quarta-feira, junho 29, 2005

Não tem preço

Um falafel na Ben-Yehuda: 8 shkalim.

Uma blusa de apoio à Gush Katif: 30 shkalim.

Um quilômetro da "cerca de separação":
10 milhões de shkalim.

Soldados usando a força para deter ativistas do "marketing laranja":
Não tem preço.


Não tem preço!


Existem muitas coisas que o dinheiro não compra.
Para outras, existe Hitnatkut.
Aceita em todos os países que pensam num futuro promissor...

ps1: Um sujeito caminhando pelas ruas de Teerã, no Irã. Nota-se que é um israelense.
Passa por entre mesquitas, lojas, mercados. De repente, tira o casaco. Na camiseta, o famoso slogan estampado: Kravi ze achí, achí! (Combatente é o melhor, meu irmão).
Ele continua a caminhar. Parece procurar alguém. Chega num boteco árabe, lotado de tabuleiros de gamão. Senta-se e espera. Um homem com trajes árabes (e bigode, lógico) chega por trás. Ele se abraçam e começam a jogar.

Na verdade, tudo isso é irreal. Trata-se de um excelente comercial de televisão da companhia telefônica Barak (013), que agora adentrou no ramo da internet.
A trilha sonora é muito boa, completada pelo olhar curioso das pessoas na rua enquanto o israelense passa. Vale a pena assistir!
No fim do comercial, uma frase, em hebraico.

"Na vida real é ainda impossível,
mas na internet contatos como esse são feitos todos os dias"


Propaganda da Barak


Para assistir ao comercial, clique aqui! (depois onde está escrito 3.53 MB)
Para matéria sobre a propaganda (em hebraico), clique aqui!

ps2: Nunca falei de literatura aqui no "Blog do Bean", né?
Mas tem sempre a primeira vez.
Preferi não terminar de ler o livro para comentá-lo aqui. Por que? Porque o autor é nada mais nada menos do que Amos Oz.
Amos é um romancista como poucos. Ativista de esquerda e morador da cidade de Arad, no sul de Israel, Oz constuma dizer que o "Grande Satã" está personificado no ódio e no fanatismo. De qualquer que seja o lado.
O escritor quase septuagenário já cansou de receber prêmios por todo o planeta.

Oz não tem uma visão romântica da paz, que não deve se confundir com amor. Para ele, o contrário da guerra não é amor. O contrário da guerra é a paz. E isso tem uma grande diferença.
Gosto muito dos comentários de Oz acerca do conflito. Num deles, aponta que um dos aspectos mais trágicos disso tudo é que os palestinos radicais e mesmo alguns moderados não conseguiram, como alguns ainda não conseguem, imaginar o quanto essa pequena região é importante emocionalmente para os judeus; ao mesmo tempo em que os judeus radicais falham em não perceber o mesmo em relação aos palestinos.

Antes que me perguntem, estou lendo a versão em português do seu livro "Al taguidi laila" ("Não diga noite"), emprestado pelo Gabriel. E é impressionante como, na lendo a tradução, consigo imaginar exatamente o que ele teria escrito em hebraico.
Não tenho dúvidas. O próximo livro que lerei de Amos Oz será em original. Sofrendo com o hebraico. E compreendendo ao fundo o que ele quer dizer em cada metáfora. Em cada descrição. Em cada comparação.
Oz é, sem dúvida, o grande maestro da prosa israelense contemporânea.


Amos Oz


Para uma biografia de Amos Oz (em inglês), clique aqui!
Para pequena resenha de "Não diga noite", clique aqui!
Para comprar o livro, clique aqui!

sábado, junho 25, 2005

"Tomara que não, mas vai ter sangue"

Dois senhores franceses conversando no ônibus, ao meu lado

_ E o Sharon?
_ Ah, nem fale. Nem me fale.
_ Como assim?
_ Já recebi o jornal de hoje. Você leu? O dia está chegando.
_ Eu sei. Quem não sabe?
_ Falei ontem com um amigo que está no exército, de reservista. Sua irmã mora em Gush Katif. Você não acredita. Ela disse que vai prender explosivos no corpo. Se a tirarem de lá, ela se mata junto com os filhos.
_ Não, não se preocupe. Não vai acontecer nada.
_ Vai ter sangue. Vai ter sangue. Tomara que não, mas tudo isso vai ter sangue.
_ Vão encontrar alguma alternativa. Tudo isso é política.
_ Sim, eu sei. É política. Mas vai ter sangue. Tomara que não, mas vai ter sangue.

Silêncio...

ps1: De tranquilo passei para a desconfiança. Da desconfiança, para o desagrado. Do desagrado, para a raiva.
Tudo bem, raiva não leva a nada. Mas esse pessoal do "marketing laranja" já passou dos limites há muito tempo.

Fantástica a charge que encontrei outro dia no jornal.
Um religioso numa barraquinha com "produtos laranjas" contra a hitnatkut (desconexão, a evacuação dos territórios). Dentre eles, várias camisetas e bandeiras de Israel com o fundo laranja.
Nas camisetas, frases: "Rabin está esperando Sharon" e "Sharon traidor", por exemplo. Ao lado, um galão de gasolina e pneus (como se o cara já estivesse preparado para ir até Gush Katif para queimar pneus e bloquear estradas".
Eis que chega outro religioso. Um cliente. Quer comprar uma blusa. O vendedor lhe mostra os modelos. Ele não gosta de nenhum. E pergunta:

"Você não tem nada com o Hitler?"


Os religiosos e o laranja


ps2: Noticiou-se por aqui que o canal de tv árabe Al-Jazeera, durante a hitnatkut que comeca em menos de 2 meses, alojará seus jornalistas no kibutz Tzeelim, a dez minutos de Ashkelon, no sul.
A idéia é cobrir todo o plano de desconexão. Segundo o Jerusalem Post, cada habitação terá ar-condicionado, tv a cabo, cozinha e uma área para churrasco. O kibutz conta ainda com um spa, piscina, jacuzzi e sauna.
Vida boa essa da Al-Jazeera...

ps3: A nova menininha dos olhos da tv israelense tem apenas 22 anos.
Atriz (encenou uma peça de sucesso do ano passado, Aladim), está todos os dias a tarde apresentando um programa de nada (mais conhecido como "de variedades").
Hadas Moreno tem mais charme do que beleza. Carismática, fala bem e, o principal, tem uma bela voz rouquinha. Daquelas que não dá pra esquecer...
Ah, antes que eu me esqueca. O programa, que se chama "Clips", passa todos os dias da semana no Arutz (Canal) 24.


Hadas Moreno


ps4: Achei um blog bacana outro dia. Tudo bem que passa um tempo sem ser atualizado, mas vale a pena entrar.
O cara é um carioca do Leblon que mora em Beirute, no Líibano.
Já aviso que não o conheço nem tô fazendo propaganda à toa. Foi porque achei interessante mesmo... do mesmo jeito que é possível entender algumas coisas sobre Israel aqui no Blog do Bean, lá dá pra fazer a mesma coisa com o Líbano.

ps5: Esses dias foi aniversario da minha irmã! Pois é, tá todo mundo ficando velho!!!
Já disse pelo telefone, mas coloco aqui, direto do Kibutz Hatzerim, pra todo mundo saber.

DÉ, PARABÉNS!!!!!!!! BEIJÃO!!! Te cuida aí, hein!!!

quarta-feira, junho 22, 2005

Eu por mim (ou por Bean)

Sou bastante sonhador. Também sou chato; as vezes preguiçoso, as vezes cabeça dura.
Muitas vezes sem paciência, outras nervoso e afobado demais.
Nao faco questao de ser simpatico e amigo de todos. Respeito as pessoas. Mantenho distancia estratagica. Se aproxima quem quer. Ou quem consegue. Gosto quando se aproximam. Eh quase um processo seletivo. Pareco pretencioso? Metido? Talvez!
Principalmente pra maquiar meus medos, insegurancas e incertezas. Eh um mecanismo de defesa.

Estou cansado de coisas superficiais. Por isso, pra me conhecer, tem que se aproximar, observar, interagir.
Pareco varias coisas e nao sou nenhuma delas. Sempre deixo pessimas "primeiras impressoes". Confio nos meus instintos, sou do tipo que cisma com as pessoas positiva ou negativamente.
Odeio gente que tem opiniao pra tudo. Eu tenho opiniao pra tudo.
Aprendi a perder, mesmo que sempre machuque um pouco. Perder ensina muito mais. Ganhar eh complicado. A gente fica de salto alto e se esquece que o jogo ainda nao acabou.
A verdade permanece sendo importante, por isso evito mentir.

Dentre os "elogios" que recebi, incluem algumas vezes que fui chamado de "criança", de "problema", de "mudo", de "maluco" e também de "mau".
De vez em quando quero apagar histórias da minha cabeça. Outras vezes, penso que muita coisa poderia ter sido diferente.

ps1: O melhor resumo da tragedia de ontem foi dada pelo Didi.
"A unica coisa que faltava acontecer em Israel, aconteceu."
Um acidente de trem.

Pelo menos oito pessoas morreram e cento e quinze ficaram feridas no acidente ocorrido ontem no sul de Israel, quando um trem bateu em uma caminhonete.
Liguei a tv a noite e, logo de primeira, vi os escombros. Nao havia legendas.
"Putz, fudeu. Um atentado num trem. Fudeu geral", pensei.
Mas logo a legenda entrou. "Teunat rakevet": acidente de trem.

O trem saiu da cidade de Haifa, no norte, com destino a Beer Sheva, no sul, e no fim da tarde se arrebentou contra um caminhao que transportava frangos, que foi arremessado a 60 metros do local. A causa do acidente, que deixou os tres primeiros vagoes totalmente destrocados, ainda nao foi esclarecida.
Sabe-se que o motorista (ou maquinista, ou sabe-se la como se chama uma pessoa que guia um trem) morreu.
Tudo aconteceu nos arredores do kibutz Revadim, na altura de Ashdod.
Dezenas de vitimas foram levadas para varios hospitais da regiao (em Beer Sheva, Ashkelon, Rehovot e Jerusalem).
Abaixo, "A Tragedia do Trem".


Tragedia do trem


Fiquei sabendo tambem de uma historia bizarra.
Assim que lhe contaram sobre o acidente, uma mulher correu para a frente da televisao. Seu irmao, que eh enfermeiro, estava viajando no trem. Ele estava sem o telefone celular.
No mesmo momento que ela ligou a tv em busca de alguma imagem, instantaneamente apareceu o irmao carregando a maca de um ferido.
Ele estava bem. E ajudando no meio dos escombros.

Alias, as pessoas nao conseguiam abrir os vagoes. Acredita-se que ate a manha de hoje poderiam haver sobreviventes soterrados no meio das ferragens.


Escombros do vagao


Para materia do Haaretz (em ingles), clique aqui!
Para noticia do Jerusalem Post (em ingles), clique aqui!
Para nota do site Terra, clique aqui!

ps2: Eu digo. Nao se pode cochilar um so segundo.
Soldados israelenses prenderam uma jovem palestina de 21 anos num machssom ("marrssom", barreira) em Erez, no norte de Gaza. A mulher entrava em Israel com frequencia para fazer um tratamento medico.

Uafa Al-Bas eh uma mulher doente que de maneira rotineira recebe cuidados no hospital Soroka, em Beer Sheva. Alguns palestinos tentaram se aproveitar de sua condicao para introduzir explosivos em Israel.
Al-Bas teria sido recrutada pela "Brigada dos Martires de Al-Aksa", o braco armado do grupo terrorista Fatah, para realizar um atentado justamente um dia antes do frustrado encontro entre Ariel Sharon e o lider palestino Mahmoud Abbas.
A mulher, que mora no campo de refugiados de Jabalya, levava um cinto de explosivos que deveria ser detonado no posto de controle.
Segundo fontes militares israelenses, os soldados perceberam que a jovem que atravessava todos os dias a passagem de Erez estava se comportando de maneira estranha naquele dia, e a detiveram.

ps3: Vi uma propaganda fantastica outro dia. Um banner, na verdade. Pregado num onibus (como os israelenses gostam de colar coisas na lataria dos onibus!!!!).
Existe aqui um partido religioso chamado Meimad. Religioso como outro qualquer, mas com um detalhe fundamental: sao trabalhistas, dizem-se de esquerda.
Pois bem.
Ontem, caminhando pela rua, avistei o cartaz. Nele, uma grande kipa azul com a borda branca e alguns dizeres.


"Nem todas as kipot sao alaranjadas.
Meimad. Saindo de Gaza. Cuidando da casa."

Entenderam ou preciso explicar?
Hitnatkut, evacuacao de Gaza, marketing laranja, religiosos ... pescaram?
Para materia sobre o banner do Meimad (em hebraico), clique aqui!

domingo, junho 19, 2005

As fotos na terra das mumias!!!

Depois de horas organizando fotos e escrevendo legendas, coloco a disposicao o godzilhao de fotos da minha viagem ao Egito.
Esta tudo dividido por cidades. Clicando nas fotos, eh possivel ler a legenda inteira.
Fora minha familia (que esta obrigada a ver as fotos!!!), para o resto desejo sorte e um pouco de paciencia. Quem chegar ao final ganha um premio hehehe!
O link esta abaixo. Deixem seus recados:

ps1: Alguns curtas da terrinha.
Um funcionario da Autoridade Palestina disse que os territorios teriam sido "inundados com suco cancerígeno" por parte de Israel.
Esse tipo de acusação, comum no passado, acaba de surgir novamente na imprensa palestina. Antigamente, dizia-se que Israel atirava dejetos tóxicos em cidades e povoados palestinos, colocando em perigo a vida da população.
Na semana passada, a mídia local divulgou ainda que Israel usa "cervos selvagens" para destruir as plantações palestinas.
Segundo o Jerusalem Post, um membro do escritório de Ariel Sharon disse apenas que as mesmas mentiras foram publicadas na época de Yasser Arafat.
O tempo passa. As calunias, nao.

ps2: Um joguinho politicamente incorreto. Desse eu gostei.
Destrua a casa dos colonos judeus dos assentamentos da Cisjordania. Mas destrua mesmo. Se for capaz.
Para jogar (e destruir), clique aqui!

ps3: Vale a pena entrar nesse site.
"Campanha para o futuro de Israel". Nao que eu va doar alguma coias (ja doo coisa demais por aqui). Mas eh interessante ver o que acontece em termos de desdobramentos da evacuacao de Gaza. Alias, faltam 57 dias pro inicio de uma das operacoes mais importantes da historia de Israel.
Para dar uma passada de olho nesse site, clique aqui!

ps4: A Secretaria de Estado Americano, Condoleezza Rice, encontrou-se hoje com o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon.
Fora o ja esperado "bla bla bla diplomatico", a unica declaracao interessante de Rice foi no que diz respeito as casas dos colonos israelenses que restaram nos assentamentos de Gush Katif, logo apos a evacuacao.
Segundo a Secretaria, o cowboy-presidente George W. Bush teria aceitado com que essas casas nao fossem demolidas.
Alem disso, ela exigiu (exigiu eh foda, mas eh essa a palavra) que Israel liberte mais prisioneiros palestinos.
Eles nao cansam de querer ditar o ritmo das coisas por aqui. E, pelo que vemos, tem conseguido.


Sharon e Rice

Para noticia do Jerusalem Post, clique aqui!

quarta-feira, junho 15, 2005

No bakshish!!!

No Egito é assim.
Nao importa o que voce faz. Tudo (ou nada) é motivo para que as pessoas te peçam "bakshish".
Desde policiais e guias ate camareiros do trem, todos nao perdem a oportunidade de tentar ganhar mais alguns trocados do turista.
Bakshish significa literalmente "contribuicao", mas pode ser traduzido como "gorjeta" ou tambem "esmola".
Porem, como diria o amigo Jack, vamos construir esse post por partes.

O Cairo.
Cidade que vive num ritmo alucinante e com um transito de deixar qualquer um louco (ou ferido) em menos de 5 minutos. Tudo la e gigantesco. Sao 14 milhoes de habitantes que parecem sair as ruas ao mesmo tempo!
Na sexta-feira a noite, por exemplo, fica impossivel caminhar pelo centro. Um autentico formigueiro humano toma conta de tudo!
No meio do povao, tudo é muito barato. Os precos sao incrivelmente baixos. Como o do copo de caldo de cana, por exemplo, que nao passa de 25 piestras (30 centavos de Libra - um dolar vale cerca de 5,80 libras). Isso quer dizer que um copo de garapa gelada custa por volta de 10 centavos de Real.
Os albergues tambem sao baratos. Pagando entre 20 e 40 Libras, eh possivel dormir bem.



Varios foram os personagens que conheci por la. Um mais louco que o outro.
Mohhamed é um comerciante nato (como 99,99% dos comerciantes egipcios!). Casado com uma norte-americana, viveu por alguns anos em Massachussets e entrou no ramo dos perfumes. Hoje possui um bonito escritorio entre o centro do Cairo e o museu do Egito, onde estao as mumias.
Foi a maior "labia" que ouvi no Egito. Ele eh capaz de vender qualquer coisa para qualquer um. Se pedisse para que vendesse um vidro de areia para um arabe do Saara, nao tenho duvidas que conseguiria. E ainda ganharia bakshish...

Nathan é um dos 120 judeus que restam hoje no Cairo (antes de 1956, eram mais de 2 milhoes). Caminhando pelas ruas da Cidade Velha numa tarde ensolarada de sabado, nao pude deixar de parar quanto escutei um senhor de idade falando "shabat shalom" para mim.
"Nao é possivel!", pensei. Mas era.
Proximo a Sinagoga de Ben Ezra (que na verdade transformou-se num museu, que alias esta sendo reformado), esse senhor conseguiu me proporcionar o momento mais emocionante da viagem.

"Shabat Shalom! Voce é judeu, né?", me perguntou o velho.
"Sim, sou."
"Ashkenazi ou Sefaradi?"
"Sou ashkenazi, senhor."
E com uma voz totalmente empolgante, ele respondeu.
"Eu sou sefaradi!!! Eu sou sefaradi!!!
"Como voce sabia que somos judeus?", perguntei.
"A gente sabe, meu filho. So de olhar".



Azi é dono de um modesto barco a vela caindo aos pedacos que leva turistas (pobres) a passear por algumas horas pelo rio Nilo. Mora num vilarejo proximo a Luxor, na margem oriental do Nilo.
Por baixo da vestimenta arabe tradicional, usava uma camiseta da NBA. No barco, depois de alguns minutos, abriu mao da insuportavel musica egipcia e trocou o cd. Colocou o rapper americano Shaggy.
Azi eh eletrico. Danca, pula, fala alto. Quando escutou as primeiras palavras ditas por mim em arabe, nao hesitou. Comecou a gritar "ele fala arabe, ele fala arabe!", saiu correndo pelo barco e pulou no Nilo.

Hussein é um estudante de Psicologia que tambem mora em Luxor. Educado, com um tom de voz baixo e um ingles melhor que razoavel, Hussein viaja pelo menos tres vezes por semana ate a Universidade de Aswan (a 4 horas dali), onde espera receber o titulo em menos de um ano.
Em Luxor, administra um albergue barato proximo a estacao de trem onde desembarquei.
Durante tres semanas, decorou o "roof" do albergue com latas de refrigerante, tapetes, almofadas e uma infinidade de fotos do Bob Marley.
Encontrei Hussein por tres vezes durante o dia. As tres, totalmente sem querer.
Nao tenho duvidas em dizer que Hussein foi o egipcio mais legal que eu conheci. Dentre varias coisas, nao quis nem pensar em pedir "bakshish"...

A viagem, apesar de todos os contratempos (e nao foram poucos), foi inesquecivel (pelas coisas boas e tambem pelos mil perrengues, por que nao!?). O turismo que fiz nao passa perto de hoteis caros, refeicoes fartas e translados confortaveis.
Andar no meio do povo, procurar lugar pra dormir, pra comer, andar em taxis velhos e batidos... tudo isso me fez conhecer um pouco mais a sociedade egipcia.
Um povo que representa como nenhum outro os varios segmentos da cultura arabe, que vive numa democracia disfarcada e que consegue, dia apos dia, sobreviver em meio ao caos africano.
No proximo post, escreverei um pouco sobre Karnak, o lugar mais fantastico da viagem. E, dentro de alguns poucos dias, disponibilizarei tambem as centenas de fotos (devidamente legendadas).

ps1: Hoje fazem exatos 11 meses que pousei nessa terra.
O que aprendi, vivi, presenciei e experimentei equivalem a pelo menos uns 10 anos de vida no Brasil. Nao tenho duvidas de que hoje sou outra pessoa.
Se algum dia, "chaz vechalila", der tudo errado por aqui e eu tiver que voltar pra casa, ja saio ganhando. Os que me conheciam "antes" terao a oportunidade de conhecer o Bean versao 2.0.

ps2: Uma curta noticia da "hitnatkut", a evacuacao de Gaza.
Todo mundo ja esta careca de saber que milhares de maniacos-direitistas-religiosos-alaranjados pretendem viajar ate os assentamentos de Gush Katif para dar sua colaboracao ao "marketing laranja" e tentar evitar que os territorios sejam evacuados.
Mas, segundo a policia israelense, cerca de 8 mil pessoas ja se voluntariaram para ajudar a retirar os colonos de la.
Abaixo, uma foto do marketing laranja. O que esta escrito no cartaz? "O laranja vencera!"


Marketing laranja


Alias, vi ontem no Canal 2 (o slogan eh otimo; "shtaim ze tamid.... beiachad!!!!" - "Dois pra sempre... juntos!!!) a terceira parte de um documentario sensacional que mostra a vida dos colonos nos territorios ocupados.
De mais legal, uma entrevista com um colono que vive proximo a famosa "Cerca de Separacao" (Gueder Hahafradah), que divide partes de Israel e dos territorios.
No bate-papo com o reporter (que era, na verdade, o veterano ancora do jornal noturno do canal), o colono mostrou como o muro (que custa 10 milhoes de shkalim o quilometro) atrapalha nao so o dia-a-dia dos palestinos (uma mulher que mora do lado de ca, por exemplo, tem que atravessar a cidade todos os dias para levar os filhos ate a escola, que fica do outro lado), mas tambem dos assentamentos.

"Estamos nesse assentamento ha 31 anos", disse o colono. "E, dessa vez, com o muro, estamos tendo problemas em manter nossos agricultores palestinos em nossas lavouras. O governo coloca cada vez mais empecilhos, como se quisesse expulsar esses arabes daqui. Nunca pensamos em expulsar nenhum arabe daqui".

O melhor de tudo. Esse colono se diz "de direita".
A ultima frase da entrevista fechou com chave de ouro.

"Ninguem pensa nas consequencias do muro. Nem nos 10 milhoes de shkalim por quilometro, nem no dia-a-dia das pessoas que moram aqui. Falar sobre o muro eh um tabu. Por que? Onibus explodem e pessoas morrem. Ninguem pode abrir falar sobre o muro. Porque eh 'assunto de seguranca nacional', entende?".

Logo depois, o documentario mostrou o drama de uma mulher que, ha dois anos, perdeu o filho de 22 anos num atentado suicida no centro de Jerusalem e defende com unhas e dentes a Cerca de Separacao.
O recado do Canal 2 (que é ESTATAL) ficou bem claro. Ninguem toca no muro: é assunto de seguranca nacional (!?!?!?!?!?)


O Muro

sábado, junho 11, 2005

Direto do Cairo...

De um cafe internet proximo as margens do Nilo...

Meus amigos, escrevo esse post diretamente do continente africano.
Cairo, Egito. Cidade com um transito totalmente louco e que 50 litros de gasolina custam por volta de 12 reais.
Piramides, esfinge, Nilo, ,museu, centro, tudo regado a buzinas descontrolados, fotos do presidente Mubarak e uma infinidade de taxis Lada preto e branco...

Saindo daqui, passarei no predio da Liga Arabe, nas margens do rio Nilo. Rio que, alias, eh bem bonito.
So uma nota ruim. Na primeira noite de Cairo, dormimos num lugar tao maldito no centro da cidade que me deu alguma reacao alergica. Minhas costas tao irreconheciveis.
Fiquei pensando sobre isso hoje.
Talvez o que esteja me acontecendo eh uma maldicao. Ontem, no Museu do Egito, sem querer (juro que foi sem querer) acabei chutando o sarcofago do Farao Ramses V. Nao vi na hora.
Acho que fudeu. Ele me amaldicoou...
Dou noticias quando voltar pra Terra Santa...

ps1: Hoje a noite, pego o trem para Luxor. Ai, ai... nao aguento mais tomar cano nesse pais!!!!
ps2: Que Allah abencoe os dois anos e meio de arabe que eu estudei no Brasil. Se nao fossem eles, nao quero nem pensar onde estariamos...

terça-feira, junho 07, 2005

A Guerra dos "38 anos"

“E folgarei em Jerusalém, e exultarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro, nem voz de clamor. E edificarão casas e as habitarão; e plantarão vinhas e comerão o seu fruto”.(Isaías 65:19.21)

Ja sao 38 anos de uma guerra que costumam declarar que durou seis dias.
Uma guerra que o mundo acostumou-se a dizer que foi vencida por Israel, que na epoca aumentou seu territorio estratosfericamente.
Uma guerra que pagamos seu preco ate hoje.

Essa semana comemorou-se aqui o "Yom Yerushalaim".
Na verdade, os 38 anos da anexacao (existe essa palavra?) da Cidade Velha e setor oriental de Jerusalem por parte do Estado de Israel.
Minha teoria é simples. A guerra ainda nao acabou. "Guerra dos Seis Dias" significa na verdade "Guerra dos 38 anos". E que pode chegar a 39, 40, 41...

Explico com uma pitadinha rapida de historia.
Depois da Guerra dos 6 Dias, cerca de 300 mil palestinos refugiaram-se na Jordania. Os outros 600 mil permaneceram no que ficaram conhecidos como "territorios ocupados" ou simplesmente por "margem ocidental do rio Jordao".
A cidadania israelense foi dada totalmente aos moradores das colinas do Golan e parcialmente aos moradores de Jerusalem Oriental (ambos os territorios anexados). Os palestinos que ficaram na Margem Ocidental passaram a ser tratados como refugiados.
Jordania e Egito retiraram suas reivindicacoes por Gaza e a Margem Ocidental, respectivamente. Em outras palavras, disseram:
"Israel, agora o problema eh de voces. Se virem!"
Esses 600 mil que ficaram hoje transformaram-se em 3 milhoes. Entenderam o comeco do problema?

Anteontem, cerca de 10 mil pessoas lotaram as ruas principais de Jerusalem para celebrar. A maioria, nao tenho duvidas, de direitistas.
Tudo bem que participaram artistas, dancarinos, medicos, politicos e ate agricultores de "moshavim" vizinhos. Mas a ideia era quase a mesma: vestir suas camisetas alaranjadas e protestar contra a "evacuacao" de Gaza.
Isso quer dizer que esses mesmos que protestam contra a retirada de Gaza, obviamente sao contra a devolucao de Jerusalem Oriental para os palestinos.
A maioria dos israelenses considera a cidade como sua capital "indivisivel e eterna".
Abaixo, foto das comemoracoes de Segunda-Feira na cidade.


Dia de Jerusalem


Capital, sim. Eterna, tambem. Mas indivisivel, nao creio.
Para os que pensam de uma forma um pouco mais sensata (ou simplesmente para aqueles que pensam, e nao seguem apenas "escritos"), ter anexado Jerusalem oriental em 1967 foi um grande erro politico. E numa daquelas famosas cerimonias israelenses, essa frase, dentre outras, foi dita com todas as palavras pelo lider trabalhista Shimon Peres.

"Quem pensa que 240 mil arabes de Jerusalem oriental poderiam ser anexados e ao mesmo tempo a cidade permanecer como uma capital judaica, é tao equivocado quanto aqueles que dizem que é possivel dividir a cidade atraves de cercas e paredes".

E, para tentar resolver grande parte do conflito criado em apenas seis dias de uma superioridade belica gigantesca, passaram-se 38 anos.
Do ponto de vista jurídico, Israel reunificou Jerusalém em 1981 mediante uma lei aprovada pela Knesset (Parlamento), que não foi reconhecida pela "comunidade internacional". (essa expressao "comunidade internacional" eh patetica).
Os governos estrangeiros, com exceção da Costa Rica e de El Salvador, inclusive não reconhecem Jerusalém como capital do Estado de Israel, mantendo suas embaixadas em Tel Aviv.

Ficou famosa a frase do general Moshe Dayan (na foto abaixo), logo apos o fim do embate de seis dias, em junho de 1967.
"A Guerra acabou. Agoram comecam os problemas".
Acho que ele ja previa muita coisa.
Armas ganham guerras. Mas e as consequencias da guerra?
Nao, meus caros amigos. Elas nao resolvem os problemas...


Moshe Dayan


ps1: Ja que esse é o "Blog do Bean", algumas curiosidades nao poderiam deixar de aparecer. Sobre Yom Yerushalaim, coisa rapida...
Para quem nao sabe (eu tambem nao sabia), de 19 em 19 anos as datas dos calendarios tradicional e judaico coincidem-se.
Isso quer dizer, em outras palavras, que a cada 19 anos, a data judaica e a tradicional voltam a se encontrar.
A parte oriental de Jerusalem foi anexada exatamente em 6 de junho de 1967. Portanto, nesse ano comemorou-se o Yom Yerushalaim exatamente na mesma data da reconquista de 38 anos atras!!! (19+19=38)

Outra curiosidade.
Li esses dias um texto bem interessante chamado "O dia em que as barreiras caíram".
Nele, um antigo funcionario da prefeitura de Jerusalem conta como foi a reunificacao da cidade. Apesar dela ter sido reconquistada em 6 de junho, passaram-se mais de tres semanas ate que o Ministro da Defesa Moshe Dayan (o mesmo da foto la de cima) autorizasse a demolicao do muro que dividia a cidade em duas!
O motivo era simples. Ninguem sabia qual seria a reacao das duas populacoes quando Jerusalem fosse reunificada na pratica.

Foi marcada para o meio-dia de 29 de junho a destruicao da cerca que, para quem conhece a cidade, localizava-se a poucos metros da Praca Safra (kikar Safra).
Porem, o entao funcionario da Prefeitura Yaacov Marash ja avistava da janela de sua sala uma grande movimentacao de pessoas nos arredores do muro por volta das 10 da manha. Carregavam pas, martelos e pedacos de pau.
Queriam destruir o muro com suas proprias maos. Queriam fazer historias com as proprias maos. E fizeram.
Da euforia dos judeus para andar pela Cidade Velha e dos arabes por visitar seus antigos bairros tomados por Israel em 1948 (Rehavia, Baaka, Talbie), tudo voltou ao "normal" rapidamente.
O conflito ganhava um novo e importante capitulo...
Abaixo, uma foto do Muro das Lamentacoes (Kotel) em 1967, poucos dias apos ser reconquistado. Nota-se que existia apenas um corredor estreito na frente do Kotel. Logo atras, havia dezenas de casas arabes...


Muro em 1967


ps2: ps1: Voces sabiam que existe mais judeus nos Estados Unidos do que em Israel?
Segundo informacao publicada na edicao de 11 de Maio do jornal Yedihot Aharonot, sao 5 milhoes e 700 mil judeus no Estados Unidos contra 5 milhoes e 260 mil em Medinat Israel.
Isso quer dizer que de cada 480 pessoas no mundo, uma é judia (e da-lhe aula de Estatistica...)
Mais alguns dados. Desses 5.260.000, 3 milhoes e 600 mil sao sabras (ou seja, nasceram aqui) e 950 mil nasceram na ex-Uniao Sovietica.
No Brasil, sao 110 mil judeus (distribuidos em sua maioria entre Rio e Sao Paulo).

ps3: Cento e vinte israelenses foram retirados da Bolivia na tarde de ontem. Parece que o bicho ta pegando por aquelas bandas.
Foi mais uma daquelas operacoes de Hollywood que os governos israelenses tanto gostam. Carros, onibus, taxis (sim, taxis) e um aviao participaram da operacao.
Para ler a materia (em ingles), clique aqui!

domingo, junho 05, 2005

Post Parenteses - O marketing do desespero

De tempos em tempos, aparece aqui no Blog do Bean um "post parenteses".
Nesse, coloco uma foto e alguns comentarios.
Mas primeiro, preciso contextualizar.

Aqui em Israel, existe no exercito o que chamamos de "Miluim". Nada mais eh do que o "servico de reservista".
Todos os cidadaos do pais que fizeram exercito sao obrigados, todos os anos, a cumprir esse "miluim" (sao, na verdade, por volta de 3 semanas de servico por ano ate chegar a determinada idade).
Quem acompanha um pouco de noticias sobre Israel (ate mesmo esse pobre blog ta valendo!), sabe que no segundo semestre ocorrera a "evacuacao" dos assentamentos judaicos de Gaza. O contingente sera grande, e contara com a participacao de muitos soldados em epoca de "miluim"

Caminhando pelas ruas de Jerusalem, deparei-me com mais uma tentativa desesperada dos extremistas de "tocar" a populacao que eh a favor da retirada. Varios cartazes nas ruas. O alvo: os soldados de "miluim" que participarao das operacoes de evacuacao de Gaza. O texto dos cartazes:

"Miluim no verao? Expulsar judeus? Fiquei louco?"

Nada mais eh, como disse, do que mais uma propaganda contra a "hitnatkut" ("evacuacao"). Um marketing (bem feito por sinal) que comecou com aquelas roupas alaranjadas e inundou o pais com slongs (como o "Judeu nao expulsa judeu") e cartazes, alguns muito mais ofensivos que esse abaixo.
Preciso comentar?
Se depender desses loucos, o "problema" dos territorios nao sera resolvido nunca. Temos que pagar o preco. Infelizmente (ou felizmente), nenhum genio ate hoje conseguiu pensar numa solucao para o conflito que nao seja "paz por territorios".
O dia D esta chegando. E o marketing "contra-retirada" continua.
Abaixo, a foto.
Para ver o cartaz sem o feioso que aparece na foto, clique aqui!


ps1: Hoje eh Yom Yerushalaim ("Dia de Jerusalem"). Nao e feriado, mas a cidade lota de shows, festas, desfiles, fogos. Prometo tentar escrever alguma coisa no proximo post. Esse "parenteses" ja ficou grande demais. E mais uma vez me desculpem pela falta de acentos.

sexta-feira, junho 03, 2005

Curtas depois da pane

Post escrito (sem acentos) dos computadores da Michlelet Hadassa...

Para alguns a noticia ja foi dada. Para o resto, eis o problema.
Meu computador encontra-se em estado de coma profundo e com risco eminente de morte cerebral em algum hospital da regiao metropolitana de Tel-Aviv. Serao duas semanas de tratamento intensivo.
Nao tenho duvidas de o que atacou o pobre coitado nao foi um virus. Foi cancer.
Durante varios meses, seu estado so piorou. Aos poucos, funcoes vitais simplesmente deixaram de existir. Apesar de tudo, nos ultimos dias, ele melhorou surpreendentemente. Ficou rapido, agil, cheio de vida.
Mas a alegria durou pouco. Exatamente tres dias depois, entrou em coma.
Nao tenho duvidas: o cancer tambem ataca os computadores.

Ta, deixemos de besteira.
Muita coisa aconteceu por aqui nos ultimos dias. Por isso, farei um post um pouco diferente. Tentarei atualiza-los atraves de alguns curtas. Pode ser?

(*) Ontem alistei-me no exercito. Sim, isso mesmo. Forcas de Defesa de Israel.

Foi uma bateria de perguntas, entrevistas, exames, testes, provas. Tres horas dentro de um prediozinho bem antigo, que do lado de fora poderia muito bem ser confundido com um quitanda. Ali, antes de abrir, fiquei sentado num banco com o Gabriel lendo historinhas do Cebolinha. Acho que nao faco isso desde os 10 anos (ler historinhas, nao alistar-me...)

Destaque para a minha "entrevistadora". Uma soldadinha de 18 anos, linda, loira com os olhos cor de mel. Acho que ali eu responderia o que ela quisesse. E foram varias as perguntas.

"Carlos, o que voce gosta de fazer no seu tempo livre?"
"Ih, depende. Faco tal, tal, tal e tal coisa. Mas quando tenho tempo livre mesmo, viajo pra Hatzerim"
"Nossa, mas eh longe"
"Longe nada, sao duas horas de viagem. Esqueceu que eu vim do Brasil?"
"E verdade, mas pra mim e longe!"

Nessa, 540 mil respostas vieram na minha cabeca. Como eu queria nao ser timido...

(*) Tres quartos da reserva ecologia e arqueologica de Ein Gedi, no sul do pais, foi vitima de um incendio nessa semana. O lugar (nao existe um pacote turistico em Israel que rode o pais e nao passe por Ein Gedi) eh bonito. O melhor comentario foi o do David, via messenger, logo apos receber a noticia por mim.
"Putz, entao mais deserto!"

Para a noticia do incendio (em ingles), clique aqui!
Abaixo, a famosa cachoeira de Ein Gedi.


Ein Gedi

(*) A vida e feita daqueles pequenos momentos que nos fazem aterrissar e perceber onde estamos, o que fazemos.
Ontem, saindo do lishkat guius (o alistamento), deparei-me com uma cena sensacional. Fez-me, mais do que as horas que passei la dentro, sentir-me em Israel.
Um senhor bem idoso caminhava pela rua com duas sacolas cheias de frutas e verduras (saia, provavelmente, do mercado Machane Yehuda, a dois quarteiroes dali). Ele andava cambaleando, com as duas maos enfaixadas e uma calca bem velha. Parecia ser um senhor bem pobre, quase um mendigo.
E estava bebado, muito bebado. Caminhando sem coordenacao alguma, cantava em voz (muito) alta uma famosa cancao liturgica judaica.

"Lechaaaaa Dodiiiiii, lecha dodi licrat kaalaaaaa...."

Nao tive outra alternativa a nao ser quase desabar no chao de tanto rir. Perdi ate o folego de rir. E acho que nunca me senti tao presente em solo israelense quanto ontem... eh cada uma que eu vejo.

(*) Alias, por falar em rir, descobri que em hebraico existe a expressao "rolar de rir", igualzinho ao portugues. "Itgalgalti metzrrok", diria eu.

(*) Uma noticia um pouco mais seria. Tomou posse o Ramat'kal de numero 18 da historia do Estado de Israel. Explico.
Esse cargo esta, sem duvida, entre os tres mais importantes do pais. Teoricamente, esta abaixo somente do Primeiro-Ministro e do Ministro da Defesa. Porem, ao contrario desses dois, nao se trata de um cargo politico (pelo menos no sentido comum de "politica" que a gente costuma usar).
O Ramat'kal eh o chefe das Forcas Armadas. Cumpre, necessariamente, carreira militar.
Dan Halutz foi um nome de consenso. Nao e preciso relembra-los que em agosto comeca toda a operacao de hitnatkut (a evacuacao) de Gaza e, segundo Halutz, tudo devera ser feito "com a maxima sensibilidade, mas seguindo a resolucao requerida".

O que sempre me deixa com a pulga atras da orelha eh que nehum dos dois lados nunca tem a ficha limpa.
Halutz esteve envolvido num episodio ainda pouco esclarecido, ocorrido em julho de 2002. Nessa epoca, um aviao lancou uma bomba de uma tonelada num predio de edificios na cidade de Gaza. A operacao foi tida como "de sucesso", ja que matou Salah Shehadeh, um dos lideres do grupo terrorista Hammas.
Alem dele, quinze civis morreram e mais de 150 ficaram feridos.
Halutz foi acusado por alguns de uso excessivo de forca. Alias, nao eh preciso matar uma barata com uma granada. Nem menos um terrorista com uma bomba de uma tonelada... (tudo nas suas proporcoes, ne!)


Dan Halutz

Para materia sobre Dan Halutz (em ingles), clique aqui!
Para materia em espanhol sobre o novo Ramat'kal, clique aqui!
Para uma pequena biografia de Dan Halutz, clique aqui!

(*) E dentro de apenas alguns dias darei inicio a mais uma jornada por esses cantos do mundo. Na proxima quinta-feira, partirei para alguns dias de exploracoes e historias bizarras no continente africano.
Egito, o meu destino. Mais especificamente, as cidades de Cairo, Aswan, Luxor, Karnak e talvez Alexandria.
Em breve, mais um capitulo do "National Geographic Bean".
Abaixo, uma parte do meu roteiro. Um lugar que sempre quis conhecer: os templos egipcios de Luxor. (as mumias que me aguardem, o Bean esta chegando...)


Luxor, no Egito