sexta-feira, junho 30, 2006

A missão

Não prestem atençao à foto acima.

O importante é que às 10h da manhã, toca meu celular.
Não estou em casa. Aliás, saí da base com mais 9 soldados para um dia diferente.
Era uma voz feminina. Da rádio em Paris.

_ Olá, Carlos! Aqui é da Rádio França Internacional. Eu precisava falar com o Gabriel, você poderia me passar o número dele? Não encontro aqui.
_ Pois não, sem problema. Já te passo.
_ O bicho tá pegando aí, né, Carlos. A situação tá feia.
_ É, tá complicado mesmo. Cês devem tar acompanhando.
_ Estamos sim. E preocupados.
_ Bem, vou achar o Gabriel e peço para ele entrar em contato, ok?

Mal sabia a moça que eu estava em plena "missão especial" da tzavá.
Totalmente vinculada ao sequestro do soldado israelense Gilad Shalit e às operações militares do exército israelense.

Numa folguinha, depois de muita adrenalina, consegui despistadamente filmar um pedaço da "operação".
Querem ver?



Esse foi o Yom Keif ("Dia Bacana") para os chaialím bodedim (soldados sem família em Israel).
Praia, massagem, sorvete, música, hambúrger e muito sol em Keissárya (Cesaréia), a famosa cidade dos romanos.
Vida boa essa de soldado...



Aliás, se vocês querem mais informações sobre toda essa crise do soldado capturado, esse humilde blog não é o melhor lugar.
Sabem como é, né!?
Passo a semana na base dirigindo caminhão e, fora o básico (como eu contei no último audio post), não dá pra ficar muito ligado nas notícias.

Uma dica: entrem lá no blog do Gabo, o mesmo cara que tava sendo procurado pela mulher da rádio francesa (e que, aliás, consegui encontrá-lo - ou acordá-lo).

ps1: Abaixo, uma foto das poucas vezes que consigo sair para passear nos fins de semana.
Saindo daquela "zona de peculiaridade" que o exército israelese, consigo enxergar outras coisinhas bem particulares em outros cantos do país.

Como essa, no Mar Morto - o Yam Hamelach (que, como alguns sabem, tem uma concentração de sal 6 vezes maior que os outros mares, impossibilitando o corpo humano de afundar...)



ps2:Não dá, não consigo. Desculpem-me.
O pau comendo aqui e eu não conseigo ficar sem falar de política ou desse conflito louco.
Quero só fazer um comentário e mostrar pra vocês uma charge que saiu no jornal de ontem (o Israel, distriubuído gratuitamente em quase todo o país nas tachanot - estações de ônibus).

Essa é a charge.



Comenta-se muito (não só por aqui) quais seriam os motivos para que os palestinos (ou melhor, a liderança palestina) esteja praticamente obrigando Israel a invadir Gaza.
Não estamos falando em reocupação (o próprio primeiro-ministro Olmert e o Ministro da Segurança - mais perdido que cego em tiroteio - ou bombardeio- Amir Peretz deixaram bem claro).

Quero ser sucinto.
Os líderes da Autoridade Palestina (lê-se Hammas), agora com Gaza só pra eles, têm que ceder aos apelos internacionais para acabar com a corrupção e começar a desenvolver a área. O Hammas precisa do inimigo. Precisa da ocupação.
Sem ocupação, os grupos terroristas palestinos não sobrevivem.
Não terão como manipular às massas, não terão como invocar o Corão, não terão como continuar seu jihad.
O "inimigo" não seria visto no dia-a-dia.

Falo mais sobre isso em outro post.
Enquanto isso, dá pra ler mais sobre o assunto (em inglês). É só clicar aqui!

segunda-feira, junho 26, 2006

Audio Post 5: Soldado seqüestrado.
Eu apenas dirijo caminhão.

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terça-feira, junho 20, 2006

Israel na Copa!

Um jogador de futebol que participa da Copa do Mundo está dando o que falar em Israel.
E não é Ronaldinho, não é Messi, não é Beckham.

A torcida de Gana ganhou novos adeptos após o zagueiro do país John Pantsil ter mostrado a bandeira de Israel para celebrar os gols ganeses na vitória por 2 a 0 sobre a República Tcheca, na semana passada.
Mais: garantiu o emprego.



Pantsil, que joga pelo Hapoel Tel Aviv, tem uma forte relação com Israel (já que mora no país desde 2002).
A cidade de Tel-Aviv também tem muitos imigrantes ganenses que trabalham na área industrial, alguns deles clandestinos.

De acordo com a imprensa daqui, o Hapoel Tel Aviv estava pensando em recindir seu contrato, mas agora deverão voltar atrás.
O clube divulgou até uma declaração em que agradece o zagueiro pelo ato durante o jogo de Gana.

Apesar dos artigos recheados de ódio de alguns jornais árabes (como no Egito) e o pedido de desculpas da Federação de Gana (que mencionou não "apoiar" ninguém no conflito), o porta-voz da Fifa afirmou que a entidade não viu qualquer problema com a atitude de Pantsil, que disse em entrevista:

"Estou feliz e fico contente de ter homenageado os israelenses também.
Eu gosto muito da torcida de Israel e decidi mostrar a bandeira do país.
Já joguei em dois clubes em Tel-Aviv e fui muito bem recebido.
Agora é hora de retribuir todo esse apoio"

No vídeo abaixo (com narração do Cléber Machado!?!?), é possível ver Pantsil comemorando os gols com a bandeira israelense.
Principalmente no segundo gol.
Em Israel, agora não importa o campeão.
Pantsil é o nome da Copa!



ps1: Abaixo, segue um trecho do excepcional livro "O Atentado", de Yasmina Khadra (pseudônimo do argelino Mohammed Moulesseboul).
O livro (no orginal, L´attentat), que comprei pouco antes de voltar a Israel depois das férias de carnaval, ganhou vários prêmios internacionais.

Li a obra em dois dias.
Não ficarei nada surpreso se o livro virar roteiro de cinema e chegar à telona em breve (ouvi rumores que os direitos já foram comprados pela Fox Film).

Leiam.
E surpreendam-se com o drama psicológico de Amin Jaafari, conceituado cirurgião israelense de origem palestina, que sempre se recusou a tomar partido no conflito.
Até que um dia um um terrorisra se explode dentro de um restaurante em Tel-Aviv.
No hospital, Amin é obrigado a reconhecer o corpo mutilado da mulher-bomba: a bela Sihem, sua esposa.


Para um sucinto comentário (em português), clique aqui!

Abaixo, o trecho (que fala da cidade em que vivo).

"Gostei muito de Jerusalém quando adolescente. Experimentava o mesmo frêmito tanto diante do Domo do Rochedo quanto ao pé do Muro das Lamentações e não podia manter-se insensível à quietude que amana da basílica de Santo Sepulcro.

Passava de um bairro a outro, como quem passa de uma fábula ashkenazi a um conto beduíno, com a mesma facilidade e o mesmo contentamento, e não precisava ser um objetor de consciência para desconfiar das teorias das armas e das pregações virulentas.

Bastava levantar os olhos às fachadas ao meu redor para me opor a tudo que pudesse ferir sua imutável majestade. Ainda hoje, partilhada entre um orgasmo de odalisca e sua santa contenção, Jerusalém tem sede de embriaguez e de enamorados e vive muito mal o tumulto de seus filhos enjeitados, na esperança de que, contra ventos e marés, um clarão termine por libertar as mentalidades de seu obscuro tormento.

Olimpo e gueto a um só tempo, egéria e concubina, templo e arena, sofre por não poder inspirar os poetas sem que as paixões degenerem e, com o coração partido, se desfaz ao sabor dos humores como se esvaem suas preces na blasfêmia dos canhões..."

sábado, junho 17, 2006

Um post gástrico...

"Israel é o único país do mundo onde uma refeição israelense consiste em salada árabe,
kabab romeno, pita iraniana e creme da Bavária.
É que gostamos de comida anti-semita."
Efraim Kishon Z"L.



A foto acima foi tirada por mim da varanda de um quarto de hospital na cidade cabalística de Tzfat, na última quinta-feira.
Calma. Explico tudo.

Quinta-feira é um dia propício para voltar do exército para casa.

Casa é o lugar onde guardo minhas coisas e descanso nos finais-de-semana livres do exército.

Exército é a organização militar que reúne soldados normalmente vestidos de verde, além de armas e canhões distribuídas em várias bases.

Base, também conhecida como quartel, engloba várias unidades do exército em alojamentos e refeitórios conjuntos; compartilhando copos, pratos, colheres e garfos, muitas vezes causando doenças.

Doença é a perda da homeostasia corporal, total ou parcial, estado este que pode cursar devido a infecções, inflamações, isquemias, sequelas de trauma, hemorragias, disfunções orgânicas ou organismos biológicos, como os vírus.

Vírus são parasitas obrigatórios do interior celular, significando que se reproduzem somente pela invasão e controle da estrutura de auto-reprodução da célula.
Os vírus causam complicações de saúde, atingindo os mais diversos órgãos do corpo humano, desde o sistema nervoso até o sistema digestivo.

Sistema digestivo é o sistema que, nos animais, é responsável por obter dos alimentos ingeridos os nutrientes necessários às diferentes funções do organismo, como crescimento, energia para reprodução, locomoção etc.
É composto por diversos órgãos, dentre eles os intestinos e o estômago.

Estômago é a parte do tubo digestivo em forma de bolsa, situado entre o esôfago e o duodeno, onde se encontram as glândulas gástricas.
O adjetivo gastrico refere-se ao estômago, como nas palavras gastrectomia, gastronomia e gastroenterite.

Gastroenterite é o motivo pelo qual não pude sair da base na quinta-feira para ir para casa. É uma infecção causada por um vírus que ataca o estômago e o intestino delgado. Normalmente a doença é breve, durando de 1 a 3 dias.
Fadiga, arrepios, perda do apetite, náusea, vômitos, dor forte no estômago, diarréia, febre baixa e dores musculares são os sintomas.
Tive todos e fui internado em Tzfat.

Tzfat, conhecida como a cidade dos cabalistas, é centro artístico e síntese harmoniosa entre passado e presente do judaísmo.
Afastada dos principais centros turísticos de Israel (Jerusalém e Tel Aviv), Tzfat (localizada no norte do país) tem uma importância histórica fundamental para o povo judeu.
Na entrada de Tzfat fica o Hospital Ziv.
Lá, passei toda a quinta-feira e parte da sexta.
Gastroenterite.



ps1:

Separados no Nascimento 6 - Celebridades


Falha nossa: onde está escrito "solado", lê-se "soldado"

ps2: A música que está tocando ao fundo (ou que pelo menos deveria - se não tiver, jogue seu computador pela janela e compre outro) se chama Shir Beiparón (Canção à lápis), do grupo Beit Habubot.

Mas atenção: a música só funciona se você estiver usando Internet Explorer.
Infelizmente, nada de Firefox!

O refrão:

כי בחיים הכל עובר
מטעויות למד והשתפר
מה שקולך הפנימי אומר, זו האמת שלך
לא, לסלוח זו לא חולשה
נצור אהבה בדרכך
ודע, את כל הסובב אותך

"Porque na vida tudo passa através de erros,
aprendeu e melhorou.
O que sua voz interna diz é a sua verdade.
Não, perdoar não é fraqueza.
Amor guardado no seu caminho.
E saiba, tudo gira em sua volta."

sábado, junho 10, 2006

Eu juro

Esse é um pedacinho da base de Michvê Alon, no norte do país.
Como disse no último audio post, falta pouquinho para deixá-la.

Essa semana, tive meu Tekes Hashbaá (a Cerimônia de Juramento).
O ponto mais interessante não foi nem o fato de ter acabado meu "corre-corre imbecil" debaixo do sol infernal. Nem de ter jurado a tal fidelidade ao exército e ao Estado de Israel.
O mais engraçado foi ter que jurar com o fuzil M-16 numa mão e a Torá em outra, encostando o livro na arma e dizendo em voz alta "eu juro".
Para quem ouve ou vê, não há como não comparar com aqueles muçulmanos radicais malucos que se explodem em nome de Deus.

Não, não tem nada disso.
A questão toda gira em torno do povo judeu.
O Tanach ("Tanárr"), o livro sagrado do judaísmo, foi o elemento que a tzavá (o exército) escolheu para simbolizar justamente seu povo - sua luta em manter-se vivo no decorrer dos séculos, seu elemento de reconhecimento e identidade de todo e qualquer judeu.
Abaixo, uma foto dos dois principais objetos da cerimônia...



Não escondo de ninguém que minha primeira reação ao saber que teria de jurar com a Torá na mão foi de desconfiança. Não sou religioso. Não sei se acredito na veracidade desse livro.
Fiquei, sim, com o pé atrás.

Depois, fui mudando de idéia.
Entendendo o porquê do livro, ou melhor, do seu simbolismo naquela cerimônia.
Entendendo, afinal, o que exatamente eu estava jurando.

Da previsão de um tekes sem importância, dei com os burros n'água.
Porque foi mais que interessante. Foi emocionante.
Durante os 40 minutos que fiquei de pé com a arma apoiada no braço direito, pensei na minha família.
Nos meus avós, principalmente.
Se há 70 anos existisse juramento como esse, talvez seus destinos (e de todos os familiares) na Europa nazista pudessem ter sido diferentes...

ps1: Para a alegria da galera, mais um videozinho de um momento de descontração lá na base.
Coisa boba.
Papo furado com o olho no relógio.
Lá, não se pára de correr...



ps2: Esqueci de comentar, mas semana passada tivemos aqui (e no mundo inteiro)o feriado de Shavuot.

Os religiosos comemoram a entrega da Torá no Monte Sinai.
Os kibutznikim comemoram algo como a festa da colheita...
Os laicos comem muito queijo.
Quem não é nada disso sai um dia mais cedo da tzavá para o fim-de-semana...


quinta-feira, junho 08, 2006

Audio Post 4: Tiros e Juramentos

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sábado, junho 03, 2006

Aviso aos Navegantes

Está criada a polêmica no Blog do Bean.
Assim que eu gosto.

Apesar de não ter obrigação nenhuma, senti-me tentado em responder ao anônimo (mesmo que, como disse o Léo, anônimo para mim é a mesma coisa que ninguém).
Vejam o que o sujeito escreveu.

Xingar e desrespeitar mefakdot, comentar sobre a rotina de recrutamento, treinamento e da tzavá...
Você nao deveria fazer nada disso, eis os motivos:

1- Agora é um soldado e trabalha pro governo daí. Tome cuidado!
2- Além disso, mesmo sendo um ex-chaver tnuá continua sendo um exemplo pra tnuá aqui, ou vc acha que 90% dos seus leitores são de onde?
Abraço Bean, e peço que reconsidere seus comentarios e publicações no blog.

Vamos então à resposta.

Em nenhum momento xinguei ou desrespeitei nenhuma mefakedet (comandante).
Tanto que até hoje não recebi "averá" (falta) alguma. Sou um soldado até certo ponto "exemplo" lá dentro.
Não trabalho para o governo. Sou soldado. Não sou deputado. Não tenho nada a temer.
Tenho todo o direito de ser contra os métodos do exército. E mais: de ser contra o exército em si.
Não escondo de ninguém.

Sou sim um ex-chaver tnuá (ex-membro de um movimento juvenil judaico).
Do mesmo jeito que sou ex-um monte de coisa.
Se esse anônimo acha que sou tão importante assim, que minhas opiniões influenciam tanto, que sou tão exemplo, faça então uma propaganda anti-Bean por aí. Proíba-os de entrar aqui.
E, se fizer isso, o senhor não confia no próprio taco.

No Blog do Bean, dou minhas opiniões. Que, como disse o Rato, são minhas e só minhas.
Respeito a opinião do Nabuco, que se posicionou e, principalmente, se identificou. Respeito mas não concordo.
O Blog do Bean está na internet, um web-espaço aberto e democrático.
Entra quem quer. Lê quem quer. Concorda quem quiser.

Ao contrário do que o senhor anônimo também comentou, não é verdade que 90% dos meus leitores são da tnuá.
Está muito muito enganado. Tenho os dados aqui.
E mesmo se estivesse certo...
É como eu disse. Estou dando minhas opiniões e não vou mudá-las nem reconsiderá-las. Se esse anônimo não confia no próprio taco, não confia na própria educação que ele transmite no movimento, não posso fazer nada.

Tem gente que acha que estou "pegando pesado" com as opiniões sobre a tzavá, o exército.
É uma questão de opinião.
Quando "pego pesado" com os religiosos, ninguém fala nada.
Não causa polêmica.
Por que será?

Um último recado. Para aqueles que gostam de discordar.
Que gostam de dizer-se sionistas morando a milhas de distância de Israel.
Que se dizem sionistas morando com o papai e a mamãe, ganhando mesada, fazendo recortes de papel crepom com tesoura sem ponta no sábado à tarde e cantando o hino de Israel.
É esse meu recado: venham pra cá. Ralem. Paguem seus impostos aqui. Estudem. Vivam. Sirvam o exército.
Aí sim a conversa ficará no mesmo nível.
Fácil demais ser sionista aí...

Volto no meio da semana com mais um audio post. E prometo que no fim de semana, faço um post decente.
Combinado? Vejo vocês!!!
Passem lá no Fotolog do Bean. Atualizado mais uma vez!!!