segunda-feira, maio 30, 2005

O acarajé de Israel

Uma das melhores aventuras culinárias de qualquer país é comer na rua.
De preferência, no centro da cidade.
No Brasil, o cardápio varia de pastéis fritos na hora (hum, que saudade) até cachorros-quentes de linguiça.

Em Israel, o prato nacional de toda hora é o falafel.
A receita desses bolinhos mistura grão-de-bico e fava moídos, ambos temperados com ervas. Acompanham todo e qualquer tipo de salada, picles de pepino e berinjela, tehine (pasta de gergelim) e pão sírio. Fritos na hora em óleo (de soja), são servidos na forma tradicional de sanduíche.
Mas, como muitos podem pensar, o falafel não é uma comida exclusiva de Israel. Pelo contrário.
Como diria o Jack Estripador, vamos por partes.

As origens do falafel são obscuras, até controversas.
Num jornal norte-americano, por exemplo, um artigo polêmico desencadeou uma guerra no fórum de discussões do seu site. Um leitor irritado escreveu:

"O Falafel tem somente uma terra-natal: o Líbano."

Muitos palestinios acreditam que os israelenses tenham roubado o falafel, que é um alimento árabe tradicional, e passaram a vendê-lo em quiosques e o transformaram no "snack" nacional do país. Acredita-se, porém, que o falafel tenha sido mesmo inventado no Egito, sendo encontrado hoje do Marrocos à Arábia Saudita.

"Nós sempre nos entreolhamos quando passamos por um restaurante que diga o 'falafel israeli'", disse uma vez Rashid Khalidi, um palestino com cidadania americana e professor de História do Oriente Médio na Universidade de Chicago.


Falafel em Israel

Ih, pronto. Esses dois povinhos arrumaram mais uma imbecilidade para discutirem.
Geoffrey Weill, um ex-funcionário americano do Ministério do Turismo israelense, usava também seus argumentos.
"E por um acaso nós também roubamos o macarrão dos italianos? Que tipo de absurdo é esse"?
Não importa o que aconteceu. Não há como negar que o sanduíche é agora "um alimento internacional, como um hamburger."
Alguns ainda alegam que há algum precedente histórico nisso. Pode até ter.

Joan Nathan, autor do livro "Os alimentos de Israel hoje," disse: "Falafel é um alimento praticamente bíblico. Os ingredientes são tão velhos quanto podem imaginar. Estes são os alimentos da terra. Sempre houve judeus e árabes no Oriente Médio."
Claudia Roden, especialista em Egipto e autora do livro "Alimentos judaicos" confirma que o falafel nunca foi um prato judaico, mas sempre encheu a barriga de judeus tanto no Egito quanto na Síria e Líbano.


O Falafel


Porém, deixemos de polêmica (o assunto é tão imbecil e os argumentos são tão estúpidos que não posso entrar também na discussão). Sem querer remexer a história, o importante é saber que o falafel é encontrado em todo o Oriente Médio.
É um prato tanto libanês quanto egípcio, tanto sírio quanto palestino. Os israelenses, que querendo ou não vivem na mesma região, o adotaram como seu prato nacional. E fim de papo.

O falafel não deixa de ser, apesar de tudo, um fast-food. Oferece todos os ingredientes importantes de um rápido lanche - é quente, consistente e sempre disponível. Como um acarajé do Oriente Médio.
Apesar das tossafot (acompanhamentos) sempre variarem, você encontrará sempre uma pita quentinha, bolinhos fritos na hora, batatas-fritas cheias de gordura e algum molho picante.
Todo israelense conhece seu "melhor falafel de Israel". E nem adianta discutir ou argumentar que "você conhece um falafel melhor e mais barato". Israelense, você sabe como é...

Para um texto sobre o falafel (em inglês), clique aqui!
Para a polêmica da origem do falafel (em inglês), clique aqui!

ps1: Já que o assunto é falafel, não posso deixar de colocar aqui um link para um jogo muito engraçado.
Você é um vendedor de falafel numa dessas barraquinhas e tem que servir os clientes. Colocar na pita um pouco de hummus, salada, bolinhos, batata e servir ao freguês. Quando os ingredientes acabam, é preciso repor. Se você demorar demais, as pessoas começam a ficar irritadas. Reclamam da demora. Típico de israelense.
O jogo, uma contribuição do Gabriel, pode ser encontrado aqui no Blog do Bean.
Quem será "O Rei do Falafel"? Para jogar, é só clicar aqui!

ps2: Um assassinato horroroso vem sendo o principal assunto de todos os meios de comunicação israelenses nos últimos dias. Coisa que só costumava ver no Brasil.
Mayan Sapir, uma garota de 15 anos, foi brutalmente assassinada na última sexta-feira. O corpo foi encontrado sem roupas e bastante violado. O principal suspeito é um menino de 16 anos. Isso mesmo.

O relógio marcava 8 da noite. Mayan saía de casa (em Rehovot, próximo à Tel-Aviv) e caminhava em direção ao shopping center, localizado há menos de um quilômetro de sua casa. Acredita-se que Mayan tenha encontrado esse garoto, que à princípio não a conhecia, no meio do caminho.
Ainda não se sabe em que circunstâncias, mas Mayan foi levada para o terreno de uma escola abandonada e, num canto escuro, estrangulada até a morte. A polícia investiga também se a garota foi estuprada antes de morrer. Ainda não se sabe o motivo que levou o maníaco a cometer o homicídio.

Segundo a família, Mayan sempre quis ser modelo (era uma garota bonita). A mãe não aceitava, não queria a filha famosa. O jornal Yediot Acharonot publicou como título da reportagem a única declaração dada pela mãe, ainda totalmente abalada.

"Agora todos sabem que é Mayan Sapir"

O assunto rendeu bons minutos no telejornal de ontem. Várias matérias, entrevistas com especialistas, amigos, parentes. Um festival melancólico e bizarro interminável. Até aqui a imprensa não respeita a dor das famílias vítimas dessas barbaridades.
Não conheço bem as leis criminais de Israel, mas acredito que não sejam muito diferentes do Brasil no que diz respeito a inimputabilidade criminal. Peço aos dois especialistas no assunto, doutor Michel Reiss e doutor André Myssior, que escrevam resumidamente nos "comentários" o que acontece realmente no Brasil em termos práticos e jurídicos quando um rapaz de 16 anos estupra e mata uma de 15.


Mayan Sapir


Para ler matéria do Haaretz sobre o assassinato (em inglês), clique aqui!
Para o Yediot Acharonot e a manchete (em hebraico), clique aqui!
Para outra matéria em hebraico, clique aqui!

ps3: Atenção usuários do Orkut. Até a última semana estava lá, para quem quisesse ver.
"Como matar 150 judeus".
A campanha para desmascarar e prender esses babacas já começou. Eu, daqui de longe, não posso fazer muita coisa. Acredito que as Federações Israelitas e outros órgãos responsáveis já entraram em contato com a Polícia Federal e denunciaram.
Explico.
Existia uma comunidade no Orkut chamada "Judeu - Prefiro o meu ao ponto". O símbolo da comunidade era um forno aberto e contava, até o início do mês passado, com 20 integrantes. A comunidade foi criada em 11 de janeiro de 2005. Eis a descrição.

"Quando criança, papai tinha um forninho a lenha e os judeuszinhos ficavam sempre mal passado. Me traumatizei e hoje os prefiro ao ponto. Hoje tenho um forno de ultima geração (Eu recomendo) Brastemp!!"

Um dos textos publicados na comunidade, denunciado pelo jornalista José Roitberg, é um plano completo de ataque por envenenamento numa sinagoga e, se bem sucedido, pode dar certo. É muito perigoso.
Pela lei brasileira, este texto é considerado como "apologia ao crime". Não vou colocar aqui o texto inteiro.
Para quem quiser ler, coloco o link para a notícia no site Pletz.
Essa comunidade já foi deletada do Orkut. Mas é nosso dever, usuários do site, manter o alerta constante. E denunciar.

sexta-feira, maio 27, 2005

De tudo um pouco

Parte do post foi escrito num flyer de boate, no 6º andar da maior rodoviária do mundo.

São andares e mais andares. Um sobe e desce de gente de todo tipo.
Uma face de Israel que praticamente não vejo em Jerusalém.

Aqui, na tachaná merkazit ("tarraná merkazít", a estação rodoviária central) de Tel-Aviv vê-se, como disse, de tudo. Uma porção de soldados, indo e vindo de suas bases. Um punhado de russos, árabes, tailandeses e religiosos. Algumas gostosas (o que não é comum de onde venho, Jerusalém) e etíopes: uma infinidade deles.
Esses etíopes são engraçados. Alguns chegaram aqui ainda crianças, ou seja, a língua-mãe é o hebraico. Mas isso não importa. A começar pelo vestuária, que quase não varia.
Para os homens, que andam em bandos, calças jeans bem surradas e justas, camisetas coloridas coladas no corpo, algum penteado muito louco e um celular (poucas vezes no bolso, muitas vezes na mão).
Quanto às mulheres, não difere muito. Tamancos gigantes, tranças coloridas, algum piercing e as calcinhas totalmente de fora.

O que se vê no submundo da tachaná merkazit chega a assustar.
Por exemplo.Um senhor religioso (pelo menos uma kipá na cabeça ele tem) vende DVDs pornôs numa lojinha do terceiro andar. Ao lado, um cara bem estranho (tenho a impressão de que ele não toma banho já há alguns dias) vende aquelas bugiganguinhas de praia, incenso, talvez até mais do que isso!!! Na lojinha do lado, uma loirinha princesinha vende anéis, colares, correntes, brincos e o escambau.

Todo esse cenário, como sabem, faz parte da chamada "calcalá shchorá" ("calcalá shrrorá", o mercado negro) de Israel.
Pessoas não páram de passar.
O lugar, que é gigante, tem a fama de ser a maior rodoviária do mundo. Pelo menos na época em que foi inaugurada, há pouco mais de 10 anos. No total, são 230.000 m² de uma construção que começou em 1967 e terminou 21 anos depois. São sete andares, 29 escaleiras, 13 elevadores e mais de mil lojas!


Tachanah Merkazit de Tel-Aviv


Sim, meus amigos. Quem está acostumado a enxergar Israel como terra santa; usando dos estereótipos de judeus, árabes, conflito e guerra, pode se surpreender.
Acreditem (e aceitem) se quiserem. Israel é um país como outro qualquer: tem corrupção, altos impostos e, como não podia deixar de ser, seu fascinante e movimentado mercado negro.
Agora, com licença. Vou dar uma chegada ali numa promoção de cds piratas...

ps1: Diz a lenda que, alguns dias antes da inauguração da nova tachaná merkazit de Tel-Aviv, alguns mineiros passeavam pela cidade. O ano era o de 1993. Mais precisamente, Agosto de 1993.
Conheceram os arredores do prédio, rodearam o lugar e admiraram a construção gigante.
No dia da cerimônia, quando o prefeito Ronnie Milo cortou a fita, surgiu para os presentes a bonita placa de inauguração. Mas ninguém contava com um pequeno detalhe: ao lado da placa, uma pichação. Pequena, mas destacada. Duas palavras: MÁFIA AZUL.
Ninguém entendeu nada...

ps2: Durante a noite de ontem, fogueiras arderam por toda Israel. Algumas gigantes, outras pequenas. Algumas na estrada, outras no meio das cidades. Explico essa viagem.
Começou Lag-Baomer. Não ajudou, né? Vou tentar explicar o que é isso (eu, a negação da religião hahaha. O que a gente não faz por um pouco de informação no blog, né!?).

Lag-Baomer é uma festa divertida, na qual é costume fazer piqueniques e encontros em torno de fogueiras. Crianças também brincam com arcos e flechas.
Começando.
O período de 7 semanas que se conta entre o segundo Seder de Pessach e a festa de Shavout é conhecido como Sfirat Haomer (contagem do Omer). Omer é uma medida bíblica que determinava a quantidade de cevada colhida oferecida no antigo Templo de Jerusalém.

Um pouquinho de história.
No ano 130 da era comum, o imperador Adriano ordenou que seu exército atacasse os judeus e os proibissem de praticar a religião judaica. Todos que fossem pegos estudando a Torá eram mortos.
A explicação mais frequente para a festividade de Lag Baomer é de que uma peste que vitimou os alunos do Rabi Akiva terminou ou foi suspensa nesta data. Segundo os religiosos, a peste os castigou por não terem sido respeitosos entre si. A praga, que estava matando tantos discípulos do Rabi Akiva, parou exatamente neste dia.
O número trinta e três em hebraico é representado por L’G (não tem nada a ver com a marca de televisores), que é pronunciado Lag, sendo o dia chamado de Lag BaOmer.
Pela razão da peste, os dias do Omer são considerados como "de semi-luto" para os ortodoxos. Por exemplo, não se celebram casamentos (por isso tive várias folgas no trabalho).

Um dos discípulos de Rabi Akiva, Bar Kochba, se tornou um líder guerreiro do povo judeu, organizando um exército de resistência para se libertarem do domínio romano. Mesmo com poucos guerreiros e armados de arco e flecha (daí vem o costume das crianças), conseguiram algumas vitórias sobre as forças romanas, que obrigou o imperador a enviar uma legião de Roma para esmagar com a resistência dos judeus.
O Rabi Shimon Bar Yochai (autor do Zohar, o primeiro livro da Cabala) também morreu em Lag Ba'Omer. Cabalistas e ortodoxos se reúnem em seu túmulo, na Galiléia, acendendo fogueiras, realizando o primeiro corte de cabelo de seus filhos, cantando e dançando a noite inteira.


Religioso em LagBaOmer


Consegui explicar?
De qualquer forma, ontem foi o dia das fogueiras. E isso pode dar problemas.
Às nove da noite, sentado num ônibus, escutei o barulho de ambulâncias. Muitas.
"Aconteceu alguma coisa séria", pensei.
Porém, de repente, passaram por mim não ambulâncias, mas vários caminhões do corpo de bombeiros. Era a primeira vez que tinha visto isso aqui. Algum ignorante deve ter feito uma fogueira e queimado mais coisa que devia...

Para uma explicação do Lag-Baomer (em português), clique aqui!
Para matéria do jornal Haaretz sobre a festa (em inglês), clique aqui!
Para um texto religioso sobre a festa (em espanhol), clique aqui!

ps3: Na última semana, quem "deu o ar da graça" em Jerusalém foi a esposa do presidente George W. Bush. Laura Bush visitou o Kotel (o Muro das Lamentações). Foi alvo de protestos.
Depois, não sei o que deu na cabeça da mulher que ela resolveu subir na parte árabe, no Domo da Rocha. Pra quê?
Segundo um jornalista presente, uma multidão empurrava a mulher do presidente Bush quando ela tentava entrar na mesquita. Um palestino gritou:

"Você não é bem-vinda aqui! Por que vocês estão importunando nossos muçulmanos? Como você ousa vir aqui?"

Acho que essa mulher precisa tomar juízo. Será que ainda não aprenderam a lição?
Contextualizando: ela veio ao Oriente Médio na última sexta-feira, sabendo que a imagem dos EUA no mundo muçulmano ficou mais ainda abalada pelo escândalo de abuso de prisioneiros e por uma reportagem de uma revista, depois negada (como sempre), de que interrogadores norte-americanas profanaram o Alcorão.
Só um detalhe na foto. Essa cidadã de branco (que parece a Luiza Erundina) se chama Gila Katsav, a esposa do presidente israelense Moshe Katsav. Outro detalhe, mas que nessa foto não é possível enxergar: a quantidade de urubus e suas máquinas fotográficas.


Laura Bush no muro

terça-feira, maio 24, 2005

Nós contra nós mesmos

A panela está começando a esquentar.
Os dias vão passando e, pouco a pouco, a situação vai ficando tensa. Explico.

O primeiro-ministro Ariel Sharon está em visita oficial nos Estados Unidos. Lá, numa Conferência, mais uma vez discursou sobre o plano de desconexão de Gaza. E, mais uma vez, o que se via eram protestos dos mais diversos. Dentre eles, cartazes com dizeres "A política de Sharon é um suicídio nacional", "Terra, Povo e Torá é um só", "A retirada é um prêmio ao terror".
Vou tentar explicar em poucas linhas do que se trata toda essa confusão.

Israel conquistou a Faixa de Gaza na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Antes disso, o território fora "deixado ao Deus dará" pelo Egito, que não queria assumir o "problema palestino".
O plano de Sharon envolve o desmantelamento dos 21 assentamentos judaicos existentes na Faixa de Gaza, retirando os entre 7 e 9 mil mitnahalim (colonos) que vivem ali (detalhe: são 1 milhão e 300 mil palestinos).
Por que, na verdade, o caldo pode entornar?
Ultimamente, em Israel, os ultranacionalistas vêm ganhando cada vez mais espaço. O maior expoente dessa "luta insana" é o conjunto de assentamentos de Gush Katif, em Gaza. Formado por 17 comunidades e cerca de 1.500 famílias (o que representa quase 7 mil pessoas), Gush Katif transformou-se no maior fenômeno atual da sociedade israelense.
Com suas blusas alaranjadas e manifestações constantes (muitas delas violentas) contra o plano de desconexão, os simpatizantes pelo menos já conseguiram o que queriam: chamar a atenção da mídia. A cor alaranjada transformou-se no símbolo dos protestos contra a retirada. São fitas, bandeiras, adesivos e uma campanha massante por todo o país. O argumento é único: a região faz parte da terra bíblica de Israel. Ou seja, em outras palavras, "está escrito!".


Manifestantes contra a retirada de Gaza


É bom deixar claro também que todas as pesquisas de opinião realizadas até então mostram que a maioria dos israelenses são sim à favor da retirada (inclusive eu).
O "Dia D", que iniciará a evacuação, está marcado para 15 de agosto. Muito se fala sobre o que pode acontecer, já que muitos desses colonos são violentos. Tá certo que cada família "evacuada" ganhará uma fortuna do governo para reestabelecer-se em outro lugar (especulou-se sobre Nitzanim, ao lado de Gaza, mas já existe pressão dos próprios moradores que não querem esses loucos por lá).

Dá pra perceber que toda essa história é bem complicada, e não será num pequeno post que tudo será explicado. Mas a idéia é essa.
Como já disse algumas vezes, o grande problema de Israel hoje não são os árabes e nem o Antissemitismo. O problema é interno: são diferenças, contradições e disputas de vários gêneros. Vivo numa grande panela de pressão. Auto-explosiva.

ps1: Infelizmente, não deu. Mas sua participação nos encheu de orgulho.
A loirinha Shiri Maimon foi a quarta colocada na última edição do Eurovision, realizado na Ucrânia (vide último post). Foi uma excelente participação, já que só de finalistas foram 24 países.
Só um parênteses: interessante o sistema de votação.
Cada país (inclusive os que foram eliminados na primeira fase, como Portugal e Holanda) forneceram por 10 minutos, na noite de domingo, um sistema de votos pelo celular. Em cada país, as pessoas puderam votar no campeão (sendo proibido o voto para seu próprio país). Passados os dez minutos, um link ao vivo de cada capital mostrava a contagem dos votos. Os dez primeiros de cada votação ganhavam pontos. E os votos eram somados ao vivo, como uma contagem de pontos do Carnaval.
No final, a vitória ficou com a Grécia. Mas Shiri Maimon deu show. Brilhou.


Shiri no Eurovision


Ainda no domingo, outra premiação alegrou o país.
A atriz Hanna Laslo recebeu o prêmio de melhor atriz em Cannes (o que não acontecia em Israel desde a década de 60) pelo novo filme do "queiridinho" Amos Gitai. Hanna, que na verdade é comediante (muito engraçada por sinal, no estilo da Cláudia Jimenez) viveu seu primeiro papel dramático.
No filme, ela faz o papel de uma taxista israelense que entra na chamada "Zona Livre" (o nome do filme) da Jordânia para cobrar o dinheiro que um palestino chamado de "Americano" lhe deve. No carro, vai uma judia-americana (interpretada pela gracinha da Natalie Portman).
O filme, que ainda não assisti, parece marcar um novo momento na eterna e louca interrogação do diretor sobre a realidade política do Oriente Médio. Abaixo, Hanna Laslo em Cannes.


Hanna Laslo em Cannes

Dentre manifestações contra e favor do plano de desconexão, denúncias cabeludas contra o Ministério do Exterior e o plano de mudanças pedagógicas para o próximo ano letivo, Shiri Maimon e Hanna Laslo ganharam a capa dos principais jornais do país na Segunda-Feira. Parabéns.

ps2: Vejam que boa iniciativa.
O presidente da comunidade autônoma espanhola da Catalunha, Pasqual Maragall,anunciou numa visita à Tel Aviv que fechou com o vice-primeiro-ministrode Israel, Shimon Peres, e o presidente do Barcelona, Joan Laporta, a realização em agosto de um jogo entre o time espanhol e uma seleção de jogadores israelensese palestinos.
Maragall revelou que a seleção palestino-israelense jogará no Camp Nou (estádio do Barcelona) sob o nome de "The Peace Team" (A Equipe da Paz).
O presidente catalão falou na quarta-feira com Laporta, que disse que o jogo poderia ser realizado no Camp Nou entre 1º e 15 de agosto para contar com os jogadores Ronaldinho Gaúcho e Eto'o, o que agradou Peres.
Segundo Bassat, já há líderes mundiais como Bill Clinton e Nelson Mandela que mostraram seu interesse em participar do evento, em um encontro que será transmitido pela televisão e que terá sua arrecadação doada para as fundações Shimon Peres e Ernest Lluch.
O combinado será dirigido pelo técnico atual de Israel, Abraham Grant. Se eu fosse o Ronaldinho, já dava uns 10 gols de vantagem...

ps3: Sei não, viu. Isso não me cheira bem.
Segundo informações do jornal Yediot Acharonot (que cita também fontes árabes), os grupos Hammas e Hizbollah teriam recebido cartas do governo dos Estados Unidos e da Inglaterra, convidando-os para conversar. O jornal árabe "Al-Bayan", publicado nos Emirados Árabes, foi uma das fontes.
De acordo com o artigo, ambos os governos teriam tomado essa decisão diante da crescente influência e poder que as duas organizações terroristas possuem na Autoridade Palestina e no Líbano, respectivamente.O Estados Unidos estariam até dispostos a colaborar para que tanto o Hammas quanto o Hizbollah se convertam em partidos políticos.
Outro jornal anunciou que seria a primeira vez que o governo britânico mudaria sua política e aceitaria conversar com os dois grupos.
Um dos leitores do jornal israelense pela internet perguntou, num fórum, se a atitude dos dois governos significa que os EUA estaria disposto a conversar também com a Al-Qaida.
Se vocês não entenderam, o cara foi irônico...

ps4: No último fim de semana, recebi a visita de uns 15 amigos que estão passando o ano de 2005 em Israel, no mesmo programa que fiz em 1999: o Shnat. Dentre pitas, kababs, hummus e episódios do Chaves, foi um bom sábado. Voltem quando quiser (a porta fica aberta...).

ps5: O Daniel, que está morando aqui em casa por um tempo, soltou uma boa hoje.
Um carro de som passou na maior altura aqui na avenida, com um árabe falando alguma coisa (em árabe). Fiquei pensando com meus botões: "O que será isso? Alguma convocação? Alguma propaganda? Estaria o cara vendendo alguma coisa?"
E foi quando o Daniel surge da cozinha.
"_ Ou, vou lá embaixo comprar pamonha. Você quer?"

sexta-feira, maio 20, 2005

Fronteiras políticas e psicológicas

As fronteiras nem sempre são físicas. Muitas vezes, são também bloqueios psicológicos.
Sabemos que todo o Oriente Médio é repleto de feridas e cicatrizes. Uma delas é a fronteira que divide Israel da Síria, nas Colinas do Golan.

"A Noiva Síria" ("Hakalah hasurit") já é um dos melhores filmes do ano. Um romance trágico, mistura de bloqueios emocionais e também políticos. Mas, para que entendam a história, é preciso explicar algumas coisas.

Os drusus são um povo árabe não-muçulmano (sim, meus amigos, nem todo árabe é muçulmano. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Existem árabes-cristãos, árabes-drusos, árabes-muçulmanos - a maioria, árabe-budistas, árabes-sei lá o quê). Habitam, principalmente, o norte de Israel, Síria e Líbano.
Em Israel, vivem em sua maioria nas Colinas do Golan.
Quando Israel as conquistou, em 1967, muitas famílias drusas ficaram divididas entre Israel e Síria. Já que não existe nenhuma relação diplomática entre os dois países, muitas vezes membros da mesma família têm que se comunicar através de megafones, um de cada lado da fronteira, separados por uns 200 metros de "terra de ninguém".
Mas, ao contrário do que se pode pensar, os drusos são obrigados por sua religião a serem leais ao país onde nasceram. Servem o Exército de Israel com uma lealdade muitas vezes superior à dos judeus. Vários drusos ocupam altas patentes no Exército, além de existirem ministros e embaixadores.

Mas vamos ao filme.
Ele conta a história de Mona, uma drusa moradora do vilarejo de Majdal Shams, prestes a se casar com um famoso ator sírio. Porém, o dia do casamento de Mona é, sem dúvida, o mais triste de sua vida. Se atravessar a fronteira, sabe que provavelmente nunca mais verá sua família.
Durante a celebração, a família enfrenta muitos problemas. O pai de Mona é um ativista político, e sua entrada na zona da fronteira para despedir-se da filha é negada pelas autoridades israelenses (por motivos de segurança). Um dos irmãos aparece depois de oito aos, tendo "cometido o crime" de ter-se casado com uma russa.
Mas esse é apenas o começo da história.
Uma vez na fronteira e depois de alguns meses de negociação burocrática com o governo de Israel, Mona recebe o carimbo (feito especialmente para ela, já que não é possível ir de Israel para Síria e vice-versa) no passaporte. O noivo já a espera do outro lado. Apesar de tudo, o oficial de fronteira do lado sírio recusa a entrada de Mona no país. Justamente por causa do carimbo no passaporte.
Uma enfermeira francesa das Nações Unidas tenta negociar com ambos os lados. Passa e repassa a fronteira, em busca de uma solução.
O empasse dura horas. Ninguém consegue se mexer na poltrona do cinema. Será que Mona conseguirá se casar?

O filme, dirigido pelo israelense Eran Riklis, é uma produção conjunta entre Israel, França e Alemanha. Falado 70% em árabe e 30% em hebraico (fora algumas pitadas de inglês e de russo), "Hakalah hasurit" tem roteiro assinado por Suha Arraf. Segundo o próprio diretor, foi a participação do co-roteirista o motivo pelo qual o filme passou longe da armadilha do propaganda e pôde dar um olhar mais próximo nas estruturas da sociedade árabe patriarcal.

Se existe alguma esperança para curar essas feridas, "A Noiva síria" poderia ajudar a alcançar este objetivo.


Hakalah hasurit, A Noiva Síria


Para assistir ao traileir, clique aqui!
Para o site oficial do filme, clique aqui!
Para crítica do filme (em inglês), clique aqui!
Para entrevista com o diretor Eran Riklis (em inglês), clique aqui!
Para crítica em hebraico, clique aqui!
Para crítica em português, clique aqui!
Para fotos do filme em alta resolução, clique aqui!

ps1: E começou a versão 2005 do Eurovision.
Pra quem não sabe, o Eurovision é um festival europeu de música que acontece todos os anos. Participam do festival sempre um representante de cada um dos países membros da União Européia de Radiodifusão. Dentre eles, está Israel.
Todos os anos, o país que sedia é exatamente o vencedor do ano anterior. Israel já sediou o evento por duas vezes. Em 1979 (por ter vencido em 78) e em 1999 (por ter vencido em 1998), todas elas em Jerusalém. Israel conquistou o primeiro lugar também em 1979, mas não sediou o evento no ano seguinte. O motivo: em 1980, a data do Eurovision coincidia com o Dia do Holocausto. Israel abriu mão e o Festival foi para a Holanda.
Esse ano, está sendo realizado na Ucrânia (a vencedora do ano passado).

O Eurovision sempre foi um sucesso por aqui. Quando ele se aproxima, já começam a perguntar:

"_ Quem representará Israel? Poderia ser fulano! Poderia ser ciclano!"

Na verdade, a escolha é feita por jurados da "Israel's broadcasting Authorithy". Nesse ano, a disputa contou também com votos pela internet.
A vencedora, que representa o país esse ano, é uma loirinha maravilhosa (ou, para os mais vulgares, uma gostosa) de 23 anos chamada Shiri Maimon.
Nascida em Haifa e criada em Kyriat Haim, Shiri ficou famosa após conquistar o segundo lugar no programa "Korrav Nolad" ("A Estrela Nasce", a versão israelense do "Fama"). Depois disso, sua carreira decolou.
Passou a apresentar um programa de televisão para jovens, no meio da tarde, chamado Exit. Gostava de assistí-lo. Primeiro, por causa do hebraico (Shiri é uma das artistas israelenses que fala mais rápido. E, quanto mais rápido alguém fala, mais difícil fica para entender. E é um desafio). Segundo, porque convenhamos: não dava pra não assistir.
Na votação para o Eurovision, Shiri Maimon conseguiu 114 pontos (de 120 possíveis).


Shiri Maimon


A música também é bonita. "Haskeket shenishar" ("O Silêncio que permanece") é cantada parte em hebraico e parte em inglês.
Com um jeito de princesa, uma voz maravilhosa e uma boa música, Shiri é apontada como uma das favoritas e tem tudo para trazer o quarto troféu israelense pra casa. Estarei torcendo. Sábado, 10 da noite.



Para fazer o download do clip "Hasheket shenishar", clique aqui!
Para ver a apresentação de Shiri ontem à noite, clique aqui!
Para o site oficial da cantora, clique aqui!
Par algumas fotos, biografia e letra da música, clique aqui!
Para o site israelense do Eurovision, clique aqui!
Para ver entrevista de Shiri na tv israelense (em hebraico), clique aqui!
Para notícia do JP sobre a cantora, clique aqui!
Para fotos de Shiri no Eurovision, clique aqui!

ps3: Tinha outros assuntos para hoje, mas o post ficou grande demais. Volto amanhã!

terça-feira, maio 17, 2005

A guerra da língua

Não importa o assunto, não importa o campo científico.
A idéia é basicamente a mesma.
Quanto mais estudamos, maior é a impressão que não sabemos nada.
Sabe quando você tem certeza que alguma coisa é falsa e mesmo assim continua acreditando que pode ser verdade? Um sonho, por exemplo. É o que me acontece com esse tal de "hebraico". E com essa falsa frase.

Todos os dias, leio textos escabrosos e aprendo verbos bizarros em hebraico. Alguns deles não consigo traduzir para o português. Outros, ao procurá-los no dicionário, encontro coisas em português que nunca havia escutado.
E assim vamos.
Meu hebraico tem dias e dias. Ontem, por exemplo, "tava com a macaca".
No gramado em frente ao prédio de onde estudo, conversei por mais de uma hora e mai com uma moça do Ministério de Absorção. Não sei o que aconteceu, mas o hebraico saiu. As palavras, os verbos, as conjugações. Tudo isso sem ficar pensando. Saiu naturalmente. Ganhei elogios.
Logo depois, tinha que ler um artigo de um jornal, para a aula. Viajei. Não saiu. Parecia grego, chinês.
Às vezes, meu hebraico é melhor que meu português. Às vezes, é pior que meu chinês...


Hebraico, o problema...


ps1: Dois brasileiros, um espanhol e uma argentina.Uma tarde ensolarada de um "quase-verão" em Jerusalém. Cadernos espalhados por uma mesa. Calculadoras. O retrato de uma prova de Estatística de 3 horas de duração que teríamos no dia seguinte.
Vida de estudante.
Hoje, estávamos na aula de inglês do TAKA (o nome do programa) lendo um trecho do livro Evelyne, do irlandês James Joyce (Bean também é cultura, às vezes!). Um bonito romance.
A professora, o estereótipo da bruxa, não pára de fazer perguntas.

"Por que Evelyne está triste e cansada?"

Isaac, o espanhol, quis responder.

"Talvez ela esteja trabalhando demais. Ou talvez esteja fazendo o TAKA."

ps2: Sim, o gordo esteve aqui. Todos sites, periódicos, telejornais e rádios cobriram. Acredito que também tenham falado disso em exaustão no Brasil.
Ronaldo passou menos de um dia por aqui. Algumas horas em Hertzlia, nos arredores de Tel-Aviv, e outras em Ramallah, na Cisjordânia. O cara tem um título bonito: embaixador da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Não quero ficar fazendo resumo de notícias aqui. Colocarei os links mais abaixo. Mas quero fazer um comentário sobre a visita que aliou "marketing e promoção pessoal" a "uma mão à coexistência".

Em Herzlya, Ronaldo ficou o tempo inteiro com o vice-premiê israelense (sim, existe um vice-premiê. Tem coisas que só existe na política israelense!) Shimon Peres. Assisti ao telejornal da noite. Arranjaram uma tradutora para o Ronaldo. Uma brasileira.
Frente às tvs de todo o mundo, o atacante (e embaixador) disse à Shimon Peres.

"Estar aqui é uma emoção única. É uma contribuição do futebol, que consegue unir dois povos que vivem em conflito. Jogando futebol juntos, crianças palestinas e israelenses vão crescer pensando diferente."

Sem querer ser prepotente, chato, metido ou cri-cri; mas o sotaque da tradutora conseguiu me dar vergonha. Abaixo, o gordo e a múmia.


Ronaldo e Shimon Peres


Para ler matéria do Haaretz (em inglês), clique aqui!
Para ler matéria do portal Terra, clique aqui!
Para matéria da BBC Brasil, clique aqui!
Deu, né. Chega de Ronaldo.

ps3: E hoje fui devidamente convocado para o meu serviço militar no Estado de Israel. Serão seis meses como soldado de verdade.
Mas não agora. Aqui, todos que estejam estudando têm seu serviço adiado.
Isso, porém, não impede que, no próximo dia 2, me apresente ao "lishkat guius" (alistamento) de Jerusalém (sob pena de ser preso caso não compareça!!!). Munido de algumas cartas oficiais que dizem que sou estudante, chegarei cedo. E meu serviço militar será postergado.
Não cancelado. Um dia, estarei servindo as Forças de Defesa de Israel. Essa mesmo, que sempre critico aqui no Blog. Mas acho que eles podem esperar uns três anos...

ps4: Querem cutucar onça com vara curta. Ou pior.
Cinco israelenses judeus foram presos acusados de planejar um ataque ao Monte do Templo, em Jerusalém. A ação foi conjunta entre a polícia e o Shin-Bet (o FBI de Israel).
Um pequeno parênteses.
Nesse local, localiza-se o famoso Domo da Rocha, a Cúpula de Al-Aksa. Exatamente lá, os muçulmanos acreditam que Maomé tenha subido aos céus com seu cavalo. E, também exatamente lá (que falta de criatividade), os judeus acreditam que tenha acontecido o episódio do "quase-sacrifício" de Itzhak por parte do profeta Avraham (acho que é mais ou menos isso. Estou cada vez pior nesses assuntos).
Até que chegue o Messias, os judeus estão proibidos de pisar no Monte do Templo. Eu, com meu passaporte brasileiro, conheci o lugar há 6 anos. Se não ia pro inferno antes, depois dessa...

Mas voltando ao caso dos presos.
Segundo informações do jornal Haaretz, o grupo planejava mandar um míssel lá em cima e depois cometer suicído (é cada idéia maluca que esse povo arruma...). A história é comprida, assustadora e por que não esdrúxula.
Para ler o artigo inteiro (em inglês), clique aqui!

sábado, maio 14, 2005

No turismo vale tudo

Muito bonita essa coisa de ideologia, de lutar pelo que se acredita.
Muito "bonito" também é se utilizar de uma situação que não é a ideal (de acordo com sua tal ideologia) para ganhar dinheiro.
É isso o que acontece, muitas vezes, no mercado árabe de Jerusalém.

A foto abaixo foi tirada numa das incontáveis lojas de souvenirs no "shuk" da cidade velha. Muitos já se acostumaram com as estampas (inclusive eu), mas achei interessante passar alguma coisa para os senhores (e senhoritas) leitores.

O "Free Palestine" e a foto do Arafat são clássicas. Aliás, todas são.
A amarela, no alto da foto, mostra algumas letras estilizadas dando uma impressão de estar escrito em hebraico. Mas, ao contrário, é possível ler em claro inglês "go fuck yourserlf".
Logo abaixo, outra ótima. "America don´t worry. Israel is behind you". Muito interessante quando lembramos que são os árabes que as vendem. Não vejo outra razão, a não ser pelos dólares (e agora euros) dos turistas (não seria essa a idéia do turimo?).
As duas estampas que mais gosto tambem estão na foto. No centro, de rosa, alguns bonequinhos rachando de rir. "Peace in the Middle East? Hahahahahaha". Meio macabro, mas vende como água.
E, por último, o famoso "I got stoned". De todas, acho a mais inteligente. O sentido é duplo.
"I got stoned", que a princípio teria ligação com a palavra "stone" (pedra), também é uma gíria para "chapado" (ou fumado, ou como queiram). As opções para ser apedrejado (ou ficar chapado) são Gaza, Hebron, Jerusalém, Ramallah, Belém e Mea Shearim, o famoso bairro dos judeus ultra-ortodoxos aqui na cidade.

Existem várias outras estampas. E bugigangas também: pratos, narguilas, kfias, almofadas, roupas, o que quiserem. E não importa onde estamos. Turismo é turismo: e vale tudo (é só clicar e notar, no cantinho direito: "Minha avó foi à Jerusalém e tudo que ganhei foi essa camiseta").

ps1: Dois skarim (pesquisas de opinião pública) me chamaram a atenção nos últimos dias. As duas publicadas na Internet. Com resultados curiosos.
O Jerusalem Post, em sua página principal, perguntou: "O Dia da Independência é um evento judaico ou um evento israelense?". Até às 13h de sábado, foram 1623 votos. Deles, 59% votaram num "evento israelense" e os outros 49% no "evento judaico". (resultado atualizado)
O Yom Haatzmaut é, na teoria, um evento judaico. Na teoria. Apesar das tentativas de várias comunidades judaicas da Diáspora de manter o Yom Haatzmaut no calendário festivo (e as iniciativas são muitas vezes brilhantes), o problema é puramente de identidade.

Organizações oficiais promovem esses eventos. Sim, ótimo. É obrigação delas. Mas será que o sentimento de um judeu que mora fora de Israel para o Dia da Independência é maior, por exemplo, do que o Dia do Holocausto?
Todas essas indagações giram em torno da complicada relação afetiva das comunidades da Diáspora e o Estado de Israel. E, quando falo das comunidades, não falo dos líderes. Falo das pessoas. Afinal, apesar do sentimento de "povo", elas não moram em Israel.
Acho que o assunto daria pesquisas e mais pesquisas, estudos e mais estudos. Por isso esgoto aqui, com mais perguntas do que respostas.
Antes que eu me esqueça: meu voto foi para "um evento israelense".


Yom Haatzmaut

Na outra pesquisa, 1200 palestinos foram entrevistados na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Deles, 52,8% acreditam que a retirada israelense de Gaza contribuirá como um passo rumo à paz, contra 33,4%.
Não deixa de ser interessante, por vários motivos. E também não deixa de surpreender, inclusive os que acham que os territórios ocupados são "100% poço de ódio". Ninguém é burro.
Para ler os resultados da pesquisa (em inglês), clique aqui!

ps2: A notícia é boa, mas com ressalvas.
O jornal New York Sun informou que três sites norte-americanos – ArmedLiberal, RogerLSimon e LittleGreenFootballs – juntaram-se numa grande companhia chamada Pajamas Media (Mídia de Pijama).
O objetivo é (tentar) montar uma rede mundial de blogs que consiga trazer notícias com mais agilidade que os veículos de comunicação tradicionais e com o ponto de vista pessoal que só o blog pode oferecer. A idéia é que, na medida em que o projeto se torne economicamente viável, cada afiliado tenha uma câmera e um laptop para poder enviar conteúdo multimídia em primeira-mão.
O nome Pajamas Media é referência a um comentário do executivo da CNN Jonathan Klein que, ao desdenhar do potencial jornalístico dos blogs, disse que um blogueiro é apenas "um cara de pijama sentado na sala de sua casa".

Pergunto-me: será mesmo verdade? Pergunto outra vez: o que seria, cientificamente falando, um blog jornalístico?
Parte da resposta é dada num simples artigo do jornalista Pedro Doria, do site NoMinimo.
Segundo Pedro, a maioria dos blog brasileiros não passam de uma conversa de bar. Poucos são os blogs literários e aqueles que denominou "informativos". Porém, a discussão é bem maior do que isso. Inclui teorias jornalísticas, de mídia e de cyberespaço.
Acredito, porém, que o ponto de partida já está dado.

Não me considero "um cara de pijama sentado na sala de casa". Também acho difícil dividir os blogs segundo critérios tão rígidos. O que tento (e nem sempre consigo, porque é difícil) é dar um pouco de informação, de comentários, de links e também de conversas de bar. Tudo na sua medida, tudo no seu tom.
Mas voltando ao assunto: foram poucas as vezes que consegui ver uma boa idéia sair de um péssimo conceito. Na maioria das vezes, acontece o contrário. O Pajamas Media poderá ser uma excessão.

ps3: O site do grupo terrorista Hammas possui, na íntegra, o famoso texto antissemita "Os Protocolos dos Sábios do Sião". O livro completo, em inglês.
Aliás, quem viu minhas fotos da Jordânia deve ter prestado atenção no livro sendo vendido abertamente nas livrarias de Amã. Lembro-me que há uns 3 ou 4 anos, o livro foi o mais vendido na cidade palestina de Ramallah.
Para os "Protocolos" no site do Hammas, clique aqui! (muitas vezes a página fica fora do ar...)

quinta-feira, maio 12, 2005

O preço da Independência

Não existe sentimento mais israeli do que o demonstrado nos últimos 2 dias.
Da tristeza profunda e da saudade para o orgulho e a alegria incontida.

Ontem, o país lembrou todos os soldados mortos nas batalhas de Israel. O dia tem um clima pesado, fúnebre, quase macabro. Às 11 da manhã, uma sirene parou o país. Estava aqui em casa, deitado na rede da varanda. Levantei-me e olhei para a rua. Carros pararam e pessoas, em sinal de respeito, saíam e se postavam do lado de fora.
O baque é forte.
Em Israel, não existe uma só família que não tenha perdido algum parente, algum amigo ou algum vizinho nas guerras do país. Durante todo o dia, vários canais de televisão saem do ar. Em outros, o nome e data de falecimento dos mais de vinte mil soldados mortos são reprisados. Todos os anos.


Dia de Lembrança


Esses dois dias, de Lembrança e de Independência, servem para unir os israelenses. Não importa a direção política, não importa nada.
"Yom Hazicaron" é dia de lembrar. "Yom Haatzmaut", de festejar.
Mas existe uma excessão. Aqueles religiosos ultra-urtodoxos que não reconhecem o Estado de Israel (dizem que só poderá existir um Estado judeu quando chegar o Messias. Mas, ao contrário, é uma "mitzvá" viver na terra de Israel, uma boa ação. Por isso estão aqui, chupando dinheiro do governo, não fazendo exército e negando o Estado). Então, tudo isso é sem contar com eles.
Abaixo, o momento da sirene e, em primeiro plano, as bandeiras: uma preparação já para o dia seguinte.


Sirene e bandeiras


"O povo de Israel sabe o preço da Independência", disse um político numa das cerimônias.
E é exatamente o que comemoramos hoje. Festas, foguetórios, êxtase total.
57 anos de um país que é quase um milagre. De um país que critico. Mas não serão exatamente as coisas que amamos que são passíveis de críticas? Por que criticar algo que não faz a menor importância?
São em momentos como esses que sinto feliz em ter escolhido Jerusalém como minha casa. Pelo menos pelos próximos anos.
Abaixo, uma charge do Yom Haatzmaut (para os árabes, o Dia da Catástrofe) que, ao contrário do Brasil, é dia de festa. Aqui, a Independência não foi somente um papel assinado pelos poderosos. Foi suado, sangrento e conquistado. Hoje, o churrasco já virou tradição nas comemorações...


Yom Haatzmaut, o Dia da Independência


Para matéria sobre Yom Hazicaron (em hebraico), clique aqui!
Para outra matéria em inglês, clique aqui!
Para suplemento sobre o Dia da Independência (em inglês), clique aqui!

ps1: Vejam que boa notícia. Meios de comunicação argentinos anunciaram que a primeira-dama do país, Cristina Fernandez, pensa em pressionar o governo para que a Argentina abra uma embaixada em Ramallah, na Cisjordânia.
Mas Bean, por que é uma boa notícia?
Eu sempre disse que o Estado Palestino deve ser criado o mais rápido possível, fruto de uma solução primeiramente política. Com as fronteiras fechadas e definidas (é esse o problema), tudo fica mais fácil de ser tratado, até em nível internacional.
Embaixadas são geralmente abertas nas capitais dos países. Portanto, tirem suas conclusões.
Para a matéria (em espanhol), clique aqui!

ps2: A notícia já é oficial. O gordo Ronaldo visitará Israel e os territórios ocupados no próximo dia 16.
A convite da ONU, o recém-separado atacante participará da inauguração de um centro para jovens na cidade de Ramallah e, à tarde, visitará um projeto de escolinhas de futebol em Herzlya, próximo de Tel -Aviv. Nada que um bom marketing não ajude o "já-não-tão-milionário" jogador.
Aliás, pediram que eu comentasse aqui sobre a separação do casal 20 (20 segundos). O que posso dizer é que trata-se de uma mineirinha bem esperta. Esperta, e agora rica.
Para ler notícia sobre a visita (em português), clique aqui!
Para uma brincadeira do site Kibeloco, clique aqui!

ps3: Coloco aqui no blog o link para um pequeno slide feito por uma organização chamada Teach Kids Peace. Vale a pena assistir e também, se for o caso, dar uma sapeada pela página.
Eles fazem um trabalho bonito.
Para assistir (tenha um pouco de paciência até que abra a página), clique aqui!

ps4: Outra coisa digna de comentário é a tal cúpula entre os países da América do Sul e os árabes.
Apenas ontem, encontrei as primeiras notícias do fórum nos jornais israelenses.
Antes de meter o pau no Lula sobre o "caso Palestina", é preciso que os ativistas judeus entendam que tudo gira em torno de um mal chamado dinheiro. E, mesmo assim, nunca houve nenhum apoio claro e direto que desrespeitasse o Estado de Israel. Pergunto: que país do mundo é contra um Estado Palestino?
Segundo o diretor do Instituto do Oriente Médio em Washington, David Mack, "não é claro (para ele) que os países sul-americanos tenham influência tão grande no conflito, por isso não vejo muito sentido em falarem sobre isso na cúpula". Isso quer dizer que o que o Brasil (e os outros paisecos da América do Sul) acha ou deixa de achar, pensa ou deixa de pensar sobre o conflito, não faz a mínima diferença para o que acontece por aqui.

Não quero comentar sobre algo que não vi direito. Apenas li em alguns sites. Não acompanhei essa cúpula.
Mas, no papel do Lula, o que vocês fariam? Com a possibilidade de godzilhões de acordos comerciais com os árabes e injetar milhões de petrodólares, eu apoiaria até a causa do capeta.
Para ler sobre a cúpula no jornal Haaretz (em inglês), clique aqui!
Para matéria do portal Terra, clique aqui!
Para matéria da BBC Brasil, clique aqui!

terça-feira, maio 10, 2005

Rabiscos de um caleidoscópio

Enquanto isso, em mais um viagem de ônibus por Jerusalém...

O ônibus é o microcosmo da sociedade israelense. É possível ver de tudo.
Em Jerusalém então, nem se fala.
Digo que uma curta viagem de ônibus por aqui equivale à classes de História, Sociologia, Política e Religião. Tudo ao mesmo tempo. E, para complicar, sempre se alterando. Como um caleidoscópio. E fascinante como ele.
Minha professora de hebraico costuma dizer que cada ser-humano em Israel é uma história. Um livro, um filme de hollywood. E nada melhor que o ônibus para perceber isso.

Entro no ônibus e sento no fundo.
Atravesso um bairro de judeus ortodoxos. A impressão que se tem é que passo numa mistura de século XVIII com XXI. Observo pela janela.
Uma mulher religiosa com cara de menina passeia na rua com seu bebê. Elas se casam cedo por aqui. Três barbudos discutem descontroladamente alguma coisa que aposto não ser tão importante. Duas amigas adolescentes conversam sobre amenidades sentadas num banco. O comércio ferve. Não há televisão.
O ônibus arranca, e tudo fica para trás. Até as meninas (duas princesas, por sinal. Aliás, até casaria com uma delas se não fossem religiosas. Ou as duas).

Já estou em outro bairro, próximo à Universidade Hebraica (o destino da minha viagem).
É impressionante como, num piscar de olhos, a paisagem muda completamente. Pode-se observar de tudo num passeio de ônibus em Jerusalém. De judeus ortodoxos à turistas americanos. De árabes à etíopes. De tailandeses à russos.

Acaba de sentar um senhor religioso ao meu lado. Seu terno negro tem um cheiro forte. Não deve ser lavado há pelo menos dois meses.
Tirou um livro do bolso e começou a rezar. Acho que tentou ler o que estou rabiscando aqui. Espero que não entenda essa pergunta.
"Que raios esse homem está rezando às 11h30 da manhã de uma terça-feira dentro de um ônibus lotado?"
Bom, se ele não me bateu até agora, acho que não entende mesmo português.

Já estou chegando na Universidade. É o próximo ponto.O botão para indicar que quero descer está quebrado. Acho que terei que gritar imbecilmente para o motorista daqui de trás. Como todo israelense.

ps1: Para mim não tem a menor importância, mas para os israelenses têm. Então vamos lá.
O time de basquete do Macabi Tel-Aviv ganhou mais uma vez a tal Euroleague. No fim de semana, quase todo o país parou para assistir a um bando de norte-americanos jogando com a camisa do time israelense e massacrando um adversário atrás do outro.
Capa dos jornais, minutos e minutos dedicados nos telejornais. Fui literalmente massacrado.

A parte mais engraçada foi, sem dúvida, a cobertura do canal 5, de esportes.
Logo após a conquista, a tv mostrou o primeiro-ministro Ariel Sharon, de seu gabinete, telefonando para o técnico Pini Gershon.
"Você é fenomenal. Nos trouxe alegria para o Dia da Independência" (que é depois de amanhã).
Putz, Sharon, era só o que me faltava...
Abaixo, a comemoração da torcida no famoso parque Yarcon, em Tel-Aviv. Quem não sabe jogar futebol tem mesmo é que se contentar com basquete...


Torcida do Maccabi Tel-Aviv comemorando!

Para ler mais sobre o título do Macabi Tel-Aviv (em hebraico), clique aqui!

ps2: Hoje à noite começa o dia mais triste do ano para os israelense. O "Yom Hazicaron leChaialei Tzahal" ("Dia da Lembrança dos Soldados do Exército de Defesa de Israel").
É só pra deixar o registro.
Hoje, no Kotel (Muro das Lamentações), farão um grande tekes (cerimônia) em memória dos soldados mortos em todas as guerras, operações e atentados. Estarei presente, e farei o registro.
No dia seguinte, depois de amanhã, é Yom Haatzmaut (o Dia da Independência). Do dia mais triste, passam diretamente para o mais alegre. É boa a idéia.
A cidade já está cheia de bandeiras. Mas, como disse, tudo isso é assunto(e links) para os próximos posts...

ps3: Já está no ar a nova enquete do "Blog do Bean". Dessa vez vou seguir o resultado. Prometo (hahahahahaha!!!!)

sexta-feira, maio 06, 2005

Quando a sirene toca

A primeira parte deste post foi escrita numa pequena folha de rascunho, na manhã de quinta-feira, 5 de Maio.

São 10:15 da manhã. Há quinze minutos, uma sirene pôde ser ouvida de norte à sul do país. Durante um minuto, um longo minuto, seu som ecoou por toda Israel. Sabia que a sirene estava programada para as 10 da manhã.
Caminhava pelo centro de Jerusalém quando a ouvi. Não tive outra reação a não ser parar.
Aliás, todo mundo parou. Motoristas colocaram-se de pé ao lado dos carros. Comerciantes postaram-se em frente às suas lojas. Passageiros desceram dos ônibus. Por um minuto, ficaram em silêncio.

Hoje é "Yom Hashoá veGvurá": o Dia do Holocausto e do Heroísmo.
Nele, são recordados os milhões de judeus mortos na Segunda Guerra: nos guetos, nos campos de concentração, nos campos da morte. Celebra-se também o aniversário do Levante do Gueto de Varsóvia, de 1943.
Desde ontem à noite (quarta-feira), quase todos os canais de televisão israelenses saíram do ar: música, esporte e entretenimento não existiu na tv por um dia. As emissoras que mantiveram a programação, reprisavam filmes, documentários e entrevitas com sobreviventes (aliás, tive que assistir ao jogo do Milan por um canal francês).
Do Museu do Holocausto em Jerusalém (Yad Vashem), foi transmitido ao vivo um bonito e (como sempre longo) ato de Yom Hashoá; com presença do presidente israelense, primeiro-ministro e centenas de sobreviventes. O "Nunca mais" era sempre repetido, em todos os discursos.
Hoje, em Israel, vivem cerca de 250 mil "nitzolei haShoá" ("sobreviventes do Holocausto").

Não posso deixar de dizer aqui que me sinto também um sobrevivente.
Primeiro, pelo fato de meus quatro avós (que Deus os tenha) terem sobrevivido à barbárie nos campos de concentração antes de emigrarem ao Brasil (Auschwitz, Dachau, Bergen-Belsen, Mauthausen, todas essas coisas). Não tenho dúvida de que todas as gerações posteriores são também sobreviventes.
Segundo, por existir um país como Israel.

Sou um dos maiores críticos de todos os problemas daqui; os podres, as sacanagens e as contradições que existem em Israel. Acho que já deu pra perceber isso pelos meus post antigos. Mas, em algumas poucas vezes, dá pra sentir como é especial esse lugar. São poucas, mas é possível.
Ontem, enquanto soava a sirene, arrepiei-me. Pensei não somente nos meus avós. Não somente nos outros seis milhões de judeus assassinados na Europa. Pensei também nesse milagre chamado Israel.


A Sirene toca

Para matéria do JP sobre o ato no Yad Vashem (em inglês), clique aqui!
Para um slide de fotos do novo Yad Vashem, clique aqui!
Para matéria em hebraico sobre a solenidade, clique aqui!

ps1: Na aula, assistimos a um documentário sobre a integração e a absorção dos sobreviventes na sociedade israelense dos anos 40 e 50: os traumas, os problemas práticos e psicológicos. Muito bom.
Apesar de não ter sido esse (e com uma abordagem um poquinho diferente), recomendo aqui um filme (poderia falar de vários).
"O Longo Caminho para Casa", vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 1998.
Narrado por Morgan Freeman, o filme conta a jornada dos milhares de sobreviventes, entre 1945 e 1948, até chegarem à Israel. A produção é do Centro Simon Wiesenthal, instituição especializada no estudo do Holocausto.

ps2: Uma notícia interessante. E estranha.
A polícia israelense prendeu um soldado do país acusado de pertencer a um grupo neonazista. O soldado, morador do assentamento judaico de Ariel, na Cisjordânia, confessou à polícia que era neonazista e disse que odiava o Estado de Israel (vai entender!).
A polícia inspecionou a casa do detido, em cujo carro havia heroína, e apreendeu diversos objetos que o relacionavam com organizações neonazistas no exterior. O soldado, que serve em uma unidade logística do exército israelense, vive com a mãe.
Segundo informações deu uma rádio, quando os agentes chegaram à casa do suspeito, a mãe do soldado também se declarou neonazista e disse que odiava Israel.
Mais ao sul, um adolescente de 15 anos foi detido pela polícia na cidade de Beer-Sheva após confessar que havia pintado suásticas por toda a cidade e de se ter declarado fã de Hitler. E, além disso, a divulgação dessas prisões coincidiu com o Yom Hashoá.

Não tenho comentários sobre isso.
Mas que é um prato cheio para um psiquiatra, psicólogo ou psi-alguma coisa, não tenho dúvidas.
Tudo isso me lembro de um filme, muitos já devem ter visto (e relacionado imediatamente com essa notícia). "Tolerância Zero" mostra a história de um judeu que abraça as idéias neonazistas. O filme é um pouco (um pouco?) pesado, o final é confuso, mas a idéia é muito boa (é uma história real).
Não é o melhor filme do mundo (está longe), mas como curiosidade vale à pena. Abaixo, um frame.


Tolerância Zero


ps3: FINALMENTE!!!!!!! Estou com as fotos da Jordânia e, como não podia deixar, coloco à disposição de vocês (com legenda e tudo). Divirtam-se!

Para ver as fotos de Áqaba, clique aqui!
Para ver as fotos de Petra, clique aqui!
Para ver as fotos de Amã, clique aqui!
Para ver as fotos de Jerash, clique aqui!

terça-feira, maio 03, 2005

Notas de uma coexistência

David Broza é um famoso cantor israelense.
Consagrado, dono de 23 álbuns na carreira e um currículo que inclui também longas passagens pela Espanha. Possui uma história conhecida no que diz respeito a "cantar pela paz". A música Yihie Tov ("Será bom", ou algo parecido) é até hoje apreciada por vários movimentos pacifistas e transformada em expoente dessa luta.

Said e Wisam Murad fazem parte do grupo musical palestino Sabreen.
Nascidos em Jerusalém, os irmãos Murad sempre estiveram ligados à música, compondo e cantando sobre como é viver nos territórios sob ocupação israelense. O grupo, criado em 1980, mistura muitas vezes o inconfundível som árabe com pitadas modernas de pop, rock e jazz.

Juntos, David Broza e os irmãos Murad quebraram barreiras. Juntos, numa canção, pediram paz.
A música, cantada em hebraico e árabe, fala sobre sentimentos bem pessoais. Fala de paz, amor, esperança e convivência.
A faixa "Meu coração" foi levada ao ar pela primeira vez após a cúpula de Sharm el-Sheikh, no início do ano, que reuniu o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
Sua estréia nas rádios foi transmitida, ao mesmo tempo, nos dois locais. Às dez da manhã do dia 27 de Março, uma canção de língua árabe tocou na emissora militar israelense. E uma canção em hebraico tocou na "Voz da Palestina" (que, no passado, já fora bombardeada pelo exército israelense).
Uma rádio espanhola resumiu tudo:

"Que Deus baixe e ore. Que Alá se aproxime e escute. A letra é de uma canção que converte-se em hino; de hino que se converte em símbolo; de um símbolo que apesar dos maus tempos que sem dúvida vivemos, contém amor e esperança."

Apesar de estar em inglês, vale a pena ler uma página especial sobre a parceria. É só clicar aqui!
Abaixo, uma foto da parceria.


Broza e Murad


Para BAIXAR a música (em mp3), clique aqui!
Para ASSISTIR a uma reportagem (em inglês), clique aqui! (vale a pena esperar um pouquinho até carregar)
Para ler mais sobre a música (em espanhol), clique aqui!
Para ler matéria em português (BBC Brasil), clique aqui!
Informações extras (em inglês), clique aqui!
Para notícia no MSN news (em inglês), clique aqui!
Mais informações (em hebraico), clique aqui!
Para ouvir uma música do grupo Sabreen ("O Silêncio da Noite", em mp3), clique aqui!

ps1: Essa história eu já conheço, só que aconteceu em outro país.
Um senhor bigodudo, presidente da Central de Trabalhadores, concorrerá à vaga de líder do partido Trabalhista. (????)
Amir Peretz é o presidente da Histadrut e candidatou-se à liderança do Partido Avodá. Aliás, Peretz é esse simpático sujeito da foto abaixo. Vi uma entrevista dele hoje na tv. O tom de voz e as palavras me lembram um antigo líder trabalhista no Brasil. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Quanto mais eu rezo (e olha que nem rezo), mais assombração me aparece.
Tá cada vez mais difícil ser de esquerda nesse país. Ou em qualquer lugar.
Para ler a notícia no Haaretz (em inglês), clique aqui!


Amir Peretz


ps3: Shigrá. Palavrinha que muitos odeiam, muitos querem fugir. Mas, querendo ou não, é ela que dá um pouco de sentido pra nossa vida.
Essa semana, depois de um longo feriado, retornei à minha shigrá. Odiada, mas importante shigrá. A minha ROTINA.

ps4: E já está fechada a data da minha viagem para a terra das Pirâmides. Cairo e Luxor, lá vamos nós, em junho!!!!
Só pra deixá-los informados, houve um atentado meio esquisito no Cairo essa semana. Bem estranho. Uma bomba explodiu na rua de trás do Museu da cidade, onde ficam as múmias e todas essas coisas.
Mas não se preocupem comigo. Tudo continua muito mais seguro que o Brasil. Sem comparação...
Para ler sobre o atentado que matou uma pessoa e feriu uns três israelenses, clique aqui!
Para ler a notícia em português, clique aqui!