terça-feira, abril 25, 2006

"Niral larrém?"

"Agora vou mudar minha conduta.
Eu vou pra luta pois eu quero é me aprumar.
Vou tratar você com força bruta.
Pra poder me reabilitar!"


Essa é Niral Karantinji.

Nascida em Haifa (norte do país), essa moça de 20 anos foi a grande vencedora do reality show "Hadugmaniot" ("As Modelos"), que escolheu, segundo o slogan do programa, "a próxima modelo de Israel".

A versão israelense de "America's Next Top Model" (uma espécie de "Fama" para modelos) chegou a sua segunda temporada no Canal 10 e garantiu vários pontos de audiência, principalmente no episódio final.

Mas por que raios Niral Karantinji virou pauta no Blog do Bean?
Por um motivo simples: Niral (nascida Nádia) é árabe-muçulmana.

No início, Niral sofreu críticas e problemas da sua própria família. Seus pais, por exemplo, não ficaram muito felizes em vê-la tomando bebidas alcóolicas num dos episódios do programa (o que é proibido para os muçulmanos).
Eles (e uma penca de muçulmanos) também sentiram-se ofendidos ao vê-la de topless num outro episódio.
Abaixo, a moça árabe-israelense comemora o primeiro lugar...



Um produtor do programa, num documentário feito sobre a vitória de Niral, desabafou:

"Não é justo colocar todas as expectativas de uma comunidade inteira nos ombros de uma pessoa.
Se você não gosta do que vê, desligue a televisão. Não veja. Niral representa apenas ela mesma."

Verdade ou não, é importante destacar que Niral teve que "lutar" também contra algumas competidoras (foram 14 candidatas no total).
É o caso da concorrente Mimi Tadesa, uma israelense-etíope que não gostava de Niral e que chegou a chamá-la (bizarra, estúpida e injustamente por sinal) de terrorista.
Abaixo, a foto das rivais.



Mas Niral foi ganhando simpatia, avançando as etapas e venceu!
Por todas as dificuldades, mereceu.

Numa matéria de destaque no jornal Yediot Acharonot, a vencedora foi até "vítima" de um trocadilho.
Ao invés da tradicional pergunta "Nirá larrém?" ("lhes parece bom"?), a manchete veio em letras garrafais: "Niral larrém?".

Para vídeo de Niral Karantinji, clique aqui!
Para o site oficial do programa (com vídeo do anúncio final), clique aqui!
Para mais fotos da vencedora, clique aqui!
Para matéria do Ynet (em hebraico), clique aqui!

ps1: Calma, pessoal! Nada de pânico!
Não me esqueci do Yom Hashoá (o Dia do Holocausto)!
Nem tinha como me esquecer...

Ontem, mais uma vez, as sirenes no país inteiro tocaram por 2 minutos, às 10h da manhã, para recordar os mortos na Segunda Guerra e os combatentes judeus contra os nazistas.
Na terça-feira à noite, um tekes oficial (cerimônia, solenidade, essas coisas) foi realizado no Museu do Holocausto, aqui em Jerusalém, com a presença de várias autoridades (inclusive do presidente Moshe Katzav e do primeiro-ministro Ehud Olmert, na foto abaixo).



Ao invés de escrever mais uma vez tudo que significa o Yom Hashoá e como ele é tratado por aqui, achei bacana colocar o link do post que escrevi há exatamente (ou quase exatamente) um ano, no feriado do ano passado.

De resto, tudo igual.
Cidade quieta, alguns canais de televisão fora do ar (veja abaixo), outros com programação 24 horas sobre Holocausto: filmes, documentários, debates.
Para nunca esquecer. Na marra.



Para assistir um trecho do tekes, clique aqui! (e depois em play)
Para matéria do Haaretz (em inglês),
clique aqui!
Para nota do El Reloj (em espanhol), clique aqui!

ps2:

Separados no nascimento 4 - Terroristas




ps3: Depois de um bom tempo, o Fotolog do Bean está atualizado!
Visitem!

segunda-feira, abril 24, 2006

Post parênteses: O Pelé dos técnicos

"Tiradentes, Tancredo, Telê.
Três mineiros que começam com T.
Os três morreram num 21 de abril.
O primeiro foi um mártir pela Independência do Brasil, que tardou.
O segundo foi um símbolo pela redemocratização e da esperança não cumprida.
O terceiro foi aquele a quem todos nós demos o coração."
Juca Kfouri



Foi-se o Pelé dos técnicos.

Lembro-me quando tinha 12 anos e estava passando férias em Porto Seguro.
Sentando num restaurante na praia com minha família, avistamos o então técnico Telê Sentana sentado com a esposa a algumas mesas de distância.
O coração bateu forte.
Com um sorriso e bom humor, Telê atendia todos os fãs com paciência de Jó.
À mão, um bloquinho e uma caneta bic para os autógrafos.

"Telê, sou seu fã. E atleticano. Volta pro Galo, Telê!"

Ele perguntou meu nome e deu o autógrafo. Guardei-o como um troféu.

Sensacional a frase do jornalista Jorge Kajuru e que resume bem Telê:

"Futebol é muito bonito para quem viu Ronaldinho, Tostão e outros.
Mas fora de campo, futebol é podre.
Telê conseguiu se sobressair sem pegar nessa sujeita.
É como passar 20 anos num chiqueiro e sair sem pegar cheiro de porco".

Telê Santana não daria certo trabalhando em Israel.
Era humano demais...
Descanse em paz, Telê!

sexta-feira, abril 21, 2006

Cuidado! Cães!

"Eu vou embarcar na Estação Primeira
Tesouro do samba!
Minha paixão!
Ê trem bão!"

Quando digo que a sociedade israelense é mais turbulenta e perigosa para o futuro de Israel que os próprios árabes ou palestinos, poucos acreditam.

Prestem bem atenção no cartaz abaixo.
Ele foi fotografado essa semana no bairro ultra-ortodoxo "Mea Shearim", em Jerusalém.

"Sionistas. Cachorros. Duas palavras, um significado."
O cartaz ainda explicita que "o animal sionista não pertence a raça humana"...



Uma fotógrafa, que não quis se identificar, andava pelo bairro quando de repente mirou o cartaz e, palavras dela, "ficou chocada e não podia mais mover-se".
"Me senti numa arena como um cão indesejado que não pertencia àquele local. Senti vergonha e humilhação", contou.

Bizarro, não!? E aí vem o pior: toda essa safadeza é obra de próprios judeus.
Para aqueles que desconhecem, existem vários grupos de "judeus" ortodoxos que não aceitam o Estado de Israel.
O cartaz é assinado pelo mais conhecido deles, os "Naturei Karta" (os mesmos que dançaram nas ruas quando Yitzhak Rabin foi assassinado em 1995, foram até Paris rezar pela recuperação de Yasser Arafat em 2004 e que "vira e mexe" visitam seu túmulo em Ramallah).

Tentando explicar (o inexplicável).
Os "Naturei Karta" (que significa "Guardiães do Muro", em aramaico - para eles, "hebraico" é uma língua sagrada, não pode ser falada no dia-a-dia) são anti-sionistas.

Aliás, mais que anti-sionistas. São mais uma seita de fundamentalistas malucos de cerca de 1000 seguidores sedentos de ódio e que vivem aprontando por várias partes do planeta.

O grupo acredita que Israel é obra do satã e que os judeus não devem envolver-se em política ou luta armada, só em assuntos espirituais (até que chegue Mashiach - o Messias).
Vivem em Eretz Israel, a terra de Israel, porque é mitzvá.
Mas éssa é uma outra história...

O que dizer, por exemplo, da foto abaixo? Chocante?



ps1:

Separados no nascimento 3 - Celebridades



ps2: Eu vivo dizendo que essa terra é bem esquisita.
Dessa vez, quem pisou por aqui foi o "men in black" Will Smith.
Ontem, quinta-feira, visitou o Muro das Lamentações e foi cercada por dezenas de fãs religiosas (para o desespero dos "rabinos-pais" que ficam perambulando no Kotel o dia inteiro. O que será que eles tanto rezam?)

Segundo os jornais, Will Smith colocou um bilhetinho no kotel e cumprimetou um garoto que, naquele momento, realizava sua cerimônia de Bar-Mitzvah.
Para quem quiser tietar, Smith está hospedado no famoso King David Hotel, aqui pertinho da minha casa.
Sem querer ser chato, Jerusalém já recebeu melhores visitas...



Para um vídeo de Will em Jerusalém (AP), clique aqui!
Para ler matéria no Ynet (em inglês), clique aqui!
Para nota do Haaretz (em inglês), clique aqui!

ps3: Israel tem mesmo seus detalhes bizarros.
Vejam a placa abaixo. Ela está por todos os lados em Jerusalém, em várias esquinas de ruas menos movimentadas.

Querendo ou não ela dá margem para várias brincadeiras sobre seu significado...



1) Atenção! Crianças brincando sendo observadas por adultos e atropeladas por automóveis!
2) Atenção! Robinho pedalando em pista dupla!
3) Atenção! Goleiro-máquina evitando mais um gol!
4) Atenção! O primeiro a quebrar o vidro do automóvel ganha um falafel!
5) Atenção! Carro desgovernado ameaça brincadeira de pai e filho!

Alguma outra sugestão?
Deixe nos "comentários"...

ps4: Abaixo, disponibilizo um clip (na verdade, um acústico) da banda que mais gosto em Israel: Hayeudim.
"Os judeus" é uma banda, ao contrário que o nome possa parecer, de rock ´n roll. Pesadinho até.
Liderados pelo casal Orit Shachaf (conhecida como "TT" - "titi") e Tom Petrover (que se conheceram durante o serviço militar obrigatório), o grupo foi criado em 1992 e não demorou a estourar.

Particularmente, gosto muito mais das músicas na versão unplugged. Mais leves, mais gostosas e também mais fáceis de cantar.
Enfim, não é a primeira vez que falo sobre o "Hayehudim" aqui no blog.

A música abaixo se chama "Mechapês Tshuvá" ("Procurando Resposta"), a primeira do show. O refrão é bacana: "como é que eu procuro resposta e não encontro?"
Divirtam-se...




segunda-feira, abril 17, 2006

O Falafel da Morte


A israelense Sonya Levy já se preparava para voltar para casa.
No bairro de Nevê Shaanan, uma área próxima a rodoviária antiga de Tel-Aviv, Sonya caminhava lentamentante em direção a seu carro.
A 25 metros de distância, um quiosque de falafel fervilhava de gente. Hora do almoço. 13h40.
Sonya, 62 anos, finalmente chega em seu carro.
Estava preparada para abrir a porta quando ouviu uma grande explosão.
Imediatamente, um pedaço de carne humana explodiu no vidro de seu automóvel...

Essa é apenas uma versão do atentado terrorista que matou pelo menos nove pessoas e feriu cerca de 70 nessa segunda-feira.
Terrorismo. Quando mais a gente vê, quanto mais a gente escreve, quanto mais a gente fica sabendo... mais fica imcompreensível.

Sentado na frente da televisão, acompanhando o desenrolar dos fatos ao vivo, consegui enxergar o pavor no rosto de algumas pessoas no local do atentado.
A imagem de um funcionário da pequena "lanchonete" sentado na calçada com o avental sujo de sangue é o retrato de um país que convive com esse tipo de barbárie.
Em janeiro, outra explosão no mesmo local (o restaurante de fast-food com o nome de "Rosh Hayir" - "O Prefeito") havia deixado apenas alguns feridos.
Provavelmente, esse mesmo funcionário estava lá.



Dessa vez o bicho pegou.
"A explosão foi muito pior que a anterior, muito maior. Há corpos por todos os lados", relatou Benny Hassidi, uma testemunha.
O "moleque-bomba" de 16 anos (que não penso em escrever seu nome aqui) apareceu num vídeo divulgado poucas horas depois pelo grupo terrorista Jihad Islâmica.

Abaixo, disponibilizo um vídeo que mostra a cobertura ao vivo do Canal 10 cerca de meia hora após o explosão.
Para quem não entende hebraico, vale a pena prestar atenção nas imagens (algumas feitas logo após o atentado através de um telefone celular).



Israel está em alerta máximo.
Segundo fontes militares (que divulgaram a informação nos canais de tv), hoje havia 19 alertas específicos e 80 gerais sobre a possibilidade de ataques terroristas palestinos em todo o país.

Como disse no post passado, Tel-Aviv e Jerusalém estão lotados por causa dos turistas que vieram para Pessach.
Caminhando hoje pela Cidade Velha de Jerusalém, pude ver como tudo está lotado.
Há muito tempo não via a cidade assim...

Tinha algumas coisas engraçadas para postar aqui hoje. Coisa boba.
Mas com a raiva e a tristeza que senti por mais um ato terrorista desprezível em solo israelense, presto solidariedade às vítimas e deixo a comédia para a próxima.



Para notícia do Haaretz (em inglês), clique aqui!
Para nota do Ynet (em inglês), clique aqui! - (em hebraico), aqui!
Para matéria do Jerusalem Post (em inglês), clique aqui!
Para notícia do Portal Terra, clique aqui!

sexta-feira, abril 14, 2006

Cheirinho de Pessach no ar...

"Quando não houver saída.
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma idéia vale uma vida."



A foto acima foi tirada por mim hoje, num supermercado em Jerusalém.

Sim, amigos, já estamos naquela semaninha desesperadora de Pessach. Nada de pão, nada de cerveja, nada de
macarrão. Nada fermentado.
Enfim, tudo casher lePessach...
Não se pode ingerir nada que contenha os alimentos chamados "chamêtz": cevada, trigo, centeio, aveia e espelta (o que é espelta?).

Não que eu cumpra essas coisas. Nem de longe.
Mas entro no supermercado e é isso que vejo. Tudo que é "proibido" não é vendido nos locais convencionais.
Não em Jerusalém. E em outros lugares tampouco.

Na quarta-feira, querendo comer o tradicional shwarma israelí na tachaná merkazit (rodoviária) de Tel-Aviv, deparei-me com uma triste cena (devidamente fotografada): shwarma no pratinho e com matzá amolecida...
Tive que comer. E pelo menos capricharam um pouco mais na carne...



Pessach é uma época diferente em Israel: congestionamentos intermináveis nas estradas, feriado prolongado para as crianças, alimentação mudada.
Sente-se o cheiro do Pessach pelas ruas, e não digo pela comida.
As pessoas se reúnem. Cantam. Os turistas invadiram Jerusalém e Tel-Aviv...

Meu seder de Pessach foi tranquilo, diferente do ano passado (aquele trabalho me matava...).
Passei no Kibutz Lahav, no sul do país, a poucos quilômetros da cidade de Beer-Sheva.
Muita comida, papo agradável, boa companhia e tudo (ou quase tudo) dentro do protocolo. Digo quase tudo porque quem conhece sabe: comemorar festas nesses kibutzim mega-laicos são uma maravilha.
Em Pessach, por exemplo, a Hagadá nem sequer é aberta.
E nada de kipá na cabeça...

Algumas pessoas tinham outros planos para passar o chag ("rrág", a festa).
Como ir a Hebron, por exemplo, a cidade dos patriarcas, local de peregrinação judaica. São vários os grupos religiosos que organizam grandes jantares, colocam cartazes de convite por toda Jerusalém e fazem um fuzuê!
Dessa vez não deu certo.
O clima em Hebron não é dos melhores. Tiveram que cancelar na última hora, como diz o cartaz improvisado abaixo, "por motivos de segurança".
Com certeza, o exército não queria aquela "entra-e-sai" desenfreado de gente maluca numa área tão delicada...



ps1: Não, meus amigos, infelizmente a foto abaixo não mostra os rabinos queimando no fogo do inferno.
Quem (ou o que) queima na fogueira são os alimentos "chamêtz", ou seja, "não-kasher lePessach".
Tudo aquilo que eu expliquei um pouquinho acima.
Tanta gente passando fome por aí...



ps2: Recebi esse vídeo e não entendi nada (ou pelo menos de onde ele veio e qual o motivo).
Parece que é uma brincadeira de alguma empresa israelense mostrando qual a maneira correta de se cortar uma matzá ao meio. Besteirol.
Com um detalhe: a locução é em japonês (parece, pelo menos).
Nada como um Pessach com alegria...



ps3: Finalmente, para os judeus, um chag sameach!
Para os cristãos, uma feliz Páscoa!
Para quem não comemora p*** nenhuma, que pelo menos tenham cuidado nas estradas...
Aliás, por falar em estradas, me lembrei de uma boa história pra contar.
Fica pro próximo post...


quarta-feira, abril 12, 2006

Caminho...

"O post é curto...
Motivo: atraso!"

"Música judaica não serve apenas para judeus."
Esse é o lema do cantor israelense Mosh Ben Ari, 35 anos, hoje um dos ícones da "new generation" da música por essas bandas.

Na verdade, Mosh é mais que um cantor. É músico e compositor.
Esse barbudo nascido na cidade de Afula, no norte do país, é o guitarrista (e às vezes vocal) da famosa banda "Sheva" - aquela mesma da música "Salam".
O Sheva foi criado em 1997 influenciado por sons judaicos tradicionais e um estilo árabe bem típico do Oriente Médio. Sheva foi sucesso no fim dos anos 90 e início do novo século.



Mas foi com um cd solo (seu segundo) que Mosh Ben Ari explodiu (desculpem pelo verbo "explodir". Usá-lo em Israel não é das alternativas mais politicamente corretas).
O álbum "Derech" ("Caminho") levou 1 ano e meio para ser feito. Entre os momentos livres que tinha nas turnês com o Sheva, Mosh compunha suas músicas meticulosamente.
Ele mistura rock, reggae, ritmos cubanos, africanos e uma pitada de hip hop.

Prometo que logo tentarei postar alguma música ou clip de Mosh ben Ari.
Vale a pena ouvir o som leve e cativante!
Abaixo, a capa do última cd... (e uma foto bônus!)


Para artigo (em hebraico), clique aqui!


ps1:
Separados no Nascimento 2 - Personalidades...




ps2: Já que Pessach está chegando, deixo uma palinha (ou seria palhinha) pra vocês.
Um vídeo de rap bem engraçado, mesmo para quem não entende inglês.

E desculpem pelo post corrido! Foi corrido mesmo!
Volto no fim da semana com as novidades de Pessach.
Deixem seus comentários. Aliás, dia 10 o Blog do Bean completou 1 ano e meio de existência!
Parabéns pra nós...

sábado, abril 08, 2006

Uma parábola sobre esperança...

Essa história aconteceu comigo.
De verdade.
É um exemplo de como os israelenses são, apesar de tudo, persistentes.
E nunca, nunca, perdem a esperança...



_ Yerushalaim! Yerushalaim!

Do lado de fora do Aeroporto Ben Gurion, uma fila de vans (as "moniot sherut") forma-se para os passageiros que, a qualquer hora do dia, desembarcam.
Tel-Aviv, Haifa e, principalmente, Jerusalem.
São bem mais baratas que um táxi convencional.

_ Yerushalaim! Yerushalaim!

A van que peguei era confortável. Dez lugares mais o motorista. Aos poucos, ela foi enchendo. Só sairia quando o último lugar estivesse cheio. "Para não dar prejuízo", disse o motorista.
Do lado de fora, continua gritando:

_ Yerushalaim! Yerushalaim!

Uma mulher com pouco mais de 30 anos entrou na van. Parecia apressada para voltar. O motorista continuava tentando arranjar mais 2 ou 3 passageiros.
_ Motorista, não se preocupe, a van vai encher. Logo sairemos.
Passados mais 10 minutos, eis que o grande automóvel branco fica lotado. A mulher não perde a oportunidade:
_ Viu, motorista!? Não disse que enchia? Eu disse que era pra ter esperança!

O dono da van deu uma risadinha e respondeu:
_ É claro que é pra ter esperança! Nós rezamos há mais de 50 anos nesse país... você acha que eu perderia a esperança?

ps1: Diante do sucesso do último vídeo que postei, coloco aqui mais uma propaganda israelense.
Dessa vez, da companhia de telefone celular Orange.
É bacaninha.
Para apreciar o vídeo, é preciso entender a frase que aparece no fim do comercial. Na verdade, um slogan.
"Noladnu lessarrêk" ("nascemos para brincar")...



ps2: Prestem atenção na foto abaixo.
Assustados, Shimon Peres, Ariel Sharon (declarado a poucos dias permanentemente incapacitado) e Ehud Olmert (o primeiro-ministro, na época só um capacho) observam alguma coisa.
Bem séria, por sinal.


O que seria? Votem abaixo:

O que eles estão olhando?

Amir Peretz sem bigode, seguindo o exemplo do Enéas;
Uma jogada do Ronaldinho Gaúcho no telão;
O strip tease de uma senhora septuagenária por direitos aos aposentados e pensionistas;
O líder do partido Shinui (anti-religioso) comendo Matzá com patê de presunto (antes de Pessach);
O quadro de votações da Knesset mostrando que passou uma lei contra a corrupção.



ps3: Serviço de utilidade pública... recebi por e-mail.

O israelense Shai Schwartz apresentará sua experiência única de promover o diálogo em meio à guerra através do teatro durante o Encontro Mundial das Artes Cênicas (Ecum), de 8 a 16 de abril, em Belo Horizonte.

Atualmente Diretor Educacional do Museu das Crianças de Israel, Shai é um dos raros artistas no mundo que utiliza a arte de contar histórias como ferramenta de comunicação facilitando o diálogo entre jovens e adultos pertencentes a diferentes realidades.

Em Israel, ele conduz workshops na localidade de Neve Shalom, onde israelenses e palestinos vivem juntos e é consultor e supervisor do Diálogo Através do Teatro na organização Peace Child Israel, que ensina a coexistência a jovens israelenses e árabes usando o teatro e a arte.

quarta-feira, abril 05, 2006

É assim que funciona

"Não há guarda-chuva
Contra o amor...
O teu perfume quer me envenenar
Minha mente gira como um ventilador!"

Eu reconheço!
Para quem está acostumado a votar numa pessoa, o presidente, supremo líder da nação, fica difícil acostumar-se com essa coisa de listas e Parlamentarismo.

"Em quem você votou? No Peretz? No Olmert?", costumava ouvir.

Não votei em ninguém. Votei numa lista; num partido.
Difícil entender?
Creio que não. Mas difícil acostumar-se...

Para não deixar ninguém boiando ou provocar a "saída em retirada" dos leitores, assim funcionam mais ou menos as eleições em Israel:
Os membros da Knesset (os "chavrei Knesset") são escolhidos por representação proporcional, ou seja, os eleitores israelenses votam para uma lista do partido em vez de escolher candidatos específicos.

Quando entrei na cabine de votação, encontrei uma caixa rasa de madeira dividida em várias partes, cada uma contendo vários papéizinhos das legendas presentes no pleito.
Ao contrário do Brasil, que cada partido é identificado por um número (como o 13 ou o 45, lembram?), em Israel vota-se através de siglas.
Então. Pega-se um desses papéizinhos, coloca-se dentro de um envelope e... pimba! Na urna!
(no meu caso, o papel depositado na urna estava escrito "emêt" - verdade -, a sigla para o Partido Trabalhista.)



Depois é simples.
O número de candidatos de cada partido que chegam para o Parlamento depende de quantos votos a lista do grupo recebe. A única condição é a legenda receber pelo menos 2% dos votos válidos.

Após as eleições, o presidente (que é figura decorativa) outorga (simbolicamente) a um membro da Knesset (o número 1 da lista do partido mais votado) a responsabilidade de formar o novo governo e ser o primeiro-ministro.
Começam, a partir daí, a luta pelas coligações (cenas dos próximos capítulos. Vem por aí cada bizarrice...)
Ah, e como prometi, eis o resultado final (em assentos - são 120 no total)...



ps1: Já que o Blog do Bean está bem "político" nos últimos tempos...

Separados no nascimento...





ps2: No vídeo abaixo, vocês podem perceber como é complicado fazer compras numa loja em Israel.
Trata-se de uma campanha para as "compras on-line".
Para quem vai colocar os pés aqui, é bom ir se acostumando...
Divirtam-se!


domingo, abril 02, 2006

Bote fé no velhinho...

"O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear o que há de bom."

Esse simpático velhinho "não é brincadeira não"...

O ex-espião (e não es-pião) do Mossad não só planejou a captura do nazista Adolf Eichmann, além de ter no currículo o fato de ser persona non grata nos Estados Unidos, ganhar US$ 4.250 mensais de aposentadoria do serviço secreto e ter sido a grande sensação dessas eleições em Israel.
Como diria o famoso jingle de Ulysses Guimarães (e presente no título do post), o velhinho é demais!



Vamos por partes.
Rafi Eitan, de 79 anos, é o presidente do Partido dos Aposentados (Guil, que significa idade, mas é a abreviação de Guimla'ey Yisrael LaKnesset - Pensionários de Israel para o Parlamento), que ganhou nada menos que sete cadeiras na Knesset, quando esperava, na melhor das hipóteses, ocupar apenas uma.
O Guil é, por que não, um PAN que deu certo! (alguém se lembra do nosso PAN - Partido dos Aposentados na Nação?)

Os aposentados, tradicionais eleitores do Partido Trabalhista, decidiram criar sua própria lista para as eleições desse ano por se considerarem marginalizados pelos grandes partidos.
Num país com 750 mil aposentados (entre os 6,8 milhões de habitantes), a lista direcionou seus esforços de campanha para angariar eleitores em asilos, cafés e também junto aos taxistas e motoristas de ônibus.
O Guil (conhecido também como "Guimlaím" - Aposentados) luta pelo aumento das aposentadorias e pela ampliação dos remédios cobertos pelo plano de saúde do governo.

"Vi a proposta dos aposentados na TV e desta vez votarei neles porque não temos nenhum tipo de esperança neste país, os políticos falam e prometem, mas depois sempre nos deixam de lado", lamentou-se uma aposentada em entrevista a um jornal local, que confessou nunca ter ido às urnas.

Abaixo, os principais nomes do partido, da direita para a esquerda: Yitzhak Ziv, Yaacov Ben-Izri, Rafi Eitan e Moshe Sharon.
Os piadistas de plantão (e eu me incluo) já andam brincando que, depois do anúncio dos resultados, uns três ou quatro nomes da lista do Guimlaím já foram substituídos. Motivo: enfarto causado por fortes emoções...



A pobreza já atinge 1,5 milhão de israelenses, entre elas 80 mil idosos, que tiveram os benefícios cortados durante a passagem de Binyamin Netanyahu pelo Ministério das Finanças, ainda no governo de Ariel Sharon."
A princípio, de acordo com declarações do próprio Rafi Eitan, o partido aceitaria fazer parte de qualquer coalizão que se preocupe com sua agenda social - e não se opõe ao plano de de Ehud Olmert para a retirada unilateral dos assentamentos da Cisjordânia.
Segundo o coordenador da companha, Yuval Portal, mais da metade dos eleitores da legenda é jovem!

Resumido e brilhante o comentário da jornalista Daniela Kresch, em artigo do Estado de S. Paulo.

"Se até hoje os israelenses iam às urnas com a segurança nacional em mente, agora priorizam partidos que lutam pelo bem-estar social. Aumento do salário mínimo, diminuição do desemprego, elevação das aposentadorias aos idosos.
Esses são, agora, os temas mais importantes para os eleitores num país onde 1 em cada 3 crianças vive abaixo da linha da pobreza e onde a desigualdade social cresce a olhos vistos.
O conflito com os palestinos não é mais o único tema."

Abaixo, os velhinhos comemorando o resultado...



Vocês devem estar curiosos sobre quem é Rafi Eitan (se não estão, o que eu posso fazer?!).
Em 1960, Rafi era o "cabeça" da operação do Mossad que capturou o nazista Adolf Eichmann na Argentina. Foi, dentre outras coisas, conselheiro pessoal do primeiro-ministro Menachem Begin para assuntos de terrorismo.
Eitan esteve ligado também à operação de ataque a uma usina nuclear iraquiana, em junho de 1981.
Ainda em 1981, assumiu outros cargos de chefia na inteligência.

Um dos casos mais famosos do Mossad tem 100% de relação com Rafi Eitan.
Na década de 80, as tradicionalmente estreitas relações entre EUA e Israel sofreram um duro golpe quando os ianques declararam culpado por espionagem para Israel um judeu-americano de 51 anos.
Jonathan Pollard, ex-analista da inteligência da Marinha norte-americana, foi condenado (e ainda está preso, apesar de vários e constantes protestos em Israel) por vender centenas de documentos secretos a Israel.
Rafi Eitan, na época, assumiu a responsabilidade pela operação.

Não podendo colocar o pé em solo norte-americano, alguns anos depois Rafi deixou a inteligência e foi investir tempo e dinheiro em... não pasmem, Cuba!!!


Para Biografia completa de Rafi Eitan (em inglês), clique aqui!
Para matéria do Haaretz sobre o Guil (em inglês), clique aqui!
Para artigo sobre o partido (em espanhol), clique aqui!
Para matéria sobre os aposentados (em português), clique aqui!
Para ler sobre Eitan e a captura de Eichmann (em português), clique aqui!
Para ler mais sobre Jonathan Pollard (em inglês), clique aqui ou aqui!

ps1: Para não dizerem que o post de hoje está sério e demasia, disponiblizo um sessão de fotos um pouco não-convencional.
A fotógrafa Rachel Papo capturou em suas lentes várias soldadas israelenses (fardadas e armadas).

O resultado é muito legal. Como disse meu amigo Gabriel Toueg, "dá um tom humano e feminino ao tão temido e criticado exército israelense"
A coleção, que se chama Serial no. 3817131, pode ser vista nesse link.
Abaixo, uma prévia...