segunda-feira, outubro 31, 2005

Tudo como antes no quartel de Abrantes!

"Meu caminho é cada manhã. Não procure saber onde estou.
Meu destino não é de ninguém. E eu não deixo meus passos no chão."

O "mundo judaico" tem um novo assunto pra discutir.
Tudo começou quando o presidente iraniano Mahhmoud Ahmadinejad disse, durante uma conferência realizada em Teerã, que Israel deveria ser "riscado do mapa". O presidente participou, dois dias depois, da manifestação anti-Israel ocorrida em todo o país e também na capital iraniana.
Ele afirmou que as críticas ocidentais sobre sua declaração "não tem peso", e que suas palavras "eram as mesmas da nação iraniana".

Sem escândalo, analisemos (politicamente) tudo o que envolve isso.
Reparem que escrevi "sem escândalo", já que parece ser o que as comunidades judaicas em todo o mundo preferem fazer.



Em primeiro lugar, o Irã não tem cacife para atacar ninguém. Não só não tem cacife, como já anunciou para quem quer ouvir que não pretende atacar Israel ou qualquer outro país.
Ninguém quer desencadear uma guerra sem proporções.

Em segundo lugar, essa postura do Irã não é novidade alguma desde 1979.
Não entendo essa perplexidade toda. Tudo bem que essa é a primeira vez em muitos anos que um dirigente iraniano defende em público o fim do Estado de Israel, apesar desses loucos integrarem e apoiarem constantemente esse tipo de propaganda do regime.

Em terceiro lugar, o "tiro" do Irã pode sair pela culatra.
Os iranianos acusam os países ocidentais de utilizar o assunto para pressionar Teerã sobre seu programa nuclear.
Sabemos que a embaixada iraniana em Moscou é frequentemente usada para que o regime islâmico faça comentários sobre questões de política externa. Mas analistas e jornalistas russos dizem que as declarações de Ahmadinejad abalaram seriamente a intenção russa de impedir que o programa nuclear do Irã seja submetido ao Conselho de Segurança, onde Moscou tem poder de veto.

Não há dúvidas de que o incidente prejudica a imagem internacional do Irã num momento em que o país necessita de apoio para evitar que um dossiê sobre suas supostas atividades nucleares secretas seja levado para votação no Conselho de Segurança da ONU.
ONU que, aliás, é a instituição mundial mais patética criada no século XX.
Abaixo, foto de Ahmadinejad na Conferência "Mundo sem Sionismo".



O governo israelense afirmou, na sexta-feira, que irá solicitar uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre os comentários de Ahmadinejad. Parece que, acertadamente, preferem acelerar o processo para acabar com o programa nuclear iraniano ao invés de tentar alguma moção contrária às declarações de Ahmadinejad.
O que é sensato.

Porém, já vi essa história antes...
e fica "tudo como antes no quartel de Abrantes!"

Achei sensacional a tirinha do Dry Bones sobre essa história toda.
Acredito que não seja necessário traduzir. Se os políticos fossem tão inteligentes como os cartunistas, não tenho dúvidas que só abririam suas boquinhas depois de ter pensado bastante....



ps1: Já que hoje o assunto principal está no mundo árabe, vejam essa!
O famoso desenho "Os Simpsons" estreou na televisão árabe após 17 temporadas. Porém, vamos com calma. A família mais engraçada da televisão americana adquiriu, no mundo árabe, alguns novos e interessantes hábitos.

Logo de cara, trocaram o nome.
Os Simpsons passaram a se chamar "Al Shamsoon".
E as novidades não pararam por aí...
Mas como uma rede de tv islâmica poderia adaptar, por exemplo, a cerveja Duff e o pacotinho de bacon???

Homer Simpson (rebatizado de Omar Shamsoon) abriu mão do álcool e, ao invés das rosquinhas, agora come desenfreadamente uns biscoitinhos árabes chamados kakh, cachorros-quentes egípcios e toma Soda árabe. O antigo Bar do Moe transformou-se num coffee shop com narguilas...
Bart (agora Badr Shamsoon) continua aprontado.
Pelo menos dois personagens foram eliminados do programa. O palhaço judeu Krusty e o reverendo Lovejoy (aparentemente para evitar que eles "corrompam" a audiência).
Abaixo, o palhaço e seu pai (o rabino Krustofsky), todos censurados e retirados de "Al Shamsoon"!



"Essas mudanças significam que eles não são mais os Simpsons", disse um dos produtores da tv americana.
Porém, um diretor da rede MBC afirmou que "Os Simpsons" vão proporcionar ao mundo árabe uma nova visão, uma evolução.

Fico imaginado como seria uma conversa entre o Sr. Burns e seu assistente Smithers (rebatizado de Rasheed).

"_ Rasheed, já estamos com o urânio enriquecido pronto para mandar para o Irã?"
"_ Sim, senhor Burns."
"_ Exceleeeente...."


Para assistir à matéria da ABC (em inglês), clique aqui!
Para matéria sobre os "Al Shamsoon" (em inglês), clique aqui!
Para matéria do Jerusalem Post (em inglês), clique aqui!
Para nota do "The Guardian" (em inglês), clique aqui!
Para uma sátira de como seria "Al Shamsoon" (em inglês), clique aqui!

ps2: O "Fotolog do Bean" foi finalmente atualizado.
Será um prazer receber suas visitas ler seus comentários....

Trilha sonora do post: Na Frente do Reto, O Rappa.

terça-feira, outubro 25, 2005

Obras, acidentes e... ruínas

"Atenção: obras."
"Cuidado: deslizamento de terra."

No Brasil, são vários os exemplos de placas que nos pegam de surpresa. Desvios, pistas interrompidas e suspiros de motoristas sempre a um passo de explodir de raiva.
Em Jerusalém, outra modalidade de placa costuma aparecer de vez em quando.
Outro dia, ao lado da estação cetral de ônibus, um trânsito infernal formou-se em volta de alguns tapumes e uma pequena placa:
"Fechado: escavação de ruínas".

A sensação de caminhar em alguns lugares por Jerusalém é a mesma de folhear livros de história bem empoeirados, aqueles esquecidos na última prateleira da biblioteca pública.

Ontem, deparei-me com outra placa.
"Projeto de salvamento de antiguidades do Monte do Templo".
Que coisa, não!
Deu-me a impressão de estar, de repente, dentro de "O Código Da Vinci".



O recado é claro: "Não ultrapasse".
Descobri, mais tarde, que essas escavações fazem parte de um projeto já divulgado, ao lado do Monte das Oliveiras, de uma organização norte-americana chamada "The Temple Institute".
Em quase um ano de trabalho, já encontraram cerca de 20 artefatos antigos, alguns comprovadamente, através dos testes de carbono-14, pertencidos à época do Primeiro Templo, de Salomão.

E sabe o que é o mais engraçado?
É possível bricar de Indiana Jones, digo, voluntariar-se.
Escreva (em inglês) para zachifm@miac.com ou para orny35@yahoo.com e boa sorte! Mas não contem comigo.
Para ver fotos das escavações, clique aqui!

ps1: Mataram, ontem, mais um líder do Jihad Islâmica.
Informações do exército israelense revelam que houve um enfrentamento (mais conhecido como "troca de tiros") na cidade de Tulkarem, no norte da Cisjordânia. Porém, testemunhas afirmaram à Associated Press que os soldados abriram fogo contra manifestantes que estavam jogando pedras num veículo do Exército.
Já existem pelo menos três versões de quem teria dado o primeiro tiro.
Um carro branco usado como abrigo pelos atiradores palestinos ficou todinho perfurado de balas.
Abaixo, o funeral de Abdullah Tamimi, um dos palestinos mortos.



Luay Saadi, comandante do braço armado do Jihad Islâmica, foi morto depois que soldados israelenses cercaram a casa em que ele estava se escondendo. Ou tentando se esconder.
Luay era apontado como principal responsável pelos últimos dois grantes atentados terroristas em Israel: na boate Stage, em Tel Aviv, e no shopping center de Netanya, ambos no primeiro semestre.

"Nossa resposta será sem precedentes", avisou o porta-voz do grupo terrorista, Abu Abdallah. Luay Saadi estava na lista dos terroristas mais procurados por Israel nos últimos meses.
O tal ditado "olho por olho, dente por dente", a famosa Lei do Tabelião, não existe mais. Um próprio membro do Jihad Islâmico foi o responsável pela previsível mudança.
Agora, segundo ele, "é sangue por sangue".
O que todos já sabiam...

ps2: Mais uma cooperação entre Israel e Jordânia nos faz enxergar aquela luzinha no fim do túnel.
Tudo bem que trata-se de uma emergência, mas a idéia começa assim mesmo.

A agência de notícias jordaniana "Petra" informou que funcionários dos dois países encontraram-se na Ponte Allenby, a mesma que cruzei há alguns meses para sair da Jordânia. Segundo a fonte, foram tomadas algumas medidas para evitar que a "Gripe do Frango" atinja os dois países.

A Jordânia proibiu a importação de aves de países com suspeitas de invasão da "gripe aviária" (inclusive o Brasil) e Israel prometeu, se encontrar algum caso, eliminar todas as aves num raio de três quilômetros.
O diretor-geral do Ministério da Saúde, Avi Yisraeli, informou à imprensa que não há nenhum registro da enfermidade no país. Até porque o frango é o principal alimento do israelense!!! Se não abrirem olho, tudo virará schnitzel antes da hora...

Existem rumores que um funcionário palestino também foi convidado para a conversa, mas não compareceu.
Talvez tenha sido de "birra" mesmo.
Abaixo, uma pequena amostra de schnitzel num supermercado israelense....


Para matéria completa sobre o encontro (em português), clique aqui!
Para artigo de Nahum Sirotsky, clique aqui!

Em tempo: não conheço nenhum dos loucos da foto.
Até porque devem ter quebrado o dente depois dessa...

quarta-feira, outubro 19, 2005

9 maneiras de saber que é Sucot em Jerusalém

"Por sete dias habitareis em sucot..."

1) É impossível entrar num ônibus sem ver pelo menos uns cinco pares de etrog com lulav;
2) Ir no mercado Machane Yehuda para comprar morangos e só achar etrog, etrog, etrog...;
3) Acordar bem cedo, abrir a janela e ver, ao invés de um bonito gramado, uma infinidade de casinhas de pau cobertas com folhas gigantes;
4) O tempo de viagem dentro de Jerusalém aumenta 200%. Os turistas tomam conta de tudo. São ônibus e mais ônibus de turismo atravancando os carros na porta dos hotéis;
5) Nunca se sabe quando os bancos, as lojas, os órgãos públicos e os supermercados estão abertos;
6) Liquidações intermináveis de velas, vinhos e mel nos supermercados.
O que sobrou do ano novo...;
7) Uma gritaria de crianças que passa o dia inteiro fora de casa... jogando bola, andando de bicicleta ou simplesmente gritando;
8) É a primeira chuva do ano na cidade. Daquelas que pega todo mundo despreparado, encharca as roupas do
varal e traz uma nada-amistosa epidemia de gripe;
9) São promessas, promessas e mais promessas dos canais de televisão de uma programação melhor, mais divertida e, principalmente, para toda a família!!! (pfff...)


Você não faz idéia do que é Sucot?
Nem o que é Etrog, Lulav... clique aqui!

ps1: Três pessoas morreram num atentado à tiros no cruzamento do assentamento de Gush Etzion, há poucos quilômetros da minha casa.
Um veículo em alta velocidade passou pelo ponto de carona e saiu metralhando. Vários jovens esperavam pela condução quando foram surpreendidos pelos disparos. Uma confusão formou-se no local, com jornalistas, paramédicos e curiosos.
O de sempre.
Ontem, os jovens foram sepultados. A recém-casada Matat Rosenfeld-Adler, 21 anos; sua prima Kineret Mander, 23 anos e o adolescente Oz Ben-Meir, 15 anos. Nenhum dos três residia em Gush Etzion.



Tudo isso acontece num momento de muita tensão por aqui.
Boa parte da liderança palestina está, nesse momento, em Washington. No Iraque, o ex-ditador Saddam Hussein está prestes a ser julgado (ou seja lá o nome que vocês querem dar à isso).

A retaliação todos nós já conhecemos. Nós e eles.
Sangue, sangue, sangue.

ps2: Li isso em algum lugar, não me lembro aonde.
Se for de autoria de algum leitor d"O Blog do Bean", dê o grito.
Receberá os créditos.

"E daí se o Papa é contra o casamento entre homossexuais?
Ninguém diz se o Bispo Macedo é a favor ou contra o celibato,
o que o Reverendo Moon acha dos embriões congelados
ou o que o aiatolá pensa do sexo anal."

Em tempo (20/10/05): Deram o grito! A frase foi publicado em um dos e-zines do Submundo de Nikolas.
A referência certinha está nos "comments" desse post...

Trilha sonora do post: Wake me up when september ends, Green Day.

sábado, outubro 15, 2005

Sobre galinhas e pedras

E passou o Yom Kipur.
Aquela coisa toda das ruas estarem vazias, das crianças passarem o dia andando de bicicleta pelas avenidas desertas. O de sempre.
Mas queria chamar atenção para uma coisa. Um pequeno detalhe. Algo que minha ignorância laica me fez ter espasmos de rir na primeira vez que ouvi falar. De pensar: "credo, que religião é essa!?"

Era a tal história de pegar uma galinha e ficar rodando não sei quantas vezes em cima da cabeça, antes de Yom Kipur. Isso mesmo. Parece coisa de macumba, sei lá.
Depois de algum tempo dessa "revelação", resolvi ir atrás e descobrir o que realmente é isso.
Trata-se de um costume judaico chamado "Kaparot". O ritual consiste em pegar um frango em uma mão e recitar uma reza. O homem usa um galo; a mulher uma galinha.



Se o galo ou a galinha não forem encontrados, eles podem ser substituídos por outro outro animal.
Entretanto, vejam bem! Pombas são proibidas, já que elas eram usadas como sacrifício no Templo, e isso poderia causar a impressão de que as kaparot são uma forma de sacrifício (eles pensam em tudo!).
O animal usado para kaparot é segurado com a mão direita e o texto do livro de rezas é recitado. A ave é então passada sobre a cabeça da pessoa.
Uma viagem...

A palavra kaparo (assim como Kipur), que significa "julgamento", é usada para se referir aos frangos, mas as kaporot em si não são fonte de julgamento. Na verdade, elas servem como um meio para conscientizar a pessoa que ela pode estar merecendo ser castigada por seus pecados e que, portanto, deve estar motivada a repensar suas atitudes.
A ave é então morta.
Pessoas me disseram que é costume substituir as aves por dinheiro, que é posteriormente doado aos pobres. Alguns doam as próprias aves. Outros, fazem todo o ritual com dinheiro e o doam para obras de caridade.



Da "macumba", passam também para a violência.
E nem rezar em paz se pode mais. Culpa dos urubus (que usam as galinhas...).

Um alto oficial do exército israelense chamado Elazar Stern chegou tranquilamente ao Kotel, o Muro das Lamentações, com sua família. Foi fazer o que todo mundo faz no kotel; rezar. Mas não deixaram.
De repente, uma chuva de pedras e bolsas atingiu Stern. Gritos de "traidor" eram ouvidos, vindo lá do pessoal de preto. Eram os religiosos, aquele mesmo pessoal ainda contrário à retirada israelense de Gaza.



Um cordão de isolamento foi feito para que Stern pudesse rezar.
O melhor de tudo foi a declaração de um ministro israelense, logo após a confusão no kotel:
"Hooligans são hooligans, e não importa a fé que está por trás disso".

Os religiosos cada vez mais me surpreendem.
Em Yom Kipur, é possível ver um religioso com galinhas ou com pedras na mão. Depende do seu estado de espírito. Do que pretende fazer. Do que pretende causar.
Do que pretende mostrar pra Deus.

ps: Não existe um só judeu (e muitos não-judeus) que nunca ouviu falar da famosa história do "buraco no lençol".
Segundo esse mito, os casais de judeus ultra-ortodoxos teriam relações sexuais apenas separados por um lençol com um buraco. Os próprios religiosos brincam com essa história, chamando-a de "lenda urbana".
Mesmo assim, ela continua a encontrar terreno fértil na imaginação popular.

Algum louco foi atrás de citações de rabinos famosos na história para "provar" que o judaísmo seria a menos “puritana” das grandes religiões monoteístas, que encara o sexo conjugal como fonte de prazer totalmente essencial para o casal.
E encontraram.
No século II, o renomado rabino Shimon bar Yochai escreveu que durante o ato sexual, o casal “vislumbra momentaneamente as delícias dos céus.”
Shimon bar Yochai também tinha um pouquinho de Monique Evans...
ou o contrário...

terça-feira, outubro 11, 2005

Conquista


Mais uma de Gitai

Não é a primeira vez que comento um filme do famosinho Amos Gitai.
Por alguns poucos motivos, coloquei "Free Zone" (no original, "Ezor Chofshi") na minha pauta do blog. Tudo isso porque, no geral, trata-se de mais uma tentativa de Gitai em fazer um cinema diferente. Frustrada, na minha opinião. Mas diferente.

Antes de qualquer coisa, é preciso explicar do que se trata o confuso roteiro.
Obrigada a assumir os negócios da família quando o marido foi ferido num acidente, Hanna vai dirigindo um táxi para a "Free Zone", imenso mercado de veículos para todo o Oriente Médio situado na Jordânia, com a intenção de cobrar uma grande dívida.
Acompanhada por uma turista norte-americana chamada Rebecca (Natalie Portman) , Hanna se encontra com uma palestina.
Na verdade, tentando resumir a bagunça, é mais ou menos por aí.



A bem da verdade, a impressão que se tem assistindo-se a Free Zone é que Amos Gitai ainda não acabou o roteiro, ou pelo menos ainda não conseguiu chegar perto de solucioná-lo.

Claro, trata-se de um filme sobre a confusão que é a vida das pessoas vivendo no meio do conflito do Oriente Médio, da sequência entre atos de violência impressionante e a banalidade da vida dirária, mas ainda assim é preciso um mínimo de organização que ultrapasse isso.
Gitai faz questão de colocar alguns estranhos flashbacks contextualizadores que são apresentados numa forma um tanto enigmática de fusões com os planos do presente, o que cria um efeito visual até certo ponto cativante, mas que a título de narrativa ajuda muito pouco sua história confusa e inconclusiva.

Na verdade, o filme é uma sequência de deslocamentos entre Israel, Jordânia, e a chamada Free Zone do título, onde descobrimos os dramas ligando três famílias de personagens, mas que no fundo são somente a desculpa para apresentar o conceito básico de Gitai: o surrealismo por trás do conflito no Oriente Médio.

O primeiro ponto alto do filme é a presença da premiada (e, por que não, top) Natalie Portman (a mesma de Closer e Star Wars). Mesmo com seu papel estranho, vale a pena vê-la falando hebraico.
O segundo ponto é a vencedora do prêmio de melhor atriz em Cannes, justamente por esse filme. Hanna Laszlo, que faz o papel homônimo, está muito bem. Porém, não merecia tanto.
Quem conhece o trabalho de Hanna na televisão israelense sabe que, na maioria das vezes, ela interpreta ela mesma. Porque é divertida, tem um humor rápido e inteligente. Em Free Zone, Hanna Laszlo fez papel de Hanna Laszlo.

No fim de tudo, Gitai faz o que sabe fazer de melhor: coloca judeu e árabe para conversar. Acho que é essa sua eterna fixação.
E, como disse, faz bem. Ou pelo menos pensa bem...
Abaixo, Gitai, Portman e Laszlo nas filmagens.


Para assistir ao trailer, clique aqui!
Para entrevista com Gitai (em inglês), clique aqui!
Para ficha do filme (em português), clique aqui!

ps1: Para comemorar o primeiro aniversário do "Blog do Bean" (de vários que virão), o presente é de vocês!!!
Coloco a disposição aqui o download de dois clips de música israelense. Aliás, os dois mais repetidos no canal 24.

Titnu lo Chance, do trio Ma Kashur (já debulhado aqui no blog...)
Ahavá Ktaná, de Shiri Maimon (também já comentada por aqui...)

Após clicar no arquivo desejado, você será direcionado a página do Rapidshare.
Espere ela abrir, vá ao fim da página e clique em FREE.
Vá novamente ao fim da página e espere cerca de 10 segundos.
Logo aparecerá: DOWNLOAD.

sábado, outubro 08, 2005

Legislação, consciência e educação

O tema da moda no Brasil, pelo que tenho acompanhado, é o tal referendo.
Reconheço que estou um pouco por fora dessa discussão toda (até por um problema geográfico), não sei muito bem o que está sendo dito por aí nesse debate todo.
Tenho curiosidade de saber como estão sendo feitas as propagandas obrigatórias...

De qualquer forma, queria traçar um paralelo dessa história toda com o que acontece por aqui, em Israel.
Vocês entenderão por que.


Aqui, legislação, consciência e educação caminham lado a lado na questão das armas de fogo pessoais.
Em primeiro lugar, é bem fácil comprar uma arma legal em Israel (uma pistola, por exemplo). Isso poderia resultar numa ampla tragédia social, porque um país que vive um conflito complicado e que tem uma sociedade armada, imaginemos o resultado.
Mas não é. Explico (ou tento explicar) os porquês.

É comum ver pessoas por aqui andando com armas pessoais na cintura (seja na fila do banco, passeando com o carrinho de bebê, no supermercado, no trânsito... homens e mulheres). Quando falo "armas pessoais", excluo os soldados, que são obrigados a andarem com suas armas (na maioria das vezes, fuzis M-16).
E também não foram duas nem três vezes que presenciei discussões ferventes entre dois israelenses (que são totalmente estourados, mal-educados). Em algumas, dois brutos discutem na rua sobre assuntos tolos (muitas vezes por causa do trânsito). Muitas vezes, gritam e xingam até não-sei-qual-geração do outro. Muitas vezes os dois estão armados.

Para alguém como eu, brasileiro, acostumado a esse quiprocó todo, é batata.

"Putz, um deles vai sacar a arma!"

Mas digo a vocês que isso nunca acontece. Nunca soube de nenhum caso desse. Nada que tenha me chamado a atenção.
Eu, por ser imigrante, não poderia comprar uma arma hoje. Só depois de três anos no país e, de preferência, ter concluído o serviço militar.
Aqui, porte de arma é a própria carteira de identidade (e o registro da arma).



Resumindo tudo o que eu quero dizer, o fato de todo mundo ter feito exército ajuda nessa conscientização do uso da arma de fogo.
É preciso um país preparado (cada um com suas peculiaridades, com suas características sociais próprias e adequadas) para que armas de fogo sejam vendidas (com ou sem burocracia, com ou sem órgãos próprios).
Eu não acho que o Brasil seja um deles.
Por tudo isso que que nos acostumamos a ver. Por tudo isso que acompanhamos todos os dias na nossa vida, na televisão, na rua, de tiros no vizinho até colegas de faculdade assassinados com armas registradas.

O Brasil, com tudo o que representa internamente, não tem estrutura política nem social para manter um comércio legal de armas (já sabemos o porquê) e, quanto a população, pelamordedeus....
Em cinco anos, o conflito em Israel e terrirórios teve menos de 500 menores de 18 anos mortos por armas de fogo, enquanto nos morros do Rio de Janeiro, no mesmo período, cerca de 4 mil crianças e adolescentes foram mortos a tiros!

Que vai acabar com o crime? Não. De forma alguma. Até porque assaltante não registra arma. Mas é um passo para diminuir essas pequenas tragédias sociais que vemos todos os dias e quase sempre ignoramos. Ou sempre.



ps1: Aparentemente inútil, mas ao mesmo tempo interessante.
Uma enquete do Jerusalem Post perguntou, na semana passada, como os internautas mandam suas saudações de Rosh Hashaná.
1241 pessoas participaram da pesquisa.

31% respondeu que manda por e-mail, 22% mandam um cartão eletrônico, 12% preferem a carta tradicional e 4% usam um simples SMS.
Os outros 31% simplesmente não enviam nada.
Os tempos realmente mudaram....

ps2: Hoje, a seleção de futebol israelense enfrenta as Ilhas Faroe, precisando golear e de olho nos outros resultados da rodada.
Os comentários da pelada poderão ser lidos, conferidos, concordados ou discordados no Portal Kadureguel.
Porém, não posso deixar de postar uma frase que ouvi ontem no jornal da noite. Ela veio de Yosi Benayoun, o "craque" do selecionado israelense.

"Não somos a seleção brasileira, não somos a seleção francesa. Não podemos pensar em 7 a 0" - Yossi Benayon, respondendo pergunta sobre a possibilidade de Israel ter que vencer a "poderosa" seleção das Ilhas Faroe por 7 a 0 para continuar sonhando com a Copa do Mundo.

Já vi que esse time "vai longe"...
Aliás, o jogo hoje é as 21h10, horário de Israel. (15h10 no Brasil).
Torcemos, fazer o que?

terça-feira, outubro 04, 2005

Post Parênteses: os números do ano

Ano novo inspira aquela vontade de mudar tudo, de recomeçar o que está errado, de embarcar em novas aventuras.
Época em que nossas caixas de e-mail, orkut e o escambau recebem um tsunami de mensagens de otimismo e votos de 365 dias de sucesso, alegria, paz. É um festival de "feliz ano novo" que transita pela internet..
Mas para bolar projetos e seguir aquele ditadinho "ano novo, vida nova", é preciso olhar para trás. Aprender com os erros. E cada ano invento uma tática diferente. Dessa vez, em números, eis o meu ano que passou. Para cada um deles, quero um novo valor para esse ano que está chegando. Para mais, para menos... vocês vão sacar...

Antes, shaná tová pra todo mundo. Que todos sejam inscritos no livro da vida, e muito mais.
Sucesso, saúde, amor e paz...



34 .episódios do Chaves baixados na Internet
23 .nacionalidades fumaram da minha narguila
18 .jogos do Galo escutados na madrugada
16 .vezes parado pela polícia
13 .quilos emagrecidos
10 .aluguéis pagos
9 .filmes israelenses assistidos
7 .grandes provas feitas
7 .bons resultados
6 .países visitados
5 .idiomas falados
4 .idéias para dissertação de mestrado
3 .níveis de hebraico conquistados
2 .grandes decepções
1 .toxi-infecção alimentar
0 .imitações do Mr. Bean

Trilha sonora do post: Don´t lie, Black Eyed Peas.

sábado, outubro 01, 2005

Sai da frente!!!

Vocês sabem o que é um buldozzer?
Não sei se já viram (eu nunca tive o prazer), mas é um daqueles tratores usadas pra escalar vulcões. Um trator gigante, que passa por cima de tudo como se desfilasse por uma gramado macio.
"Gvirotái verabotái" ("Senhoras e Senhores"), esse é Ariel Sharon.

Agora aqui, entre nós. Nunca imaginei que iria torcer algum dia para o Sharon ganhar qualquer coisa, seja ela eleição para primeiro-ministro ou para síndico do prédio.
Mas torci. Senhores, explico.

No início da semana, Sharon venceu a besta do Netanyahu nas eleições internas do partido Likud. Besta porque tudo não passou de pirraça. Netanyahu tentou tirar Sharon do trono como castigo pela saída israelense da Faixa de Gaza.
O fim da história? O primeiro-ministro venceu, apesar da margem bem pequena. Foram 51,3% a favor de Sharon e 47,6% contra.
Na real, o Comitê Central do Likud rejeitou a moção de Netanyahu para que fosse antecipada para novembro a escolha da liderança da legenda.
Foi suado...



O antigo Sharon, chamado por aqui de "Buldozzer", continua o mesmo. Um pouquinho alterado no que diz respeito à sua tradicional linha política (alguns dizem que foi só uma mudança de marketing, outros que foram adaptações para se manter no poder), mas forte. E, sobretudo, político. Também explico.
Durante o processo, o premiê tentou agradar os direitistas do Likud prometendo que Israel nunca abrirá mão dos grandes assentamentos que possui na Cisjordânia, doce lar de 245 mil judeus e quase dois milhões e meio de palestinos.
Podem chamar o Sharon de tudo, menos de corajoso. É um leão que assume o que faz. Basta lembrar da época da hitnatkut, a saída de Gaza (há pouco mais de um mês). Quando agentes do marketing laranja jogaram ácido nas tropas do exército em Kfar Darom, ele veio à público e não fugiu do pau:

"Não ataquem os soldados, ataquem a mim. Eu sou o único responsável"

É... o quiprocó ainda está por vir...


Para matéria do Jerusalem Post (em inglês), clique aqui!
Para artigo do Haaretz (em inglês), clique aqui!

ps1: Não é a primeira vez que critico as tais "leis da kashrut" aqui no Blog do Bean. Chamem-me de herege, de ateu, do que queiram. Mas têm umas coisas que realmente são sacanagem.
Não dá pra entender, por exemplo, o que acontece lá no meu trabalho.

Aliás, um parênteses.
Nessa semana trabalhei como um cavalo (com todo perdão a esses queridos mamíferos equinos). Meus pés doem, minhas mãos doem, minhas costas doem. Se algum comentário no post de hoje sair da linha, culpa da labuta...

Bom, mas falava da kashrut, as leis de alimentação judaicas.
Trabalho na cozinha do hotel, sendo o único judeu entre mais de 30 árabes cozinheiros. No mural da cozinha, um grande aviso em hebraico chama a atenção:

"O acendimento de fogões, fornos e outros aparelhos, bem como fritura
de alimentos deverá ser realizada única e exclusivamente por um judeu."

Putz, estão de sacanagem mesmo.
Na prática, o que acontece é que de tempos em tempos sou obrigado a abandonar o que estou fazendo e atravessar a cozinha simplesmente para acender um fósforo ou colocar uma panela de beringela no óleo quente. Porque os árabes não podem. Não é kasher...
O pior de tudo é o Shabat, o sábado. Ontem (sexta), faltando pouco mais de meia hora para ir embora e começar a aproveitar o fim de semana, meu chefe me solta essa.

"Você sabe que amanhã você trabalha, né!? Mas você deve vir andando,
à pé, porque é shabat. Senão te mandam de volta pra casa."

Mas que porcaria de kashrut é essa que se trabalha no Shabat mas ir trabalhar de carro não pode?

ps3: Seria alguma favela carioca? Um bairro da periferia de São Paulo?
Quem sabe uma parte pobre da região metropolitana de Belo Horizonte...
Não.
Essa é uma rua comum do campo de refugiados de Jabalya, no norte da Faixa de Gaza. São mais de 100 mil pessoas que dependem de empregos dentro de Israel para sobreviver.
Às vezes é bom a gente ver antes de abrir a boca. Aliás, venho cada vez mais me habituando a ver e ouvir mais e falar menos.
Até porque nunca fui de falar muito...


Trilha sonora do post: Por onde andei, Nando Reis