domingo, setembro 25, 2005

O Cid Moreira israelense

"Um dia me disseram que os ventos às vezes erram a direção.
E tudo ficou tão claro. Um intervalo na escuridão (...)
Somos quem podemos ser. Sonhos que podemos ter"

Existe um axioma jornalístico às vezes difícil de entender.
Pelo menos para quem não é da área. Ele diz que as notícias nunca são triviais.
Pegando carona nessas análises nem sempre óbvias, estão sempre os grandes figurões da imprensa.

Um senhor de 72 anos é o âncora do telejornal diário mais assistido de todo o país. O "Cid Moreira" israelense, conhecido por aqui como "Sr. Televisão", está há 30 anos a frente do telejornal noturno do canal 1 estatal. Com um salário mensal de 60 mil shkalim (cerca de 13 mil dólares), Chaim Yavin é o maior nome do jornalismo israelense e autor de um dos maiores fenômenos recentes da televisão por essas bandas.
A série de programas intitulada "Eretz Hamitnachalim" ("Terra dos Colonos"), veiculada pelo canal 2 durante os últimos dois meses, foi sem dúvida o maior êxito do jornalismo local nos últimos tempos. A série, digamos, chocou muita gente.
Os programas, acusados por muitos de serem subjetivos por parte do apresentador (e realmente são... não vejo nada de errado nisso) foram filmados quase inteiramente pelo próprio jornalista.
Numa pequena câmera digital.


Chaim Yaniv


O seriado pretendia mostrar aos israelenses o que eles raramente enxergam (ou querem enxergar) – que a vida sob ocupação tem significado para os palestinos e, também, o lado obscuro dos colonos. Engraçado foi o final, sendo ainda mais chocante do que a loucura do pessoal do marketing laranja e o sofrimento dos palestinos. Dessa vez, os críticos tiveram razão.
Gal Bekerman, ex-diretor assistente da Columbia Journalism Review, afirmou num excelente artigo que Yavin apresentava cada cena e cada personagem como se fosse Cristóvão Colombo descobrindo um novo mundo em seu próprio quintal.
Uma caricatura política publicada no dia seguinte ao primeiro episódio capturou isso perfeitamente. Via-se um Yavin visivelmente ansioso, com o suor pingando da testa, segurando um microfone e anunciando: "A Cisjordânia e Gaza estão cheias desses colonos!!!".

Nos documentários, Yavin deixa claro, sempre que tem oportunidade, que "não temos nada a ver com essa terra de colonos". Ele parecia se engasgar, em tempo real, com o que estava presenciando.
Num ponto determinado, sentado na sala de estar de uma numerosa família de colonos, tomando chá e debatendo abertamente, Yavin grita: "O que estamos fazendo aqui não é judaico!"
No final do primeiro capítulo, tendo acabado de entrevistar uma família palestina cujo filho tinha sido morto num fogo cruzado, ele conclui com algo que pode ser a sua moral da história:

"A dor é a mesma dor. Mas no noticiário da noite,
eles são sempre os matadores e nós somos sempre as vítimas."


Âncora do maior telejornal do país


Para matéria sobre o documentário (em hebraico), clique aqui!
Para artigo sobre os programas (em inglês), clique aqui!
Para biografia do jornalista (em inglês), clique aqui!
Para matéria do Haaretz sobre a série (em inglês), clique aqui!

ps1: Já está o ar o primeiro portal (tudo bem, um blog!) sobre futebol israelense escrito em português!!!
O autor é esse mesmo pobre coitado responsável pelo Blog do Bean! O principal objetivo, assim como escrevi por lá, é dar conta dos principais destaques do futebol em Israel: seja seus campeonatos, jogadores, a seleção do país e também bastante história e curiosidades.
É o Portal Kadureguel!


Portal Kadureguel

Aliás, hoje tem um jogão aqui em Jerusalém, lá no Estádio Teddy Kolek. O Beitar Yerushalaim joga contra o Maccabi Haifa, líder do campeonato e atual bi-campeão israelense. Até iria assistir, se o preço não fosse tão salgado...

ps2: Esse é mesmo um país que, apesar de tudo, respira tecnologia. Novidades surgem quase todo dia.
A partir da semana passada, as empresas de comunicação Bezeq e Barak passaram a oferecer um serviço de internet que multiplica a velocidade das conexões anteriores. Até então, os israelenses somente podiam navegar com a velocidade máxima de 2 Mega, pagando cerca de 70 shkalim por mês.

Agora, oferecem pela bagatela de 150 shkalim mensais, uma conexão de 5 Mega!!! Isso quer dizer que um filme que antes podia ser baixado em 5 horas, agora já estará disponível em apenas uma hora....
E eu que, no Brasil, já estava satisfeito com uma internet de 256k (e, quando cheguei em Israel, fiquei doido com a possibilidade de conectar meu laptop com 1 Mega de velocidade...)

Bezeq - 5 Mega de velocidade na internet

E por falar em Bezeq, o governo aprovou a venda dos 30% de ações que ainda controlava da Bezeq para o grupo de consórcio "Apax-Saban-Arkin".
O preço? 4,237 bilhões de shkalim (algo como 940 milhões de dólares).
Para quem gosta de economia e quer ler mais, clique aqui!
Para a notícia do Jerusalem Post (em inglês), clique aqui!

terça-feira, setembro 20, 2005

Justiça não é vingança

Wiesenthal


Ele foi, sem dúvida, uma dos judeus mais importantes do século XX.
Não é meu objetivo escrever uma biografia aqui no blog, até porque em alguns minutos uma quantidade incalculável de sites pipocarão informações sobre a vida de Simon Wiesenthal. Um dos mais famosos sobreviventes dos campos de concentração nazistas faleceu nessa madugada, em sua casa em Viena, enquanto dormia.

Aos 96 anos, o velho Wiesenthal era considerado por muitos como "a consciência viva do Holocausto".
Todas as vezes que ele conseguia levar a julgamento algum dos comparsas de Hitler, a mídia mundial chamava-o de "caçador de nazistas" ou "vingador dos judeus". Na verdade, seu interesse maior era manter viva a lembrança das barbáries praticadas pelos nazistas. Seu desejo não era fomentar o ódio ou praticar vingança, mas obter justiça pelas vítimas.
E como diz o título de um de seus mais famosos livros, "Justiça não é Vingança".


Simon Wiesenthal


Ele foi o único membro de sua numerosa família que sobreviveu à máquina de extermínio do III Reich. Desse modo, o antigo arquiteto Wiesenthal considerou que sua sobrevivência o incumbia da missão de ajudar a assimilar e superar o terrível passado.
Quando um homem perguntou a Simon Wiesenthal, numa das milhares de palestras que deu pelo mundo, por que escolheu perseguir os perpetradores desses crimes monstruosos e trazê-los à justiça, o sr. Wiesenthal respondeu:

"Você acredita em Deus e na vida após a morte. Eu também acredito. Quando formos para o outro mundo e encontrarmos os milhões de judeus que morreram nos campos de concentração e eles nos perguntarem "o que você fez?", terei muitas respostas.
Você dirá: "Tornei-me um joalheiro". Outro dirá: "Construí casas". E o próximo: "Abri uma confecção". Mas eu direi:
"Eu não me esqueci de vocês!".


Faleceu Simon Wiesenthal

Para matéria do JPost (em inglês), clique aqui!
Para biografia (em inglês), clique aqui!
Para matéria da Morashá (em português), clique aqui!
Para matéria do Ynet (em hebraico), clique aqui!
Para site do Centro Simon Wisenthal, clique aqui!

ps1: De péssimo gosto o novo site que inventaram, pegando carona no "Google Maps".
A idéia é acertar o local, a data e como será o próximo atentado terrorista.O vencedor é condecorado com uma sensacional camiseta, mostrando o local do ataque e a frase "I predicted it".


Camiseta


O internauta ainda deve chutar se será bomba, sequestro de avião, homem-bomba, ataque biológico...
Acho que tudo isso poderia acontecer, ao mesmo tempo, na cabeça de quem inventou essa palhaçada desse site. Existem coisas que ainda não dá pra acreditar...
E para os que apostam? Vocês sairiam na rua com uma camiseta macabra dessa? Quem sabe os vencedores recebem uma carta com Antrax pelo correio...??? (credo, hoje eu tô naqueles dias...)

ps2: Encontrei no fim de semana, entrando na tachaná merkazit (a rodoviária) de Jerusalém, um amigo israelense que não via há meses. Fardado, com uma mochila gigante nas costas, começou a gritar meu nome de longe. Não devia ter muitos "Carlos" por ali, por isso olhei.
Era o Idan, acho que o cara mais gente fina que trabalhava comigo lá no hotel. Agora está no exército.
"Bom te ver", disse ele no final. Prometi não sumir. Vamos ver se consigo...

quarta-feira, setembro 14, 2005

"Por que estivemos lá?"

"O portão foi trancado, as feridas foram abertas: por que estivemos lá?"
Antes de atirarem as pedras, a frase acima não é minha. Ela é o título de uma reportagem especial do jornal Yediot Acharonot sobre a saída do último soldado israelense de Gaza.

No início da semana, os canais de tv aqui passaram o dia mostrando o desmantelamento das bases do exército na Faixa de Gaza. Repórteres entrevistavam soldados, comandantes e até motoristas de caminhão. O sentimento de "ufa, acabou" era quase unânime.
Porém, analisar o fim dos 38 anos de ocupação em Gaza requer um pouco mais de calma. De reflexões. Por exemplo, as reações do lado palestino e todo o jogo de propaganda envolvido nisso tudo.


Fechando os portões


Por um lado, o grupo terrorista Hammas continua dizendo para quem quer ouvir que o mais um passo para a destruição de Israel foi dado. O próximo passo é Yaffo. Por outro lado, palestinos comuns invadiram o que restou de bases e assentamentos para saquear.
Mas não pensem que tudo isso tem um significado tão "ideológico". Dá pra notar. Segundo matéria da Associated Press, "a alegria, a ira e os arroubos nacionalistas das primeiras horas foram substituídos por um frenesi de acumulação e recuperação. Tudo foi desmontado, quebrado ou torcido e levado por veículos ou colocados à beira da estrada - madeira, metal, peças de plástico, cabos, postes elétricos, janelas, corrimão de escadas, etc."

Sim, meus caros. Enquanto o Hammas faz apelos nacionalistas por um lado, o povo por outro quer comer.
"No primeiro andar de uma sinagoga, a maior das 26 que existiam na Faixa de Gaza, Ahmad Abu Chaab, 12 anos, enfiava em um saco plástico um rolo de fios que acabara de arrancar da parede. ´Vou vender. É provável que consiga 10 shekels` (cerca de dois dó lares).
Abaixo, palestinos destruindo cabos de eletricidade na antiga colônia de Netzarim. Esse foi o último assentamento a ser evacuado pelo Exército e o primeiro a ser saqueado, na segunda-feira à tarde.


Saques


Quanto à propaganda, quero ser breve.
Depois do "trauma" da retirada, o assunto voltou à tona em Israel por causa de algumas sinagogas que tiveram suas demolições proibidas pela Suprema Corte. Foram, portanto, deixadas vazias, com placas em árabe escritas " local sagrado".
Mas por que não destruí-las, já que todo o resto foi demolido? Por que não destruí- las, já que se Israel não fizer, os palestinos o farão? (como fizeram...)
A questão foi motivo de mais uma mobilização do pessoal do marketing laranja e rabinos de plantão. O ministro de Defesa, Shaul Mofaz, deu a resposta claramente: "É melhor que as sinagogas sejam destruídas pela Autoridade Palestina do que pelo Exército de Israel."

Agora pergunto. Por que? E respondo.
No jogo do marketing, Israel ganharia alguns pontos mostrando para o mundo inteiro os palestinos destruindo suas sinagogas? Pensem nisso...
Abaixo, palestinos queimando uma sinagoga, em Gaza.


Queimando sinagoga

ps1: Já tive a oportunidade de dizer que entrar num ônibus em Israel pode significar um passeio profundo pelo caleidoscópio da sociedade israelense.
Pegando a condução para ir até o lishkat haguiús (o alistamento militar), não pude deixar de reparar um senhor bem velhinho, sentado nas primeiras cadeiras.

Usava um chapéu de aba larga e segurava uma sacola de compras. Tudo normal, se não fosse um detalhe. Um número tatuado no seu braço esquerdo. Comentei com o Gabriel, que estava do meu lado. "É... ainda bem que ele está aqui", disse ele.

ps2: A moda daquelas pulseirinhas de silicone realmente pegou. Agora inventaram uma cor de "verde-oliva" para demonstrar apoio ao exército de Israel. "Tzahal: Anachnu Itchem" ("Exército de Defesa de Israel: estamos com vocês").

Pulseira

sexta-feira, setembro 09, 2005

Bizarrice bem singular

Quem veio ao mundo há mais de vinte anos deve se lembrar de Ted Boy Marino dando uma voadora em algum personagem mau naquelas lutas montadas da TV dos anos 70 e 80.
Era o telecatch, o pro-wrestling tupiniquim.
Personagens bizarros com nomes esdrúxulos se socavam de mentirinha e faziam milhares de pessoas delirarem nos ginásios. Tigre Paraguaio, Rasputin, Diabo não-sei-o-quê...

Agora, usando a velha fórmula dessas lutas, a televisão israelense bateu todos os recordes de bizarrice. O telecatch 100% israeli!
Tudo bem se não fossem as figuras que sobem nos ringues para divertir o público. Esteriótipos retirados do coração da sociedade israelense. Para vocês terem uma idéia, dentre os lutadores existe um agente do serviço secreto (o "Shabacnic"), um sujeito laico de aspirações esquerdistas (o "Chiloní" - "rriloní"), um terrorista árabe ("Shahid") e até uma moradora de kibutz!!!
Completando o "elenco", uma agente do marketing laranja (contra a retirada das colônias de Gaza), um soldado e um judeu ultra-ortodoxo, de chapéu e tudo!


Os personagensOs personagens

Os personagensOs personagens

O que eu posso comentar de uma coisa dessa?

Primeiro, o nome do programa diz tudo: Macat Mediná (algo como "Porrada do País"). A idéia, como a própria chamada do programa diz, é acirrar os ânimos de uma sociedade totalmente dividida e fragmentada.
Mas calma, meus amigos. "Macat Mediná" não é pretexto para as pessoas saírem se quebrando pelas ruas. É um programa de humor. Patético, mas de humor. Mais uma atração do canal humorístico BIP, da tv a cabo. Todos os sábados, às 22h.
Dentre as coisas inacreditáveis que costumo ver pela televisão aqui, "Macat Mediná" já ocupa um alto post no meu "ranking". E sabe o que é mais engraçado? Ninguém dá a menor bola pra isso. Se um religioso quebra um árabe numa luta de telecatch, ninguém "tá nem aí". O país já tem problemas demais para se preocupar com isso.
Mas que toda essa história não deixa de ser de um mau gosto irreparável, ah sim, não deixa...
Mas quem se importa?
Abaixo, uma foto dos personagens dessa bizarrice totalmente singular!


O telecatch israelense

Para conhecer todos os lutadores, clique aqui!
Para ver fotos de um cara que foi assistir, clique aqui!
Para baixar o wallpaper do programa, clique aqui!

ps1: Agora a bola da vez aqui é a dúvida que lançaram no ar. Teria o Arafat morrido de AIDS?
Tudo bem que hoje o post está mais pra cômico do que qualquer outra coisa, mas não estou brincando.
Todo esse "bafafá" surgiu depois que foi provado que o então líder da Autoridade Palestina não foi envenenado. Nenhuma substância desse tipo foi encontrada no exame que, somente após 10 meses da morte de Arafat, ficou pronto (ou foi publicado, "como queiram"...)
Informações publicadas no livro "A Sétima Guerra", que conta os detalhes dos exames realizados por Arafat em Paris, mostram que os médicos franceses sabiam que Arafat era HIV positivo.

Eu me abstenho de qualquer opinião. Provando que o homem não foi envenenado e terminando com as teorias de conspiração, me dou por satisfeito. Se foi AIDS, gonorréia ou piolho na barba, não me importa!
Para ler a matéria do Ynet (em inglês), clique aqui!
Para matéria do Haaretz (em inglês), clique aqui!

ps2: Acho que ficaria batido demais se escrevesse (mais uma vez) que exisem coisas que só acontecem em Israel. Aliás, é o que o "Blog do Bean" mais vem enfatizando nos últimos tempos.
A foto abaixo é mais um exemplo dessa singularidade. Em meio aos choques entre colonos israelenses e soldados, pausa para a hora da reza. Todos juntos. Depois, o pau pode continuar quebrando...


Soldados e colonos rezando

terça-feira, setembro 06, 2005

"Você viu os soldados chorando?"

Daoud Kuttab é um famoso jornalista e analista político palestino.
Em Jerusalém, é diretor do Instituto de Mídia Moderna na Universidade "Al-Quds", proprietária da Televisão Educacional Al-Quds e total responsável por suas operações.
O que vocês lerão abaixo é um interessante artigo publicado originalmente no International Herald Tribune do último dia 24, com o título "Transmissão ao vivo: uma nova visão de Israel", traduzido pela sessão brasileira do movimento pacifista israelense Shalom Achshav (Paz Agora).
O texto se explica por si só...

Algo estranho aconteceu na semana passada [retrasada]: colonos israelenses e judeus extremistas pareciam humanos na TV árabe. Isto não quer dizer que os árabes de repente ficaram delicados com seus inimigos históricos. Mas, horas e horas assistindo – em todas as estações, inclusive na al-Jazira – close-ups de mães e bebês, moças e velhos, visivelmente angustiados enquanto eram retirados a força de suas casa, tiveram um efeito emocional.
Claro, os palestinos não perderam o contexto. Conversas em nossas salas de estar ou tomando um café turco no escritório se misturavam: "Você acha que eles estão fingindo?" ; "Ainda assim, eles estavam na nossa terra ilegalmente"; "Imagine o que os refugiados palestinos sentiram quando foram forçados a sair há anos"; "E quanto às 120 casas em Rafah que foram demolidas há poucos meses?"; "Onde estava a imprensa internacional quando palestinos eram mortos, muitas vezes por esses mesmos colonos?"

Surpreendentemente, a cobertura em redes árabes de notícias refletiu essas contradições. Um repórter árabe no local perguntou ao vivo ao seu âncora que estava em Dubai: "Você viu os soldados chorando?". Outra rede contrastou essas imagens com uma entrevista com os pais de Muhammad al-Dura, o garoto de 12 anos que foi fotografado morrendo nos braços do seu pai, em 2000, e cuja imagem se tornou um símbolo da intifada. Mas na maior parte, a linguagem das transmissões foi acurada e esclarecedora.
Mesmo o maior jornal palestino, al-Quds, teve que tratar do aspecto emocional das evacuações. Ele publicou na quinta-feira [18/8] um editorial sobre os efeitos das imagens dos colonos chorando e dos soldados israelenses os abraçando. Concluiu que tais cenas poderiam ter sido evitadas se Israel não tivesse antes se apossado de terras palestinas. O al-Quds estava correto em apontar o óbvio contexto – mas isso não enfraqueceu a forma com que as imagens afetaram o palestino médio.

As evacuações de Gaza também produziram muitas comparações interessantes. Muitos palestinos compararam o tratamento com luva de pelica dado aos colonos que protestavam (que serão muito bem compensados) com as respostas violentas a protestos palestinos, mesmo que pacíficos.
E o muitas vezes exibido clip de um pai israelense, erguendo sua pequena filha na cara de soldados sem emoção, lembrava muitas das mães palestinas levantando no ar seus pequenos filhos e os conclamando publicamente a vingar as mortes de um irmão ou do pai.


Os laranjas, mais uma vez


Apoio internacional

As imagens comparativas de religião também foram evidentes. O fanatismo islâmico era contraposto ao fanatismo judaico. Um repórter da CNN até deu uma escorregada, dizendo que os colonos encastelados numa sinagoga estavam numa "mesquita".
E havia uma dinâmica comum das facções minoritárias monopolizando o discurso político. Com o mesmo exagerado poder político que os grupos armados palestinos têm, ficava claro que uns poucos fanáticos judeus estavam seqüestrando a causa anti-evacuação – note que os últimos manifestantes a serem removidos foram não-residentes arrancados de sinagogas nas quais eles provavelmente nunca tinham rezado.
Palestinos e árabes admitindo ou não, as fortes imagens dos últimos dias não podem ser ignoradas. O custo humano para os dois lados do conflito é enorme.

Mesmo não concordando nem com os colonos nem com as ações de militantes palestinos, o resto de nós precisa começar a entender e respeitá-los como humanos. E ajudaria se a mídia internacional começasse a retratar os palestinos comuns, também, com um toque de humanidade.
Qualquer pessoa, que esteja sã, deve imaginar que qualquer solução de longo prazo só pode ser alcançada por líderes que possam fazer compromissos e concessões mútuas. Isto significa que se o unilateralismo israelense continuar, fará pouco para levar o processo de paz pós-Gaza adiante. Apenas conversações bilaterais palestino-israelenses, com a ajuda da comunidade internacional, podem trazer um acordo duradouro.
As dramáticas cenas de Gaza devem levar-nos a todos a redobrar nossos esforços para assegurar que os palestinos possam ser livres num Estado independente, ao lado de um Israel protegido e seguro.


Mais protestos


ps1: Há mais de 100 anos, exatamente em 1897, realizava-se na Basiléia (Suíça) o Primeio Congresso Sionista. Nele, proclamou-se a decisão de restabelecer uma pátria judia em Eretz Israel.
O então líder Theodor Herzl cunha o mais famoso lema do Sionismo: "Se quiserdes, não será uma lenda".
4 de Setembro de 2005. A seleção de futebol de Israel enfrenta a Suíca, na Basiléia, lutando por uma vaga na Copa do Mundo (o que não acontece desde 1970).
Em alguns sites, o recado era claro. "Se quiserdes, não será uma lenda".


Israel e Suíça

O jogo ficou 1 a 1. Agora, Israel não depende apenas de si...

ps2: Já pensou em ler jornais na Internet como se os tivesse na mão? Folheando, passando as páginas...
Essa é a novidade do Jerusalem Post: o ePaper. Clique aqui!

ps3: