domingo, outubro 31, 2004

Duas torcidas unidas!

Sábado, 20h30. Na Praça Rabin, em Tel-Aviv, milhares de pessoas recordavam os 9 anos do assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin. A saudade, a tristeza e a esperança de dias melhores permeavam as mentes e as expressões de todos.
Mas convenhamos, preferi fazer um programa mais divertido, menos melancólico. O que seria melhor do que ir a um estádio, assistir um futebolzinho, hein???
Lá estava eu no Estádio Municipal Teddy Kolek, em Jerusalém. O jogo prometia, era um clássico: Betar Ierushalaim X Maccabi Tel-Aviv. Campo cheio, torcida gritando, ai que saudade!!!
O jogo foi quente, o Betar ganhou por 2 a 0 (pra alegria do Naresi, que com saudade do seu Guarani também vibrava na arquibancada). A qualidade do jogo foi péssima, um bando de perna de pau, uma pelada de quinta categoria... muito pior do que aqueles jogos do América contra o Mamoré ou a URT. Muito pior.
As duas torcidas tinham seus gritos de guerra, a maioria deles clamavam contra o rival: "Eu odeio o Hapoel", por exemplo, era uma das coisas que gritava a torcida do Maccabi.
E tem outra coisa. Aqui, futebol também se mistura com política. Existem os times de direita, de esquerda... o Betar é um típico clube em que seus torcedores são de direita, votam basicamente no Likud e suas variações, aquela coisa toda....
E foi quando, de repente, as duas torcidas se uniram num grito só, e o estádio quase veio abaixo no coro: "Arafat olech lamut! Arafat olech lamut!" (Arafat vai morrer! Arafat vai morrer!).Comecei a rir, foi a única reação que eu tive. E gritei também.
Espero que a morte dele (já vai tarde) traga esperança tanto para israelenses (que querem alguém pra negociar) quanto para os palestinos (que querem dinheiro, comida e trabalho, devem estar cansados de ver metade da grana da Autoridade Palestina sendo depositada todo mês na conta da esposa do Arafat, em Paris).
É, não só a política israelense é bem peculiar. O futebol também!
ps: aqui em Israel me simpatizo pelo Hapoel Tel-Aviv, apesar de nunca ter ido em nenhum jogo deles... é difícil torcer para um time (de esquerda) aqui em Jerusalém, uma cidade quase toda de direita (o Hapoel Ierushalaim disputa a Segunda Divisão...)
ps2: para ler a notícia sobre o jogo de ontem em hebraico, clique aqui!

sexta-feira, outubro 29, 2004

Polícia... (para quem precisa?)

Nunca tive problemas com a polícia (Deus me livre), e quero continuar sem ter. Fora o dia que atropelei involturariamente uma garota de 16 anos na Av. Francisco Sá, em Belo Horizonte, não me lembro de nada do gênero que lembre o que aconteceu nos dois últimos finais de semana aqui.
Semana passada, em Tel-Aviv, caminhava às 5h30 da manhã por algum lugar da cidade, sozinho e de óculos escuros, quando fui parado pela polícia (é lógico que eu ia ser parado). Me perguntaram altas coisas, pediram documentos, me mandaram entrar no carro. Hi, pronto, me fudi...
Que nada, os malucos me levaram pra perto da casa onde eu tava dormindo. Literalmente resgataram um louco da rua (eu!).
Ontem, aqui em Jerusalém, foi mais engraçado. Foi aniversário de alguma inglesa ou sei-lá-o-quê, tinha uma galera na balada. Cheguei mais tarde com o Juliano, o Naresi e o Schumacher. No fim das contas, foram pagar a conta (nós 4 não consumimos nada) e faltavam uns 600 shkalim (135 dólares). O Naresi foi tentar ajudar, ficou discutindo na porta do pub. Eu tava lá, só de butuca. Quando nos demos por si, o povo tinha ido embora, fugido, ficamos nós quatro lá. Começou a confusão, a polícia chegou e disse que não podíamos ir embora até que pagássemos a conta. Porra, não bebi nem água da torneira lá dentro!!!
Cárcere privado no meio da rua, foi o que aconteceu. Depois de uns 20 minutos, voltaram algumas pessoas que realmente tinham consumido. E nós lá, esperando pra sermos levados pra delegacia. Resumindo, dois americanos bancaram o que estava faltando, fomos liberados e hoje o pau vai quebrar aqui quando os dois forem tentar receber a grana da galera que não pagou (ou pagou, sabe-se lá, não quero nem saber!).
A história é meio complicada, mas foi mais ou menos isso que aconteceu. No fim das contas, tô me acostumando a conversar com policiais, o que não é ruim. Aqui eles não te batem, não querem extorção, não colocam arma na sua cabeça. É tranquilo.... eles querem ajudar. Mas, mesmo assim, o máximo de distância que eu puder ficar de Polícia, agradeço. Mesmo na Terra Santa...
ps: Abalou a gente aqui a morte do jogador Serginho, do São Caetano. As imagens são chocantes, vi pelo
site Terra. Amanhã vou num dos clássicos do país: Betar Ierushalaim contra Macabbi Tel-Aviv. Prestarei lá, no campo de futebol, minha homenagem....
ps2: O Arafat tá nas últimas. Na quarta-feira, teve um colapso e foi internado.
Foi removido de Ramallah para França, onde será tratado. Falam aqui de Câncer e até de Leucemia. Abaixo, uma foto do Papai Smurf!

Para notícias do Arafat, em hebraico, clique aqui!
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Pequeno perfil, em português, clique aqui!
"Think Again - Yaser Arafat", clique aqui!

quarta-feira, outubro 27, 2004

Um dia escolhido a dedo

Lembramos hoje de um herói, um cara que desafiou meio país por um ideal. Um soldado, que com o passar dos anos transformou-se num soldado da paz. Fazem 9 anos que um maluco judeu assasinou o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, após uma manifestação gigante à favor da devolução dos territórios. Seu discurso, naquela noite de sábado, entrou pra história.
Ontem, por obra ou não do destino, o Estado de Israel deu mais um passo da caminhada iniciada por Rabin. Foi aprovada no Knesset, por 67 fotos contra 45 (e 7 abstenções), a lei que se baseia o programa de retirada das colônias israelenses dos territórios ocupados em 1967, a começar por Gaza.
O país hoje borbulha como uma caldeirão,e nenhum dia seria melhor para reverenciar a memória de Yitzhak Rabin como hoje.
No sábado à noite, estava em Tel-Aviv e resolvi ir até a Praça Rabin, o local onde ele foi assassinado, e que existe um monumento e várias homenagens à ele. Era noite, umas 10 horas, estava vazio. Lia alguma coisa na parede quando vi subindo as escadas um homem e uma criança de uns 5 anos.
- Por favor - disse eu. Sou um novo imigrantel, estou lendo isso aqui e tem uma palavra aqui que não entendo, o senhor poderia me ajudar?
Nem lembro mais que palavra era, mas aquele homem me ajudou. Continuei:
- Vim do Brasil, moro em Jerusalém e só estou passando o fim de semana aqui. Não dá pra vir à Tel Aviv sem visitar esse lugar..
Ele respondeu:- É, eu moro no norte e também estou passando o fim de semana aqui. Não pude deixar de trazer meu filho pequeno para que ele conhecesse...
Bixu, me arrepiei. Contando a história depois pro Gabo, ele resumiu o que eu sentia e não conseguia explicar: "Se cada pessoa nesse país passasse 10 minutos lá com seus filhos como passou esse cara, teríamos um país bem melhor." Não tenho dúvidas...

terça-feira, outubro 26, 2004

Política via mídia

Sair ou não de Gaza? E como sair?
Nos últimos dois dias, o país tem parado para assistir, manifestar e discutir o programa de "hitnatkut" (desconexão) do primeiro-ministro Sharon. Ontem, travou-se mais um round.
Cheguei na Knesset (Parlamento) umas 7 da noite, junto com o Naresi (que é de direita, estava lá porque aceitou meu convite). Estava programada uma grande manifestação da esquerda israelense, com direito a discurso do Shimon Peres, justamente no momento em que o pau quebrava lá dentro (eu não assisti, mas teve gente que viu pela tv à tarde e disse que o Peres fez um discurso espetacular).
A porta da Knesset estava realmente cheia, isso não posso negar. Mas o que se viu, mais do que um ato político, foi um ato midiático. Um show, um espetáculo da mídia... não para tentar influenciar a opinião dos membros da Knesset, e sim entrar com um link ao vivo para o jornal da noite. Antes de começar, um louco chegou no microfone e pediu para que as pessoas que seguravam bandeiras lá atrás fossem mais pra frente, para aparecer bem na tv (pffff....).
Tudo bem, me senti a vontade lá (não é a primeira nem a última manifestação da esquerda israelense que eu participo, aplaudindo discursos e ganhando adesivos e mais adesivos), mas esse joguinho "político" uma hora cansa.
Hoje é o dia D, a votação na Knesset. Espero que votem pela retirada de Gaza, mas não só por isso. O problema, na minha opinião, não é sair ou não de Gaza. Tem que sair, aquele território não é nosso, ninguém quer ver mais soldados morrendo lá. O problema é como sair, se com ou sem skem (acordo), em quanto tempo. Porque vai sair, é uma promessa do Sharon pro Bush. O que não é possível é decidir sair sem um programa sério e detalhado, o que dizem que a "tochnit hahinatkut" não é.
Um dos maiores boatos da história de Israel é o que diz que a Guerra dos Seis Dias durou 6 dias. Ela já dura 37 anos!

Essa é a capa do jornal Yediot Acharonot de hoje, terça-feira. Em letras garrafais, a manchete: A DECISÃO.Vou tentar traduzir aqui procês mal e porcamente as partes mais importantes, ok? (para quem quiser ler a notícia via portal Terra, clique aqui!)

O Discurso - Sharon: "É a hora do destino de Israel. Em toda vida não sabia dessa decisão tão difícil. A ´desconexão` (retirada) irá nos fortalecer. Nenhuma espada sozinha vai decidir a luta nesse país"

O Drama - Netanyahu pressiona Sharon para aceitar o Plebiscito, mas espera-se que ele vote à favor (da retirada).

A Votação - À noite, às 20h, espera-se que a Knesset receba a decisão histórica. 65 membros da knesset apóiam a retirada de Gaza; 59 votarão contra.

Pesquisa - 65% à favor da retirada, 26% contra.

domingo, outubro 24, 2004

Essa é A cidade!!!

Meus olhos ficaram perdidos na primeira noite desse fim de semana que passei em Tel-Aviv. Não sabia pra onde olhar. Tel-Aviv é mesmo um outro mundo, um outro planeta. Vou dar dois exemplos.

O primeiro já é logo o da foto aí em cima. Na sexta-feira, milhares de pessoas lotaram a orla para o já tradicional "Love Parade Tel-Aviv". De homossexuais a drag-queens, de bêbados e drogados a turistas, via-se de tudo no calçadão... Caminhões de som passavam pela praia, na maioria das vezes com propaganda de alguma boate,com DJ de música eletrônica e dezenas de gostosas rebolando em cima dele... lembra até uma tentativa de trio elétrico. Atrás dos caminhões, viam centenas e mais centenas de, vamos dizer, foliões.

A "Love Parade" durou de 1 da tarde até umas 6 ou 7, mas acabei saindo mais cedo por causa de um churrasco que estava programado. Mas era cada peça rara que apareceu por lá que não dá pra esquecer (um cara de cueca dançando embaixo de uma mangueira, um beijo apaixonado entre duas loiras cinematográficas e um mulher oferecendo cerveja pro segurança da Embaixada norte-americana, que fica na avenida da praia. O segurança fez um gesto de "infelizmente não posso", e a mulher um de "que pena").

O segundo exemplo é tão surreal quanto. Estava com o Hofnik na quinta à noite, fomos a uma barraca comer um sanduíche. A barraca, que não fica na praia (e sim na rua Ben Gurion), tinha um som alto e três mulheres dançando e servindo ao mesmo tempo (uma tinha várias tatuagens gigantes e, convenhamos, era uma princesa). Uma outra com aquela típica cara de israelense começou a fazer meu sanduíche (á minha moda, disse ela), perguntou que idioma estávamos falando e como se diz "oi" em português. Depois, na maior cara de pau e com as mãos cheias de queijo e presunto, perguntou. Como se diz "cus"? Eu disse "o que"? Ela repetiu: "cus", apontando pro seu órgão genital. Sem dó, respondi. "Buceta. Bu-ce-ta.". E ela "aahhh, buceta...", continuando a montar o sanduíche.

Tel-Aviv é assim. Na mesma quinta à noite, visitei o Museu de Arte de Tel-Aviv, aquelas pinturas e esculturas contemporânes meio estranhas, cheio de interpretações. Era um dia de visita de graça, estava lotado, até um show rolou lá dentro (um cantor chamado Ivri Lider). Tel-Aviv é o oposto de Jerusalém. Agradeço por enquanto por viver em Ierushalaim, porque se estivesse lá seria difícil estudar, trabalhar, me concentrar em qualquer coisa séria. Tel-Aviv é A cidade. Vocês me entendem, né?

ps: depois vou colocar o link com as fotos do fim de semana, ok?

quarta-feira, outubro 20, 2004

Teste para a Democracia

A bola da vez aqui em Israel agora é a tal retirada que o primeiro-ministro Sharon quer fazer de Gaza. Tudo isso está gerando muita discussão aqui, inclusive o tal Plebiscito que tanto se fala. Vou tentar explicar, o bicho tá pegando.
Pelo que li hoje no jornal, a idéia do Sharon é retirar as tropas e as 21 colônias israelense de Gaza até o fim de 2005, no que é chamado aqui de "tochnit hahitnatkut" (algo como "programa de desconexão"). Desde o início, Sharon se opôs à realização de um plebiscito que diria se Gaza deveria ser desocupada ou não. Mas boa parte dos membros do seu partido, o Likud, e dos próprios colonos querem a realização do plebiscito popular.
Nisso, vieram os problemas. O primeiro deles é que nunca foi feito plebiscito algum em Israel, não existe legislação própria pra isso, e muitos advogados estão indo aos jornais dizendo que não é possível fazer isso de um dia para o outro. O segundo obstáculo seria qual tipo de plebiscito realizar: o chamado "chaiv" (que o governo deve seguir o que for escolhido) e o "iaetz" (que seria só para o governo saber a opinião do povo).
Sharon não quer nenhum dos dois, talvez porque a maioria da população aqui seja contra a retirada e ele perderia bastante poder político, talvez até caísse. Por enquanto, não existe maioria no Knesset (Parlamento) para que seja aprovado um Plebiscito (das 120 cadeiras, ate agora 53 apoiam a realização do referendum).
As manchetes dos principais jornais de hoje falam sobre uma pressão muito forte que está sendo feita em cima de Sharon para que ele apoie o Plebiscito.
Eu ainda não tenho opinião formada, acho que tudo isso são manobras e mais manobras políticas. É tudo um jogo, um duelo de forças. O mais forte hoje, que pode não ser o mesmo de amanhã, sai vitorioso. Eu, um mero cidadão israelense, estou pronto pra votar...
ps: amanhã vou pra Tel-Aviv passar o fim de semana (praia, churrasco, também sou filho de Deus...!!!) Por isso só devo voltar a postar no domingo! Um bom fim de semana pra vocês!!!

terça-feira, outubro 19, 2004

Filme de arte, não de guerra

Tudo bem, eu reconheço, não tava com saco pra estudar hebraico hoje. Sem problemas, lembrei que tinha gastado 50 shkalim outro dia pra comprar um filme israelense... boa oportunidade também pra treinar o hebraico (com uma grana dessa, seria bom ele servir pra alguma coisa).
Muitos conhecem o filme, chegou a passar no Brasil e a ganhar prêmios pelo mundo. "Kippur", do "requintado" diretor Amos Gitai, foi o programa da tarde. Um filme lento, angustiante, chato até, mas que mostra a Guerra de Yom Kippur de um ângulo nada convencional, diferente de qualquer "Resgate do Soldado Ryan."
Não é um filme de guerra, não é um filme de história, é um filme de arte. Pelo menos essa foi umas das coisas que consegui tirar. Marcelo Hessel, do site Omelete, foi preciso no seu comentário, peço licença pra copiar um pedacinho:
"Quatro soldados israelenses, incumbidos de uma missão de resgate, tentam carregar um homem ferido. Mas, presos até os joelhos num charco de lama, não conseguem se mover. Durante cerca de cinco minutos, a câmera não sai do lugar, assim como os soldados. O único som ouvido vem das bombas e dos tanques que cruzam o fundo da paisagem."
Sendo breve: é um filme nada comum, se você não gosta não perca seu tempo, ou melhor, passe longe. Longe mesmo, senão vou acabar sendo xingado. Mas taí a dica, pra quem quer conferir o trabalho do Amos Gitai e, quem sabe, treinar um pouquinho de hebraico. Ah, e antes que eu me esqueça: Ana, meu blog não é de filmes, ok? Não quero competir com você, hehehehehe....



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   Para biografia de Amos Gitai (em inglês), clique aqui!

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   Para entrevista com o diretor Amos Gitai (em português), clique aqui!







segunda-feira, outubro 18, 2004

Paixão e decepção na Terra Santa

Putz, acho que o título desse post é meio propaganda enganosa. É que não quero falar de nada específico daqui, e sim de algo que tem a ver com o Brasil. Falo de uma das minhas paixões, que aqui em Israel tem se mantido tão forte quanto (ou talvez até mais).
Ah, Galo, até quando??? Eu, um pobre atleticano do outro lado do mundo ouvindo a transmissão pela Rádio Itatiaia, vibrava ontem antes do jogo começar. A vinte minutos do apito inicial, escutava a torcida que lotava o estádio Independência cantando o hino do glorioso. Vibrava, vibrava muito!"Ouça o canto da massa alvinegra", disse o Willy Gonser. O repórter João Vítor Xavier foi mais além. "É emocionante, a torcida fica toda de pé...". Meu Deus, o que estou fazendo aqui?
Eu, sem poder ajudar o time como mais um grito vindo da arquibancada, escutava. E vibrava. "O que é isso que as pessoas estão cantando?", perguntou um turco que estava sentado do meu lado, na sala de computador. "É futebol, meu velho. Vocês não sabem o que é isso".
O resultado todos já sabem, o galo tomou de 5. Mas isso é o que menos importa. O mais engraçado é, depois de um tempo longe do meu país, descobrir quais são realmente as coisas que me fazem falta, as minhas paixões, as minhas saudades. O meu Galo, sem dúvida, é uma delas: Deus no céu e Galo na terra...
PS1: Às duas da manhã estava jogando bola no gramado aqui atrás do prédio, 5 brasileiros e um inglês. Fiz um gol, o que nem o Galo conseguiu fazer... Que fase!!!
PS2: Hoje é aniversário de uma pessoa muito querida que ficou no Brasil, um amigo tão sensacional que o considero como um irmão. Theo, meu brother, felicidades pra você; muita cachaça, muito sushi, muitos aparelinhos eletrônicos e muitas gargalhadas. Sinto sua falta (credo, ficou meio gay isso...) Hoje também é aniversário da KK, mando daqui um feliz aniversário, muito sucesso e que todos os seus desejos e vontades se realizem!

domingo, outubro 17, 2004

Demonização do Islã... ao vivo!!!

Muita gente fala sobre fanatismo, ultra-direitismo e essas coisas mas só dá pra entender o que é isso realmente quando se está frente a frente com uma pessoa assim. Aconteceu hoje comigo no almoço... o pau quase quebrou, ia ser muito engraçado.
Estava almoçando no refeitório com um espanhol, um americano e um finlandês, quando reparei na mesa que estavam sentados os brasileiros. Nela, o Juliano tinha uma kfyah na cabeça. Tava cômico, todo mundo passava e dava uma risada... a kfyah era do Gabriel, que tinha comprado ontem.
De repente, levantou-se de uma outra mesa um sujeito bem nervoso, bufando, chegou perto e mandou o Juliano tirá-la da cabeça. Seu nome é Tzvi, um francesinho metido a besta que trabalha na Maguen David Adom, a correspondente israelense da Cruz Vermelha.
O Juliano tirou pra não ter confusão, ficar na paz. O cara foi embora. Eu cheguei perto e disse pra galera que se fosse eu não tirava. Ah, pra quê...
Coloquei a kfyah e desfilei pelo refeitório. Eis que surge o cara, mais furioso ainda. Arancou a kfyah da minha cabeça, coloquei o dedo no peito dele e falei "tira a mão, isso não é seu". Ele, puto da cara, começou a falar num inglês horroroso que isso era o que os terroristas islâmicos usavam em atentados suicidas. Falei que aquilo que estava usando fazia parte dos costumes de uma religião, que não é a minha, mas que tem que respeitar, por isso estou brincando.
Quando percebi em volta de nós (estávamos em pé no meio do salão), todos que almoçavam pararam de comer e ficaram olhando pra gente, inclusive o cozinheiro. O cara repetiu: "sabia que é isso que os terroristas usam quando explodem ônibus aqui?" Aí eu não me aguentei. "Você sabia que existem israelenses que quando explodem hospitais usam exatamente isso que você tem na cabeça, uma kipá?" Putz, o cara ficou louco, achei que ele ia ter um troço.
Ele começou a gritar: "Você não sabe o que é um atentado terrorista, eu já estive em dois!!!". Dava pra ver o ódio nos olhos daquele francês. "Isso é uma religião, então a respeite!", falei. Ele disse de novo que já tinha estado em dois atentados, que eu não sei o que é, e saiu andando. Parecia que ele queria me matar. Só deu pra começar a rir...
O ódio, o fanatismo e a intolerância no Oriente Médio atingem a todos os lados. Não estou falando de terrorismo ou de acordos políticos. Falo de sentimento, aquele que emerge do fundo do coração. O Antissemitismo cruel que cresce no mundo e a Demonização do Islã são fenômenos profundos, que ultrapassam acontecimentos e convenções. Eles não passam de geração à geração, passam de coração à coração.
Acho que aqueles que vêm de outros países para morar em Israel, inclusive da América Latina, têm muito a ajudar. Digo não só para construir o país física e economicamente, mas intelectualmente também. Tenho orgulho de falar e me sentir israelense. Mas às vezes é saudável também pensar que sou brasileiro, faço parte de um povo tolerante (não no sentido pejorativo) e que apesar de tudo tem muito o que mostrar aos outros.
Não tenho raiva alguma desse tal Tzvi, pelo contrário. Entendo a posição dele. Ele é um enfermeiro, vê pedaços de corpos e ainda mais veio da França, um poço de Antissemitismo. Quanto à ele, não posso dizer o mesmo. O ódio hipnotiza as pessoas, as tornam incompreendidas e incompreensíveis. Ces´t la vie!


sábado, outubro 16, 2004

Psicanálise na tela do cinema

Nem sempre o final de semana em Jerusalém tem a ver com judeus, Israel ou coisas assim. Se você tá afim de pensar (nem todos gostam), a sugestão é "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", o último filme do Jim Carrey. Se nas escolas de Comunicação é obrigatório assistir à "O Show de Truman", as de Psicologia logo logo vão adotar esse filme na grade curricular. A direção é de Charlie Kaufman, o mesmo de "Quero se John Malkovic", e conta com um elenco milionário (Kate Winslet, de Titanic; Elijah Wood, o Frodo do Senhor dos Anéis; Kirsten Dunst, a MJ de Spiderman).

Não vou contar muito sobre ele (descubram por si próprios). O filme é excelente por ser uma comédia meio-romântica nada convencional, totalmente diferente de qualquer outra, e por trazer em pauta uma discussão filosófica: a vontade que todos já tivemos de apagar algo de nossa mente. Mostra que a única coisa que levamos com a gente, por toda vida, são todas as nossas lembranças, nossas memórias mais íntimas, e que estas ninguém pode tirar de nós! Ah, e o Jim Carrey já apresenta sinais de amadurecimento (e velhice também!!!)



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sexta-feira, outubro 15, 2004

Há três meses aqui...

Hoje completam três meses que estou aqui. Parece que faz mais. À tarde, saí para correr na Taielet, uma espécie de parque numa colina onde se pode enxergar boa parte do lado oriental de Jerusalém. Enquanto corria comecei a escutar o barulho que vinha das Mesquitas. Era o começo do Ramadã.
Estima-se que cerca de 90 mil árabes foram até o Domo da Rocha hoje à tarde (foto). Segundo o chefe de polícia do local, Moshe Karadi, esperam-se dezenas de milhares de árabes no Monte do Templo durante todo o mês de Ramadã. Ele deu uma grande entrevista hoje na rádio Kol Israel.
Durante o mês, vou pegar um dia e tentar chegar lá perto pra ver direito o que que acontece. Se acontecer alguma coisa legal eu conto procês! Posted by Hello

quinta-feira, outubro 14, 2004

Música e Política

Taí uma mistura que sempre dá certo, Música e Política (Chico Buarque que o diga). Apesar da música israelense vir passando por grandes mudanças nos últimos anos (como em quase todo o mundo, incorporando outros sons e ritmos), ainda se fazem aqui músicas bem peculiares.
Uma das bandas "new generation" em Israel se chama "Hadag Narrash" (Cobra D´água). São uns moleques (nem tão moleques) israelenses que se juntaram e tocam um hip hop com influências de funk, jazz e sons típicos do Oriente Médio, uma viagem. Os caras são bons.
A música que eu queria chamar atenção se chama "Shirat Hasticker" (algo como Canção do Adesivo). Explicando: faz parte da cultura do país fazer adesivos pra tudo. É possível vê-los nos carros, nas janelas, nos muros, no país inteiro. São adesivos com mensagens políticas: contra os árabes, contra o Sharon, de esquerda, de direita, anti-religioso, de tudo....
A música na verdade é a reunião de várias e várias frases desses adesivos. Pra quem conhece Israel, além de rachar de rir com as frases, pode fazer uma retrospectiva dos últimos 10 anos. Pra quem não conhece Israel, pode conhecer um pouquinho da cultura, da política e da história do país em apenas uma música (um pouquinho, porque muita coisa só dá pra entender pra quem já passou um tempo aqui... mas vale a pena!).
Hoje, na aula de hebraico, pude escutar a música direito e traduzir a letra (digo direito porque ela está sempre nas rádios e no canal 24, o que seria a MTV israelense). Assim, fiz o serviço completo: aprendi hebraico e tive uma aula de Sociologia!!!
Tô colocando aqui no blog alguns links:
Pra escutar ou salvar a música em MP3, clique aqui!
Para ver ou salvar o clip da música,
clique aqui!
Para a letra da música em hebraico,
clique aqui!
Um arquivo em PDF com a letra da música transliterada, traduzida (inglês) e com algumas outras informações sobre a música e a banda,
clique aqui!

terça-feira, outubro 12, 2004

Um insight na mesa de jantar

Não é preciso passear pelas ruas aqui pra sentir que essa realmente é Jerusalém, uma cidade que na teoria deveria unir todos os povos do planeta e que de uma forma ou de outra, apesar dos problemas, acaba mesmo unindo uma parte deles.
Hoje eu resolvi esticar um pouco mais os estudos e, ao invés de descer pra jantar às 19h (como sempre, pontualmente), desci meia hora mais tarde. Então cheguei no refeitório, peguei minha comida, procurei os brasileiros (não encontrei) e sentei-me numa mesa com outra pessoa.
Quando me dei por conta, éramos 5 jantando na mesma mesa. Eu, um americano, uma neo-zelandesa, uma turca e uma iraniana. A gente conversava sobre a comida (horrorosa como sempre), mas de repente me veio um insight ou sei lá o quê, alguma coisa do gênero. Não é à toa que estamos todos aqui, cada um de uma parte do mundo, com sua própria língua, seus próprios costumes... e viemos todos parar no mesmo lugar: JERUSALÉM.
Fiquei pensando em mil coisas... de vez em quando acho que dá um tilt na minha cabeça e começa a vir um caminhão de pensamentos malucos, às vezes sem nexo.
Viver nessa cidade é conhecer todo dia uma pessoa nova, é se maravilhar com cada pedacinho de pedra que reveste um prédio, é se confundir com tantos idiomas diferentes que você precisa falar. Não sei em que outras partes do mundo sentam-se a mesa para jantar pessoas tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais, como em Jerusalém. Interpretem como quiser...
ps: um completo suplemento sobre os ataques terroristas no Egito está disponível no site do Jerusalem Post. É só clicar aqui!
ps: estou postando de luto pela morte do Fernando Sabino, o maior cronista brasileiro. "O Menino no Espelho" marcou minha infância. Nele, conta que que perguntam o que ele queria ser quando crescesse. Ele responde que "quando crescer, quero ser menino." Disso eu nunca vou esquecer. Descanse em paz, menino...

segunda-feira, outubro 11, 2004

Lá dentro do conflito...


Meu primeiro post de verdade não vai ser muito bem um post, na verdade é o comentário de uma foto.O último fim de semana passei num assentamento judaico nos territórios ocupados chamado Givon Hachadasha, que fica ao norte de Jerusalém. Fui convidado pelo Rafael Naresi, um amigo brasileiro que fiz aqui. Lá mora a sua família adotiva em Israel.
O assentamento é como um condomínio de luxo encravado na Cisjordânia. Apesar de cercado de grades e patrulhamento diário, acredito que um condomínio desse nível no Brasil tenha 5 mil vezes mais segurança do que Givon Hachadasha... por incrível que pareça.
Tirei um milhão de fotos, tem alguns absurdos lá que não pra pra entender (como a casa de um palestino, do lado de lá da cerca, mas que fica praticamente dentro do assentamento, é muito engraçado). Vou colocar essas fotos na net com legenda e tudo, mas to postando uma pra ja ir saboreando. Não sei se dá pra perceber direito na foto, mas atrás de mim (da grade cinza) é território palestino, só que um pouco mais abaixo tem uma grade igual, e do lado de lá da grade continua o assentamento. É como se o assentamento (que não é quadrado) fizesse uma curva, e um pedação de terra dos palestinos ficasse praticamente dentro. A minha esquerda, onde tem umas casinhas, é um outro assentamento, e logo embaixo já é o lugar marcado que vai passar o Muro de Separação (mas que nessa parte exatamente ta parado na justiça). Ainda a esquerda, só que láááááá em cima, é Ramallah.
É um sentimento muito estranho, dois povos brigando por cada metro, cada centímetro, por uma terra seca, no meio do nada. Mas é a realidade.
Um outro exemplo, chega até a ser bizonho. Na quinta-feira passada, dia 7, houve
um grande atentado na cidade de Taba, no Egito, quase na fronteira com Israel, lotada de israelenses passando férias nos hotéis e praias paradisíacas. Assistia ao telejornal na casa, dentro do assentamento. No intervalo, alguém mudou o canal da televisão e apareceu uma loira maravilhosa numa propaganda. "É argentina", disse o Rafael. "Um estouro essa mulher". Yossi, o dono da casa, deu uma leve risada e disse: "volta lá no jornal. Cada país com seus estouros...". É pra rir mesmo... Posted by Hello

domingo, outubro 10, 2004

Inaugurando...

Câmbio... Inauguro aqui o meu blog... não sei se isso vai dar muito certo, depende tanto de mim quanto de vocês! Mas vamos tentar, não custa nada... por isso vamos combinar assim. Eu tento manter isso atualizado e vocês mantém visitas regulares, ok? Vou tentar não ser chato nos posts...
Já podem acrescentar aos favoritos: O "Blog do Bean"!
Ah, é bom deixar claro que não se trata de um blog político, muito menos ideológico ou partidário. Tudo bem que tenho minhas opiniões, muitas delas serão postadas aqui... bom, sei lá, vamo ver o que dá!