
ATO 1
Impossível não se esquecer do "francês louco".
Há exatamente um ano, eu, ele e mais uns 120 caboclos do mundo inteiro deixamos de lado nossa boa condição de civil e nos aventuramos dentro do mundo militar.
Eramos imigrantes que, de uma hora para outra, nos tornamos soldados do Exército de Israel.
Não é necessário dizer que cruzei com muita gente durante os seis meses que estive por lá.
Gente bacana, gente estranha, gente engraçada e gente desmiolada.
Um dos desmiolados (se não o mais) era Julian Soufir, um francês religioso com cara de personagem de desenho animado que não durou nem 3 semanas lá com a gente.
Julian fazia piada de tudo e não aceitava receber ordens das nossas comandantes. "Meu comandante é Deus Todo Poderoso", costumava dizer.
Fora todas as confusões que Julian arrumava, não estarei imentindo se dissesse que a gente se divertia com ele.
Dava pra perceber que ele não tinha nada na cabeça. Nada mesmo.
Depois de três semanas, Julian foi retirado do exército.
Nos foi dito que Julian "não se encaixava no perfil das Forças Armadas".
E não se encaixava mesmo. Foi parar numa "yeshivá" para continuar estudando a religião...
ATO 2
Há cerca de 10 dias, dois irmãos religiosos pegaram um táxi em Jerusalém com destino a Tel-Aviv.
O motorista do táxi era o cidadão árabe-israelense Taisir Karaki, de 35 anos.
Chegando em Tel-Aviv, os irmãos convenceram o taxista a subir no apartamento para tomar um café.
Taisir subiu e foi assassinado cruelmente. Foi estrangulado e teve a garganta cortada.
Alguns dias depois, os assassinos foram presos.
O irmão mais velho passeava com atitude suspeita pelas ruas de Tel-Aviv quando foi abordado e preso.
Sem nem perguntar, ele confessou o crime.
Seu nome: Julian Soufir.

O advogado de Julian pediu imediatamente que ele seja examinado por um psiquiatra.
Isso porque está sendo contestada a sanidade mental de Julian. Mesmo assim, segundo algumas fontes, Julian teria dito que matou o árabe apenas "porque ele era árabe".
Ele afirmou que foi a Jerusalém naquela manhã porque "ali seria mais fácil achar um árabe". A polícia catalogou o homicídio como "crime de ódio".
Já o prefeito de Jerusalém, o ortodoxo judeu Uri Lupolianki, afirmou que a família do taxista morto será reconhecida oficialmente como "vítimas do terror", - a mesma denominação para as vítimas de atentados suicidas palestinos - o que garante uma série de ajudas financeiras do governo.
Abaixo, o táxi.

ps1: Impressionante o que vem acontecendo na cidade de Sderot, no sul de Israel, nos últimos dias.
Uma chuva de foguetes Qassam vem atingindo a cidade desde terça-feira, causando pânico na população (que, na prática, já está acostumada com isso) e fazendo com que mais de 2 mil moradores deixassem a cidade.
Segundo uma fonte do exército, foram 106 mísseis lançados pelos palestinos desde o início da semana.
Exército que, aliás, começou uma operação em Gaza destruindo tudo que vê pela frente.

Duas coisas me chamaram a atenção assistindo ontem a um dos telejornais da noite.
A primeira é o desespero das pessoas toda vez que escutam nos alto-falantes da cidade a expressão "Tzeva Adom" ("Cor Vermelha").
Quando se escuta "cor vermelha" em Sderot, salve-se quem puder. Corra para um bunker.
Lá vem um Qassam.
A segunda é o trauma das crianças de Sderot.
A reportagem do telejornal acompanhou uma equipe de três psicólogos que têm a missão de chegar em minutos na casa atingida por um míssel e ajudar as crianças, os adultos e os idosos.
Fiquei impressionado.
Uma criança de 10 anos ficou indignada com a presença do psicólogo.
Disse que já tinha visto vários e que nenhum conseguia tirar o trauma de sua cabeça.
O psicólogo, para as câmeras, foi claro. Seria impossível retirar o trauma dessas crianças, pelo menos por enquanto. Porque não se tratava de "pós-trauma": o pesadelo ainda não acabou.
Sabem o que me deixa mais irritado?
Que tudo isso vem acontecendo em Sderot há meses, que a Guerra do Líbano já acabou há quase 1 ano,que outra guerra vem sendo travada no sul.
Que o governo e o exército parecem pouco preocupados com o destino de Sderot.
E comum ver nos jornais habitantes da cidade esbravejando e dizendo coisas como "estão esperando morrer quantos aqui para que façam alguma coisa?" e, principalmente, "se caísse um míssel em Tel-Aviv a atitude do país seria bem diferente."
Infelizmente, é verdade.
São três as hipóteses que elaborei para que governo e Forças Armadas não resolvam o problema de Sderot.
1) O Exército não tem capacidade militar e estratégica para acabar com os bombardeios.
E se realmente não tem, deveriam confessar a debilidade. Ou incompetência. Ou os dois. 2) Sderot não é tão importante como uma Tel-Aviv ou uma Haifa (para não dizer que é "zero importante"), por isso algumas pequenas operações em Gaza são suficientes para demonstrar ao povo que algo está sendo feito. 3) O medo de uma represália internacional para um possível ataque em massa na Faixa de Gaza faz o governo recuar e investir apenas em pequenas operações militares.
Enquanto isso, o imbróglio continua.
Já quase no início desse verão, pessoas morrem em Sderot e a população de Tel-Aviv vai à praia.
E, ao que tudo indica, assim será até o inverno chegar...
Abaixo, um cartaz feito por crianças de uma escola em Sderot, nessa semana.
"Queremos dormir em paz. Chega de Qassam".