sexta-feira, dezembro 29, 2006

Obsessão pelo monopólio

Essa foto foi tirada por mim na última sexta-feira, aqui em Jerusalém.

O local: rua Ben Yehuda, centro da cidade.

O acontecimento: uma pequena manifestação de grupos GLS reivindicando reconhecimento e fim do preconceito.

Tudo corria na maior absoluta tranquilidade.

Eis que chega um senhor religioso vestido de negro e começa a discutir freneticamente com um jovem manifestante de cabelos azuis espetados (estilo punk).
De longe, pude ver o homem apontando o dedo para a cara do menino e ouvir apenas alguns gritos do velho... dentre eles, o famoso chavão "isso é um absurdo!"

Impressionante como esses "religiosos" têm fascinação em intrometer-se na vida dos outros; principalmente se eles discordam de alguma opinião ou comportamento.

Já não bastaria o status quo de Ben Gurion, que faz com que uma corja de "religiosos" tenha o controle de importantes setores sócio-econômico-culturais do Estado de Israel.

Basta lembrar-mos que eles têm o monopólio da religião judaica (e de sua identidade) em Israel.

Vocês, caros leitores, sabiam que uma pessoa só pode converter-se para o judaísmo (aqui) se for na corrente ortodoxa? Isso sem contar as dezenas de richas e brigas entre os próprios "religiosos".

Tudo isso quer dizer que um convertido só será "aceito" por "eles" (e, consequentemente para o Estado) se seguirem as mitzvot e cumprirem tudo direitinho.

Apenas isso?

Que nada.

Abaixo, é possível ver como eles exageram na dose.

Quase todo fim de semana eles fecham alguma rua, queimam alguma coisa ou fazem alguma baderna para protestar contra assuntos que estão fora de suas pautas de "moral e ética".

Quem entrou na página de comentários do último post, deparou-se com o seguinte recado anônimo.

"eh Bean, seu blog eh muito bom, com assuntos muito interessantes, mas infelizmente aparece as vezes uma falta de respeito imensa, não cabível a um jornalista como ´Encontro dos fãs do Zé do Caixão`.

Se vc se considera judeu, deveria no mínimo respeitar quem mantém a religião viva, agora se não acredita em D-us, sinto muito. Volta pro Brasil."

Algumas poucas considerações:

1) Não é a primeira vez que sou criticado aqui no Blog do Bean por causa de religião.
Em todas elas, saíram de um comentário anônimo. Estranho, não?

2) Vejam só! Mais uma prova da obsessão pelo monopólio do Estado de Israel.

Se não acredito em Deus, tenho que voltar para o Brasil?
Israel só aceita, portanto, quem acredita em Deus?
Quando 99% da minha família foi dizimada nos campos de concentração nazistas, ninguém perguntou à eles se acreditavam em Deus.

3) Acredito na concepção de humor de gênios como Mel Brooks e Woody Allen (e por que não o Sobel? hehehehe).
Quem mais, a não ser nós mesmos, temos o direito de debochar e rir (de nós mesmos?)

Sim, senhor anônimo, considero-me judeu. E respeito, ao contrário de muitos desses que se dizem religiosos.
Ou você acha que por brincar com nós mesmos (e não seguir suas regrinhas) sou um gentio, um anti-semita fervoroso?

4) E o que o fato de eu ser jornalista tem a ver com tudo isso?
Meu caro anônimo, a suposta imparcialidade que você exige é mais que improvável... é impossível.
É um ritual jornalístico.

Aliás, o jornalista tem, muitas vezes, o dever de expressar sua opinião.
O motorista de táxi, o padeiro e o ortodoxo podem. Por que o jornalista não?

Se você, senhor anônimo, ofendeu-se tanto com a brincandeira do Zé do Caixão (ou talvez com a minha opinião), por que não trata de defender "quem mantém a religião viva" de ameaças maiores do que esse pobre blog?
Como dessas ou dessas....

ps1: Como todos sabem, nevou em Jerusalém!

Foi notícia em tudo quanto é lugar.


Há quase três anos não nevava como nevou nessa quarta-feira.
Jerusalém ficou mais bonita do que de costume...

Um dos jornais da noite, por exemplo (no arutz 10), deu mais destaque para a neve do que para uma declaração do Ministro de Exteriores egípcio, que afirmou que o soldado israelense Gilad Shalit (sequestrado em julho por terroristas palestinos) estaria vivo.

Outra curiosidade (ou polêmica) foi citada no blog em espanhol "Del arte de cruzar los océanos". Interessante a foto escolhida pelo site do jornal Haaretz para ilustrar a neve que caía no exato momento em Jerusalém: a de um palestino em Ramallah (e, ao fundo, uma gigante fotografia de Yasser Arafat).

Deixo todos vocês com um pequeno vídeo que filmei no centro da cidade, no ápice da neve.


Para ver a neve em Har Hatzofim, no campus da Universidade Hebraica de Jerusalém, clique aqui!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Na Nach Nachma Nachman Meuman

O ópio do povo...
Quem costuma visitar o Blog do Bean sabe que não gosto de falar de religião por aqui.

Mas isso não é apenas religião.
É um fenômeno cultural que tomou conta de Israel. Ninguém que coloca os pés neste país sai daqui sem ter notado a presença do movimento chassídico de Breslav.
Ou, em outras palavras, "Na Nach Nachma Nachman MeUman".

Eles estão por toda parte: adesivos, muros, carros, prédios e por aí vai.

O que se diz é que tudo começou com um Rabino chamado Yisrael Ber Odessa, nascido em Tverya (Tiberíades), em Israel, e que faleceu em 1994.
Aos 17 anos, esse cidadão teria encontrado (ninguém sabe se é realmente verdade) um bilhete original do famoso rabino Nachman de Breslav (séculos XVIII e XIX), bisneto do mais famoso ainda Rabino Ba´al Shem Tov.
Nesse bilhete haveria apenas a inscrição "Na Nach Nachma Nachman MeUman" (Nachman foi entererrado numa pequena vila chamada Uman, na Ucrânia).

A frase pegou.
Virou música e "sentido da vida" para milhares de pessoas (até já ouvi dizerem que se todos os judeus do mundo disserem a frase ao mesmo tempo, o Mashiach chegará).
Daí, foi apenas um pulo para "os nachman" transformarem o país.



Apresento para vocês, caros leitores, dois pequenos vídeos sobre "os nachman".
O primeiro deles foi feito pelo Hofnik, um brasileiro que chegou em Israel comigo e que hoje mora em Tel-Aviv.

Sim, meus amigos.
Nachman Meuman em Tel-Aviv!!!


O segundo vídeo é mais bacana, mas também mais complicado.
É um trecho divertidíssimo do programa "Eretz Nehederet" (já destrinchado nesse blog, e que, como já disse, não sou muito fã - apesar de algumas poucas excelentes sacadas que eles têm às vezes).

É preciso viver aqui para entender algumas sutilezas das piadas (isso sem contar o hebraico).
Fiz o favor de traduzir apenas o comecinho do vídeo, por falta de tempo mesmo.
É muito engraçado...

Vale a pena entender todo o vídeo. Não sei se terei tempo de terminar a tradução (porca).
Alguém se habilita? Liat?

"A difícil situação econômica e de segurança causam o declíneo da moral nacional. O nível de tensão e a violência nas ruas aumentam. Se pedirmos ao nosso cinegrafista mover um pouco a câmera, poderão ver aqui, exatamente ao meu lado... nu Buza, o que foi? Você nâo entende as dicas? Coloque aí a pita e comece a filmar!!!

Resumindo, se nosso cinegrafista mover um pouco a câmera... ok, deixa pra lá, termina de comer...

De qualquer forma, dentro dessa tensão, existe um grupo de pessoas que consegue cuidar do divertimento.
É o grupo de chassidim, eles escolheram lidar com nossa realidade de uma forma um pouco diferente!
Gostaria de perguntar o que leva você e essas pessoas, numa época tão difícil, a dançar nas ruas?

Nós estamos dançando para o criador do mundo! O que Ele quer da gente? Ele quer que sejamos felizes... que fumemos, que brindemos.

O que você disse no fim?

Brindemos?

Não, antes!

Hahahaha. Veja os olhos de todos aqui! Brilham de felicidade? Quanto amor existe aqui!"

domingo, dezembro 10, 2006

A vidente e o estuprador


Sof Hamirdaf. Fim da perseguição.
Assim várias redes de tv israelenses noticiaram a (até que enfim) prisão do estuprador em série Benny Sela.

Mesmo não sendo o Jack Estripador, vamos por partes... (horrorosa!)
Sela foi criado num kibutz no norte do país (Shaar HaGolan). Em 1998, começou a estuprar mocinhas indefesas, sendo preso em 1999 e julgado um ano depois. Foi condenado a 35 anos de prisão (por estupro, abuso sexual e sodomia).

Mas no dia 24 de Novembro desse ano, Sela forjou a convocação de uma corte judicial e escapou quando era removido para a fictícia reunião.
Ele conseguiu fugir saltando um muro de 2,30 metros coberto por arame farpado, mesmo estando algemado. E mais: ele mede 1 metro e 65.
Coisa de ninja...

Resumindo toda a confusão, o "caso Benny Sela" parou o país durante essas duas semanas. Nem mesmo quando o ex-primeiro-ministro Ariel Sharon sofreu um piripaque cerebral em janeiro eu vi as pessoas comentarem tanto sobre um assunto.
Eu mesmo escutei várias vezes.

Um alvoroço.

Só em Tel-Aviv, mais de dois mil policiais saíram às ruas para procurar o bastardo.
Nas avenidas, várias placas: "vamos prendê-lo juntos. Ligue 100".
100 é o número da Polícia...



Só que a perseguição já estava no fim.
Sela estava cada vez mais próxima de voltar a cela! (péssimo!)
Se a polícia não sabia, uma "paranormal" tinha as pistas.

Tudo começou num programa de rádio na quarta-feira, dia 6.
Um radialista conversava ao vivo por telefone com uma mulher que se dizia "bruxa não-convencional". Segundo a tia, "no céu existe uma biblioteca cósmica e lá chega tudo o que aconteceu e tudo o que acontecerá. Dessa biblioteca, é possível receber algumas informações".

Riki Kataro é o nome dela... (uma mistura de Alcione com Beth Carvalho)



No programa, o radialista não se contém:
"Me diga a verdade agora, Riki. Estou tão preocupado e começando a ficar mais preocupado ainda. Me diga, e Beny Sela? Você deve ajudar o país!"

A resposta veio de sopetão.
A vidente afirmou que o estuprador estava na cidade de Haifa planejando fugir para a França e que seria preso dois dias depois, na sexta-feira.
"Aonde?", perguntou o locutor.
Em "Naharia".

Dito e feito.
Na sexta-feira à noite, Benny Sela foi preso em Naharia, no norte de Israel.
Para o alívio de milhões de mulheres.

Ele foi abordado próximo ao famoso kibutz Lohamei Haguetaot, onde existe um museu do Holocausto.

Todos os canais de tv transmitindo ao vivo.

Ao ser apresentado à imprensa, Benny gritou que não conseguia respirar e que bateram nele.


Disse também que fugiu da prisão porque o abusavam e golpeavam constantemente na cadeia.
Para quem entende um bocado de hebraico (e também como ilustração), coloco aqui a matéria do jornal do Canal 10.
A matéria de destaque fica por conta da vidente...



Em época que Uri Geller é o dono dos sábados à noite na tv israelense, parece que os paranormais vêm ganhando espaço por aqui.
Algum comentário?

ps1: E por falar em Uri Geller, o portal Terra também publicou na última sexta-feira (dia 8), ou seja, dois dias antes deste blog, uma matéria sobre o realty show do "paranormal".
Será que andam espiando o Blog do Bean???
Para ler a matéria do Terra,
clique aqui!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Ibope paranormal

Quem não se lembra daquele charlatão - paranormal - sabe-se lá que esteve sempre na televisão entortando colheres e consertando relógios usando a força do pensamento?
Uri Geller é o cara.
Israelense, pais húngaro e austríaco, parente distante de Sigmund Freud.

Segundo o blog "Dragões da Garagem", destruir talheres com a força da mente era só a face mais popular dos poderes de Uri Geller.

Ele também alegava ser capaz de ler pensamentos, descobrir minerais escondidos (diz ter ganhado uma fortuna trabalhando para companhias de petróleo), influenciar o resultado da loteria (embora não tivesse interesse em ganhar, dizia), apagar fitas magnéticas (mas já lutou com um entrevistador impertinente pela posse do gravador) e até transmutar metal comum em ouro usando a força do pensamento (não podia garantir que fosse ouro, mas que era um metal amarelo era...)

Agora, Uri Geller está de volta!!!
E em hebraico!

No vale-tudo dos reality shows, não há limites para a imaginação.

E agora é a vez dos israelenses, tão aficcionados por esses programas de televisão.
"Uri Geller procura um herdeiro" é a nova aposta da rede de tv Keshet.



E o programa nem bem começou e já está dando "pano pra manga".
Fora o fato dele já ser pra lá de polêmico (basta ver as mágicas bizarras que ele faz), o reality show já foi pauta até no Knesset, o Parlamento israelense. Tudo por causa do desmaio de uma criança de 11 anos que tentava imitar os truques de Geller.

Já que israelense é tosco mesmo, não é novidade apontar que o programa vem batendo recordes de audiência. No último, por exemplo, foi o líder de audiência no horário (confirmado pelo IBOPE daqui).

Vejam a chamada do programa.
Se era o que faltava, então não falta mais nada...



ps1: A candidata socialista à presidência da França, Segolene Royal, esteve no fim-de-semana em Israel e nos territórios administrados pela Autoridade Palestina.
O assunto não é dos mais sensacionais, mas mesmo assim falei para a RFI (Rádio França Internacional).

Para ouvir, é só clicar aqui! (a partir do minuto 1'50)