baixa qualidade da foto), uma das proezas que Gil realizou.
Ele diz ficar saboroso!
Gil pegou alguns frangos (bem pequenos, comuns aqui em Israel), abriu várias latas grandes de Carlsberg e "enfiou" cada uma no "ânus" das pobres galinhas.
E depois colocou no forno... alguém quer tentar?


Para quem gosta de cenas fortes, é possível ver no site Youtube uma cena que ficou famosa por aqui.

Gil Hovav ("Guil Rovav") era um convidado do programa do famoso cantor israelense Gidi Gov.
Eis que a pressão arterial de Gil baixa e ele desmaia ao vivo.
Gidi Gov, numa calma impressionante, reage e diz "é de verdade... calma... preciso de um médico". E fica com Gil nos braços enquanto a outra convidada, atônita, não sabe o que fazer.

Esse vídeo rodou o cyberespaço israelense...
Quem quiser assistir, fique à vontade...



ps3: Ainda é tempo de desejar um 2007 mágico para todos os leitores desse pobre blog.

E, sobre o último post (sem delongas), quero deixo claro que concordo plenamente com o comentário do doutor André.
Como sempre brilhante...