
Foi difícil. Suado.
Durante meses, as pesquisas de opinião mostravam uma larga vantagem do partido Kadima (do premier interino Ehud Olmert) na corrida eleitoral.
Das 120 cadeiras da Knesset (Parlamento), a expectativa era que o Kadima abocanhasse mais de 40.
Não foi o que aconteceu.
Apesar de tudo (e pela primeira vez na história do país), um partido recém-criado sai do zero e garante a maior bancada parlamentar. O Likud, que era a legenda majoritária até a cisão liderada por Ariel Sharon, foi arrasado. Abaixo, o resultado (com 99,7% dos votos apurados). 
Ontem, saí tranquilamente de casa para exercer meu direito (e por que não dever) de votar - aqui o voto não é obrigatório.
A cerca de 100 metros da minha casa, uma escola pública foi transformada em sessão eleitoral. A minha sessão eleitoral. Como no Brasil.
Logo na entrada, um repórter da CNN andava descontroladamente, falando sozinho, provavelmente treinando o texto que iria ao ar em poucos minutos.
"Você está armado?", perguntou-me o segurança.
"Não, não estou".
Esse era o procedimento. Em termos de segurança, era mais fácil entrar no local de votação do que num shopping center...
Então votei. Feliz. Orgulhoso.
No fim, não consegui fugir das minhas raízes e votei no Partido Trabalhista.
Não que eu pensasse que o Avodá pudesse vencer as eleições. A esquerda israelense ainda não se recuperou a tal ponto.Mas que tivesse tal número de cadeiras que obrigasse o Kadima a formar essa coligação.
E é isso que provavelmente acontecerá.
Abaixo, uma sessão eleitoral...

Há mais ou menos uns cinco anos, quando recomeçou todo o ciclo de violência que resultou na "Segunda Intifada", ficou claro que se houvesse alguma chance de num futuro próximo haver um prosseguimento dos acordos de Oslo, só seria possível com a formação de um núcleo de israelenses que fosse forte o suficiente para responder aos ataques e flexível o bastante para demonstrar que a paz pode ser alcançada se os palestinos quiserem.
Nem Nostradamus poderia prever que isso se daria da forma com que se deu: que seria necessária uma cisão da direita para parir esse núcleo e que ela seria encabeçada por ninguém menos que
Ariel Sharon.
Abaixo, trechos de um comentário que li recentemente, de Victor Grinbaum
(e Olmert comemorando a vitória com Peres).

O fato é que se Sharon foi a locomotiva deste processo, ele teve força suficiente para rebocar os principais nomes do Likud e, mais importante, seu eleitorado.
Mesmo desaparecido, naufragado nas profundezas do coma, sua massa inerte influi nas marés da política israelense.
O resultado das eleições demonstra claramente os seguintes fatores; em primeiro lugar o
Kadima soube roubar do
Likud a vaga de grande agremiação de centro. Dois: o
Avodá, pela primeira vez em muito tempo, conseguiu uma posição melhor à reboque dessa migração. Três: a direita se dividiu.
Os mais radicais abandonaram o Likud e migraram para o Israel Beiteinu. Sem o "centrão" que partiu para o Kadima e sem o núcleo duro que agora está no Israel Beiteinu, o Likud murchou.
Quatro: a rejeição às políticas liberais de
Bibi fizeram crescer o
Partido dos Aposentados (a grande surpresa, criado para as eleições por pessoas de mais de 65 anos de idade e que elegeu um número que o transforma em partido necessário a qualquer coligação que venha a ser criada para governar).
Com tudo isso, alguns cenários são previsíveis para um futuro próximo: o Kadima terá de cortejar o Avodá. Isso pode acarretar tanto numa virtual fusão dos dois partidos quanto num jogo de cabo-de-guerra, cada um tentando atrair para si as potenciais vitórias políticas do próximo gabinete.
O mais provável é que o partido Avodá "engula" o menorzinho Meretz (mais de esquerda) para se fortalecer.
Abaixo, o líder trabalhista Amir Peretz, esse com cara de Stálin, o novo símbolo do Avodá.

Já o Likud deve "fechar pra balanço".
Sem outro nome de peso além de Bibi Netanyahu, cabe ao partido procurar novos nomes que possam surgir como alternativa aos prováveis desacertos do Kadima.
Ou endurecer mais ainda para tentar engolir o Israel Beiteinu.
No fim, mais uma vez Israel viveu a euforia da festa democrática.
Coisa que em nem todos países do mundo é possível ver.
Abaixo, um senhor aguarda ansiosamente o resultado do pleito, na Praça Rabin, em Tel-Aviv.
Pelo jeito, não está muito satisfeito...

ps1: Estou vendo muito poucos comentários ultimamente por aqui. E as entradas continuam altas!
Gosto muito de ler o que vocês escrevem também.